O Perigo Do Desejo 1n244

Editado por Harlequin Ibérica. Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A. Núñez de Balboa, 56 28001 Madrid

© 2017 Jane Porter © 2021 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A. O perigo do desejo, n.º 1866 - agosto 2021 Título original: Her Sinful Secret Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A. Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência. ® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited. ® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y

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I.S.B.N.: 978-84-1375-520-5

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Sumário

Créditos Capítulo 1 Capítulo 2 Capítulo 3 Capítulo 4 Capítulo 5 Capítulo 6 Capítulo 7 Capítulo 8 Capítulo 9 Capítulo 10 Capítulo 11 Epílogo Se gostou deste livro…

Capítulo 1

– Logan… estás a ouvir-me? Frustrada com aquela nova interrupção, Logan Copeland desviou o olhar do guião do espetáculo, tirou os auscultadores e olhou, furiosa, para o seu assistente Joe López que, normalmente, era muito competente. Começara a considerá-lo um génio e uma bênção, mas, naquele momento, não era uma coisa nem outra. – Temos um problema – disse Joe. – Mais um? – inquiriu ela, com incredulidade. Faltavam menos de vinte e quatro horas para o baile de beneficência que se celebraria no dia seguinte à noite. Seria o maior evento na sua carreira até à data e o ensaio técnico do desfile de moda estava a ser um desastre. – Não tenho tempo para ninharias – disse a Joe. – A menos que queiras gerir o baile de amanhã e… – Receio que não seja uma ninharia – interrompeu ele, muito sério. – Não posso tratar disto sozinho. – Porquê? E porque é que, de repente, só há problemas? – quis saber ela. – É uma loucura. Há imensas câmaras e imprensa lá fora. O rosto de Logan iluminou-se. – Mas isso é ótimo! Isso significa que a equipa de publicidade está a fazer bem o seu trabalho. – Não vieram por causa do baile de amanhã. O baile não lhes interessa. Vieram por ti. De repente, Logan mal conseguia respirar. Apertou a pasta contra o peito, com

os auscultadores a pender dos dedos. – Por causa da conferência de imprensa sobre o baile? – inquiriu, num tom trémulo. – Não. – Joe afundou as mãos nos bolsos das calças de ganga. Joe era um rapaz inteligente, de uns vinte e tal anos e acabado de sair da universidade. Há alguns anos, começara a trabalhar para Logan, pouco depois de o seu mundo ter rebentado em mil pedaços por causa do escândalo em torno do pai, Daniel Copeland, e transformara-se numa ajuda inestimável para ela. Muitos tinham-lhe virado as costas ao descobrir que o pai era um estelionatário da pior índole e um ladrão que não só roubava os ricos, mas também a classe trabalhadora. Deixara todos os seus clientes praticamente na bancarrota ou numa situação ainda pior. Joe, que crescera num bairro marginal de Los Angeles marcado pela violência dos gangues de rua, não se importara com aquele escândalo. Só procurava um emprego e ela precisava de um assistente. Sabia, como todos sabiam, o que o pai dela fizera, mas, ao contrário da maioria das pessoas, também sabia o preço terrível que ela tivera de pagar. Na maioria dos negócios e círculos sociais, continuava a ser persona non grata. Só conseguira encontrar trabalho como organizadora de eventos como aquele, de fundações sem espírito lucrativo. – Vieram por ti – repetiu Joe. – Por causa do teu pai. – Havia preocupação e compaixão no seu olhar. Baixou o tom de voz e acrescentou: – Aconteceu alguma coisa. Logan sentiu novamente essa tensão no peito que a impedia de respirar. – Não viste o telemóvel? – inquiriu o assistente. – Deves ter recebido alguma chamada ou alguma mensagem… Procura. Contudo, Logan, normalmente concentrada e decidida, não conseguia mexer-se. Ficara gelada, paralisada. – Libertaram-no? – perguntou, num sussurro. – Os seus sequestradores…?

– Vê o telemóvel – repetiu alguém com uma voz profunda e áspera e com impaciência. Virou-se e esbugalhou os olhos ao ver Rowan Argyros. Os seus olhos verdes observavam-na com desprezo. Logan ergueu o queixo e cerrou os dentes para disfarçar a raiva e o pânico que a embargara. Só lhe ocorria uma possível explicação para a presença de Rowan Argyros, porque era impossível que tivesse ido lá por vontade própria. Há três anos, deixara muito claro o que pensava dela. Contudo, não queria recordar essa noite, nem o dia seguinte, nem as semanas e os meses que se tinham seguido… Não queria dar mais munição a Rowan e muito menos quando se tratava de um ex-comandante militar. Não tinha um ar muito marcial ali, à frente dela, nem tivera na noite em que o conhecera num leilão de solteiros em benefício das crianças mutiladas em países devastados pela guerra que precisavam de próteses. Ele fora um desses solteiros e ela ajudara a organizar o evento. As mulheres tinham licitado como loucas por ele e a licitação não parara de subir. Não tinha dinheiro para licitar, mas quando olhara para ela, sentira-se excitada e dera por si a licitar por ele. Ou, mais exatamente, por uma noite com ele. «Só» lhe custara alguns milhares de dólares. Os remorsos tinham-na assaltado quando a leiloeira proclamara: «A Logan Lane vence!» Não conseguia acreditar no que fizera. Gastara o crédito todo do seu cartão numa noite com um estranho. Naquela época, nem sequer ouvira falar da sua empresa, a Dunamas Maritime. Não sabia se era uma seguradora de iates, uma construtora naval ou um exportador marítimo de mercadorias. E era evidente, a julgar pelo sorriso brincalhão que lhe lançara no fim da licitação, que ele tinha consciência de que ignorava quem era. Sabia porque licitara por ele: Porque era alto, de ombros largos e as suas feições rivalizavam com as dos modelos mais atraentes do mundo. Licitara porque era irresistível. A licitação fora muito competitiva e não era de estranhar, porque era muito bonito: Bronzeado, de cabelo escuro com algumas madeixas clareadas pelo sol e olhos pardos arrebatadores. Naquela noite, observara-a com um sorriso do palco e, só agora, em retrospetiva, tinha consciência do que se escondera por trás desse sorriso brincalhão: Desafiara-a para continuar a licitar e ela fizera-o, demonstrando como era fraca e

fácil de manipular. Nessa mesma noite, fizera-a dele várias vezes, fazendo-a gritar o seu nome cada vez que alcançava o orgasmo. O sexo com ele fora tão ardente, tão intenso… Com qualquer outro homem, ter-se-ia sentido incomodada, mas não com ele. O horror viera depois, quando Rowan descobrira que não era Logan Lane, mas Logan Lane Copeland. Se já era desagradável que as pessoas que nem conhecia a odiassem por ser uma Copeland, pior ainda fora que o homem com quem perdera a virgindade lhe chamasse «ordinária». Um homem que, para cúmulo, era um dos melhores amigos do marido da sua irmã gémea. De todos os homens que havia no mundo… Porque escolhera alguém como Rowan Argyros para a sua primeira vez? A sua carreira fulgurante no exército não poderia surpreender ninguém: Não receava correr riscos e tinha uns nervos de aço. Além disso, sabia aproveitar a mínima oportunidade e devastava qualquer obstáculo que encontrasse no seu caminho. Logan sabia demasiado bem: Fizera o que quisera com ela e, depois, destruíra-a. Detestava pensar no ado. De facto, até há apenas um ano, não fora capaz de enfrentar a realidade e começar a ter a esperança de um futuro melhor, ainda que, para isso, tivesse de perdoar o pai e perdoar-se. Pelo menos, estava a tentar. – Querem dizer que o meu pai está…? – murmurou, olhando para Rowan. Ele hesitou por um instante, antes de assentir, mas as suas feições não se suavizaram. Logan tentou fazer com que a sua voz não tremesse quando perguntou como o tinham matado. Ao ver que Rowan hesitava novamente, soube que conhecia todos os detalhes. Como podia não os saber? Era um especialista na luta contra a pirataria no mar. O seu centro de operações era em Nápoles, embora também tivesse escritórios em Atenas e Londres e uma propriedade rural imensa na Irlanda. Embora não soubesse por ele, mas porque a sua irmã Morgan e o seu cunhado, Drakon Xanthis, lhe tinham contado depois do casamento.

– Isso importa? – perguntou Rowan, num tom frio. O coração de Logan martelava contra as costelas. Teria preferido que tivessem sido as irmãs Morgan ou Jenna a dar-lhe a notícia. Ou até o seu irmão mais velho, Bronson. Ter-lho-iam dito de um modo muito diferente. – O que lhe fizeram? – inquiriu. Sentia um nó no estômago só de pensar que o pai, que os sequestradores tinham mantido retido em algum lugar à frente da costa de África, fora executado. As pernas fraquejavam, a cabeça dava voltas… – Não acho que queiras saber – declarou Rowan, mas a sua voz parecia vir de muito longe. Não conseguia vê-lo bem. Estava tudo desfocado. Pestanejou, confusa e, de repente, foi como se a escuridão a envolvesse…

Rowan precipitou-se para a frente ao ver que Logan ia desmaiar, mas estava demasiado longe, tal como Joe, e nenhum deles conseguiu impedir que caísse, batendo com a cabeça na beira do palco. Praguejou enquanto se baixava e lançou um olhar irritado ao inútil Joe, que também não fora capaz de evitar a sua queda. Ainda estava inconsciente quando pegou nela ao colo. Os seus olhos pousaram na têmpora de Logan. Fizera um corte com o golpe e o sangue manchara um pouco o seu cabelo loiro. Ia ficar com uma boa nódoa negra e, provavelmente, também teria uma boa dor de cabeça quando voltasse a si. Não perdera a sua beleza, pensou, permitindo-se um instante para irar as suas maçãs do rosto marcadas, os seus lábios carnudos e o seu nariz aristocrático. Se fosse apenas uma cara bonita, poderia ter-se perdoado pelo erro que cometera ao ir para a cama com ela há três anos, mas não era apenas uma jovem bonita, era um membro da família Copeland, pessoas profundamente imorais. E se o desagradara descobrir que era uma Copeland, pior ainda era pensar que o dinheiro que pagara na licitação de beneficência para ar uma noite com ele era dinheiro proveniente de desfalques. – Pega nas coisas dela – indicou a Joe.

Irritava-o estar a ocupar-se pessoalmente daquele assunto. Devia ter enviado um dos seus homens. Todos os membros da sua equipa de operações especiais, da Dunamas Intelligence, tinham pertencido a algum grupo militar de elite: Os Navy Seals dos Estados Unidos, as Forças Especiais britânicas, o Grupo Alfa da Rússia, o Grupo de Intervenção da Esquadra Nacional da França, as Forças Especiais da Marinha espanhola… Todos eles estavam preparados para missões de resgate e poderia ter enviado qualquer um deles. No entanto, a verdade era que não queria nenhum dos seus homens perto dela. Pensara que era para os proteger dela, mas, nesse momento, com ela ao colo, sabia que se tratava de algo muito mais pessoal e primário. Não queria nenhum outro homem perto dela porque, mesmo três anos depois daquela noite juntos, sentia que lhe pertencia.

Logan estava a tentar abrir os olhos, mas não conseguia. Doía-lhe a cabeça e os seus pensamentos eram muito confusos. Sentia que alguém a levava ao colo e que estavam a subir umas escadas, mas… para onde? Ouvia uma respiração forte. Os braços que a seguravam eram quentes. Esforçou-se para abrir os olhos, tentando recordar o que acontecera. Olhou para cima e viu um queixo robusto, angular e com uma sombra leve de barba. E, então, aquela cara inclinou-se para a observar também e, quando os seus olhos se encontraram, todo o seu corpo ficou tenso. Rowan! De repente, começou a recordar: Joe a dizer-lhe que havia um problema – alguma coisa sobre o seu pai, – e Rowan a aparecer de repente… – Solta-me agora mesmo! – ordenou. Ignorou-a e continuou a subir um degrau atrás do outro. Uma sensação de pânico apoderou-se de Logan. – O que está a acontecer? Porque me levas ao colo? – exigiu saber, remexendose e esperneando. Rowan não a soltou. – Porque desmaiaste e estás a sangrar. – Não é verdade.

– É claro que é. Bateste com a cabeça no palco quando caíste e talvez tenhas um traumatismo craniano. – Estou bem – replicou ela, remexendo-se novamente. – Põe-me no chão de uma vez. Consigo andar. – Olha, temos de sair daqui o quanto antes. Não temos tempo para discussões. Tinham chegado ao topo da escada. Rowan abriu a porta que havia à frente deles com um pontapé e Logan viu que estavam no terraço do edifício. – Onde está o Joe? Preciso de falar com ele! – Não te preocupes. Vem atrás de nós, com as tuas coisas – informou ele, enquanto saíam para o sol brilhante da Califórnia. – Com as minhas coisas…? Mas porquê…? – Explico-te tudo depois de descolarmos. Chega de conversa, por enquanto. Havia um helicóptero à espera deles. O piloto saiu com um salto e abriu-lhes a porta. Rowan acabara de a deixar num dos bancos quando Joe apareceu. – Logan… – chamou-a, tentando chegar até ela. No entanto, Rowan levantou um braço para impedir que se aproximasse. – Dá-me as coisas dela e vai-te embora – disse. Logan inclinou-se para agarrar a manga de Joe. – Irás a minha casa? – suplicou. – Preciso que te encarregues de… – Claro – interrompeu ele. – Para onde vais? Quando voltarás? – Liga-te depois – disse Rowan, com aspereza. – E, agora, despeçam-se. – Não te preocupes com nada – disse Joe a Logan. – Podes contar comigo. Rowan afastou-o para entrar no helicóptero e fechou a porta enquanto Joe se afastava, fugindo do vendaval que as hélices levantavam. Sentou-se à frente de

Logan e inclinou-se para ela para verificar se prendera bem o arnês de segurança, puxando uma das correias dos ombros que se ajustavam no peito. Ao deslizar os dedos pela correia, os seus dedos tocaram num seio de Logan, que sentiu como o mamilo endurecia. – Está demasiado larga? – perguntou. – Com os teus dedos aí, sim – queixou-se ela, espantada. Rowan afastou a mão, mas, ao fazê-lo, os seus dedos voltaram a tocar nela e assaltou-a a lembrança daquela noite, há anos, em que pa o seu mamilo na boca, sugando-o e lambendo-o até a levar ao orgasmo. E, não contente com isso, Rowan aplicara-se a fundo, explorando o seu corpo e mostrando-lhe todas as formas como um homem podia fazer com que uma mulher alcançasse o clímax. Logan mordeu o lábio, esforçando-se para afastar essas lembranças, e o helicóptero elevou-se, abandonando o terraço do Hotel Park Plaza. Ascenderam tão depressa que Logan sentiu um nó no estômago. Levou uma mão à têmpora e sentiu algo peganhento no cabelo. Ao afastar a mão, viu que os dedos estavam manchados de sangue. Rowan dissera a verdade. – Sei que és especialista em resgates e espionagem – disse a Rowan, – mas… isto de fugir de helicóptero não é um pouco… exagerado? Rowan deu-lhe um lenço para que lime a mão. – Enfim, quero dizer que me parece demasiado saído de um filme, até para ti – acrescentou ela, enquanto esfregava os dedos com o lenço. Proporcionava-lhe um prazer perverso provocá-lo dessa forma, porque tinha a certeza de que detestaria que comparasse o seu trabalho com um daqueles filmes de ação de Hollywood. Conforme soubera por Morgan e Drakon, Rowan era militar até à medula. Servira tanto na Marinha dos Estados Unidos como na Real Armada do Reino Unido antes de abandonar a sua carreira militar para criar uma agência de proteção marítima, uma iniciativa em que o cunhado fizera um investimento importante porque queria a melhor proteção para a sua empresa mercante, a Xanthis Shipping. Magoava-a que Morgan e Drakon se dessem tão bem com Rowan. Não lhe

parecia justo que Rowan tivesse perdoado a irmã por ser uma Copeland, mas não a ela. – Olha para baixo – disse Rowan, apontando para as ruas aos seus pés. – Tudo isso é por ti. Logan inclinou-se para o vidro para olhar. Uma multidão enorme rodeava a entrada do hotel. Estavam à espera que ela saísse. – E como não entraram? – inquiriu. – Pus uma corrente com cadeado por dentro da porta principal. Espero que o Joe encontre a chave ou ficará um bom bocado lá fechado. – O quê?! E onde deixaste a chave? – quis saber Logan alterada, alcançando a mala para tirar o telemóvel. – O Joe não pode ficar lá… Tem de… – Ah, sim, ouvi-te a dar-lhe instruções para ir a tua casa e para se encarregar de alguma coisa e como ele te respondia que o faria – murmurou Rowan, olhando para ela com os olhos semicerrados. – Que bom rapaz! Logan ignorou-o e começou a escrever uma mensagem de texto, mas, antes de conseguir enviá-la, Rowan arrancou-lhe o telemóvel das mãos. – Porque és tão odioso? – repreendeu-o. Tinha vontade de lhe dar um pontapé. – Não tens de te preocupar com o Joe. Safa-se sozinho. Irritada, Logan virou a cabeça para o vidro. – E para onde vais levar-me? – perguntou. – Para um lugar seguro, longe dos meios de comunicação social. Logan virou a cabeça para ele, engoliu em seco e murmurou: – Em relação ao meu pai… Está mesmo morto? Rowan assentiu. – Morreu de causas naturais… se isso te faz sentir melhor – declarou, com uma

careta cruel. – É claro que me faz sentir melhor – respondeu ela, indignada. – Claro, claro… porque o amavas tanto… – Como se tu lamentasses a morte do meu pai! – queixou-se ela. – Não, não a lamento. Acho que merecia o que lhe aconteceu e mais. Como odiava Rowan…! Odiava-o quase tanto como queria odiar o pai, que os traíra a todos – e não só a família, mas também as centenas de clientes que tivera. Tinham confiado nele e ele roubara-os. E, em vez de enfrentar a justiça, em vez de se tornar responsável pelos seus crimes, fugira do país no seu iate privado. A uns quilómetros da costa de África, uns piratas tinham assaltado o iate e tinham-no feito prisioneiro. À medida que avam os meses, as exigências dos seus sequestradores e o resgate que pediam por ele tinham aumentado. Morgan fora a única que estivera disposta a conseguir esse dinheiro… mas isso era outra história. E, no entanto, apesar de se sentir envergonhada com a conduta do pai, nunca quisera que sofresse. Talvez não o odiasse tanto como achava. – Então, não o assam, nem o torturaram – murmurou, com a boca seca. – No fim, não. – Queres dizer que o torturaram? Rowan olhou para ela nos olhos. – Digamos apenas que os seus sequestradores não o trataram com luvas de seda. Logan fechou os olhos, espantada. O pai estava morto e nenhum tribunal poderia persegui-lo pelos delitos que cometera, mas os meios de comunicação social continuavam sedentos de sangue. Agora que o pai já não estava com eles, iam atrás dos seus irmãos e dela. E embora fosse capaz de aguentar o escrutínio da imprensa e o ódio das pessoas, como fizera nesses últimos anos, a sua filha era pouco mais do que um bebé. Só tinha dois anos e não podia defender-se da crueldade das pessoas.

– Tenho de voltar para casa – murmurou, com um nó na garganta. – Tenho de voltar agora mesmo.

Rowan observara as emoções que tinham atravessado o rosto belo de Logan enquanto falavam. Nunca conhecera uma mulher tão bonita como ela, embora a sua beleza não se limitasse apenas às suas feições, ao seu cabelo loiro e comprido, aos seus olhos azuis e aos seus lábios carnudos. Também tinha um corpo perfeito. As suas curvas gloriosas tinham-no enlouquecido naquela noite que tinham ado juntos há três anos e achara que talvez fosse a mulher da sua vida. Fora por isso que se zangara tanto ao descobrir quem era, porque, com ela, sentira coisas que não sentira antes. Sentira uma ligação especial com ela e infundira uma ternura nele que nunca experimentara antes com nenhuma outra mulher. O que, ao princípio, considerara apenas sexo, transformara-se em algo pessoal. Quando a alvorada chegara, já não estava a ter sexo com ela, estava a fazer amor. No entanto, tudo mudara quando encontrara um monte de cartas na bancada da cozinha: Recibos, s de revistas… Na morada para a qual eram dirigidas figurava o nome «Logan Copeland», não «Logan Lane». O estupor dera lugar à raiva. Muitas vezes, lamentara o modo como reagira ao descobrir a sua verdadeira identidade. De facto, lamentava praticamente tudo o que acontecera entre essa noite e a manhã seguinte: Desde o sexo apaixonado entre eles até às palavras duras que pronunciara. No entanto, com o ar dos anos, o que mais acabara por lamentar fora os sentimentos que despertara nele. Para ele, não fora apenas uma noite de paixão. Quisera voltar a vê-la. Tivera a ilusão de que poderia haver mais alguma coisa entre eles e imaginara um futuro em que nunca pensara, mas que, de repente, sabia que queria: Um lar, uma esposa, filhos… Queria a família que nunca tivera. Contudo, ao chegar a manhã, descobrira que Logan lhe mentira e ficara fora de si. Dissera coisas ofensivas e horríveis, como não ser muito melhor do que o seu pai avarento, desonesto e mentiroso e que o repugnava que tivesse vencido a licitação com dinheiro que o pai roubara a outras pessoas.

Incomodava-o ter de estar a tomar conta dela, mas prometera ao seu amigo Drakon, que também era cunhado de Logan, que a manteria a salvo enquanto durasse o frenesim mediático em torno dos seus irmãos e dela. – Não podes voltar para casa – disse, com aspereza. – Agora, a tua casa deve estar rodeada de paparazzi e repórteres. Ficarás comigo até ao funeral. Os olhos azuis de Logan brilharam. – Não tenciono ficar contigo. – Olha, as coisas devem acalmar depois do funeral. Sairá outra notícia e as pessoas vão acabar por vos esquecer – disse ele. – Tenho clientes, compromissos de trabalho… – O Joe pode tratar disso, não pode? – Esses clientes contrataram-me, não a uma pessoa de vinte anos. – Eu bem dizia que me parecia muito jovem – desafiou-a ele. Logan ergueu o queixo. – É o meu assistente, Rowan, não o meu amante. – Então, não vivem juntos? – Não. – Mas parece que se preocupa realmente contigo, não é? – desafiou, novamente. Logan olhou para ele como se sentisse pena dele e virou a cabeça para o vidro. – A maioria das pessoas tem coração e preocupa-se com os outros, Rowan. Ou seja, ele não tinha coração… Bom, não se enganava demasiado, pensou ele, divertido, e os seus lábios curvaram-se num sorriso. Se fosse professor ou sacerdote, a sua falta de emoções poderia ser um problema, mas, na sua profissão, as emoções eram apenas um estorvo.

– O Homem de Lata de O feiticeiro de Oz sempre foi o meu favorito – respondeu. – Não tinha coração – disse ela, sem olhar para ele, – mas pelo menos, queria ter um.

Capítulo 2

– Bom e para onde vamos? – perguntou Logan, ao ver que se dirigiam para a zona leste da cidade. Embora Los Angeles fosse imensa, reconheceu certos lugares emblemáticos por onde aram e soube que estavam a aproximar-se do aeroporto de Ontário. Rowan, que estava relaxado no seu banco, com as pernas esticadas, observava-a em silêncio. – Para uma das minhas propriedades. Por mais que tentasse não pensar naquela noite, há três anos, não conseguia evitar que as lembranças aparecessem na sua mente. Odiava pensar nisso e talvez tivesse conseguido esquecê-lo se não fosse por uma certa «complicação»… E não fora uma complicação menor, certamente. Arrependiase de se ter entregado a ele, mas não da pessoa que nascera daquela noite de paixão. Jax não era um erro; era todo o seu mundo e a única coisa que lhe dava forças para ignorar o escrutínio constante a que era submetida por ser uma Copeland e a humilhação que sofria por isso. Superaria tudo aquilo. Pouco importava o que aquelas pessoas que a odiavam pensavam. A sua filha era a única coisa que importava. – Para qual? – inquiriu, tentando parecer tão indiferente como ele para lhe esconder a sua preocupação e o pânico que se apoderava dela. A ama de Jax iase embora todas as tardes entre as cinco e as seis e, mesmo que Joe fosse a sua casa e ficasse com a pequena, não podia ficar com essa responsabilidade. Além disso, Joe era um bom rapaz, mas não sabia como cuidar de uma menina de dois anos. – Importa? – perguntou ele. Tirou uns óculos de sol do bolso do casaco e pô-los. Como se fosse o James Bond…, pensou ela, com um sorrisinho brincalhão.

– O que se a? – inquiriu ele. – Nada. A Morgan contou-me que este tipo de joguinhos te diverte – declarou ela. – Deves sentir-te todo-poderoso com todo este secretismo e este resgate com o helicóptero… – Gosto da tua irmã – respondeu ele, ignorando o resto do que dissera. – Fez muito bem ao Drakon. Embora me custe a acreditar que sejam gémeas – acrescentou: – Não se parecem nada. – Nem sequer sei porque estamos a ter esta conversa – disse ela. – Sei que não gostas da minha família. – Está bem, então, não falaremos da tua família – murmurou ele, num tom aveludado. – Vamos falar sobre nós. Logan engoliu em seco. Com os óculos de sol, não conseguia ver-lhe os olhos, mas a julgar pelas comissuras dos seus lábios, que estavam ligeiramente arqueadas, soube que Rowan estava a gozar com ela, a brincar com ela como um gato com a sua presa, antes de a matar. Podia mostrar-se nervosa, mostrar medo, tentar resistir – era o que ele queria, – ou participar no jogo e não lhe dar essa satisfação. Sorriu com ironia. Não sabia com quem estava a lidar. Já não era a mesma Logan com quem fora para a cama há três anos. A sua crueldade mudara-a. – Será divertido. Adoro falar dos velhos tempos – respondeu, olhando para ele de frente. – Divertimo-nos muito, eh? Ele ficou calado por um instante, mas, então, um sorriso desenhou-se nos seus lábios, um sorriso real. – Sim, havia muita química entre nós – disse. – Não, tu és muito bom na cama – replicou ela, sentindo-se generosa. Além disso, era verdade. – Bom, tentei estar à altura dos vinte mil dólares que pagaste por mim no leilão. Logan não gostou desse sarcasmo, mas ignorou-o.

– Podes ficar tranquilo, porque estiveste à altura. Se soubesse o que sei agora, poderia ter-te dado algumas diretrizes, mas era tão verde… Que triste! Virgem aos vinte e quatro anos… – Tremeu e afastou uma madeixa do seu rosto. – Mas, por sorte, como és um campeão, não te custou nada resolver esse… detalhe. Rowan já não sorria. – Disse alguma coisa de mal? – inquiriu ela, com um olhar inocente. Rowan tirou os óculos de sol e inclinou-se para ela. – Repete isso. Os seus olhos, fixos nela, observavam-na com desdém. – Oh, vá lá, não me digas que não sabias que era virgem? – troçou ela. – E, mesmo que só tivesses imaginado, o sangue nos lençóis… – Só havia umas manchas. Logan encolheu os ombros. – Sim, provavelmente, presumiste que se deviam às tuas… investidas vigorosas. Os olhos de Rowan brilharam e o seu queixo estava tão rígido que parecia de granito. – Não eras virgem. – Era, sim. Não te sentes lisonjeado por te ter escolhido para a minha primeira vez? – murmurou ela, olhando para as unhas. – Definiste uma fasquia muito alta, sabes? E não só quanto ao que aconteceu no quarto, mas também na manhã seguinte – murmurou. Como Rowan não dizia nada, levantou o olhar e olhou para ele nos olhos. – Não posso evitar questionar-me… Se não tivesse chegado ao orgasmo todas as vezes… também me terias chamado «ordinária»? – Deixou a pergunta no ar por um instante, antes de acrescentar: – Foi o facto de ter desfrutado que me transformou numa ordinária aos teus olhos? Porque é uma transição muito rápida, ar de virgem para ordinária… – Nenhuma virgem gastaria vinte mil dólares para ter sexo – acusou, com

aspereza. – Ah, não? Nem sequer se quisesse ter sexo com o melhor?

Rowan já não achava graça àquela conversa. Aquela conversa deixara-o completamente perturbado. Era virgem quando tinham ido para a cama juntos? Ele não era daqueles que andavam por aí a desflorar mulheres sem experiência. Praguejou para si. – Estás a tirar as minhas palavras de contexto – resmungou, tentando reprimir a sua frustração. – Eu não te chamei «ordinária»… – É claro que o fizeste… As tuas palavras exatas foram: «Enganaste-me! És uma daquelas ordinárias da família Copeland!» Rowan contraiu o rosto. Parecia-lhe ouvir o eco dos seus gritos na cozinha do apartamento de Logan em Santa Mónica. Recordava como ficara pálida e como o observara com uns olhos esbugalhados, espantada e angustiada. Virara-se e saíra da cozinha, mas ele, cheio de raiva, seguira-a, lançando-lhe mais insultos. Não conseguira conter-se ao descobrir quem era. Os Copeland eram uma das famílias mais arrogantes dos Estados Unidos. As filhas eram habituais em todo o tipo de eventos de sociedade e eram famosas porque eram bonitas e tinham dinheiro. Ele crescera numa família pobre e tudo o que conseguira fora graças ao seu esforço e ao seu trabalho. Não tinha tempo para raparigas ricas e mimadas. Cerrou os dentes e os punhos. – Lamento o que te disse – resmungou. – Se pudesse apagar essas palavras, fálo-ia. – Isso é um pedido de desculpas? – É o que é – respondeu ele. Tinham chegado ao aeroporto. O helicóptero começou a descer até pousar. Lá, esperava o seu jato privado.

Logan virou a cabeça para ele. – Porque viemos para aqui? Tens uma casa aqui, em Ontário? – perguntou, contrariada. – Não – limitou-se a responder ele. Abriu a porta e saiu do aparelho. Estendeu a mão a Logan para a ajudar a sair, mas ela recusou-a e saiu sozinha. Começou a dirigir-se para o terminal, mas ele agarrou-a pelo cotovelo e levou-a para o jato. Logan parou ao perceber o que queria. – Não. Rowan soprou. – Olha, Logan, não tenho tempo para… – Não vou sair de Los Angeles, não posso. – Vais fazer com que te ponha ao ombro e te faça entrar no avião? Ela soltou-se e recuou. – Se tentares, vou gritar. – E de que te serviria? Quem te ouviria? – perguntou ele, apontando à volta. – É uma pista privada. Logan levou uma mão ao cabelo, para evitar que o vento o empurrasse contra o seu rosto. – Tu não entendes… Não posso ir… Não posso deixá-la… – Do que estás a falar? – Da Jax… – Logan teve de fazer uma pausa. – Nunca estive longe dela, nem uma noite. Não posso… – A Jax? – repetiu ele, com impaciência. – Quem é a Jax? A tua gata?

– Não. A minha menina. A minha filha. – A tua… filha? – repetiu ele, atordoado.

Logan assentiu. O coração martelava contra as costelas e tinha o estômago às voltas. Aterrava-a afastar-se da sua pequena. Há três anos, ao descobrir que estava grávida, ligara a Rowan para lhe contar, mas ele comportara-se de um modo detestável. – Como conseguiste o meu número? – quisera saber. – O Drakon deu-mo. – Não devia tê-lo feito. – Disse-lhe que era importante. Rowan dera uma gargalhada fria e desdenhosa que a magoara na alma. – Olha, querida, para o caso de não teres percebido a mensagem, acabou. Não tenho mais nada para ti. E, agora, faz o favor de ter um pouco de dignidade e esquece-me. E fizera-o. Não lhe falara do bebé e, com o tempo, o seu comportamento odioso acabara por dissipar os remorsos que sentia por não lhe ter contado. – Tens uma filha? – inquiriu Rowan, visivelmente perturbado, devolvendo-a ao presente. – Sim. – E onde está agora? – inquiriu ele, com o sobrolho franzido. – Em casa. – Logan olhou para o relógio. – A ama vai-se embora às cinco. Tenho de estar de volta a essa hora. – Isso vai ser impossível. Não podes voltar. – E o que queres? Que deixe a minha filha sozinha até decidires que posso

voltar? Rowan cerrou os dentes. – O Drakon nunca mencionou que tinhas uma filha. Logan sentiu um nó no estômago. – É porque a Morgan e ele não sabem. Ninguém sabe. – Como é possível que…? – Talvez te surpreenda, mas há muito tempo que já não temos grandes reuniões familiares. Rowan cruzou os braços. – Quem é o pai? Logan riu-se, fingindo indignação. – Parece-me que isso não te diz respeito. Rowan suspirou. – O que quero dizer é se o seu pai não poderia tomar conta dela enquanto estiveres fora. – Não. – Podias perguntar… – Não. – Não se dão bem? Logan sorriu com ironia. Se a situação não fosse a que era, aquilo teria a sua graça. – Isso não serve para descrever a nossa relação.

– E a ama não pode ficar com ela? – Não. Nunca me afastei dela, nem uma só noite – insistiu ela, cravando as unhas nas palmas, – é demasiado pequena… – Sentiu um nó na garganta e não pôde continuar. – Olha, Logan, não podes ir a casa, lamento – disse Rowan. Quando ela ia protestar, levantou uma mão para a interromper. – Vou buscá-la, mas tens de me prometer que não vais sair daqui. Vais entrar no avião e esperar por mim. Não vais tentar fugir e não vais ligar a alguém para que venha buscar-te. Logan virou a cabeça para o jato e viu os membros da tripulação a aguardar na escadaria. Rowan seguiu o seu olhar. – Os meus empregados vão tomar conta de ti. Enquanto estiveres com eles, não correrás nenhum perigo. Logan ficou tensa e virou-se para ele. – Porque haveria de correr perigo? Os paparazzi podem ser muito chatos, mas não… – Deram um tiro ao teu irmão Bronson ontem à noite em Londres – interrompeu Rowan. – Está no hospital, nos cuidados intensivos, embora os médicos pensem que recuperará. Bronson era o mais velho dos cinco e o único filho. – O quê? Porque não me disseste antes? O que se ou? – A polícia está a investigar, mas acham que quem tentou matá-lo o fez para se vingar do teu pai. Recomendaram que proporcionasse proteção às tuas irmãs, à tua mãe e a ti. A minha equipa já localizou a Victoria e estão a levá-la para um lugar seguro e a tua mãe já está com a Jemma. E, agora, temos de te pôr a salvo. Logan sentiu-se a empalidecer. Tremiam-lhe as pernas. – Por favor, vai buscar a minha filha. Despacha-te. – Dá-me o teu telemóvel.

– Prometo-te que vou fazer o que dizes, não vou ligar a ninguém… – Não é por isso. Vou levá-lo para ligar ao Joe e dizer-lhe o que preciso que faça. – Vais envolver o Joe nisto? – inquiriu ela, entregando-lhe o telemóvel. – Tu confias nele, não é? Logan assentiu. – O PIN é três, um, zero, três. Rowan franziu o sobrolho. – Não nos conhecemos no dia trinta e um de março? Uma onda de calor invadiu Logan. – Esse não é o motivo por que lhe pus esse PIN – respondeu. Parecia que estava à defesa e isso irritou-a. – Não disse que foi por isso – replicou ele. – Mas será mais fácil lembrar-me do número. Fez um sinal ao piloto do helicóptero para que voltasse a pô-lo a trabalhar e as hélices começaram a girar. Despediu-se dela, entrou no aparelho e elevaram-se antes sequer de Rowan ter fechado a porta.

Capítulo 3

Sentada a bordo do jato privado de Rowan, Logan olhou para o seu relógio de pulso. Há quase duas horas e meia que se fora embora. Estava a tentar a todo o custo não pensar na filha, que estaria assustada, em Bronson, que estava no hospital, ou na sua mãe e nas irmãs, que também corriam perigo. Não podia deixar que a sua mente divagasse, porque, assim que começava a pensar, dava por si a imaginar o pior e a preocupação rasgava-a por dentro. Levantou o olhar e olhou para os três homens – o piloto, o copiloto e o comissário de bordo – que conversavam num tom velado ao fundo do corredor, junto da cabina. Era uma tripulação fora do comum, muito diferente da dos voos comerciais. Aqueles homens de aspeto rude e corpulento pareciam militares. Um deles virou a cabeça para ela e disse alguma coisa ao comissário de bordo, que se aproximou dela. – Precisa de alguma coisa, menina Copeland? – perguntou. Não parecia americano, mas também não tinha sotaque estrangeiro. Era um enigma, como os outros dois. – Podia dar-me um pouco de água? – Claro. Vou buscar uma garrafinha. Quer comer alguma coisa? Tem fome? Ela abanou a cabeça. – Sinto-me incapaz de comer agora. A água é suficiente, obrigada. No entanto, quando o comissário de bordo lhe trouxe a garrafinha, Logan só bebeu um gole. Estava demasiado nervosa e os minutos avam muito devagar. Quando pensava que já não conseguiria aguentar mais, ouviu-se o barulho de um helicóptero. Rogou para que fosse Rowan e virou-se para a janela para ver. O

aparelho pousou no chão e abriu-se a porta. Dele, saiu Rowan, que tinha Jax ao colo. Atrás dele, estava Joe, com uma mala em cada mão. Quando entraram no avião, Jax deu um gritinho de alegria ao vê-la. – Mamã! Logan, que se levantara, estendeu os braços e Rowan deu-lha. – Olá, linda – sussurrou Logan, beijando-a na face várias vezes. – Como está a minha menina? – Bem – disse a menina, ando-lhe os braços pelo pescoço. – O que achaste do helicóptero? – Faz muito barulho – disse a pequena, fazendo uma careta e tapando os ouvidos com as mãos. – Esteve sentada no colo do Joe e esteve muito sossegada durante o voo – disse Rowan. – Parece que o teu assistente tem muito jeito para os pirralhos. Logan olhou para trás dele. A uns metros, estava Joe, a dar as malas ao comissário de bordo. – Foi muito amável por ter vindo até aqui. Ou obrigaste-o a vir? – Não o obriguei a nada. Parece que sente uma grande devoção por ti. – Não comeces outra vez… – Não estava a acusar-te de nada. Se está aqui é porque insistiu em vir. – Agradeço. Desde que começou a trabalhar para mim, portou-se lindamente com a Jax – replicou ela. Ao pousar o olhar nas duas malas que o comissário de bordo estava a pôr no compartimento da bagagem, perguntou a Rowan: – Precisávamos de duas malas? Durante quanto tempo vamos estar fora? – Foi o teu amiguinho Joe que as fez. Mas, bom, as mulheres levam sempre muita bagagem quando viajam, não é?

Logan abanou a cabeça e revirou os olhos. – Estás um pouco ciumento ou só parece? – Eu? Ciumento? Sim, claro… Rowan soprou e afastou-se ao ver que Joe se aproximava. – Estás bem? – perguntou a Logan. Ela assentiu, lançando uma olhar de desaprovação para as costas de Rowan. – Espero que não tenha sido indelicado contigo – disse a Joe. – Se foi, não penses que é algo pessoal. É assim com todos. Joe sorriu e encolheu os ombros. – Conheci tipos piores. Logan olhou para ele com uma sobrancelha arqueada e Joe sorriu. – A sério, não me incomoda – insistiu. – E portou-se muito bem com a Jax… – Não digas mais nada. Não quero ouvi-lo – interrompeu ela. – Vai levar-te de volta no helicóptero ou vais ter de apanhar um táxi? Se tiveres de voltar de táxi, põe na minha conta. Não posso deixar que o pagues do teu bolso. Vai custar-te um olho da cara. – Vou alugar um carro – replicou ele. Hesitou por um instante e perguntou: – Ficas bem? Logan beijou a cabeça da sua filha e assentiu. – Joe, no evento de amanhã, não pode haver nenhuma falha. É muito importante. – Eu sei, calma. Vai correr muito bem. Vamos angariar imenso dinheiro e vai tudo correr na perfeição. Mas estou preocupado contigo. – Não tens de te preocupar, estou bem. Mas a minha empresa… é tudo para mim: A minha reputação, o meu modo de vida…

– Eu sei. Vou tratar de tudo – prometeu Joe, num tom firme. – Obrigada. Joe deu um beijo a Jax e foi-se embora. Em instantes, Rowan estava de volta e trazia uma cadeirinha de criança. – Temos de ir – disse a Logan. – Porei isto no banco para que a Jax fique mais segura. Já viajou de avião? Logan abanou a cabeça. – Não saímos muito – murmurou. E, ao ver a expressão dele, acrescentou: – Não quero atrair mais a atenção dos meios de comunicação social. – As coisas estão assim tão más? – Não fazes ideia de como nos incomodam – declarou, com uma gargalhada forçada. Não ia deixar que aqueles que odiavam a sua família ganhassem e queriam vêlos humilhados.

Rowan olhou para o seu relógio. Estavam há quatro horas no avião, mas ainda faltavam outras quatro ou cinco. Era um alívio que a pequena tivesse adormecido finalmente. ara quase uma hora a chorar porque não tinha a sua manta. Joe trouxera-a com ele quando se encontraram no aeroporto de Santa Mónica, mas devia ter caído dentro do helicóptero ou no chão da pista quando saíram do aparelho para entrar no jato. Logan eara pelo corredor curto com Jax ao colo, dando-lhe palmadas nas costas até, finalmente, adormecer ao seu ombro. E, agora, ela também adormecera, sentada no seu banco, com a pequena ainda em cima dela. Ver Logan com a filha fazia-o sentir-se incomodado. Nunca a teria imaginado no papel de mãe. Costumava catalogar as pessoas em categorias fechadas e bem definidas e fora o que fizera com ela. Pa-lhe um rótulo e afastara-a para um canto escuro da sua mente, juntamente com outras lembranças más ou difíceis.

Depois daquela noite juntos, sentira-se mal durante semanas, meses. Zangava-o não conseguir esquecê-la, não ter tido mais controlo sobre as suas emoções: Não deveria preocupar-se com ela, não deveria importar-se… e, no entanto, não conseguia evitá-lo. Fora tão duro com ela… Muitas vezes, sentira vontade de lhe ligar para se desculpar, para lhe dizer que sabia que não se portara bem… Mas não o fizera. Tivera medo de abrir uma porta e, depois, não conseguir fechá-la. Não fazia sentido criar pontes com uma mulher que não era de confiar. Para ele, a confiança era tudo e mentira-lhe uma vez, escondendo-lhe quem era, portanto… Porque não voltaria a fazê-lo? Queria odiá-la, desprezá-la, mas vê-la ali a dormir, com a filha em cima dela, a imagem viva da devoção materna, despertava o seu instinto protetor. Além disso, estivera a pensar em algumas coisas e a fazer cálculos mentais desde que fora buscar a pequena: Se, ao dia trinta e um de março, somasse quarenta semanas, chegava a dezembro… e Jax nascera em dezembro. No dia vinte e dois de dezembro, para ser exato. Sabia porque pedira a Joe para ir buscar a certidão de nascimento de Jax em casa de Logan. Não podia tirar uma menina do país sem documentação. Se fossem num voo comercial, teria tido de ar pelos controlos governamentais e teriam precisado de um aporte, mas como viajavam no seu avião privado, o seu piloto entregara um manifesto que incluía Logan. Não a filha, obviamente, porque, até há umas horas, nem sequer soubera que Logan tinha uma filha. Podia ser um problema. Como ele tinha imunidade diplomática, não tinha de se preocupar, mas Logan poderia meter-se numa confusão se se descobrisse que levara uma menina de um país para outro como «contrabando». Por sorte, como aterrariam na pista privada da sua propriedade, não haveria controlos policiais nem ninguém a interrogaria por causa da menina… a menina que nascera em dezembro, quarenta semanas depois do dia trinta e um de março…

Quando Logan abriu os olhos, Rowan estava sentado no banco à frente do dela, com os olhos fixos nela, e não estava precisamente a sorrir. O coração acelerou. Não queria deixar-se levar pelo pânico, mas a sua expressão inquietante fê-la imaginar que sabia alguma coisa, uma coisa que era impossível saber… Não

podia saber que Jax era filha dele… Arqueou uma sobrancelha, olhou para ele com indiferença e perguntou, tentando evitar aquele momento incómodo: – Estava a ressonar? – Não. – Adormeci com a boca aberta? – Quero um teste de paternidade. Rowan pronunciara essas palavras num tom tão fraco que demorou um instante a digeri-las. Queria um teste de paternidade. Suspeitava… Tinha de encontrar uma saída… – Isso é um pouco presunçoso da tua parte, não achas? – Disseste que eras virgem. E atiraste-me à cara que não fui muito delicado… – Não te atirei… – Devias estar dorida. Por isso, duvido que tenhas procurado outro tão depressa para ter sexo… Pelo menos, esperarias uma semana. E a tua filha nasceu em dezembro. As contas fazem sentido. – Tens jeito para a matemática – elogiou, com ironia. – O problema é que a Jax foi prematura. Só devia ter nascido um mês depois – mentiu. – Essa rapariguinha doce pesava quase quatro quilos, querida. Não nasceu prematura. Logan sentiu um nó no estômago. Sabia quanto Jax pesava ao nascer… Sabia quando nascera… O que mais sabia? – Não é tua filha – repetiu, com teimosia. – Até agora, não, mas devia ser, não é? Logan susteve a respiração.

– Faremos o teste amanhã. O coração de Logan acelerava tanto que temeu que os seus batimentos acordassem Jax. – Mas… Nem sequer gostas de crianças… Não me parece que queiras filhos… – Foi o que pensaste nestes três anos? Essa é a tua desculpa para me teres escondido isto durante este tempo? «Chamaste-me “ordinária”… Disseste-me as coisas mais horríveis, mais desprezíveis…» Sim, os seus insultos tinham-na magoado, mas não fora por isso que não lhe contara. – Tentei contar-te – murmurou. Pelo menos, não lhe tremia a voz. – Quando? – Quando te liguei. Lembras-te? Liguei-te e, em vez de um «Como estás? Tudo bem?», perguntaste-me, furioso, como tinha conseguido o teu número – recordou-lhe, olhando para ele nos olhos. – E, quando te respondi que o Drakon mo tinha dado porque lhe tinha dito que era importante, gozaste comigo, dizendo que já não tinhas nada para me dar. – A sua voz já não era calma, mas quebrada pela emoção. – Depois de desligares, fartei-me de chorar, mas, quando finalmente me tranquilizei, senti alívio. Aliviava-me por não quereres saber mais nada sobre mim, aliviou-me pensar que a minha filha não teria de sofrer, como eu, com um pai egoísta e insensível. Rowan ficou calado durante um bom bocado, escrutinando-a em silêncio, com uma expressão pensativa, até deixar escapar um suspiro e murmurar: – Poderia dizer tantas coisas… – E porque não dizes? – Porque ainda faltam várias horas para chegarmos à Irlanda e… – À Irlanda? – interrompeu ela. – E não me apetece estar a discutir contigo até aterrarmos em Galway.

Logan pestanejou, atordoada. – Mas não podemos sair dos Estados Unidos. Não tenho o meu aporte e a Jax nem sequer fez um. Rowan encolheu os ombros, despreocupado. – Aterraremos numa pista privada na minha propriedade, portanto, não haverá ninguém da imigração nem da alfândega. – E o que vai acontecer quando voltarmos? Não achas que talvez seja um problema? – Poderia ser. Mas o Joe pôs o teu aporte na mala, assim como a certidão de nascimento da Jax, portanto, pelo menos, temos isso. De modo que fora assim que descobrira a data de nascimento de Jax… Logan expirou, devagar. Sentia-se enjoada. – Eu também não quero ar o resto do voo a discutir – concedeu, entredentes, – mas não é justo fazer a Jax ar por… – Olha, Logan, eu não quero causar-lhe nenhum transtorno e não preciso de um maldito teste para saber que é minha filha, mas vamos fazê-lo para corrigir a certidão de nascimento. – A nossa filha – corrigiu ela, por mais que detestasse iti-lo, – é a nossa filha. Rowan esboçou um sorriso. – Não é que me alegre com a morte do teu pai, mas talvez, com o tempo, acabemos por o ver como uma bênção por nos ter unido. Parecia estar a dizê-lo com ironia, mas Logan não achava graça. – Enfim, agora, só temos de pensar no o seguinte – acrescentou Rowan, com um brilho perverso nos olhos. – Um casamento no meu castelo? E casamo-nos antes ou depois do funeral do teu pai?

Era uma sorte que estivesse sentada, porque, se não, teria caído de costas. E foi uma sorte que Jax acordasse nesse momento, poupando-a de ter de responder. Aquilo era uma loucura… – Acho que seria melhor antes do funeral – prosseguiu Rowan, num tom pensativo. – Dará a todos alguma coisa para celebrar. Sim, haverá tristeza por causa da morte do teu pai, porque era um homem tão bom, tão dedicado à família e à comunidade… – disse, com ironia, – mas todos se alegrarão por nós. – Rowan, sei que odiavas o meu pai e que me odeias… – Isso já é coisa do ado – interrompeu ele. – Temos de olhar para o futuro. Vais ser a minha esposa e teremos mais filhos. – Estás a desfrutar disto, não estás? Rowan encolheu os ombros. – Só estou a tentar ser positivo. – És um sádico – resmungou ela. – Não vamos casar-nos e não haverá mais filhos. Não há nada entre nós e nunca houve, portanto, não tentes manipular-me porque não vou tolerar. Rowan teve o descaramento de se rir. – Ah, não? E o que farás? Vais ligar ao Joe? Logan corou. – Tens um verdadeiro problema com ele. Se não te conhecesse como te conheço, diria que estás ciumento. Rowan esboçou um sorriso tão sedutor que Logan teve vontade de se levantar e fugir. – O Joe… trabalha para mim – murmurou. Quando ela abriu a boca para dizer alguma coisa, levantou uma mão para que o deixasse continuar. – Não esteve na Universidade do Sul da Califórnia, nem estudou Arte, Comunicações e Desenho. E também não tem vinte e quatro anos, mas trinta e um e, antes de começar a

trabalhar para a Dunamas, foi um membro do destacamento de Forças Especiais Delta. Logan não conseguia acreditar no que estava a ouvir. Joe não podia ser um militar… Era tão jovem, tão doce, tão trabalhador… – É impossível… Escolhi-o de entre vários candidatos… – Todos trabalham para mim. – Não pode ser… – Entrevistaste três candidatos: A Trish Stevens, o Jimmy Gagnier e o Joe López. A Trish pedia demasiado dinheiro e o Jimmy fazia-te sentir incomodada porque sabia demasiado sobre a tua família. O Joe… O Joe comoveu-te porque te disse que precisava desse emprego. Os olhos de Logan encheram-se de lágrimas e sentiu um nó na garganta. Ela confiara em Joe… Trabalhava para ela há quase três anos… – Achava que era uma boa pessoa – sussurrou, sentindo-se horrivelmente traída. – E é. Teria dado a sua vida por ti. Mandei-o para te proteger. – E para me espiar também? – Se tivesse ordenado que te espiasse, ter-me-ia falado da bebé – respondeu Rowan, com aspereza. – A missão dele era proteger-te e fê-lo. Parece que te era tão leal que me escondeu que tinha uma filha durante todo este tempo. Logan abanou a cabeça e quase se riu por tudo aquilo parecer tão surreal. – É tão absurdo… Meu Deus! Mandava-o fazer recados depois do trabalho! Ia buscar a minha roupa à lavandaria! Até me ajudava a dar o jantar à Jax quando estava ocupada, a examinar coisas de trabalho no computador… – Engoliu em seco. – Achava que se tinha afeiçoado a ela. Talvez não fosse carinho, mas pensava que gostava de nós… Rowan ficou calado por um instante, antes de dizer:

– E gostava. Durante dois anos, o Joe protegeu-te e protegeu o teu segredo. – Levantou-se do seu banco. – Mas não deveria tê-lo feito. Foi um erro grave da sua parte e, por isso, vou despedi-lo. Rowan afastou-se pelo corredor e Logan seguiu-o com o olhar e com os olhos cheios de lágrimas. Como podia ser tão cruel?

Capítulo 4

Rowan estava a servir-se de um uísque na cozinha pequena do avião quando Logan apareceu. Ficou de pé na soleira da porta, com os braços cruzados. Estava muito mais magra do que há três anos. Sabia que trabalhava muito, mas nunca imaginara que o stress a tivesse afetado tanto. Se soubesse que estava grávida… – Sentei a Jax na sua cadeirinha e voltou a adormecer – informou. – Queria perguntar-te se sabes alguma coisa sobre o Bronson. Está estabilizado ou continua em estado crítico? – Parece que conseguiram estabilizá-lo, mas decidiram mantê-lo na unidade de cuidados intensivos porque a polícia acha mais fácil garantir a proteção dele lá, visto que é uma zona de o . – E a Victoria? Onde está agora? – Devia estar com o Drakon e a Morgan. – Bom isso vai acabar mal… – Porquê? – Porque a Morgan e ela não se aguentam – explicou Logan. – A Victoria devia ir para casa da Jemma. Dão-se bem. – Receio que já seja um pouco tarde para isso. Espero que as tuas irmãs se apercebam de que não é o momento para rixas tolas. Logan arqueou as sobrancelhas. – Não é que se envolvam em rixas tolas – replicou. – Tiveram uma discussão muito grande, sobre o nosso pai. É muito incómodo para todos. – Tens de desejar sorte ao Drakon, que terá de as aguentar – disse ele, apoiando as costas num dos móveis de aço da cozinha estreita.

Logan ficou calada por um instante. – Não despeças o Joe – murmurou. A nota suplicante na sua voz irritou Rowan. – O Joe não precisa que intercedas por ele – queixou-se, com aspereza. – Sabia o que estava a fazer e é responsável pelas suas decisões. Sabia que se preocupava contigo e que estava a começar a sentir alguma coisa por ti. Chegou a um ponto em que esses sentimentos se transformaram em algo mais que um sentido marcado de dever. – Mas, mesmo assim, deixaste que continuasse a trabalhar. – Não – resmungou ele, cerrando os punhos, – ordenei-lhe que te dissesse que tinha de deixar o trabalho, que ia procurar alguém para o substituir. Foi antes das férias do Natal. Recusou-se a acatar as minhas ordens e recusou-se a abandonarte. Os lábios de Logan curvaram-se num sorriso trémulo. – Ao contrário de ti, que me insultaste e me viraste as costas quando te liguei para te dizer que estava grávida. Se o tivesse dito num tom frio e brincalhão, Rowan poderia ter ignorado aquele sarcasmo. No entanto, a sua voz entrecortada e o tremor leve dos seus lábios fizeram com que sentisse um aperto no coração. – Deixa-me ver como está essa ferida que tens na cabeça – pediu, agarrando-a pelo pulso para a puxar para ele. Logan ficou tensa, mas deixou-o fazê-lo quando lhe afastou uma madeixa para lhe inspecionar a ferida na têmpora. Não tinha mau aspeto. Logan devia ter limpado a ferida na casa de banho quando ele fora buscar Jax. Embora estivesse a começar a aparecer uma nódoa negra, o corte estava a cicatrizar. – Lamento não ter conseguido evitar a tua queda – desculpou-se. Embora não se dessem bem, não podia evitar sentir-se culpado, pois a única coisa que parecia trazer para a sua vida era problemas e dor. – Deste uma boa pancada.

– Sobrevivi a coisas piores – respondeu ela, com um sorriso fanfarrão. No entanto, nos seus olhos azuis, adivinhavam-se sombras, demasiadas sombras. Estudou-os, questionando-se quantas dificuldades teria enfrentado sozinha nesses três anos, e sentiu uma nova pontada de culpa. Tinha razão. Virara-lhe as costas. Ele, que ganhava a vida a proteger completos estranhos, não a protegera. Inclinou a cabeça e pousou os seus lábios nos de Logan. Queria que fosse um beijo de consolo, de desculpa por ter sido tão bruto, mas, assim que os seus lábios tocaram nos dela, já não pôde pensar em nada senão em como o calor que o seu corpo irradiava era agradável. A sua mão deslizou pelas costas de Logan para a acalmar e puxá-la um pouco mais para ele. A mão dela subiu para o seu peito e apertou-lhe a camisa com os dedos, puxando-o para ela. Rowan deslizou a ponta da língua pela união entre os seus lábios e Logan entreabriu-os. Lambeu-lhe o lábio inferior e, depois, ou a língua repetidamente pelo lábio superior até sentir que lhe cravava as unhas no peito e que estava a tremer. Agarrou-a pelas ancas para a apertar contra ele. Tinha vontade de a penetrar, de a fazer gritar o seu nome como daquela vez… Não, não queria desejá-la dessa forma… Não queria desejar nenhuma mulher assim. Não queria sentir-se como se estivesse a pôr a sua capacidade de autocontrolo à prova, nem queria sentir-se dominado por aquela ansiedade carnal. Afastou os lábios dos dela e recuou, ofegante. – Um dos dois deveria estar com a Jax – disse, com aspereza. – Poderia acordar e assustar-se ao encontrar-se sozinha. – Sim, eu… eu ia voltar já – balbuciou Logan. Antes de se virar e sair da cozinha, Rowan reparou no rubor das suas faces e nos seus lábios carnudos e quase a agarrou pelo braço para acabar o que começara. Mas não o fez. Deixou-a ir e ficou ali de pé, insatisfeito e confuso.

Logan voltou ao seu lugar e levantou Jax da sua cadeirinha. Ainda estava a dormir e deitou-a no seu colo. Precisava de sentir a filha para se acalmar e para recuperar a prudência. Estava muito nervosa depois daquele beijo com Rowan. O coração ainda acelerava como um louco e o fogo do desejo, esse desejo que

podia destruí-la, espalhara-se por todo o seu corpo. Rowan era um perigo, uma ameaça para ela… Engoliu em seco e fechou os olhos, decidida a reprimir as emoções que cresciam no seu interior. Precisava de uma vida calma e concentrada. Só assim poderia dar a Jax os cuidados de que precisava para que crescesse feliz. Rowan Argyros era a sedução personificada, mas não era o tipo de pai que queria para Jax, nem o tipo de parceiro de que ela precisava, pensou. E, então, como se os seus pensamentos o tivessem conjurado, Rowan reapareceu de repente e deixou-se cair no seu banco, à frente do dela. Esticou as pernas, deitou a cabeça para trás e fechou os olhos. Embora as pálpebras escondessem o seu olhar intenso, Logan sentiu essa espécie de eletricidade estática que enchia o ambiente quando ele estava por perto. Olhou para ele, furiosa e irritada consigo própria ao sentir que o coração voltara a acelerar e que se sentia novamente acalorada. – Ainda faltam pelo menos quatro horas de voo – murmurou Rowan, sem abrir os olhos. – Se eu fosse a ti, tentaria dormir um pouco. Vai ajudar-te a sentir-te melhor…

Aterraram antes do meio-dia numa pista comprida e estreita que dividia uma extensão imensa de relva verde-esmeralda. A aterragem foi tão suave que parecia que tinham aterrado numa pista de gelo. Logan inclinou-se para beijar Jax na cabeça. Estava há várias horas acordada e estava sentada na sua cadeirinha muito calma, a chupar o polegar. O avião diminuiu a velocidade devagar, virou e mexeu-se lentamente pela pista. Logan olhou pela janela, que estava coberta de chuva. Lá fora, havia uma neblina leve e, ao longe, avistava-se uma colina sobre a qual se erguia um castelo de pedra cinzento com uma torre quadrada e alta e outras torres mais pequenas nos cantos. À medida que se aproximavam, pôde ver um pouco melhor o edifício, com as suas janelas altas de arco gótico. Não havia árvores ou arbustos em redor, mas erguia-se como um colosso de pedra no meio daquele mar cor de esmeralda. Talvez fosse por causa do céu nublado e da chuva leve que estava a cair, mas não

parecia um sítio muito acolhedor. Parecia uma fortaleza e a última coisa que queria era sentir-se presa. – Quem vive ali? – perguntou, inquieta. Morgan falara-lhe da propriedade que Rowan tinha na Irlanda, mas esperava que não fosse aquela. Morgan e Drakon tinham ido visitá-lo há um ano e a irmã descrevera-o como um lugar sumptuoso. Aquele castelo frio parecia tudo menos sumptuoso. – Eu – respondeu Rowan. – Quando estou aqui. – Agora entendo porque não as muito tempo na Irlanda. – Não é verdade. Venho com frequência e adoro isto, ainda que, a julgar pelas tuas palavras, deduza que não gostes. – É bastante inóspito – murmurou Logan. – Bom, sim, por fora, é uma fortaleza de pedra – concedeu ele. – As torres mais antigas têm mais de seiscentos anos, mas, quando o comprei, reformei o interior e vais achá-lo muito confortável. – Esboçou um sorriso travesso. – Adoro o país da minha mãe, mas devo ter bastante mais sangue grego nas veias por parte do meu pai, porque não gosto de ter frio. Ou talvez esteja a envelhecer. O avião parou. Rowan tirou o seu cinto de segurança e levantou-se. – Bom, bem-vinda ao meu lar – disse a Logan. – De certeza que será uma experiência fascinante – respondeu ela, com ironia, e também se levantou. Levantou Jax da sua cadeirinha e pegou nela ao colo. – Vou considerá-lo uma aventura. Sempre gostei de aventuras. Mas espero que a nossa estadia aqui seja breve. Embora seja divertido fazer uma escapadela de vez em quando, tenho obrigações pendentes em Los Angeles que… – As tuas obrigações para com a tua família são o mais importante – interrompeu Rowan. – O importante agora é que a Jax e tu estejam a salvo e aqui, comigo, vão estar. Consigo entender que não queiras viver aqui todo o ano, mas podemos discuti-lo e chegar a um acordo.

– Olha, Rowan, não quero discutir à frente da Jax, mas… – Então, não o façamos. Logan cerrou os dentes, decidida a manter a compostura. Se perdesse a cabeça, só conseguiria assustar a filha e tornar a situação ainda mais tensa. No entanto, declarou, baixando o tom de voz: – O meu pai destruiu o nosso nome, a nossa reputação. A única coisa que me resta é um punhado de sonhos e esperanças e não vou permitir que mos arrebates. Mereço ser amada e ambos sabemos que não é isso que me ofereces. Nunca acederia a um casamento sem amor – reiterou. E, ansiosa por respirar um pouco de ar fresco e afastar-se dele, ou ao lado dele e dirigiu-se para a saída.

Ao sair do avião, um carro esperava por eles. Rowan tinha a certeza de que Logan não sabia que era blindado e era melhor que não soubesse, para não a deixar mais nervosa, como também não precisava de saber que o perímetro da propriedade estava protegido por muros altos e patrulhado por guardas e que o castelo contava com as medidas de segurança mais avançadas. Embora tivesse dito a Logan que ia lá com frequência, a verdade era que nunca sentira que pertencesse realmente a algum lugar. De facto, desde a sua infância, ara de um país para outro, de um continente para outro, com as suas diferentes línguas e culturas. Crescera como um nómada, sentindo-se sempre como um estrangeiro em terra estranha, preso entre o seu pai grego, um homem ambicioso e temperamental, e a mãe irlandesa, uma mulher amável, mas de caráter instável. Quando a paixão inicial se apagara, a relação entre os pais ressentira-se. Lembrava-se de os ver a discutir desde muito pequeno. O pai estava sempre a urdir projetos novos porque queria ganhar mais dinheiro e ser alguém importante, enquanto a mãe só queria tranquilidade e que ele asse mais tempo em casa. E, então, um dia, o pai ganhou a lotaria ou, pelo menos, foi o que pensou… até o prenderem e o mandarem para a prisão por um crime de luva branca.

Aquilo devastara a família, o que restava do seu casamento e a sua mãe. Contudo, pensava que o que devastara o seu casamento e a sua mãe fora perder Devlin, o seu irmão mais novo, que morrera afogado quando o pai estava na prisão. Rowan ficou tenso ao recordá-lo. A morte do pequeno, de pouco mais de dois anos, fora o princípio do fim. O pai culpara a mãe. Ela culpara-o. E, quando o pai saíra da prisão, as discussões tinham começado outra vez. Rowan sentira-se aliviado quando o tinham mandado para um internato em Inglaterra e, quando seus pais se separaram finalmente, pensara que era o melhor, pensando que talvez, assim, parassem de discutir. Contudo, demoraram anos a formalizar o divórcio e as férias eram cada vez mais caóticas e dolorosas para ele. Às vezes, ia visitar um dos seus pais num país, enquanto, das outras, nenhum dos dois queria ficar com ele. Se nenhum colega de turma o convidasse para ar as férias com ele, tinha de as ar na escola. Contudo, em muitos sentidos, era preferível a á-las com estranhos, incluindo os seus pais que, a pouco e pouco, se transformaram nisso para ele. Ao acabar os estudos de bacharelato, matriculara-se numa universidade nos Estados Unidos e, depois, voltara a Inglaterra para servir na Real Armada e nunca mais voltar ao lar. Não tinha um lar. Nunca sentira que tivera um lar e fora por isso que ficara tão inquieto quando se sentira tão bem com Logan há três anos. Como podia sentir-se como em casa com ela quando não sabia o que era um lar?, questionara-se. Como podia sentir alguma coisa por ela quando nem a conhecia? Quase fora um alívio para ele descobrir que era uma Copeland. Fora demasiado perfeito para ser real. Dera rédea solta à sua raiva, descarregando nela a desilusão que o embargara. Mas a realidade era que não era com ela que estava zangado. Estava zangado consigo próprio por ter baixado a guarda e ter-se permitido albergar esses sentimentos. As emoções eram perigosas e destrutivas. Não podia voltar a cometer um erro assim. E, agora, Logan voltara à sua vida e já não era apenas uma mulher bonita e problemática, também era a mãe da sua filha. Isso mudava tudo e supunha que também ele tivesse de mudar. Não podia permitir que Jax se sentisse como ele,

que se sentisse presa entre dois adultos a disputar o controlo. Também não deixaria que Logan desaparecesse com a filha, como a mãe fizera com ele depois da morte do irmão. Sabia que tinham de se casar, mas… e depois disso? Ainda não tinha todas as respostas. Não sabia como conseguiria fazer com que Logan e Jax ficassem ao seu lado, só sabia que não podia permitir-se perdê-las. Convenceria Logan e tinha a certeza de que o amor não tinha de fazer parte da equação. Recorreria ao sexo. Fá-la-ia derreter-se com os seus beijos e as suas carícias e estabeleceria um vínculo entre eles, uma necessidade de estar juntos, que seria muito difícil, se não impossível, de quebrar.

Capítulo 5

O interior luxuoso do castelo escondia bem a tecnologia de ponta que albergava. À primeira vista, não se viam os confortos modernos, mas só o mobiliário sumptuoso e os outros elementos como tapetes, painéis de madeira, quadros de paisagens a óleo com molduras douradas… Contudo, quando entraram no quarto que ia partilhar com a sua filha, que era junto do de Rowan, Logan reparou nas tomadas modernas e portas USB postas discretamente em diferentes pontos. Além disso, Rowan mostrou-lhe um comando à distância que controlava o aquecimento e os estores opacos automáticos das janelas e o que parecia um quadro por cima da lareira era, na verdade, uma televisão de ecrã plano. Poderia dizer-se que dispunham de todos os confortos imagináveis, mas o problema era que o castelo não fora pensado para crianças. Não havia uma cama nem uma cadeira adaptada para a sua idade e as lareiras sem ecrã protetor e as escadas de pedra eram um perigo evidente. No entanto, antes de conseguir comunicar a sua preocupação a Rowan, percebeu que ele já se apercebera do problema. – Não tinha previsto que uma criança se alojasse aqui, mas, embora seja impossível reformar o castelo todo para evitar possíveis acidentes, vou certificarme de que se fazem essas reformas em várias salas ou num andar inteiro, para que possa dispor de espaço para brincar e mexer-se à vontade sem que tenhamos de nos preocupar. E, dito isso, deixou-a a sós com Jax para que descansassem e ficassem confortáveis. Logan tomou um banho com a pequena, comeram o lanche que Rowan pedira aos empregados para levarem ao quarto e fizeram uma sesta. No entanto, quando Jax a acordou, dizendo que queria levantar-se e brincar, Logan teria gostado de continuar a dormir. Precisava de dormir. Estava devastada por causa do jet lag. Jax, pelo contrário, parecia estar a habituar-se muito melhor à mudança de horário e permitiu que se

entretivesse a levar uns almofadões de seda prateados para o closet enorme e vazio. Logan preparou um café com a máquina de cápsulas que havia num canto e sentou-se junto da janela para o beber enquanto tentava pôr os seus pensamentos em ordem. No entanto, nesse momento, bateram à porta e, quando foi abrir, encontrou uma jovem que tinha uma mala grande de tecido com fecho ao ombro. – Olá, sou a Orla – apresentou-se, com um aperto firme de mãos e um sorriso. – Trabalho como ama há cinco anos, mas não me limito apenas a cuidar de crianças. Também sou professora e sou especializada em métodos de ensino na primeira infância – declarou. – Bom e onde está a minha menina? Estou desejosa de a conhecer. Logan franziu o sobrolho ao vê-la a entrar no quarto sem que lhe tivesse dado permissão. – Receio que deva ter havido um erro – murmurou, incomodada. – Eu não contratei uma ama. – Não, mas o seu marido… – O meu marido? – Bom, o senhor Argyros… – Não somos casados. – Bom, o seu noivo, então… – Também não estamos noivos. A jovem não corou, não pestanejou e nem sequer gaguejou ao responder: – O pai da sua filha. Logan mordeu a língua. Para isso, não tinha resposta. – A questão é que foi ele que me contratou – continuou Orla, no mesmo tom calmo.

Tinha o cabelo castanho apanhado num rabo de cavalo e, embora parecesse entre cinco e dez anos mais nova do que ela, estava a fazê-la sentir-se como uma menina difícil. – O senhor Argyros disse-me que houve uma morte recente na sua família – acrescentou, – e que tinha assuntos para tratar, portanto, contratou-me para a ajudar com a pequena. – Mas é que, agora, nem sequer estou a trabalhar. Não preciso que me ajudem com a minha filha – replicou Logan, ficando tensa ao perceber que estava a levantar o tom de voz. Parecia que estava angustiada e não queria dar essa impressão. – Desfruto muito da companhia da minha filha e, agora, preciso dela. É um grande consolo para mim. – Mas os preparativos do casamento só vão servir para a cansar – replicou Orla. Logan franziu o sobrolho e ia replicar que não ia haver um casamento, quando a ama acrescentou: – Prometo-lhe que se divertirá muito comigo. Trouxe brinquedos e bonecas. Gosta de bonecas? Tenho umas bonequinhas de fadas muito bonitas que… – Fadas? – perguntou Jax, espreitando do closet. Aproximou-se a correr, arrastando um dos almofadões de seda. – Adoro as fadas! Orla ajoelhou-se, ficando à altura da menina. – Tenho imensas bonecas de fadas nesta mala. Queres vê-las? Jax assentiu energicamente e Logan contou até dez para controlar a sua irritação enquanto a ama tirava as bonecas e as dava à sua filha. – Acho que vou trocar umas palavras com o Rowan – resmungou. Jax ignorou-a por completo e Orla sorriu alegremente e disse: – É claro, menina Copeland. A Jax e eu estaremos aqui, a montar um jardim de fadas. Mostramos-lho quando voltar.

Rowan, que estava sentado a responder a e-mails no seu portátil e a tratar de assuntos de trabalho, não se surpreendeu ao ver Logan a aparecer na porta aberta do seu escritório. Pôs a poltrona de couro para trás, esticou as pernas e cruzou um tornozelo por cima do outro. – Tudo bem? – perguntou. – Não – respondeu ela, com aspereza, entrando na sala. – O que se ou? Há algum problema? – inquiriu Rowan. – Talvez possa ajudar. – Tu és o problema e sabes – acusou ela, parando à frente da sua secretária com uma mão na anca. – Eu? – inquiriu ele. – Não queres sentar-te? – ofereceu, apontando para uma cadeira. – Podemos falar se… – Não és o meu namorado, nem o meu noivo – interrompeu ela, – e não vamos casar-nos. Não tinhas o direito de contratar uma ama sem a minha permissão. – Os seus olhos brilhavam. – Estás a ouvir? Quero que fique bem claro. Rowan reprimiu um sorrisinho, consciente de que a incomodaria ver que aquilo o divertia. – Sim, estou a ouvir. – Ainda bem, porque está claro que tens os teus planos, mas não são meus, e não vais obrigar-me a fazer o que queres que faça. – Não tenho nenhuma intenção de te forçar a nada – replicou ele. – Não seria justo, nem para ti nem para a nossa filha. – Como Logan ficou tensa quando o ouviu a dizer isso, replicou: – O que foi? É a nossa filha. – Sim, mas não deixarei que a uses como se fosse uma moeda de troca. – Nunca faria uma coisa dessas. Logan revirou os olhos.

– Nem sequer tu acreditas nisso. És o homem mais insensível de todos os que conheci. E isso é dizer muito, tendo em conta que o meu pai era o Daniel Copeland. – Não me pareço nada com o teu pai. – Ah, não? Nada o impedia de tirar o que queria. E a ti também não – acusou. Os seus olhos pareciam brasas de carvão. – Tiras o que queres das pessoas quando te apetece e, depois, afastas todos com um pontapé como se… Rowan suspirou para si. – Sei que te tratei mal, mas não será assim com a Jax. – Tens razão, não será assim, porque a Jax não faz parte deste… despropósito. É uma menina encantadora e o melhor que me aconteceu na vida e vou protegê-la de qualquer pessoa que possa magoá-la. – Não tens de a proteger de mim. – Oxalá pudesse acreditar. – Não sou um monstro. Logan desviou o olhar, com os dentes cerrados e os olhos húmidos por causa das lágrimas. Rowan sentiu um aperto no coração ao vê-la assim. Magoara-a no ado e sabia que fora injusto com ela, mas nada disso mudaria o resultado daquela conversa. Não ia renunciar a Jax e também não renunciaria a ela. Seriam uma família porque era assim que devia ser. Levantou-se do seu lugar e deu a volta à mesa para aproximar a cadeira. – Senta-te. Vais ficar mais confortável. Observou-o com desdém. – Queres que me sente porque achas que, assim, serei mais fácil de manipular, mas eu não tenho a menor intenção de me mostrar dócil ou complacente contigo.

Rowan afastou a cadeira e encurtou a distância entre eles. Logan levantou o rosto para ele e ficou a observá-lo com os olhos esbugalhados e a respiração entrecortada. Estavam tão perto que até conseguia ver como a veia do pescoço pulsava. Se respirasse fundo, o seu peito tocaria no dela. Se tentasse dar mais um o, o seu joelho chocaria com as coxas dela. De facto, como estavam tão perto, poderia pôr o seu joelho entre eles. Meu Deus, como morria por estar entre as suas coxas! Além disso, tinha a certeza de que, só de tocar nela, despertaria o desejo e acabaria por se entregar a ele. – Quero que te sentes – disse, com todo o corpo tenso de desejo, – porque estou a um o de te deitar em cima da mesa e de te fazer minha – acrescentou, olhando para ela nos olhos. – E parece-me que ainda não estás pronta para retomarmos onde parámos… – Não é que não esteja pronta, isso não vai acontecer – declarou ela, furiosa. E, então, Rowan fez o que sabia que não devia fazer: Segurou o rosto de Logan e beijou-a com um ardor a que tinha a certeza que ela responderia e foi assim. Os lábios de Logan tremeram por baixo dos dele e abriram-se para ele, que enredou a sua língua com a dela até sentir que se agarrava aos seus braços e se inclinava para ele. – Poderia fazer com que chegasses ao orgasmo agora – murmurou Rowan, contra os seus lábios, – e adorarias. Logan, cujo peito subia e descia, agitado pela sua respiração entrecortada, olhou para ele, magoada, e Rowan soube que a ofendera. Soltou-a e recuou, detestando-se. O que estava a fazer? Voltou a dar a volta à mesa e começou a arrumá-la, só porque precisava de tempo para se acalmar e para limpar a sua mente. Precisava de conseguir pensar com clareza e precisava que ela também o fizesse. Tinham decisões para tomar, decisões sobre o futuro de Jax. – Não podes manipular-me como queres – declarou Logan. – E não podes arrebatar-me a Jax. – Recuou e cruzou os braços. – O facto de nos teres tirado do país e de nos teres trazido para aqui não implica que sejamos da tua propriedade. – A Jax é tão minha filha como tua. – Tu não a querias. Não querias saber nada de nós.

– Tu não me disseste que ia ser pai. – Liguei-te. Gozaste comigo e desprezaste-me. – A questão é que não me disseste – insistiu ele. Uma sombra atravessou as feições de Logan. Rowan sabia que acertara onde mais lhe doía. Ela sabia que tinha razão. – No fundo, sabes que te deste por vencida demasiado cedo – acusou, impaciente, encolhendo os ombros. – Se a amasses tanto como dizes, terias lutado pelos seus direitos. Terias lutado pelo que era melhor para ela. – Achas que és o melhor para ela? – perguntou ela. Embora lhe tremessem os lábios, levantou o queixo, desafiante. – Achas mesmo que poderias ser um bom pai? Rowan cerrou os dentes. – Tanto me faz o que pensas. A lei é a lei. Como seu pai biológico, tenho os meus direitos e tenciono exercê-los, portanto, podes fazer parte desta família ou… – Não há nenhum «ou», Rowan. Eu sou a família dela. – E eu também sou. – Disseste que não usarias a Jax como moeda de troca. – Não estou a fazê-lo. Só estou a reivindicar os meus direitos como pai da minha filha. Podemos criá-la juntos e tomar as decisões sobre ela juntos ou podemos levar isto a tribunal e deixar que um juiz decida. – Nunca te dariam a custódia. Rowan observou-a atentamente. – Não tenho assim tanta certeza: O teu pai era um estelionatário e aste três anos a esconder-me que tinha uma filha… – Estás a retorcer tudo.

– Não percebes que foi exatamente o que aconteceu? Que foste tão desonesta como o teu pai? – Não é verdade. – É claro que é. Aos olhos da lei, é assim. Fez-se um silêncio tenso e pesado. O coração de Logan martelava contra o peito. Rowan virou-se para a secretária, pegou numas folhas agrafadas e virou várias folhas. Logan susteve a respiração ao ver que se inclinava por cima da mesa para rabiscar qualquer coisa – a sua , talvez? – ao fundo de uma folha. Depois, virou a página e voltou a rabiscar. O mais provável era que Rowan não tivesse sequer um interesse real na sua filha, que só visse aquilo como uma luta de poder, de quem tinha o controlo. – O meu pai mal ava tempo connosco – disse, tentando reprimir a ansiedade que a embargara. – ava todo o dia no escritório. E, depois do divórcio, só costumava estar com a Morgan e só porque foi viver com ele por pena. Não queria um pai assim para a filha. Rowan levantou a cabeça e os seus olhos encontraram-se. – E tu não sentiste pena dele. – Ele é que decidiu não nos visitar. A minha mãe nunca o impediu. O que se a é que não éramos suficientemente importantes para se incomodar em manter a relação com os filhos. – Mas continuava a ser o teu pai. Logan não sabia muito bem o que responder a isso. – Pagava-nos as contas. – Ou seja, na verdade, não te importavas com o teu pai. – Eu não disse isso. – Bom, é verdade, pelo menos, queres ir ao seu funeral – indicou ele, dando a

volta à secretária. – Era o meu pai. – Ah! – exclamou Rowan. Deixou-se cair na cadeira. – E achas que a nossa filha, quando for mais velha, não quererá ter uma relação comigo? Pensas que não precisa de um pai? – Em nenhum momento disse que… – Mas excluíste-me da sua vida. Impediste que saiba que tem um pai. – Pagar a manutenção de uma criança não é o mesmo do que dar-lhe amor e envolver-se na sua educação. – E o que se a? Presumes que me limitaria a pagar as contas, como o teu pai fazia? Logan humedeceu os lábios. – Pensaste o pior de mim há três anos. Julgaste-me pelo meu apelido. Tratasteme com uma dureza que não merecia. E sim, é difícil de acreditar, se não impossível, que quisesses fazer de pai, ser um pai a sério, com tudo o que isso significa. – Quando te apresentaste naquela noite, disseste-me que o teu nome era Logan Lane. – Lane é o nome da minha mãe e é um nome de que sempre gostei. Foi por isso que o escolhi. – Estás a dizer-me que mudaste de apelido? – Sim, quando nos conhecemos, estava a tratar dos trâmites legais para o mudar. O apelido Copeland transformou-se num estigma – murmurou ela. Rowan estudou-a em silêncio com o seu olhar impenetrável habitual. Depois, no entanto, a sua expressão suavizou-se. – Bom, não te aflijas. O importante é que temos a oportunidade de resolver as

coisas. Podemos chegar a um acordo sem um juiz, sem ir a tribunal. Será muito menos chato e doloroso se lidarmos com todo este assunto em privado. Porque tenho a certeza de que não quererás que isto apareça nos meios de comunicação social. A simples ideia de aparecer na televisão e nos jornais fez com que Logan sentisse um nó no estômago. Não conseguiria ar que os repórteres e os paparazzi começassem a persegui-la novamente. Fora horrível há uns anos, quando tinham seguido cada um dos seus movimentos. Sentira-se como um veado perseguido pelos cães de um caçador. E fora antes de Jax nascer… Assustariam a pobre menina a gritar, a segui-las nos seus carros, a buzinar e a gerar um verdadeiro caos só para conseguir uma fotografia. Expirou lentamente, tentando não perder a compostura. – Não, não é o que quero. Nestes últimos anos, tive uma vida muito discreta para manter os meios de comunicação social afastados. – Uma batalha legal pela custódia da Jax faria com que todos os focos voltassem a concentrar-se em ti. Logan ficou a olhar para ele, furiosa, cheia de frustração e desafiante, e ele baixou o olhar para os papéis na sua mão. – Marcaram a data do funeral para dentro de uma semana – comunicou. – Vai celebrar-se na cidade de Greenwich, em Connecticut. A tua irmã Morgan vai ocupar-se dos preparativos e a tua mãe e as tuas outras irmãs assistirão. Esperase que também vás. – Levantou o olhar para ela e ficou calado durante um bom bocado, antes de acrescentar: – E eu espero que possamos ir, mas depende de ti. – Isso seria absurdo. Não somos um casal, não… – Ainda não. Mas seremos. – Olha, Rowan, muitos pais criam os seus filhos em lares diferentes e… – Como aconteceu comigo – interrompeu ele, – e foi um inferno. Não permitirei que a minha filha se veja arrastada de um sítio para outro. É muito enervante para uma criança. Temos de pensar no que é melhor para ela.

– É preferível que uma criança tenha dois lares a ter apenas um cheio de tensão – resmungou Logan. – Não. Temos de afastar as nossas diferenças e concentrar-nos na Jax. Logan desviou o olhar com um nó na garganta. Fazia com que parecesse tão fácil… – Não confio em ti – murmurou. – Então, terei de ganhar a tua confiança. – Espera sentado. – Receio que não tenhamos muito tempo. O funeral é dentro de uma semana – reiterou ele. Logan olhou para ele, contrariada. – E o que tem a ver? Rowan deixou os papéis na mesa e sentou-se na sua poltrona. – Temos de nos casar antes do funeral. Se formos, iremos como uma frente unida: Tu, a Jax e eu, como uma família. – O quê?! – Como uma família – repetiu ele. – Isso é… impossível. Como vamos casar-nos esta semana? – Esta semana, não: Terá de ser amanhã, porque, assim, poderemos fazer uma pequena escapadela de lua de mel antes de viajar para Connecticut com a Jax para o funeral. – E se me recusar? – Ficaremos aqui.

Capítulo 6

Ficariam ali? Logan perdeu a força nas pernas e teve de se sentar na cadeira que tinha atrás. – Tencionas impedir-me de ir funeral do meu pai? – perguntou, num tom fraco. Observou-a com frieza, quase brincalhão. – Poderia dizer-te tantas coisas agora… Por exemplo, que nunca me disseste que tinhas ficado grávida ou que me excluíste da vida da minha filha nestes três anos. – Eu sei, é verdade, mas o facto de ter cometido erros não… – Muito bem, emendemos esses erros e façamos as coisas bem. Logan pestanejou com força para conter as lágrimas e mordeu o lábio para não dizer alguma coisa de que poderia arrepender-se depois. A única coisa que lhe dera forças nesses três anos fora a esperança de que, um dia, a sua vida pudesse ser diferente, de que, um dia, conseguisse encontrar o amor, de que Jax e ela tivessem tudo o que precisavam e, finalmente, se sentisse em paz. Contudo, com Rowan, não teria paz. Este abriu uma gaveta da sua mesa e tirou o que parecia uma revista. – Escolhe um ou dois e vais tê-los aqui esta noite – disse, dando-lha. Logan olhou para ele, confusa, mas, ao pegar na revista, viu que era um catálogo de vestidos de noiva. Foi como receber um murro no estômago. Irritada, atirou-o para a mesa. – Vamos casar-nos amanhã à tarde – acrescentou Rowan, não fazendo caso da sua reação, – fugiremos uns dias para a lua de mel e, depois, vamos encontrarnos com a tua família em Greenwich.

– Não tenciono fazê-lo. Não vou casar-me contra a minha vontade. – Eu também não quero uma esposa que se sinta forçada. Gostaria que aceitasses que isto é o que devemos fazer. – Isso não vai acontecer. – Nem sequer o farás pela Jax? Logan levantou-se e deu um o para ele. – Não me conheces. Não sabes nada sobre mim. Esse casamento não funcionaria. Somos como o azeite e a água. – Isso não é verdade. Há uma química incrível entre nós. – Um compromisso para toda a vida não pode basear-se no sexo. – Certo, mas a Jax merece esse compromisso da nossa parte. Logan abanou a cabeça com incredulidade e dirigiu-se para a porta para sair dali. – Não temos muito tempo! – exclamou Rowan. – Se não escolheres um vestido, terei de o fazer por ti. Logan parou na soleira da porta e virou-se para ele. – No teu afã para fazer o correto no que diz respeito à Jax, não percebes que o que estás a fazer é esmagar-me – acusou, magoada. Sem lhe dar tempo para responder, virou-se, saiu e afastou-se apressadamente pelo corredor, ansiosa por se afastar dele. Ao ver uma porta aberta ao fundo, atravessou-a e encontrou-se nos jardins. Já não estava a chover, mas o céu continuava toldado. O cascalho húmido do caminho rangia por baixo dos seus pés. Sem se aperceber, no seu desespero, começou a apertar o o e a correr, não porque podia fugir dali, mas porque precisava de uma via de escape para as emoções que a rasgavam por dentro. Entrou por um caminho ladeado por as sebes altas e cortadas que se

prolongavam à frente dela e pareciam não ter fim, por mais que dobrasse uma e outra esquina… Até, de repente, se aperceber de que estava num labirinto. Ao voltar a dobrar outra esquina, quase chocou com Rowan, que apareceu do nada à frente dela. Recuou, cambaleando. – Como… – começou a perguntar, mas calou-se e cerrou os dentes, irritada. Como podia não saber como chegar até ela quando aquele era o seu labirinto, o seu castelo e o seu mundo? As lágrimas de raiva amontoavam-se nos seus olhos e na sua garganta. Lutara durante os últimos três anos para ser uma boa mãe e sustentar a sua filha sozinha e, de repente, estavam a tirar-lhe tudo: A sua independência, o controlo sobre a sua vida, o seu futuro… Não queria um futuro partilhado com Rowan; não queria partilhar Jax com ele. – Pode saber-se o que estás a fazer? – perguntou ele, com o sobrolho franzido, olhando para ela, pasmado. – Está frio cá fora e estás sem casaco. – Prendeste-me aqui – murmurou ela, contendo as lágrimas. Não ia chorar enquanto tivesse um pouco de orgulho. – Prendeste-me e sabes, portanto, não brinques comigo. Não é justo. Rowan praguejou, puxou-a para ele e abraçou-a. – Não sei o que é justo ou não, Logan, mas sei que o que há entre nós é algo que não podemos ignorar. – É apenas sexo. – E então? Gosto de sexo – replicou ele. – Mas eu quero amor – queixou-se ela, pondo-lhe as mãos no peito. – Quero uma relação desinteressada, algo diferente do que conheci até agora. – As pessoas têm defeitos. Somos humanos e ninguém é perfeito. A vida é assim – disse ele, inclinando a cabeça para a beijar nos lábios. Depressa, o beijo tornou-se mais apaixonado e Logan sentiu que o coração acelerava e se derretia contra ele. E sabia que ele sabia. Sabia que o seu beijo bastava para a excitar, para a fazer tremer por dentro de desejo. Essa fraqueza

enfurecia-a e não queria tornar tudo ainda mais fácil. – Odeio-te! – gritou, com aspereza. – Não é verdade – murmurou ele. Enredou as mãos no seu cabelo e deitou-lhe a cabeça para trás para deixar ver o seu pescoço. Beijou-a no pescoço e por baixo da orelha. – Não me odeias, desejas-me. Um gemido abafado escapou dos lábios de Logan quando Rowan deslizou uma mão entre as suas coxas e a apertou contra a púbis. Não podia deixar-se seduzir outra vez… Era uma mulher forte, sabia que não devia deixar-se levar… E, no entanto, fechou os olhos e saboreou o formigueiro que se espalhava por todo o seu corpo. – Podemos fazer com que isto funcione, mesmo que não haja amor. – Tentou convencê-la novamente, deslizando a outra mão desde a cintura até ao peito. Logan ouvia as suas palavras, mas não estava realmente a entender. Não conseguia pensar de um modo racional quando estava a arquear-se contra a sua mão, ansiando mais. Queria sentir os seus dedos dentro dela, o seu corpo a esfregar-se contra o dela… – Basta concordarmos que a Jax é o mais importante. E acho que, nisso, estamos de acordo – acrescentou Rowan. Voltou a inclinar a cabeça e deu-lhe um beijo tão sensual que silenciou a voz da razão na sua mente. Depois, acariciou a curva de um dos seus seios, fazendo-a tremer, e sentiu a ereção contra a barriga. Quando lhe acariciou o peito por baixo, deixou escapar um suspiro e sentiu como o mamilo endurecia contra a copa de cetim do sutiã. – Rowan… – E ofegou, tentando agarrar-se à pouca prudência que ainda lhe restava. – Sim, querida? – Isto é uma loucura… Não podemos fazer isto… – Mas já o fizemos… Agora, só temos de pensar no que é melhor para a nossa filha. – Soltou-a, recuou e olhou para ela, muito sério. – Portanto, a questão é:

Vais escolher um vestido de noiva ou terei de o fazer por ti? Não estar entre os seus braços devolveu a Logan a lucidez que o desejo toldara. – Não vou casar-me contigo – declarou. – Não temos tempo para discussões – insistiu ele. – Para de dizer isso. Temos toda a vida pela frente. A Jax é demasiado pequena para se importar se… – Mas é importante para mim. Quero que tenha o que eu não tive: Uma família. – Tiveste uma família, só que era disfuncional, como a maioria. Estás tão obcecado que não percebes que estás a dar cabo de mim! – Não estou a dar cabo de ti. Estou a fazer o possível para te proteger, mas tens de confiar em mim se… – Não confio em ti – interrompeu, num tom ofegante. – Mesmo nada. – Então, talvez devesses começar por tentar mudar isso. – Eu?! – Está bem, ambos temos de tentar – concedeu Rowan, encolhendo os ombros. – Melhor assim?

De volta ao seu quarto, Logan eava de um lado para o outro, inquieta. Era tarde e Jax já estava a dormir na cama que Rowan mandara pôr no closet. O guarda do castelo, que também fazia biscates e sabia qualquer coisa sobre carpintaria, modificara uma cama de outro quarto para a tornar mais pequena e até lhe pa um corrimão para que Jax não caísse à noite. No entanto, com Jax já a dormir, tinha demasiado tempo para pensar e preocupar-se. Perdera o controlo. Sentia-se presa, embargada pelas circunstâncias. Engoliu em seco e tentou imaginar-se casada com Rowan: A tomar o pequeno-

almoço com ele, a jantar com ele, de férias com ele, a ir aos eventos escolares de Jax com ele… Era incapaz de o imaginar. Não conseguia imaginá-lo a levar Jax de carro à escola ou a ir buscá-la no fim das aulas, nem sentado numa reunião de pais. Não era capaz de o imaginar como o pai devoto e envolvido que queria para a filha. E, então, sentiu um nó na garganta ao pensar que talvez não achasse que Rowan podia ser esse tipo de pai porque ela não tivera um pai que a amasse realmente. O facto de não ter tido um pai carinhoso e solícito não queria dizer que Rowan não pudesse ser um bom pai. Tinha de falar com ele, pensou, com um suspiro. Não sabia o que lhe diria. Só que precisava que falassem sobre o casamento e a família para compreender o que significava para ele. Queria saber se seria apenas um pai ausente ou se realmente tencionava ser uma parte ativa na vida de Jax, interessar-se por ela, estar ao seu lado e ser paciente e carinhoso. Aproximou-se da porta do closet e olhou para a filhinha a dormir à luz suave do candeeiro que tinham posto numa mesinha de cabeceira improvisada. A sua respiração comada tranquilizou-a. Estava a dormir profundamente e, normalmente, não acordava de noite. Além disso, ela também não ia demorar horas a voltar e o quarto de Rowan era ao lado do dela. Seriam apenas uns minutos…

Quando bateu à porta do quarto de Rowan, este só demorou um instante a abrir. Estava descalço e usava uma t-shirt branca por baixo da qual se marcavam os músculos e umas calças de fato de treino cinzentas. – Podemos falar um pouco? – perguntou. Ele assentiu e desviou-se para que asse. Ao atravessar a soleira, Logan sentiu que a invadia uma onda de calor e que um formigueiro de inquietação lhe percorria as costas. Não sabia se aquilo fora realmente uma boa ideia. Não sabia se o quarto de Rowan era o sítio adequado para ter aquela conversa, nem se seria capaz de se manter concentrada e calma a sós ali com ele. Enquanto Rowan fechava a porta, eou o olhar pelo quarto e, não sabia se era por causa da cama enorme e desfeita, das cortinas pesadas que bloqueavam a luz

da lua ou por ele, que parecia absorver todo o oxigénio com a sua presença avassaladora, de repente, sentia-se acalorada e enjoada. Inspirou, trémula, e virou-se para Rowan. – Podemos sentar-nos? – pediu, apontando para as poltronas à frente da lareira impressionante de pedra. – Claro. – Não é muito tarde? – Não, nem pensar. Estava a ler. Normalmente, só adormeço às onze ou à meianoite. Logan hesitou. – Talvez fosse melhor deixá-lo para amanhã. Porque, se estás tão cansado como eu… – balbuciou. – É que pensei que, como a Jax está a dormir, poderia ser um bom momento, mas a verdade é que, agora, tenho medo de que acorde e se assuste ao encontrar-se sozinha e… – Engoliu em seco. De repente, sentia a boca seca. – Há câmaras de segurança no castelo. Se acordar, saberemos. Além disso, estamos ao lado. Estarás lá em meio minuto. Logan franziu o sobrolho, confusa. Havia câmaras de segurança? Onde? – Estiveste a espiar-nos? Rowan suspirou e foi até uma parede coberta por painéis de madeira. Levantou um quadro pequeno, pressionou um botão e, de repente, um dos painéis mexeuse para um lado, deixando a descoberto vários ecrãs embutidos. Alguns estavam em branco, enquanto outros mostravam diferentes salas e corredores, a entrada do castelo, os jardins, o portão da entrada… Logan aproximou-se e procurou o seu quarto nos monitores, mas a única coisa que se via era a porta do closet, ligeiramente entreaberta, como ela a deixara. – É um sistema de circuito fechado e tenho-o por segurança – explicou Rowan. – Não estou todo o dia a olhar para ele nem me dedico a espiar-vos. Disse-to para

que ficasses calma e para não te preocupares com o facto da Jax estar sozinha. – Mas… se esse estava fechado… de que te servem tantos monitores? – O sistema está ligado ao meu computador portátil e ao meu telemóvel. As câmaras são sensíveis ao movimento e recebo um alerta se se detetar alguma coisa – respondeu ele. – E agora, do que querias falar? Não havia impaciência nem brusquidão na sua voz, mas Logan continuava a sentir-se nervosa e começou a ear pelo quarto. – Pensei que poderíamos falar sobre… o casamento. Talvez possamos chegar a algum acordo quanto às condições. – Às condições? – repetiu ele. – Não estamos a falar de um contrato, mas de um casamento. – Em todas as relações, há regras – disse ela, com cautela. – Regras? – resmungou ele, com uma sobrancelha arqueada. Logan ignorou o seu tom irónico. – A maioria das relações evolui com o tempo, tal como o papel de ambas as partes, e desenvolvem-se regras tácitas de forma natural. Mas, conforme parece no nosso caso, não há tempo para isso, portanto, pensei que poderíamos falar do que esperamos deste casamento para que possamos deixar claro como funcionariam as… coisas entre nós. Rowan olhava para ela com um brilho divertido nos olhos. O facto de ser incapaz de a levar a sério e de se concentrar naquela conversa não era um bom começo. – Isto não é um jogo – disse, irritada, – e estou a tentar ter uma conversa entre adultos contigo, mas se preferes rir-te… – Não estou a rir-me. Mas não vejo a necessidade de discutir na noite antes do casamento. Logan lançou-lhe um olhar furioso.

– Amanhã, não vai haver casamento. De nenhuma das maneiras. E se nos casarmos um dia, não haverá lua de mel. É a ideia mais absurda que ouvi. – Pensava que todas as noivas sonhavam com a sua viagem de lua de mel. – As que se casam por amor! – exclamou ela, irritada. Cruzou os braços e acrescentou: – Mas nós não estamos apaixonados e não precisamos de ar tempo a sós, mas com a Jax. Ela deveria ser a nossa prioridade. – Um bom argumento. E, agora, se não te importares, senta-te – disse ele, apontando para uma das poltronas. – Ao ver-te a andar de um lado para o outro, sinto-me como se estivesse num desfile militar. – Vou sentar-me, mas só se tu também o fizeres. – Será um prazer – respondeu ele e ambos se sentaram. – Sabes? Imagino-nos aqui sentados no futuro à noite, cada um na sua poltrona, tu a tricotar e eu a fumar o meu cachimbo… – Tu não fumas e eu não sei tricotar. Rowan encolheu os ombros. – Bom, então, teremos de encontrar outra forma de desfrutar da companhia um do outro. Logan estava bastante certa de que se referia ao sexo. Estava sempre a pensar em sexo… – Queres parar de dizer coisas provocadoras? – Só tentava encontrar alguma coisa que pudesse fazer-te ficar feliz com o facto de irmos ar o resto da nossa vida juntos. Logan voltou a lançar-lhe outro olhar furioso e respirou fundo para tentar concentrar-se no que queria dizer. – A minha mãe não trabalhava – começou a dizer. – Por isso, quando o meu pai e ela se divorciaram, continuou a depender dele. Eu não estou disposta a deixar que me aconteça o mesmo. Se nos casarmos, não renunciarei à minha carreira.

– Mas mal chegas ao fim do mês… Eu ganho milhões por ano… – Esse dinheiro é teu. Quero o meu próprio dinheiro. – Bom, abrirei uma conta em teu nome. Posso depositar a quantia que quiseres e será todo teu. Eu não poderei tocar nele. – Não quero o teu dinheiro. Quero ser autossuficiente. – Porquê? Logan ficou a olhar para ele. – Estás mesmo a perguntar isso? – És a mãe da minha filha e, nestes três anos, fizeste malabarismos para conseguires sustentá-la sozinha. Deixa-me ajudar. – Podes ajudar com a Jax. Pagaremos tudo a meias. – E se eu me encarregar a cem porcento da manutenção da Jax e das contas e tu usares o teu… dinheiro… para os teus gastos pessoais? Logan inclinou-se para a frente. – Porque dizes «dinheiro» dessa forma? – Porque o que ganhas é uma miséria – disse ele, revirando os olhos, como se o exasperasse tanto como ele, a ela. – Não tens de trabalhar. Posso dar-te todos os confortos que quiseres. – O meu trabalho ajuda-me a sentir que a minha vida tem um propósito. – E ser mãe não te dá isso? – A maternidade é algo maravilhoso, mas não se trata disso. Trata-se da minha individualidade como pessoa, como mulher. Não quero depender de nenhum homem. A minha mãe viveu toda a sua vida à sombra do meu pai e eu não quero que a minha existência se defina por ser «a esposa de». Eu gosto de poder dar a minha própria contribuição ao mundo, mesmo que seja pequena – explicou. Como Rowan não dizia nada, acrescentou, num tom fraco, com um matiz de

desespero: – O trabalho ajuda-me a sentir-me útil, faz-me sentir que a minha vida tem algum valor. – Desviou o olhar, com um nó na garganta, receando que as emoções que a embargavam nesse momento transbordassem. – Claro que a tua vida tem valor. És o sol e a lua para a Jax. És tudo para ela. – E se lhe acontecesse alguma coisa? E se, Deus não queira, houvesse uma tragédia e a perdesse? Eu também me sentiria perdida. Sentir-me-ia acabada. Não restaria nada. – Teve de fazer uma pausa. Tentou esboçar um sorriso, mas não pôde. – Ela também é tudo para mim. Durante um bom bocado, ambos ficaram calados, ela com as mãos entrelaçadas no colo e os nós dos dedos brancos por causa da tensão e ele, perdido nos seus pensamentos. Quando Logan já não podia aguentar mais, murmurou: – Talvez não devesse sentir-me assim, talvez te pareça irracional… – Não é – replicou ele. Logan levantou o olhar, surpreendida, e Rowan encolheu os ombros. – A morte do meu irmão mais novo devastou a minha mãe e acabou com o seu casamento. – Perdeste um irmão? Rowan assentiu. – Eu tinha sete anos e o Devlin, dois, quase três – acrescentou. – Mas não tem de acontecer alguma coisa à Jax – tranquilizou-a, calmamente. – Vamos cuidar dela e vamos dar-lhe a vida que sei que queres que tenha. Logan pestanejou para conter as lágrimas. – E o que achas que quero para ela? Rowan olhou para ela nos olhos. – Não queres que a magoem. Queres que continue a ser uma criança durante o máximo de tempo possível, que se sinta segura, amada, apreciada. – Hesitou por

um instante, antes de acrescentar: – Queres dar-lhe a infância que tu não tiveste. Atordoada e incomodada, Logan levantou-se e dirigiu-se para os monitores, devagar. A porta do closet continuava entreaberta, como ela a deixara. De repente, sentiu a necessidade de ver a sua pequena, de se certificar de que continuava a dormir. – Há som, para além de imagem? – perguntou, trémula, virando-se para Rowan. – Podias ativá-lo no meu quarto para saber se a Jax continua a dormir? – Claro. E, se quiseres, também posso ativar a câmara do closet – disse Rowan, aproximando-se dela. – Fiz com que pusessem uma lá quando vieram. Tocou em vários botões e, num dos ecrãs, apareceu a caminha de Jax, que continuava a dormir aprazivelmente. Embora vê-la a tranquilizasse, Logan olhou, incomodada, para Rowan e resmungou: – Odeio que possas espiar-nos. – Já te disse, não vos espio. Nunca o fiz. – E o facto de teres enviado o Joe…? – A missão do Joe era proteger-te. E é para isso que servem essas câmaras: Para pura proteção. Desativei as da casa de banho e as do teu quarto, à exceção da porta do closet, para o caso de a Jax se levantar à noite e sair do quarto. Logan observou-o com os olhos esbugalhados. – Ou para o caso de alguém entrar no closet de noite – observou. – Também. – E isso inclui-me? Receavas que tentasse levá-la à noite, que fugisse com ela daqui? Rowan soprou. – A verdade é que me ou pela cabeça – itiu. – Mais de uma vez. – E porque haveria de tentar fugir de ti? – perguntou Logan, erguendo o queixo.

– Porque sabes que, quando formos para a cama, tudo mudará. Outra vez. O coração de Logan acelerou. – Isso não vai acontecer – respondeu. Graças a Deus, a sua voz parecia relativamente firme, porque as pernas, pelo contrário, tremiam. – Pareces muito segura de ti própria. – Porque me conheço. E porque te conheço também e sei que voltar a ir para a cama contigo poria o meu mundo de pernas para o ar e não por seres muito bom na cama, mas por seres cruel fora dela. Não quero que voltes a tratar-me como antes. Rowan encolheu os ombros. – Não posso mudar o ado – disse, esticando a mão para lhe pôr uma madeixa atrás da orelha, – mas posso garantir-te que, a partir de agora, as coisas serão diferentes. O toque da sua mão fê-la tremer. – Rowan, não quero… – começou a dizer, mas ficou calada porque lhe acariciou a face e, quando o seu polegar lhe tocou os lábios, um formigueiro delicioso percorreu-a. – Sim? – insistiu, arqueando uma sobrancelha. – Estou a ouvir, querida. Logan olhou para ele nos olhos. Como ia falar quando tinha o coração acelerado e era incapaz de pensar só por a mão dele tocar nela? – Sabes? – inquiriu, pensativo, penteando-lhe o cabelo com a mão. – Agora que penso nisso, nunca te perguntei se estás com alguém, se há alguém na tua vida que… Estava a seduzi-la com as suas carícias e Logan sentia-se incapaz de resistir ao calor dos seus dedos e à ternura com que tocava nela. Detestava-se por reagir assim às suas carícias, por estar tão necessitada de afeto. Rowan não era o tipo

de homem que seria bom para ela, nunca seria. – Não – murmurou. – Como é possível? És jovem e linda… – E também sou mãe de uma menina pequena que depende de mim. – E nunca quiseste encontrar alguém que pudesse ajudar-te para que a tua vida fosse um pouco mais fácil? – Não. – Porquê? – Porque não confio nos homens e suponho que não te surpreenda. Os homens que conheci… – disse ela, olhando para ele com os olhos semicerrados. – Só se preocupavam com eles próprios, com as suas próprias necessidades e só pensavam no que eles queriam, sem se importarem com os outros. – Eu não sou assim. – É claro que és. – Se dizes isso é porque não me conheces e já está na hora de resolver isso. Agora.

Capítulo 7

Rowan apoderou-se dos lábios de Logan com um beijo que a fez derreter-se por dentro, confundindo-a ainda mais e fazendo-a esquecer quem era e porque aquilo não podia funcionar. Rodeou-lhe o pescoço com os braços, agarrando-se a ele, e tremeu quando as mãos de Rowan se fecharam por cima dos seus seios, criando umas sensações deliciosas de prazer por todo o seu corpo e fazendo-a gemer de satisfação. Rowan levantou-lhe a camisola para a tirar pela cabeça. Depois, tentou livrar-se das calças, porque as desabotoou e abriu o fecho, mas, ao baixar o olhar e ver que calçava umas botas, deitou-a na cama para a descalçar primeiro e, depois, livrar-se das calças, deixando-a apenas com as cuecas e o sutiã a condizer. Logan esticou a mão para a colcha para tentar tapar-se um pouco, mas ele foi para a cama, pondo-se em cima dela, e segurou-lhe as mãos contra o colchão para a impedir. – Quero ver-te – declarou, num tom rouco. Logan fechou os olhos, tímida, mas, mesmo com os olhos fechados, conseguia sentir o olhar ardente de Rowan sobre ela, devorando-a como um homem que não comia há vários dias. Rowan inclinou a cabeça e beijou-a no queixo e no pescoço. Logan susteve a respiração quando os seus lábios pousaram no espaço entre as clavículas. Adorava a firmeza com que lhe segurava os pulsos contra a cama e gostava de o sentir em cima dela, com os joelhos de ambos os lados das suas coxas. Os lábios de Rowan deslizaram pelo vale entre os seus seios e tocaram ligeiramente nas copas de seda que os cobriam. Sentiu a sua respiração quente através do tecido delicado e bastou que lhe mordiscasse suavemente um mamilo para que endurecesse imediatamente. Excitada, Logan arqueou-se para ele e mexeu-se, impaciente. Rowan mexeu a

cabeça para o outro seio. Deslizou a língua por cima do sutiã, deixando um rasto húmido pelo caminho, e também traçou o contorno superior, lambendo-lhe a pele. O toque abrasivo da barba incipiente de Rowan era muito erótico, mas não era suficiente. Arqueou as ancas. Sentia-se acalorada, húmida e vazia. Só ele podia preencher esse vazio. – Rowan… Por favor… Sabes o que quero… – sussurrou. Ele levantou a cabeça para olhar para ela. – E tu sabes o que eu quero – respondeu. – Sim, quero sexo e tu, uma esposa – declarou ela. Queria que fosse um sarcasmo, mas a sua voz parecia rouca por causa do desejo. – Parece que não estamos na mesma onda. – O sexo é fácil. Encontrar a esposa adequada é mais difícil. – Não sou a esposa adequada para ti. – És, sim. – Porque sou a mãe da tua filha. – Efetivamente – assentiu ele, antes de se inclinar para pôr um mamilo na boca. Lambeu-o e sugou-o até Logan se remexer e ofegar por baixo dele. – Rowan… Rowan… – Sim, querida? – Isto é uma tortura. – Prepara-te, porque tenciono atormentar-te todas as noites – murmurou ele. Soprou para a copa húmida do sutiã. – E vou fazer o mesmo com as tuas cuecas até gritares de prazer. – Rowan… Preciso de te ter dentro de mim…

– Eu sei, mas terás de esperar um pouco. Antes, tenho de te castigar. – Porquê? – Vejamos… Por onde começo? – Inclinou-se e mordiscou-lhe o mamilo, arrancando novos gemidos. – Devias ter-me dito quem eras desde o princípio… Devias ter-me dito que eras virgem… Devias ter-me dito que tinhas ficado grávida… – Olhou para ela nos olhos. – Queres que continue? – É só disso que podes acusar-me. Não fiz mais nada. – Ou seja, ites que agiste mal em todas as vezes que mencionei. Logan fechou os olhos quando uma das suas mãos desceu para a anca. – Foram falhas de comunicação – sussurrou ela. O coração acelerara e deu por si a pensar que deveria pedir-lhe para parar, mesmo que não quisesse que o fizesse. No entanto, quando a mão de Rowan deslizou entre as suas coxas e se apertou contra o centro da sua feminilidade, esses pensamentos desapareceram. Rowan levantou a cabeça e os seus olhos procuraram os dela. – Sei que me desejas – murmurou. Como poderia negá-lo quando estava a arder por dentro? – Sim… – Mas não gostas de mim, não confias em mim e não queres casar-te comigo. – Mal nos conhecemos. Só sabemos que… funcionamos bem na cama. Ele esboçou um sorriso. – Bom, é um começo, não é? – Não podemos basear o casamento no sexo! Rowan encolheu os ombros.

– Há muitos casais que nem sequer funcionam bem na cama. – Eu quero mais – replicou ela. – Recuso-me a conformar-me com menos. Rowan ficou a olhar para ela durante um bom bocado, como se estivesse a tentar ler a sua alma, antes de voltar a inclinar a cabeça para a beijar, enquanto lhe desabotoava o sutiã e lho tirava. Quando pôs um mamilo na boca e o lambeu, para depois fazer o mesmo com o outro, Logan ficou com falta de ar. O contraste da sua boca, quente e húmida, com o ar frio fê-la sentir um nó no estômago e apertar as coxas. Agarrou-lhe a cabeça, apertando-o contra ela, quando começou a sugar com mais força. Era impossível reprimir os gemidos de prazer que escapavam da sua garganta e não arquear as ancas para as dele… Rowan tirou-lhe as cuecas muito devagar e, depois, tirou a t-shirt e as calças de desporto que usava. O seu membro ereto ricocheteou quando o libertou e Logan irou o seu peito esculpido e as suas coxas fortes. Esticou a mão e tocou no seu membro. Tinha um toque rígido, quente e sedoso, tudo ao mesmo tempo. Como ouviu Rowan a inalar bruscamente quando fechou a mão em torno dele e o acariciou, continuou a fazê-lo. O membro de Rowan palpitava na sua mão e tinha muita vontade de o ter dentro dela. Rowan parou-a e voltou a inclinar-se para beijar o vale entre os seus seios e, depois, continuar a descer até à barriga. Introduziu a mão entre as suas coxas e afastou-as. Logan gemeu, excitada, quando começou a explorar o seu sexo e fechou os olhos, tremendo de prazer. Rowan deslizou um dedo dentro dela e estimulou o clitóris com o polegar, fazendo correr rios de lava pelas suas veias. Beijou-a na barriga e posicionou-se para lamber o centro da sua feminilidade. Logan ofegou ao sentir as carícias da sua língua. O prazer era tão intenso que quase lhe causava dor. Afundou os dedos no seu cabelo, ofegante, e Rowan continuou a mexer o dedo dentro dela e a lambê-la até todo o pensamento racional abandonar a sua mente. Logan ofegava cada vez mais à medida que se aproximava do orgasmo. Fincou um pé no colchão, tentando conter-se, fazendo o possível para o atrasar porque não queria que aquelas sensações incríveis acabassem.

No entanto, Rowan não lhe dava tréguas. Os seus dedos eram demasiado hábeis e sabia como controlá-la com os lábios, a língua e os dentes. Pouco depois, chegou um orgasmo tão intenso que quase gritou, embora conseguisse conter-se. Pelo contrário, não conseguiu reprimir as lágrimas que afloraram aos seus olhos, lágrimas de raiva. Fechou-os com força. Não devia desejar Rowan daquele modo quando a magoara tanto. Rowan deitou-se junto dela, puxou-a e beijou-a, segurando o seu rosto entre ambas as mãos. No entanto, quando uma lágrima caiu pela face de Logan e penetrou entre os lábios de ambos, afastou-se e observou-a, contrariado. – O que se a? Dói-te alguma coisa? Logan mal conseguia respirar. Era como se um bloco de cimento lhe oprimisse o peito. – O coração – respondeu. Rowan ficou a olhar para ela nos olhos durante um bom bocado, antes de se inclinar para a beijar com suavidade. – Os corações partidos saram – disse e começou a beijá-la novamente, enquanto se punha entre as suas pernas. Logan sentiu o extremo suave e grosso do seu membro contra o sexo. Era uma sensação agradável e era precisamente por isso que o detestava. – Fazes com que tenha vontade de te odiar – itiu, num tom ofegante, quando começou a penetrá-la. Só tinha o extremo dentro dela, mas a sensação de prazer que experimentou foi incrível e íntima… – Odeias-me porque desfrutas demasiado disto – indicou Rowan, inclinando-se para a beijar no pescoço. À exceção do extremo, o seu membro ainda estava fora dela e Rowan não parecia ter pressa para a penetrar por completo. No entanto, o seu corpo estava a ferver de impaciência. Os seus músculos internos ficaram tensos em torno do membro, agarrando-se a ele.

– Podes odiar-me, se quiseres – murmurou Rowan, introduzindo-se apenas mais alguns centímetros dentro dela. – Não me importo. Todo o corpo de Logan vibrava. Faltava-lhe o ar. – Estás mesmo a desfrutar disto – resmungou, cravando-lhe as unhas nos ombros. – Adoro dar-te prazer. – Se realmente queres dar-me prazer, dá-me o que quero! – protestou ela, com falta de ar. – O que queres? – Sabes muito bem. Claro que sabia, porque, nesse momento, mexeu finalmente as ancas e penetroua por completo. Logan deixou escapar um gemido intenso. Isso… isso era o que ela queria. Rodeou-lhe os ombros com os braços, puxando-o para ela, e novas lágrimas fugiram dos seus olhos, embora lutasse para reprimir as suas emoções. – Não chores, querida… – murmurou Rowan, apoiando-se nos braços para se afastar dela e voltar a penetrá-la devagar, até ao fundo. – Não é mau sentir prazer. – Dá-me mais – sussurrou ela, dando a batalha por perdida. Rowan começou a mexer as ancas ritmicamente, várias vezes. Com cada movimento, pressionava o seu clitóris e a tensão acumulava-se de tal modo dentro de Logan que soube que, em breve, alcançaria o orgasmo outra vez. Rowan mexeu-se mais depressa, penetrando-a com mais força, ao mesmo tempo que ela se arqueava, respondendo a cada um dos seus movimentos para criar mais fricção. Ao ouvi-lo a resmungar de prazer, Logan soube que também lhe faltava pouco para alcançar o clímax, mas estava a conter-se por ela, decidido a dar-lhe ainda mais prazer, enquanto ela queria conter-se só para o desafiar.

No entanto, quando Rowan deslizou a mão entre os dois para lhe acariciar o clitóris, já não pôde continuar a resistir e o orgasmo chegou meros segundos antes do dele, que a penetrou pela última vez. Só então é que uma vozinha sussurrou na sua mente: «É assim que alguém fica grávida…» Como podia ser tão tola? Acabara de cair numa armadilha? Seria muito fácil para Rowan tentar retê-la ao seu lado com outra gravidez… Queria gritar, bater-lhe, rebelar-se contra ele. – Talvez me tenhas deixado grávida – repreendeu-o, enquanto se afastava dela para se deitar ao seu lado. – Talvez – assentiu ele, puxando-a para ele e entrelaçando as suas pernas com as dela. Logan ficou tensa. – Não quero outra gravidez. – Bom, mas a Jax gostaria de ter um maninho ou uma maninha. – Como podes dizer isso? – Logan tentou endireitar-se, mas Rowan não permitiu. – Nem sequer a conheces! Rowan encolheu os ombros. – Todas as crianças querem ter irmãos – murmurou. Ao ver que não dizia mais nada, Logan levantou o olhar e percebeu que não só fechara os olhos, como adormecera. Ela estava tão furiosa que pensou que seria impossível relaxar e adormecer, mas, de algum modo, alguns minutos depois, o sono arrastou-a assim, cativa entre os braços fortes de Rowan.

Capítulo 8

Quando Logan acordou, por um instante, não soube onde estava. E, então, recordou tudo o que acontecera na noite anterior. Depois, lembrou-se de Jax e olhou para a parede onde estavam os monitores de vigilância de circuito fechado para verificar se a menina continuava na sua cama, mas os ecrãs estavam apagados. Levantou-se da cama em pânico, agarrou na primeira peça de roupa que encontrou – uma t-shirt de Rowan, – vestiu-a pela cabeça e voltou a correr ao seu quarto. As cortinas estavam abertas e a luz do sol entrava pelas janelas altas, mas, quando entrou no closet, encontrou a caminha de Jax vazia. Tentou acalmar-se, pensado que não podia acontecer alguma coisa má a Jax enquanto estavam ali. Provavelmente, estava com Orla, a ama. De certeza que estavam em alguma parte do castelo, a brincar, mas até verificar com os seus próprios olhos que a filha estava bem, não ficaria calma. Vestiu uns calções, calçou umas sabrinas, saiu do quarto e desceu as escadas o mais depressa que pôde. Foi ao escritório de Rowan, mas não o encontrou lá. Não se ouvia nada. Onde estava? Onde estavam todos? Rowan ter-se-ia ido embora com Jax, deixando-a ali sozinha? Dirigiu-se para a cozinha do castelo. Lá, estava um calor muito agradável e cheirava a levedura. Havia uma mulher inclinada por cima da bancada, a amassar alguma coisa com as mãos. Ao ouvi-la a entrar, limpou as mãos num pano e virou-se para ela. – Olá. Precisa de alguma coisa? – Estou à procura da minha filha – disse Logan, – não a encontro. – Ah, a menina está com o senhor Argyros – respondeu a mulher, abrindo a porta do forno para tirar uma bandeja de bolinhos e deixá-la na bancada. – Estão lá fora, no jardim. – Apontou para uma porta com a cabeça. – Pode sair por aí.

– Obrigada. Logan saiu e parou ao dobrar a esquina. Ali, entre as sebes e a horta de ervas aromáticas, havia uma mesinha de madeira pintada de azul com duas cadeirinhas a condizer. Uma toalha delicada de renda cobria a mesinha e, numa das cadeiras, estava sentada Jax, com uma tiara na cabeça, enquanto na outra estava sentado Rowan, que parecia um gigante naquela cadeirinha. Segurava uma chávena de porcelana e Jax imitou-o, segurando na dela com um sorriso de orelha a orelha. Logan ficou com falta de ar. Nunca vira a filha a olhar para alguém daquela forma, nem sequer para Joe, embora o adorasse. Reparou que, em cima da mesa, também havia uma jarrinha com um ramalhete de flores roxas e uma travessa de cupcakes com diferentes coberturas e outra de bolos. Alguém se esmerara para preparar aquela brincadeira. Teria sido coisa de Orla? No entanto, o modo descuidado com que o ramalhete fora posto na jarrinha fê-la pensar que não fora a ama, mas outra pessoa… Pousou os seus olhos em Rowan, que estava a sorrir para a pequena com uma expressão calorosa e protetora. Até se diria que a observava com adoração. Os olhos de Logan tinham-se enchido de lágrimas e quase não conseguia respirar devido às emoções contraditórias que a invadiam. Jax, que estava a servir mais chá a Rowan, pareceu aperceber-se da sua presença nesse momento, porque virou a cabeça e, ao vê-la, pousou a chaleira pequena na mesa e cumprimentou-a, abanando o braço. – Olá, mamã! – Olá, linda! – exclamou ela, pestanejando para conter as lágrimas e para que a sua filha não a visse chorosa. – Estamos a fazer uma festa! – gritou a menina. – E sou uma princesa! – acrescentou, levando a mão à cabeça para ajeitar a tiara. – Estou a ver! – exclamou Logan, aproximando-se deles. Quando parou junto da mesa, evitou o olhar de Rowan e inclinou-se para dar um beijo à filha. – O que estão a beber é mesmo chá? Jax assentiu, mexendo a cabeça com veemência.

– Sim. – Na verdade, é sumo de maçã – corrigiu Rowan, num tom divertido. Logan virou a cabeça para ele. Depois do que acontecera na noite anterior, esperava encontrar um sorriso presunçoso no seu rosto, mas, para sua surpresa, descobriu-o a olhar para ela com cautela, como se estivesse a tentar calibrar qual era o seu estado de espírito. Se pelo menos ela soubesse como se sentia! Estava tudo a mudar e sentia-se deslocada, incapaz de se concentrar. – Isto é o pequeno-almoço dela? – perguntou a Rowan, apontando com a cabeça para os cupcakes e os bolinhos. – Não, é a hora do chá, mamã – interveio Jax, um pouco exasperada. – Já tinha tomado o pequeno-almoço – acrescentou. Depois, olhou para Rowan e, num tom muito cortês, perguntou: – Queres mais chá? – Bom, ainda não acabei esta chávena – respondeu Rowan, – mas obrigado. – Desculpa, mamã, só temos duas chávenas – desculpou-se a pequena, virandose para ela. Logan não pôde evitar pensar que a filha não parecia lamentar que não pudesse juntar-se a eles. Era evidente que queria monopolizar toda a atenção de Rowan. – Não faz mal. De facto, devia subir para mudar de roupa – murmurou. No entanto, sentia um nó na garganta. Jax nunca quisera prescindir da sua companhia. Era algo novo e doloroso para ela, que a excluísse dessa forma. Rowan olhou para ela, quase com compaixão. – Não tens de te ir embora. Se quiseres, posso ir buscar uma cadeira para ti. O facto de parecer compreender como se sentia só serviu para a contrariar mais. Supostamente, Rowan era o mau da fita, mas ali estava, tão bonito, com as suas calças pretas e a sua camisa branca, sentado numa cadeira minúscula e a beber sumo de maçã de uma chávena de brinquedo.

Encolheu os ombros e respondeu, tentando imprimir um tom animado à sua voz: – Não, a sério, preciso de tomar um duche e mudar de roupa. Embora tenha sido uma simpatia por parte da Orla organizar tudo isto. Terei de lhe agradecer quando a vir. Está por aqui? – Não, ainda falta meia hora para que chegue – respondeu Rowan. Logan franziu o sobrolho, confusa. – Mas foi ela que preparou tudo isto, não foi? – inquiriu, apontando para a mesa com um gesto. – Não – disse ele. – Foi o meu papá – disse Jax e virou-se para olhar para Rowan com adoração. «O meu papá»… Rowan contara-lhe… Logan lançou-lhe um olhar de estupor, mas Rowan não se intimidou, nem pareceu sentir-se incomodado. – Falaremos disso quando a Orla chegar – declarou, de um modo casual, como se não tivesse acabado de pôr a sua vida de pernas para o ar. Como se atrevera a fazer uma coisa dessas? Como? Não conseguia acreditar que lhe contara… Estava tão zangada… O sangue fervia-lhe nas veias. – Foi por isso que organizaste isto? – perguntou. – Falaremos quando a Orla chegar – insistiu ele. O seu tom era calmo, mas não ignorou o aviso velado das suas palavras: «Agora não. Não faças com que a Jax se sinta mal.» Engoliu as palavras iradas e agudas que se amontoavam na sua mente e na sua boca. Sentia-se traída. Rowan jogara sujo. Sempre o fizera. Nunca mudaria. Os olhos voltaram a encher-se de lágrimas e sentiu um nó de raiva na garganta. – Acho que, como dizes, o melhor é ires tomar um duche e comer qualquer coisa – acrescentou Rowan. – Já ou a hora do almoço e deves ter fome.

– Mas… que horas são? – balbuciou ela. – Já a das duas. – Das duas? – Dormiste mais do que o normal, mas precisavas – respondeu ele. Jax deu-lhe um cupcake do seu prato. Estava um pouco manuseado e peganhento, mas ele aceitou-o com um sorriso. – Sim, ontem, foi um dia cansativo – assentiu Logan, virando-se para se ir embora. Já não tinha nada para fazer ali e tinha frio apenas com a t-shirt e os calções. Voltou a entrar na cozinha e perguntou à cozinheira se poderia fazer com que levassem um café e alguma coisa para comer ao seu quarto, para tomar o pequeno-almoço. – É claro. Vou pedir à empregada – prometeu a mulher. Minutos depois, Logan estava sentada na cama à frente de uma bandeja com café, bolos, manteiga, doce e uma tigela com framboesas, amoras e arandos. Devorou tudo com apetite e, depois, tomou um duche e vestiu-se. Quando Jax regressou ao quarto, Logan estava mais do que pronta para voltar a atirar-se de cabeça para o seu papel de mãe, mas a pequena tinha outros planos. Depois de lhe dar um abraço grande e um beijo, anunciou que ia ver um filme com Orla. – Mas… onde está a Orla? – perguntou Logan. – Está à minha espera lá fora, no corredor. Logan foi abrir a porta e, efetivamente, Orla estava lá parada. Ao ouvir a porta, virou-se com o seu sorriso habitual. – Boa-tarde – cumprimentou. – A Jax disse-lhe que vamos ver a Cinderela na sala de cinema?

– Há uma sala de cinema aqui, no castelo? – Sim, menina. Lá em baixo, na cave. – Não sabia que os castelos tinham caves. – Bom, eram as masmorras, mas não queremos que a pequena se assuste, pois não? – comentou a ama, piscando-lhe um olho. Depois de se ir embora com Jax, Logan decidiu que estava na hora de falar com Rowan, portanto, saiu do quarto e foi procurá-lo. Uma tarefa nada simples num lugar tão imenso como aquele. Foi ao escritório, à biblioteca, à sala, saiu para o jardim e acabou por voltar para dentro e ir ao andar de cima para ver se estava no seu quarto. E estava. Quando abriu a porta, encontrou-o a despir-se e, ao ouvir a porta, virou-se para ela, completamente nu. Logan não pôde evitar percorrê-lo com o olhar, parando no seu tórax largo, nos abdominais esculpidos, nas ancas estreitas… Parecia a encarnação de um Deus do Olimpo… E ele sabia. – Voltaste para vir buscar mais, eh? – perguntou, com um sorriso atrevido. Logan corou, mas não recuou. Fechou a porta atrás dela e disse: – Não tinhas o direito de lhe contar que és o seu pai. O sorriso desapareceu dos lábios de Rowan. – É claro que tinha. Tu não tinhas pressa para lhe contar. – Tinha um plano traçado para lhe contar. – Claro… Um plano que não me incluía, imagino – respondeu ele, sem fazer a mínima tentativa de se tapar. – Não tenciono deixar que continues a manter-me à margem. Sou o seu pai, não um Zé-ninguém. Logan desejou fervorosamente que voltasse a vestir-se. Como podia discutir com ele quando estava nu? – Nunca te tratei como um Zé-ninguém – disse.

– Certamente, não me trataste como um igual – replicou ele. – Embora, claro, sejas uma Copeland. Que outra coisa poderia esperar? – Já estás outra vez com isso? Rowan avançou para ela, tenso e com os dentes cerrados. – O que se a? A tua família não pode incomodar-me? Não devia importar que o teu pai tenha destruído a minha? – perguntou. Ao ver a surpresa dela, acrescentou: – Sim, o teu pai destruiu a minha família. Envergonha-me a facilidade com que o conseguiu. Embora também culpe o meu pai por isso. Ao fim e ao cabo, foi ele que decidiu trabalhar para o teu. – Trabalhou para ele? – repetiu ela, espantada. – Sim. Não sabias? – Rowan deixou escapar uma gargalhada brincalhona. – O teu pai era um mestre do engano. Foi capaz de esconder os seus crimes durante anos, escondendo-se atrás da sua mansão grande em Greenwich e da sua vida de alta sociedade. Logan susteve a respiração com o coração acelerado. Sabia que Rowan não acabara e que qualquer coisa que dissesse o enfureceria ainda mais. Além disso, era ele que tinha um problema porque era incapaz de diferenciar entre o pai e ela. Fora assim desde o começo e sabia que isso não ia mudar. – Escondia-se por trás de um verniz de sofisticação que criava com o dinheiro de outras pessoas. Espremia-os, tirando-lhes até ao último centavo, até as poupanças da sua reforma, para poder exibir a sua vida de luxo, como um pavão… – Rowan virou-se para a janela e ficou em silêncio por um instante, com o olhar perdido no horizonte. – O dinheiro dá poder – acrescentou, num tom áspero. – Proporciona uma ou duas camadas extra de proteção e isso permitiu ao teu pai continuar escondido durante décadas enquanto os outros, os que trabalhavam para ele, ficaram presos nas redes dos seus enganos e se transformaram no bode expiatório: Sofreram vários anos de prisão. Logan, que estava a começar a compreender, sentiu um arrepio. – Quer dizer que… prenderam o teu pai? – perguntou, num murmúrio. – Sim.

– Quanto tempo? Rowan virou-se para ela e observou-a com dureza. – O suficiente para destruir a sua reputação enquanto o teu pai saía ileso. – Eu… não sabia nada disso. – Aconteceu antes de nasceres. Eu era apenas uma criança e o meu irmão ainda gatinhava. Logan cerrou os punhos, cravando as unhas nas palmas. – Mas… como é que o meu pai pôde sair ileso dos seus crimes? Como é que só condenaram o teu? – Porque lhe pagou para que fosse o bode expiatório – respondeu Rowan, num tom cortante. – E também não lhe pagou grande coisa, até para um homem pobre como o meu pai, mas o teu pai não se importava. Não era problema dele como a minha família ia sobreviver. Não era problema dele que uma jovem irlandesa com dois filhos pequenos tivesse de fazer malabarismos para chegar ao fim do mês quando mandaram o seu marido para a prisão. – Ficou calado por um instante. – Se o meu pai o tivesse desmascarado, se se tivesse recusado a transformar-se num bode expiatório, o teu não teria podido continuar a roubar milhares de milhões a outras pessoas. Mas não o fez. Aceitou a culpa e foi para a prisão. Aquilo devastou a minha família, enquanto vocês mantiveram a vossa reputação ilesa, perdidos nessa aura de privilégios e sofisticação. – Lamento – sussurrou ela. Lamentava mesmo. Sentia-se tão envergonhada com o que o pai fizera… O peso dessa vergonha acompanhara-a durante anos e quase a asfixiara. Fora por isso que se mudara da costa este para a costa oeste. Fora por isso que se afastara da sua família. Fora por isso que deixara de usar o seu apelido. Não para se esconder, mas para poder ser ela própria e não a filha de Daniel Copeland. No entanto, Rowan nunca a veria dessa forma. Para ele, seriam sempre inimigos. Rowan encolheu os ombros, com indiferença, e virou-se para entrar na casa de banho. De costas, também parecia um deus grego, com esses ombros largos, a cintura estreita, os glúteos escuros… Contudo, para além da beleza de um deus

grego, também tinha a crueldade dos deuses gregos. Nunca a perdoaria. Castigála-ia para o resto da sua vida por ser uma Copeland. Lágrimas de frustração amontoavam-se nos seus olhos. – Eu não sou o meu pai! – gritou, enquanto se afastava. – Nunca fui, nem tu és o teu pai! Rowan entrou na casa de banho e, embora não fechasse a porta, também não respondeu. – Desde aquela manhã em Los Angeles, há três anos, estiveste a castigar-me por ser uma Copeland e já estou farta. Tu também não és perfeito. – Não, não sou – respondeu ele, reaparecendo na soleira da porta. – Mas levo a paternidade muito a sério e sei como os pais são importantes para uma criança. Não tinhas o direito de me excluir da vida da Jax. E agradeço a Deus por ter voltado a pôr-te no meu caminho, porque, se não, continuaria sem saber que tinha uma filha. Logan entendia que estivesse zangado com ela por isso, mas ela também estava furiosa. – Não está bem teres contado à Jax que és o pai sem me incluir. Eu devia ter feito parte dessa conversa. – Em teoria, sim, mas não estavas lá. – E porque não esperaste? – Porque estou farto de esperar – resmungou ele. – Eu deveria ter estado presente! – repetiu ela, dando alguns os para ele. Rowan cruzou os braços e apoiou um ombro contra a ombreira da porta. – Sim, devias ter estado, mas não estavas. E houve um momento, quando estávamos a beber o «chá», em que a Jax me disse que não tinha pai e eu estava ali. O que devia fazer? Fingir que não a tinha ouvido? – Não é verdade! Não acredito que tenha dito isso!

– Fê-lo e eu disse-lhe que era o pai dela – declarou ele. Ergueu-se e encolheu os ombros. – E fi-lo com naturalidade, porque não queria incomodá-la. Simplesmente, disse-lhe que era o pai dela, que lamentava muito ter ado tanto tempo longe dela e que nunca mais voltaria a afastar-me dela. Expliqueilhe que, a partir de agora, viveremos todos juntos, que seremos uma família feliz e que espero que, com o tempo, possamos ampliá-la e dar-lhe um maninho ou uma maninha. Logan, que desviara o olhar, virou a cabeça bruscamente ao ouvi-lo dizer isso e o sangue ferveu-lhe nas veias ao ver o sorriso petulante nos seus lábios. – Não disseste mesmo isso, pois não? – Disse, pois. E não sabes como a ideia a entusiasmou. Disse-me que adoraria ter irmãos e, se pudesse ser, gémeos: Dois rapazes ou duas raparigas – acrescentou Rowan. – Adoro as famílias numerosas, tu não? – Não tem graça. Além disso, a Jax é apenas uma criança. Não devias dar-lhe falsas esperanças. Depois, acabará por ter uma desilusão e… – Não sei. Ontem à noite, não usámos preservativo. Talvez já tenhas ficado grávida – indicou Rowan, com um sorriso exasperante. E, virando-se, voltou a entrar na casa de banho. Logan ficou ali de pé com os punhos cerrados, furiosa. – Na verdade… – disse Rowan, que acabara de abrir a torneira do duche. – Esta manhã, o Drakon ligou-me. Parece que há algum tipo de drama familiar e esperava que pudesses ligar à Morgan depois do jantar: As tuas irmãs discutiram. Logan revirou os olhos. Não era preciso perguntar com qual das suas irmãs Morgan discutira. – Já te tinha dito que a Victoria e ela não se dão bem. – O Drakon disse-me que, no dia anterior, não houve problemas entre elas, mas que, de repente, começaram a discutir por causa do funeral do vosso pai e que se armou uma boa confusão. – Deixa-me adivinhar: A Morgan quer que haja um funeral, a Jemma e a Victoria

não e a Morgan espera convencer-me a ficar do lado dela. – Sim. Como sabes? Logan fez uma careta. – Porque, com a minha família, é sempre o mesmo. Mesmo que tentemos, somos incapazes de nos dar bem. – Mas os meios de comunicação social dizem sempre que estão muito unidas… – Mentira, tudo mentira – respondeu ela. – Somos como qualquer outra família, com os seus problemas. Quando os meus pais se divorciaram, o juiz permitiunos escolher com qual deles queríamos viver. Ao princípio, todos escolhemos a nossa mãe, mas, depois, a Morgan, que sempre foi a mais comiva, sentiu pena do nosso pai e mudou de opinião. Ele nunca tinha mostrado nenhum interesse pelos seus filhos, mas a Morgan manteve-se leal a ele. – Apesar de o teu pai ter roubado milhões de dólares ao Drakon? Logan contraiu o rosto. – Bom, isso, certamente, complicou o seu casamento. – E porque é que a Morgan e a Victoria se dão tão mal? – perguntou ele. – Porque a Morgan quer que todos perdoemos o nosso pai, mas a Victoria sente que não consegue perdoá-la por ter ficado do lado dele. É uma disputa interminável e cansativa e, só aqui entre nós, estou farta das suas discussões. Foi por isso que me mudei para a Califórnia, para me afastar da minha família e de todo esse melodrama. – Então… se a Morgan estava a favor do teu pai e a Victoria é a sua arquiinimiga, de que lado é que tu estás? Logan deitou a cabeça para trás, apoiando-a na ombreira da porta. – Provavelmente, estou mais perto da Victoria, embora não seja tão extremista como ela. É complicado porque, por um lado, estava o Daniel Copeland, o nosso pai e, por outro, o Daniel Copeland, o investidor que tinha acabado por extorquir

todos os seus clientes. Fez muitas coisas reprováveis ao longo da sua vida e, agora, nós estamos a tentar seguir em frente, apesar do fardo do seu… «legado». Rowan ficou calado por um instante. – Tens alguma lembrança boa dele? – A verdade é que não. – Então, o funeral não é importante para ti. – Não acho que precisemos de celebrar um funeral, mas tenta dizer isso à Morgan. A relação que tinha com o nosso pai era completamente diferente da que os outros tinham com ele. – Mas é a tua irmã gémea. – Gémea… Não nos parecemos nada. – E nunca estiveram unidas? – Estávamos… até ir viver com o nosso pai. – Logan ficou calada por um instante, pensando em como tudo era complicado. – Mas adoro-a. A nossa relação não é má e a última coisa que quereria seria zangá-la. – Segundo o Drakon, está muito zangada, embora a Victoria também esteja. – E continuam sob o mesmo teto? – Não, de facto, a Victoria foi para casa da Jemma e, segundo o que o Drakon me disse, será muito difícil conseguir voltar a reuni-las, tanto para o funeral como para qualquer outra coisa. Jemma estava casada com o monarca poderoso de Saidia, o xeque Mikael Karim. Ao princípio, casara-se com ele contra a sua vontade e ele só tencionava vingar-se do seu pai, mas, no fim da sua lua de mel, tinham-se apaixonado. – Então, não virão ao nosso casamento? – perguntou Logan, com ironia. O barulho do duche cessou e a casa de banho ficou em silêncio, à exceção do barulho de uma gota. Logan contraiu o rosto e abanou a cabeça. Como pudera

dizer isso? – Era brincadeira! – exclamou. Rowan não respondeu e Logan voltou a contrair o rosto. Porque dissera aquela tolice? – Não falava a sério – repetiu, pelo sim pelo não. – Não vamos casar-nos. Estava apenas a brincar. – Tenho a certeza de que o Drakon e a Morgan viriam – disse ele, voltando a abrir a torneira. – E o Mikael e a Jemma também. E, provavelmente, a tua mãe… – Rowan, para! Era uma brincadeira! – gritou. – Uma brincadeira estúpida… – resmungou para si. – Mas, já que falamos da minha família… Como está o Bronson? Não me disseste nada sobre ele. – Estava à espera de notícias dos médicos – respondeu ele. O barulho da água abafava a sua voz. – Parece que houve um retrocesso no seu estado esta manhã. – Um retrocesso? – repetiu Logan. Esperou que Rowan acrescentasse mais qualquer coisa, mas não o fez. – O que queres dizer? – Porque não entras, para que não tenha de continuar a gritar? – Não quero entrar. Estás a tomar banho. – De certeza que não seria a primeira vez que vês um homem a tomar banho. Logan hesitou. – Na verdade, sim. Rowan ficou calado por um instante, antes de se rir. – Então, tens de entrar. Tens de te educar – troçou, brincalhão. – Os meus pais encarregaram-se de fazer com que recebesse uma educação excelente, obrigada. Frequentei as melhores escolas privadas do mundo. Rowan voltou a rir-se.

Capítulo 9

A gargalhada suave de Rowan fez Logan tremer por dentro. O estômago encheuse de nós e uma sensação quente aflorou no seu peito. Porque é que o seu corpo respondia assim ao dele? Porque se sentia tão atraída por ele? Hesitante, atravessou a porta da casa de banho e tentou concentrar-se. – O estado do Bronson é muito sério? – perguntou. Como Rowan não respondia, avançou mais um o para dentro da casa de banho húmida e quente. – O meu irmão está bem? – insistiu. – Está a receber os melhores cuidados – respondeu ele, finalmente, – mas parece que não está a responder tão bem como a equipa médica esperava. – Ficou calado por um instante, antes de perguntar: – Quando foi a última vez que o viste? Logan teve de pensar nisso. – Foi há bastante tempo, talvez alguns anos. Eu estava grávida e, depois, dei à luz, portanto, não podia viajar e o Bronson está sempre muito ocupado. ou os últimos três anos a trabalhar sem descanso para devolver o dinheiro aos clientes do nosso pai, uma tarefa ingrata. Sei que têm o direito de estar furiosos, mas não foi o Bronson que os roubou, nem tinha vínculo algum com a empresa do meu pai e ou não valorizam ou não se importam com os sacrifícios que está a fazer para lhes pagar. Não houve nenhuma resposta, só o barulho da água. Como não sabia se Rowan a ouvira, pigarreou e perguntou, elevando o tom de voz: – Porque me perguntaste quando foi a última vez que o vi? Há alguma coisa que deveria saber, alguma coisa que não me disseste? Fez-se um silêncio novamente até Rowan responder finalmente. – Está quase na miséria… a um o de viver na rua.

– Não pode ser… – E, além disso, esteve doente. O seu estado de saúde não é bom. – Não tinha ideia. Pobre Bronson… – murmurou Logan. – Quem está com ele? A minha mãe? – inquiriu. – A polícia tem alguma suspeita sobre quem pode tê-lo atacado? – Não, a tua mãe também não esteve bem de saúde ultimamente e ainda está fraca para viajar. – Então… está sozinho no hospital? – Receio que sim. A respeito da tua outra pergunta… Há boas notícias: A polícia londrina prendeu um suspeito para o interrogar. Parece que o ataque ao teu irmão foi um incidente isolado. A Victoria deve poder voltar para casa em breve. – São boas notícias, sim. Então, a Jax e eu também deveríamos poder voltar para casa em breve, não é? – És livre e podes ir para onde quiseres. – A sério? – perguntou ela, surpreendida. – Então… posso ir para o meu quarto e fazer as malas? – Pois claro. – Não tens medo de que me vá embora? – Não, porque sei que voltarás com frequência para ver a Jax. – Não tenciono deixar a Jax aqui. – Logan, sou o pai dela. Uma criança precisa do seu pai. – E eu sou a mãe, Rowan. É comigo que tem de estar. – Agora, este é o seu lar. E o teu também – declarou Rowan. – É por isso que vamos casar-nos. Ambos queremos que a Jax tenha estabilidade. – Ficou calado por um instante, antes de acrescentar: – Queres vir dar-me uma ajuda?

– Uma ajuda com o quê? – inquiriu ela, desconfiada. – Bom, poderias lavar-me as costas… ou alguma outra coisa. Logan sentiu-se acalorada ao imaginar essa «outra coisa» na sua mão, aumentando e endurecendo. Odiava Rowan pela forma como usava o sexo para a tentar várias vezes. – Não jogas limpo – acusou, tentando não pensar se já teria ensaboado o corpo todo. Acariciar-se-ia enquanto o fazia? Estaria a tocar nele próprio naquele momento? – E não, não tenho nenhum interesse em lavar-te as costas… nem nenhuma outra «coisa». – Então, queres falar do casamento? – Rowan… – A Jax espera ter irmãos. – Isso não vai acontecer – declarou ela, com firmeza. – E se já estiveres grávida? Logan não queria pensar nisso. Não estava. Era impossível estar, pensou. E, no entanto, Rowan deixara-a grávida na sua primeira vez e poderia acontecer outra vez. – Usaremos preservativos a partir de agora – respondeu, com a mesma firmeza. – Não podemos correr esse risco. – Estava a pensar que poderíamos casar-nos amanhã – disse Rowan, como se não estivesse a ouvi-la. – Disse-te que não! – E o que se a com o sonho da Jax de ter maninhos? – Também sonha transformar-se numa fada e voar e isso também não vai acontecer. – És uma desmancha-prazeres…

Irritada, Logan abriu a porta do duche para lhe ver a cara e dizer algumas coisas, mas, assim que o fez, arrependeu-se. Rowan tinha a cabeça deitada para trás e os braços levantados porque estava a enxaguar o champô do cabelo com os dedos. Os seus bíceps avultados e os músculos da barriga deixaram-na com falta de ar. – De certeza que não queres dar-me uma ajuda? – inquiriu ele, olhando para ela com os olhos travessos. – Não. – Está bem. Então, terei de ser eu a fazê-lo – respondeu Rowan, pondo gel na palma da mão. Rowan olhou para ele com uns olhos esbugalhados e ele riu-se suavemente antes de deslizar a mão pelo seu peito nu e continuar a descer para a barriga e, depois, para o seu membro, que começava a excitar-se. – Não vim aqui para ver um Peep Show – repreendeu-o Logan. – Só estou a tomar banho, querida. Logan contraiu o rosto e desviou o olhar. Não queria que soubesse como a fascinava observar como o seu membro se excitava e ainda mais vê-lo a agarrálo, a esfregá-lo e a dedicar especial atenção ao extremo do mesmo. E sabia que era o que estava a fazer, porque estava a ver o seu reflexo no espelho do lavatório. – E a minha irmã? – inquiriu, tentando concentrar-se no que era importante. – Como podes ter ado três anos sem a ver? – perguntou ele. Logan mal conseguia concentrar-se na conversa quando ele continuava a acariciar-se. Engoliu em seco e murmurou: – Estava grávida. – Ah, é verdade… – murmurou ele, deitando a cabeça para trás. Meu Deus, era tão sensual…! «Maldito Rowan…» Logan voltou a engolir em seco.

– Onde… queres chegar? – O que achas? – Não posso. Não quando estás… – Sabia que estavas a observar-me – murmurou ele, num tom rouco. – Queres ver-me a chegar ao orgasmo? – Não! – exclamou ela, virando-se bruscamente para ele. – Vais mesmo chegar ao orgasmo? Rowan arqueou uma sobrancelha. – Porquê? Tens algum problema com isso? – Parece-me um pouco… grosseiro… comigo aqui. – Foste tu que entraste quando eu estava a tomar banho. – Foste tu que me convidaste para entrar. – Porque sabia que querias entrar. Tinhas curiosidade, ite. – Não é verdade! – protestou ela. E foi então que se apercebeu de que Rowan parara de se masturbar. Tinha uma ereção tremenda, mas estava a enxaguar-se com o jorro de água e, quando acabou, fechou a torneira do duche. Hesitante, Logan olhou para o seu membro ereto. – Vais deixá-lo assim? – Sim – respondeu ele, esticando o braço para alcançar uma toalha. – Não te incomoda? – Não muito. Logan não conseguiu desviar os olhos dele quando começou a secar-se: Primeiro a cara, depois o cabelo e o resto do corpo. Quando chegou à barriga, parou.

– Desculpa, talvez esteja um pouco tenso… Queres tratar de…? – sugeriu, apontando para a sua ereção. – Não! – exclamou ela, fingindo-se espantada, embora o estragasse quando deixou escapar um sorriso. – Mas deverias saber que é uma distração tremenda. Rowan esticou os braços, como se se oferecesse a ela. Logan recuou. – Não saberia o que fazer com isso. – Parece-me que, ontem à noite, fizemos tudo lindamente. – Porque tu tomaste as rédeas. – A única coisa que fiz foi tocar em ti. Sim e fora maravilhoso. Logan olhou para o membro comprido e grosso, questionando-se o que sentiria se o tivesse dentro da boca e rodeasse o extremo com os lábios. Como é que Rowan reagiria se o fizesse? Com o coração acelerado, deu um o para ele. – Posso tocar em ti? Rowan assentiu. Logan deu mais um o, encurtando a distância entre eles, e pôs-lhe as mãos no peito. Esfregou a sua pele quente com as palmas e desceu para a pélvis. E, então, olhando para ele às escondidas, ajoelhou-se à frente dele e deslizou as mãos pelas suas ancas para depois lhe apalpar as coxas, duras como pedras. O membro de Rowan oscilou à frente da sua cara e ficou a olhar para ele com um certo receio, nervosa. Rowan aguardava em silêncio. Inclinou-se para ele e beijou suavemente o extremo, com curiosidade. Estava muito duro, mas a pele era suave e quente. Beijou-o novamente, fazendo pressão com os lábios para absorver o seu calor, e abriu a boca para lhe tocar com a língua. Pareceu-lhe ouvir Rowan a resmungar e levantou o olhar, mas não havia expressão alguma no seu rosto. Abriu a boca, pôs a ponta na boca e sugou

suavemente. O membro endureceu ainda mais e começou a lambê-lo por baixo do extremo. Rowan voltou a resmungar e, dessa vez, Logan sorriu. Parecia que gostava do que estava a fazer-lhe… Encorajada, rodeou um pouco mais do seu membro com a boca. Agarrou o resto com a mão e começou a esfregá-lo com ela, como o vira a fazer, ao mesmo tempo que o sugava e o chupava. Continuou assim durante um bom bocado, esforçando-se para estabelecer um ritmo concreto, mas sentiu-se espantada quando, mais de uma vez, teve de parar porque estava a ficar com falta de ar. Rowan ofegou quando se interrompeu pela terceira vez. Ela levantou o olhar e murmurou: – Desculpa, parece que não tenho muito jeito e és tão grande… – Não tens de me pedir desculpas por nada – resmungou ele. E, antes de ela conseguir continuar, agarrou-a pelos braços para que se endireitasse e pegou nela ao colo para a sentar na bancada do lavatório. Levantou-lhe a saia, afastou-lhe os joelhos e apertou os lábios contra o seu sexo através das cuecas de cetim. Depois, afastando o tecido, deslizou a língua contra o centro da sua feminilidade. Logan gemeu e arqueou-se quando lhe lambeu o clitóris. – Que húmida…! – exclamou Rowan, introduzindo um dedo nela. Logan arqueou-se contra a sua mão, abanando as ancas, desesperada, enquanto a lambia. – Excitei-me quando estava a acariciar-te com a boca… – E ofegou. – Eu também me excitei – declarou ele, num tom rouco. – Mas não chegues ao orgasmo. Espera até te dizer para o fazeres. – Não acho que consiga… Rowan pô-la no chão para lhe tirar as cuecas, virou-a e fê-la inclinar-se por cima do móvel do lavatório. Depois, levantou-lhe a saia outra vez, deixando o seu rabo nu a descoberto. – Olha-me no espelho enquanto te possuo – indicou.

Afastou-lhe as pernas e introduziu a mão entre elas para tocar no seu sexo húmido. Quando o membro ereto substituiu os dedos, Logan sentiu imediatamente. Sentiu como pressionava contra ela. Pensou que ia enlouquecer quando Rowan o agarrou e esfregou a cabeça do seu membro. – Olha para mim! – ordenou ele, agarrando-a pelo cabelo e puxando-lhe a cabeça para trás para ver o seu rosto no espelho. – Vê como te penetro. Inseriu o extremo grosso do seu membro no sexo dela e penetrou-a lentamente, alargando-a e chegando cada vez mais dentro. Logan entreabriu os lábios e um gemido abafado de prazer escapou deles. Sentia-o tão grande e tão quente dentro dela… Rowan pôs-lhe as mãos nas ancas e percorreu-as devagar, antes de lhe agarrar as nádegas e as massajar até ela se abanar, impaciente para que lhe desse mais. Rowan deslizou as mãos por baixo da sua blusa, segurou os seus seios e esfregou os mamilos com os polegares, arrancando-lhe novos gemidos. – Olha para ti – murmurou. – És linda… Temos de estar juntos, não vês? Logan viu as suas faces rosadas, os seus olhos brilhantes, os lábios entreabertos e inchados e Rowan atrás dela, tenso e excitado. Suspirou, trémula, quando começou novamente a estimular os seus mamilos. Estava cada vez mais acalorada e mais húmida. – Não desvies o olhar. – A voz profunda de Rowan quase parecia um ronronar. Logan ficou com falta de ar quando uma das mãos de Rowan abandonou o seu peito e deslizou até à barriga para parar entre as suas coxas. Os dedos dele introduziram-se nela e começou a acariciar-lhe o clitóris, brincando com ele sem mexer as ancas. Não era justo, sentir o seu membro enorme dentro dela enquanto a enlouquecia e não lhe dar o que queria. – Vou chegar ao orgasmo… – disse, com falta de ar. – Não consigo aguentar mais… – Claro que consegues… – Não, não consigo…

Rowan deixou cair a mão, tirou o membro dela e Logan quase gritou de frustração. Virou-se para ele e bateu-lhe no peito. – Odeio-te! Porque fazes isto? – Porque, quando atrasas o orgasmo, consegues torná-lo ainda mais intenso. – Não quero torná-lo mais intenso. Preciso de ti – replicou ela, batendo-lhe novamente no peito. – Para de me atormentar e dá-me o que quero – repreendeuo. Esticou as mãos para o pescoço de Rowan para o puxar para ela e beijou-o com desespero. – És como um vício – murmurou e voltou a beijá-lo como se a sua vida dependesse disso.

Para Rowan, aquele beijo foi diferente. Não era a primeira vez que se beijavam e beijara muitas outras mulheres, mas nunca recebera um beijo como aquele. Era um beijo ardente, mas havia mais alguma coisa nele, algo que o fez pensar que Logan era mais vulnerável do que parecia. Pegou nela ao colo, saiu da casa de banho para o quarto, levou-a até à cama e depositou-a nela. Pôs-se em cima dela e afastou-lhe as pernas. – Desta vez, não vou parar – murmurou. – Vou dar-te o que queres e não vou parar até chegarmos a um acordo. – Vais precisar de bastante sexo para que cheguemos a um acordo. – Então, é uma sorte que ambos gostemos de sexo. Ouviu-a a suspirar quando a penetrou. Logan arqueou as ancas e quase gritou de prazer ao sentir como a penetrava. Rowan apoiou-se nos braços e afastou-se um pouco, antes de voltar a penetrá-la até ao fundo. Beijou-a enquanto sacudia as ancas, explorando cada centímetro da sua boca e imitando os movimentos do seu membro com a língua.

Logan estava a tremer. Estava à beira do orgasmo, mas não conseguia chegar. Deslizou as mãos pelas costas de Rowan para se agarrar às suas ancas e, depois,

espremeu as nádegas firmes. A sua pele era tão quente… E os corpos esfregavam-se de uma forma deliciosa com cada um dos seus movimentos: O peito dele contra os seus seios, o membro dentro dela… E, no entanto, apesar do prazer que sentia, não conseguia alcançar o orgasmo que aliviaria o fogo que a abrasava. Foi então que Rowan deslizou uma mão entre os dois e começou a estimular o seu clitóris, fazendo com que o seu prazer aumentasse a cada segundo até, finalmente, o orgasmo rebentar no seu interior, onda atrás de onda, e se prolongar, como se nunca fosse acabar. Mal ouviu o gemido intenso de Rowan ao alcançar também o clímax com uma última penetração. Não saberia dizer quanto tempo permaneceram ali deitados, cansados e satisfeitos. Fechou os olhos, suspirou e acabou por adormecer. Também não saberia dizer quanto tempo teria ado quando voltou a abri-los. O quarto estava perdido em sombras, mas, lá fora, ainda não escurecera por completo. Mas devia ter dormido pelo menos algumas horas, porque até estivera a sonhar. Fora um sonho agradável e acordou sentindo-se feliz. Espreguiçou-se um pouco e percebeu que Rowan tinha um braço em torno da sua cintura. Virou-se para olhar para ele. Estava acordado. – Sabes que horas são? – perguntou. – Está na hora de nos levantarmos – respondeu ele, beijando-a na testa. – Dentro de um instante, teremos de descer porque a Jax estará à espera para jantar. – Fazes com que pareça tudo tão normal… como se fôssemos uma família a sério. – E somos uma família a sério. Agora, esta é a nossa vida – respondeu ele. No entanto, não parecia muito feliz. De facto, a sua expressão era sombria. – Não me dá essa impressão – disse ela, hesitante. – Talvez ainda não. Mas seremos, com o tempo. Logan olhou para ele nos olhos, desejando poder saber o que estava a pensar.

– A verdade é que não sei nada sobre ti. Entre nós, só houve sexo. – Bom, antes, estivemos a falar da tua família. Eu diria que conta como uma conversa séria. Logan revirou os olhos. – Está bem, então, também tens de me falar da tua família. Abre-te um pouco – propôs. Rowan deitou-se de costas, levando-a com ele, de modo que ficou deitada em cima do seu peito. – Não me apetece falar dessas coisas. Logan bateu-lhe no ombro. – Vá lá. Como se chamavam os teus pais? Rowan suspirou. – Darius e Maire. Ambos tinham emigrado para os Estados Unidos. Ele era grego e ela, irlandesa. Ambos tinham bastante sotaque e bebiam muito. Tinham personalidades opostas e, quando o meu irmão mais novo morreu, a minha mãe ficou devastada e não paravam de discutir. O Devlin era um menino doce e feliz. Estava sempre a rir-se – explicou ele, num tom rouco. – Também deve ter sido muito difícil para ti. Rowan não respondeu, mas Logan conseguia perceber como estava tenso. Pouco depois, Rowan disse, num tom fraco: – A Jax parece-se muitíssimo com ele. É perturbador – murmurou ele, acariciando-lhe o cabelo. – Que mais coisas queres saber? – Algum dos teus pais ainda está vivo? – O meu pai morreu de cancro de pulmão há alguns anos. A minha mãe tem demência senil e vive num lar. Vou vê-la sempre que posso – explicou Rowan. – Um dia, gostaria de levar a Jax para que a conheça.

Logan beijou-o na face. – Parece-me uma ideia maravilhosa. Acabaram por fazer amor outra vez e, daquela vez, foi diferente das anteriores: Uma experiência mais doce, mais sossegada, mas, do ponto de vista emocional, muito mais intensa. Logan sentiu uma ligação que não sentira antes com ele. Talvez fosse porque vislumbrara o que havia por trás da sua máscara. Sentia-se agradecida por se ter aberto um pouco com ela. No entanto, ao mesmo tempo, assustava-se com esses sentimentos que estavam a aflorar nela. Não queria ar o resto da sua vida sozinha, como uma mãe solteira, mas partilhar Jax com ele seria ceder-lhe parte do controlo, render-se e também sacrificar a sua independência. Ao sentir que o pânico se apoderava dela, afastou-se dele. – Devíamos vestir-nos – declarou, levantando-se da cama. Acabara de pegar na roupa e estava a entrar na casa de banho quando Rowan, que a seguira, a agarrou pelo braço e a parou, fazendo-a virar-se para ele. – Tenho a sensação de que estás a fugir de mim. Porquê? – Não estou a fugir. O que se a é que é tarde e tenho de tomar um duche e vestir-me para jantar – defendeu-se ela, incapaz de olhar para a cara dele. – Estava tudo bem e, de repente, estás a voltar a fechar-te em copas… – Não é verdade! – exclamou ela, olhando para ele com ferocidade. – E também não estou a fugir. Como vou fugir quando me trouxeste para esta fortaleza inexpugnável com guardas e câmaras de segurança? – Fez uma pausa. – Olha para mim, Rowan, estou nua na tua casa de banho e, se quisesse sair, nem sequer poderia porque estás a bloquear a saída! Estou presa. – Claro que não estás – negou ele, com impaciência, avançando para ela ao mesmo tempo que ela recuava. Logan chocou contra as portas de vidro do duche. – Ah, não? E o que chamas a isto? – perguntou, apontando para o pouco espaço que havia entre eles. – Incomoda-me. Não consigo respirar ou pensar quando

estás comigo… De repente, Rowan apertou-se contra ela, introduzindo o joelho entre as suas pernas e segurando-lhe as mãos contra as portas do duche por cima da sua cabeça. – Vês? – repreendeu-o, enquanto Rowan entrelaçava os seus dedos com os dela e baixava a cabeça para a beijar no pescoço, pegando fogo à sua pele. – Estás a fazê-lo outra vez… Confundes-me… Incomodas-me… Fazes com que seja impossível pensar… – Precisas de pensar em quê? – murmurou ele, beijando-a por baixo da orelha. – E porque haverias de resistir a mim? Há uma química incrível entre nós. Logan tremeu contra ele e sentiu que os mamilos endureciam e que uma onda de calor a invadia. – Achas que a base de uma relação feliz é o sexo – redarguiu, num tom fraco, – mas eu acho que é o amor. Amas-me? Consegues amar-me? Acho que o amor é o vínculo mais forte que pode existir entre duas pessoas, que é o que faz com que se mantenham unidas quando o desejo desaparece ou quando o outro fica doente. Se a única coisa que nos une é o sexo, o que acontecerá quando já não saltarem faíscas entre nós? Acabará a relação? O que nos manterá unidos? – A Jax – respondeu ele. – É ela que vai manter-nos unidos. Logan soprou e abanou a cabeça. – E se lhe acontecesse alguma coisa? – inquiriu. Ao ver que ele não dizia nada, estudou os seus olhos e viu a resposta neles: Se acontecesse alguma coisa à sua filha, nada os manteria unidos. A sua relação acabaria e o tempo que tinham ado juntos não significaria nada. Abanou a cabeça novamente e murmurou: – Vou repetir: Não vou casar-me a não ser por amor. Não tenciono conformar-me com uma relação baseada no sexo. Se me casar, será porque quero ar o resto da minha vida com essa pessoa. Rowan soltou-lhe as mãos e recuou. Logan engoliu em seco. Tinha um nó na

garganta. – Podes deixar-me a sós para que tome banho, por favor? – pediu. Rowan saiu em silêncio e fechou a porta atrás dele.

Capítulo 10

Nessa noite, Logan, Rowan e Jax jantaram na sala de jantar «pequena» do castelo, uma sala com duas armaduras, uma lareira imponente de pedra lavrada, um teto com vigas de madeira e um candeeiro enorme de ferro circular que pendia dele, para além de tapeçarias medievais nas paredes que representavam uma batalha. Jax estava fascinada com elas. – A Irlanda é um país muito antigo – explicou Rowan, enquanto jantavam. – Tem uma longa história e travaram-se muitas batalhas aqui. Jax olhou para ele com os seus olhos azuis grandes e murmurou: – Lutar está mal. – É verdade, lutar está mal – assentiu ele, – mas, às vezes, temos de lutar para proteger o nosso país, a nossa família, o nosso lar… Depois da sobremesa, Orla apareceu e perguntou a Logan se lhe parecia bem que levasse Jax para lhe dar banho, vestir-lhe o pijama e ler-lhe uma história antes de dormir. Logan assentiu, ainda que, quando a ama e a filha se foram embora, ficasse nervosa ao perceber que ficara a sós com Rowan. Mais cedo ou mais tarde, teriam de enfrentar a tensão incómoda que vibrava no ambiente desde que se tinham sentado para jantar. – O que queres de mim, Logan? – perguntou Rowan, quebrando o silêncio. – O que posso fazer para que isto funcione? Há mais alguma coisa que queiras saber sobre a minha família ou sobre o meu ado? Alguma coisa que possa demonstrar-te que levo isto a sério? Tenho a certeza de que podemos ser felizes sem haver sinos, foguetes e todas essas tolices românticas e sentimentais. – Eu não peço sinos ou foguetes – replicou ela. – E sinto que gozas comigo quando dás a entender que as minhas necessidades são tão corriqueiras. – Não tenciono gozar contigo nem trivializar o que sentes – indicou ele. – O que

se a é que me frustra que não entendas que o que temos é algo bom. Podemos fazer com que funcione – disse, levantando-se da cadeira para se aproximar dela. – Quero que a Jax cresça num ambiente estável, com gargalhadas, diversão e aventura e podemos fazê-lo, tu e eu, mas, para isso, temos de chegar a um acordo. – E não é precisamente isso que estamos a fazer, a tentar chegar a um acordo? – Olha, já não sei… – murmurou Rowan, parando à frente dela, muito sério. – Preocupa-me que pareça que tu já decidiste que isto não vai funcionar e que só estás a acalmar-me até puderes ir-te embora. O problema é que, se te fores embora, a Jax nunca terá um verdadeiro lar. Acabará como eu, na minha infância, a ir da casa de um para a do outro, de um país para outro… culturas diferentes, costumes diferentes, escolas diferentes… E é uma vida muito solitária para uma criança… – E também seria para mim – redarguiu ela. – Achas que quero a minha filha a viver na outra ponta do mundo sem mim? Achas que quero ar o Natal ou o seu aniversário sem ela? – Levantou-se, deixando a cadeira entre os dois a modo de barreira. Não queria que se aproximasse mais, porque, cada vez que lhe tocava, derretia por dentro e isso só poderia piorar as coisas. – Não quero viver sem a minha filha, mas também não permitirei que me forces a viver contigo! – Não estou a forçar-te a nada. Quero que estejas aqui e que… – Eu não quero estar aqui – interrompeu ela. – Não vim por vontade própria, nem te escolhi como… – Uma vez, escolheste. Logan corou ao recordar o leilão de solteiros e todo o dinheiro que gastara só para ar uma noite com ele. Fora tão fraca, tão tola… – Sim, tens razão – assentiu, num sussurro, para sua tristeza. – Escolhi-te e devastaste-me. Como se matasses um inseto com a sola do sapato. – Engoliu em seco. – Tenho de esquecer como me trataste? Fingir que nunca aconteceu? Não consigo! Aconteceu e magoaste-me. Aquilo quase me devastou, Rowan. Cheguei a duvidar de mim própria e não quero voltar a sentir-me assim. Respirou fundo várias vezes enquanto recuava, afastando-se dele. Virou-se e foi

para a porta, andando depressa para fugir dali, mas a voz de Rowan fê-la parar. – Perdoa-me, Logan – pediu ele, num tom fraco. – Por favor. Durante um bom bocado, Logan ficou calada. Sentia-se incapaz de responder e também não se atrevia a virar-se para olhar para ele. Ele também não dizia nada e, no fim, aquele silêncio tornou-se tão sufocante e tenso que se limitou a abanar a cabeça e abandonou a sala de jantar sem olhar para trás. No entanto, ao chegar às escadas, deixou escapar um gemido abafado e subiu os degraus de dois em dois, tentando fugir da dor lacerante que lhe atravessava o coração. Jax já estava a dormir quando chegou ao andar de cima, portanto, deu as boasnoites a Orla e, quando esta se retirou, vestiu o pijama para se deitar, mas não se meteu na cama. Estava demasiado agitada. eou de um lado para o outro até o cansaço a vencer e se deixar cair no tapete macio à frente da lareira. Fechou os olhos, tentando limpar a sua mente para se acalmar e ver a situação com um pouco de perspetiva. Mas era impossível concentrar-se. Rowan pedira-lhe para o perdoar e ela recusara-se. Recusara-se… Recusar-se a perdoar era horrível e sentia-se como uma pessoa horrível, mas, se o perdoasse, já não teria modo algum de resistir a ele porque os seus sentimentos por ele eram demasiado fortes. A raiva era a única coisa que lhe restava para tentar proteger-se, mas sabia que agarrar-se à raiva a destruiria. Não queria continuar zangada com ele, mas também não queria ficar ali e renunciar aos seus sonhos. Queria que Jax tivesse uma família, mas também queria ser amada e não lhe bastava ser a concubina de Rowan. Chegara o momento de se ir embora. Naquela noite, faria as malas e Jax e ela irse-iam embora na manhã seguinte. Rowan não podia retê-las ali. Levantou-se e foi tirar a mala de baixo da cama, mas parou ao ouvir que alguém batia à porta do seu quarto. Certa de que era Rowan, o coração acelerou. Deixou a mala aos pés da cama e foi abrir.

Rowan não era suficientemente masoquista para querer continuar a discussão com Logan. Tivera mais do que suficiente por essa noite. No entanto, prometeralhe que, assim que houvesse alguma novidade a respeito do estado do seu irmão, lhe contaria e havia novidades… mas não eram boas. – Espero não te ter acordado – disse, quando Logan lhe abriu a porta. – Não – respondeu ela. Cerrou os dentes e ergueu o queixo. – Não quero continuar com isto, Rowan. Não quero que continuemos a discutir sobre… – O Bronson não está bem – interrompeu ele, num tom fraco. Deu-lhe um momento para que digerisse as suas palavras, antes de acrescentar: – Parece que o seu organismo está a falhar. Logan pestanejou e olhou para ele, claramente confusa. Rowan detestava ter de lhe dizer o que ia dizer a seguir, portanto, respirou fundo, antes de acrescentar: – Os médicos deixaram-me entrever que talvez tenham de pensar em despedir-se dele em breve. – O quê? – Sentias-te confortável a deixar a Jax com a Orla? Podíamos viajar para Londres amanhã de manhã para estar no hospital às nove. – Não. Não… O meu irmão é muito jovem. Ainda nem fez quarenta anos. Como é que o seu organismo pode estar a falhar? – Estava muito debilitado antes de lhe darem o tiro e não está a responder à medicação como se esperava. O seu corpo não tem defesas suficientes. Logan não conseguia falar. Desviou o olhar, com os olhos chorosos e um nó na garganta. – Não quero esperar. Quero ir vê-lo agora – disse, finalmente. – Têm-no sedado. Só poderás vê-lo amanhã.

– Então, quero estar lá quando acordar. – E estarás. Iremos bem cedo… – Não. Eu vou – corrigiu ela. – A Jax e eu vamos. Este é um assunto que só diz respeito à minha família e tu detestas a minha família. – Não podes levar a Jax para o hospital. – Vamos, mesmo que não queiras – replicou ela, dando um o para um lado para apontar para a mala aos pés da cama. – Já o tinha planeado. Só preciso que nos encontres um voo para Londres. Tenho de ver o meu irmão. Precisa de mim. Rowan compreendeu o que ela não dissera: Bronson precisava dela e ele, não. – E o que se a com o que falámos? O que acontecerá com a Jax? – perguntou, com aspereza. Os olhos de Logan humedeceram-se. – Vais sentir a falta dela, mas não a minha – acusou, com uma gargalhada áspera, e abanou a cabeça. – Não te preocupes. Não tenho intenção de a afastar de ti. Prometo-te que chegaremos a um acordo sobre a sua custódia e os teus direitos de visita, mas imagino que isso possa esperar até quando o meu irmão não estiver a morrer, não é? Rowan sentiu um aperto no coração. – Podemos fazer com que isto funcione, Logan, só tens de dar uma oportunidade à nossa relação. Ela soprou com frustração e pestanejou para conter as lágrimas. – Já o fiz e funcionamos às mil maravilhas na cama, mas não quero o teu corpo, Rowan, não sem o teu coração.

Capítulo 11

O voo para Londres foi curto, só uma hora e um quarto. Rowan deixara Logan ir-se embora com Jax, enviando-as no seu avião privado bem cedo de manhã. Mas não as enviara sozinhas. Fizera com Orla as acompanhasse e até tratara do aporte de Jax. Não sabia como conseguira fazê-lo tão depressa, ainda que, tendo trabalhado para diferentes governos, provavelmente, tivesse bons os. Logan baixou o olhar para a sua filha, que Orla, que estava sentada à frente dela, tinha ao colo e, depois, ao pousar os olhos na ama, um pensamento estranho cruzou a sua mente. Por algum motivo, de repente, não lhe parecia uma simples ama, mas… Quando franziu o sobrolho, Orla devia ter-se apercebido disso, porque lhe perguntou: – Está bem, menina Copeland? Embora lhe doesse a cabeça e estivesse preocupada com Bronson, Logan assentiu, mas, depois de hesitar por um instante, inquiriu: – Orla, és mesmo uma ama? – Claro. Preparei-me numa escola especial e há vários anos que trabalho como ama – respondeu. – Porque pergunta? – Porque me fazes pensar um pouco no Joe. Orla arqueou as sobrancelhas. – O Joe era o meu assistente em Los Angeles – acrescentou Logan. – Ou, pelo menos, era o que pensava, porque, afinal, era um ex-membro de um corpo de elite militar que trabalha para o Rowan na sua agência, a Dunamas. Estava a questionar-me se não trabalharás também para a Dunamas.

Orla ficou a olhar para ela, mas não disse nada. – Porque não imagino o Rowan a deixar que a Jax e eu abandonemos a Irlanda sem contar com proteção – acrescentou Logan. – E por isso estava a pensar se não serás… uma guarda-costas. Orla sorriu, divertida. – Conhece bem o senhor Argyros.

Para Rowan, o castelo parecia vazio sem Logan e Jax. De facto, ele próprio sentia-se vazio sem elas ali. Só se tinham ido embora há quatro horas e já sentia a falta delas. eou pelo escritório, foi à biblioteca e percorreu o castelo todo, antes de acabar por sair para dar uma volta pelos jardins, ignorando a chuva leve que caía. Não devia tê-las deixado ir. Sentia-se como se o seu coração tivesse ido com elas e era estranho, porque ele não tinha coração. Era pior do que o Homem de Lata, como Logan dissera. Não, não era verdade. Tinha coração e importava-se, mas não sabia o que poderia dizer-lhe para que acreditasse. Não sabia expressar-se bem. Além disso, as palavras eram levadas pelo vento. Ele era um homem de ação e, se queria demonstrar a Logan como era importante para ele, seria com factos e não com palavras.

Quando chegaram a Londres, um carro esperava por elas. Estava a chover e havia bastante trânsito. De repente, Logan sentia-se nervosa. Inclinou-se para beijar a cabeça de Jax, que estava sentada ao seu colo, e tentou acalmar-se. Bronson tinha de ficar bem, pensou. Era o homem melhor e mais reto que conhecia. ara os três últimos anos a trabalhar sem descanso para reparar o mal que o pai fizera, tentando devolver a todos os investidores o dinheiro que lhes roubara. Virou a cabeça para Orla, que ia sentada ao seu lado.

– Tenho medo – confessou. – Vai ver que o seu irmão vai melhorar, agora que vai tê-la ao seu lado – garantiu Orla, com uma expressão comiva. Logan assentiu, suspirou e obrigou-se a esboçar um sorriso. – O que é que tu e a Jax farão enquanto estou com ele? – perguntou. – Irão diretamente para o hotel ou…? Orla assentiu. – Pedirei que tragam alguma coisa para comer e farei com que a Jax faça uma sesta depois de comer – disse. – Mas não se preocupe connosco. Concentre-se no seu irmão. Logan sabia que tinha razão, que era o que devia fazer, mas, embora virasse a cabeça para a janela, mal reparou nos lugares por onde avam e deu por si a pensar em Rowan. Rowan, que cedera e as deixara ir… Era estranho que, apesar de, finalmente, ter conseguido o que queria, não sentia o menor alívio, só dor, uma dor profunda. O motorista diminuiu a velocidade quando se aproximaram do hospital, parou junto da entrada e saiu para abrir a porta a Logan. Ela despediu-se de Jax com um beijo e pô-la no colo de Orla. Depois, saiu do veículo e ergueu os ombros, ganhando coragem, antes de entrar no edifício. Aproximou-se do balcão da receção para perguntar para onde tinha de se dirigir e indicaram-lhe como chegar à unidade de cuidados intensivos. Depois de se identificar na sala das enfermeiras, um médico levou-a até ao quarto de Bronson. Parou na soleira da porta com um nó na garganta, incomodada com as máquinas, os monitores… e a visão do seu irmão deitado na cama. Os olhos encheram-se de lágrimas. Respirou fundo, aproximou-se da cama e inclinou-se para beijar Bronson na face com ternura. ou as quatro horas seguintes sentada ao seu lado. O irmão dormiu o tempo todo, embora os médicos e as enfermeiras entrassem e saíssem, verificando os monitores, mudando os sacos de soro e medicação intravenosa e levantando um pouco a cama para que pudesse respirar melhor…

Logan sentia-se tão culpada… Bronson ara esses três anos a lutar para pagar umas dívidas que nem sequer eram dele. E estivera a travar essa batalha sozinho, decidido a limpar o nome dos Copeland. Sem dúvida, fora um fardo inável e uma tarefa muito ingrata, mas nunca se queixara. Pestanejou para conter as lágrimas e segurou a mão de Bronson. Tinha de ficar bem. Tinha de recuperar e ter uma vida plena. Merecia-o. Estava tão diferente, tão magro e parecia tão cansado… Bronson sempre fora bonito, muito bonito, mas nunca se preocupara muito com o seu aspeto. Não era superficial. Tinha bom coração e era íntegro. Não como o pai…, pensou, com a cabeça encurvada. – Eh, Lo… – chamou-a alguém, num tom profundo e rouco. Logan ergueu-se como uma mola. – Bronson! Acordaste… O seu irmão esboçou um sorriso com dificuldade. – O que te traz a Londres? – Tu, claro está – respondeu ela. Inclinou-se para o beijar na testa e perguntou, num murmúrio: – Como te sentes? – Já estive melhor – itiu ele. – Fico contente por te ver. Senti a tua falta. Os olhos de Logan encheram-se de lágrimas novamente e, desta vez, não pôde parar. – Eu também. Lamento muitíssimo não ter vindo antes. – Tanto faz. O importante é que estás aqui – replicou ele, antes de voltar a fechar os olhos. Adormeceu outra vez e Logan velou pelo seu sono em silêncio, agradecida por não ter de se preocupar com Jax. Bronson dormiu durante três horas e, quando acordou, pareceu alegrar-se e até sentir-se aliviado por ver que não se fora embora.

– Ainda continuas aqui, Lo? Sorriu. – Onde mais haveria de estar? – Em casa, a cuidar do teu bebé. – Bom, já não é um bebé. A Jax tem dois anos e está aqui em Londres comigo, não na Califórnia. – Adoraria conhecê-la. Lamento não ter ido ver-te durante todo este tempo… – Todos estávamos ocupados – tranquilizou-o ela, dando-lhe a mão e apertandoa suavemente. – Agora, o importante é que fiques bem e vou fazer tudo o que estiver ao meu alcance para que seja assim. – Não podia estar melhor cuidado – murmurou ele, apontando com um gesto para as máquinas junto da cama. – E é graças a ti. – Não, não é graças a mim. – Claro que é. O teu amigo Rowan está a pagar por tudo isto. Se estou vivo, é por ele. Logan sentiu um nó na garganta. – Não é meu amigo – disse, num tom trémulo, – é o pai da minha filha. Bronson olhou para ela nos olhos. – Não se dão bem? – Não. Nunca fomos amigos. – Mas então… Porque está a ajudar-me? E porque te trouxe aqui? – Como sabes que me trouxe…? – Bom, porque tu estás aqui e ele está aqui… – murmurou ele, olhando para trás dela.

Logan virou-se e viu que, por trás do vidro junto da porta fechada, estava Rowan. O coração acelerou com força e teve de pestanejar para esclarecer a vista. – E dizes que é… o pai da Jax? – murmurou Bronson, num tom ainda mais fraco, como se estivesse a adormecer. Quando Logan se virou, já fechara os olhos e respirava fundo. Levantou-se e, ao sair para o corredor, viu que Rowan se afastava para os elevadores. Correu atrás dele e alcançou-o quando Rowan ia carregar no botão para que se abrissem as portas. – O que fazes aqui? Para onde vais? – perguntou, com falta de ar. – Deixei-te umas coisas na sala das enfermeiras: Uns aperitivos, uma escova de dentes e uma muda de roupa. Conhecendo-te, sei que não quererás deixar o Bronson sozinho esta noite. Logan sentiu um aperto de emoção no coração e estudou o seu rosto, tentando descobrir o que estaria a pensar ou a sentir nesse momento, mas Rowan era como um livro fechado. – Mas… porque te ias embora sem falar comigo? Ele encolheu os ombros. – Acho que já dissemos tudo o que tínhamos para dizer. Logan sentiu que lhe fervia o sangue de frustração. Não era verdade. Havia coisas que Rowan não lhe dissera, coisas que precisava de ouvir. – Como está? – perguntou Rowan, apontando com a cabeça para o fundo do corredor, onde era o quarto de Bronson. – Está fraco, mas a cabeça está bem – respondeu ela. Engoliu em seco e acrescentou: – Disse-me que és tu que estás a pagar todos os gastos do seu tratamento, que está vivo graças a ti. Rowan voltou a encolher os ombros, como se lhe tirasse importância.

Esforçando-se para escolher as palavras adequadas, Logan disse: – Pensava que eras meu amigo e tive de o corrigir, porque não somos amigos. Nunca fomos. Tivemos uma noite de paixão e, depois, tornámo-nos inimigos. Agora, somos pais de uma menina – concluiu, com um nó na garganta. – O que esperas que responda a isso? – perguntou ele, com aspereza. Logan ficou calada por um instante, a pensar. – Só quero compreender. – Compreender o quê? – O que teria acontecido se o meu apelido não fosse Copeland. As coisas teriam sido diferentes entre nós? Rowan não demorou a responder. – Sei que me teria casado contigo. Aquelas palavras afetaram Logan. Era a última coisa que teria esperado que dissesse. Os olhos de Rowan toldaram-se. – Não foi apenas sexo. Nessa noite, estando contigo, sentia-me como em casa – confessou. Logan não conseguia respirar ou pensar. Ficou ali parada, a olhar para ele, atordoada. – Nunca me tinha sentido assim com ninguém – acrescentou ele. – E duvido que volte a senti-lo. – Cerrou os dentes. – Nunca quis tanto estar com outra pessoa como desejava estar contigo. – Porque tínhamos boa química na cama? – inquiriu ela, num sussurro. – Não, porque tu me fazias sentir bem. Porque sentia que eras… que és… a minha outra metade.

As lágrimas que Logan estava a conter queimavam-lhe os olhos. Não sabia o que dizer. Se aquilo não era uma declaração de amor… Podia ser? Dissera-lhe tantas vezes que o que queria era amor, que queria sentir-se amada… De repente, pensou que talvez tivessem estado a usar palavras diferentes para a mesma coisa. – Rowan… Mas ele recuou, distanciando-se dela, e carregou no botão do elevador. – Volta para o Bronson – disse. – Não tens de te preocupar com a Jax. Eu fico com ela. Entrou no elevador e as portas fecharam-se atrás dele. Logan ou a noite sentada na poltrona do quarto de Bronson. Dormitava de vez em quando, porque queria estar atenta a ele, mas o irmão só acordou na manhã seguinte e saiu para o corredor para deixar que os médicos e as enfermeiras fizessem o seu trabalho. Tinha o cabelo despenteado, a roupa amarrotada e estava cansada, mas sentia-se agradecida por Bronson estar a receber uns cuidados tão bons. Ia ficar bem. Tinha de ficar bem. Foi à casa de banho para visitantes para lavar a cara e os dentes. Tinha vontade de beber um café para acordar um pouco, mas não queria ir à cafetaria do hospital porque não queria deixar Bronson sozinho. Também queria ir ao hotel tomar um duche e ver Jax, mas fá-lo-ia mais tarde e, depois, voltaria. Tinha a esperança de que as irmãs também assem por lá em breve para ver Bronson e fazê-lo saber que o amavam e que podia contar com elas. Já estava na hora de se unirem todos e de voltarem a ser uma família real. Amava-os, a todos: A mãe, Bronson, as irmãs e Jax. E quanto a Rowan… Sentiu um nó na garganta. Depois daquela noite de paixão há três anos, tinham-se tornado adversários, mas talvez pudessem ser amigos. Talvez encontrassem uma forma de se entender pelo bem da filha. Não havia nenhuma razão objetiva para que não pudessem dar uma solução àquilo. Para sua surpresa, quando saiu da casa de banho, encontrou Rowan no corredor, junto do quarto de Bronson. As enfermeiras ainda estavam lá dentro, a mudar as

ligaduras e os lençóis. Ao ver Rowan, o coração acelerou e continuou a bater com força enquanto avançava para ele. – Pensei que isto te faria bem – disse, dando-lhe um copo de cartão com café. – Tem leite e um pouco de açúcar. Há um instante, Logan pensara que daria tudo por um café, mas, agora que Rowan estava ali, a única coisa que queria era estar com ele: O muito bonito, inável, cruel e maravilhoso Rowan Argyros. – Obrigada – murmurou, pegando no copo, embora tivesse preferido um abraço dele. Sentia-se tão triste… Sentira-se tão triste durante toda a noite… Porque não podiam fazer com que aquilo funcionasse? – Como está o teu irmão? – perguntou Rowan, enquanto as enfermeiras saíam. – Dormiu toda a noite – respondeu ela. – Os médicos pareciam contentes quando lhes disse. – Isso é bom. Logan assentiu e, ao ver que Bronson os vira através do vidro e estava a tentar endireitar-se, entrou no quarto e Rowan seguiu-a. – Não faças isso – disse, empurrando-o suavemente pelos ombros para que continuasse deitado. – Não tens de te comportar como se fôssemos uma visita. Reserva as tuas energias para melhorar. – Mas já me sinto melhor – afirmou Bronson. A sua voz ainda era um pouco rouca, mas bastante menos fraca do que no dia anterior. – E pareces um pouco melhor – assentiu Rowan. – A polícia quer fazer-te mais perguntas, mas pedi-lhes para te darem um pouco mais de tempo e vão esperar até estares mais recuperado. Detiveram um suspeito que confessou que te deu

um tiro. É um dos credores do vosso pai. – Confessou? – repetiu Logan. Rowan assentiu. – Culpa o teu pai e o Bronson pelo seu casamento desfeito e outros problemas pessoais que teve. – Não sabia que o meu irmão estava a tentar devolver o dinheiro a todos? Rowan encolheu os ombros. – Mais de sessenta porcento dos credores recuperaram o seu dinheiro, embora não graças ao Bronson, mas às Finanças, que lhes pagou com dinheiro que o vosso pai tinha desviado para contas em paraísos fiscais. Embora o Bronson se tenha esforçado para pagar aos outros credores, não é algo que possa conseguir de um dia para o outro e muitas dessas pessoas precisam do dinheiro agora. – É verdade – murmurou Bronson, num tom ofegante. – Todos os dias, recebo cartas de clientes do nosso pai que perderam tudo: Alguns até as poupanças que guardavam para a reforma. São pessoas idosas e vulneráveis que, por causa do nosso pai, correm o risco de perder a casa. Cada vez que recebo uma dessas cartas, envio um pouco de dinheiro para pagar parte dessas dívidas, mas continua a haver centenas de pessoas que precisam de ajuda. – Bronson, foi o nosso pai que as roubou, não tu. – Sim, mas, como filho dele, não conseguiria viver com a consciência tranquila se não tentasse, pelo menos, ressarcir essas pessoas. Não renuncio às minhas responsabilidades, nem… – Eu também não – interrompeu Rowan. – E, agora, é a minha vez de ajudar. Já fizeste o suficiente, Bronson. Falei com o Drakon e com o Mikael. Vamos tratar de tudo agora. Vamos certificar-nos de que o resto de credores é indemnizado. Logan ficou a olhar para ele, boquiaberta. – Falas a sério?

– Rowan, não têm de fazer isso… – começou a protestar Bronson. – É claro que temos – replicou Rowan. – Podemos e queremos fazê-lo. – Mas… Porque haverias de querer fazer uma coisa dessas? – perguntou Logan, num sussurro, sem conseguir desviar o olhar dele. – Odiavas o nosso pai… – Não tanto como te amo – declarou ele. Logan olhava para Rowan. – Vim de uma família humilde – acrescentou ele, – e descobri que o dinheiro pode tornar a vida mais fácil, porque nos permite comprar coisas, mas a felicidade e o amor não podem comprar-se. Preferia livrar-me de tudo o que tenho e ajudar as pessoas que amo a continuar a nadar na abundância a deixar que a tua família e tu sofram. Logan pestanejou para conter as lágrimas que se amontoavam nos seus olhos. – Queres dizer que somos importantes para ti? Que me… amas? – Sim. Logan levantou-se e foi até ele. – A sério? – inquiriu, ainda sem conseguir acreditar. – Claro. Há dias que tento dizer-to. – Mas não mo disseste com essas palavras! – Disse-te que me sentia como em casa contigo – indicou ele, pondo-lhe as mãos nos ombros. – Mas sentires-te bem com alguém não quer dizer que sintas alguma coisa por essa pessoa – replicou ela. – Não é apenas que me sinta bem contigo, é que, para mim, o lar é onde tu estás – murmurou Rowan, antes de se inclinar para a beijar. Estavam tão enfrascados no beijo que se esqueceram por completo de Bronson

até ele pigarrear e se afastarem, espantados e entre gargalhadas. – Ou seja, são amigos… – desafiou-os Bronson, com um sorriso fraco. Rowan olhou para Logan com uma sobrancelha arqueada. Ela corou e assentiu, com um sorriso. – Sim – disse ao irmão. Depois, virando-se para Rowan, rodeou-lhe o pescoço com os braços e sussurrou: – Amo-te. Sabes, não sabes? Estou apaixonada por ti desde aquele leilão, quando te vi pela primeira vez. Rowan sorriu. – E deixei-te maravilhada com as minhas técnicas amorosas – sussurrou-lhe ao ouvido, para que só ela o ouvisse. Depois, arrastou-a com ele para o corredor para a beijar várias vezes… – Casa-te comigo – murmurou, contra os seus lábios. – Por favor. Preciso de te ter ao meu lado. Diz-me que vais voltar para casa comigo. – Sim – respondeu ela, com um sorriso, olhando para ele nos olhos. – Sim, sim, sim!

Epílogo

Esperaram três meses para se casar porque Logan insistiu que queria que o seu irmão Bronson fosse o seu padrinho e precisava de tempo para recuperar. Esses três meses também lhes deram a oportunidade de planear o casamento com calma para que não fosse algo apressado, mas um casamento para recordar. Ao receber o convite, Victoria disse-lhes que não poderia ir por causa de um compromisso de trabalho, mas, no fim, todos os Copeland viajaram para a Irlanda para ir à cerimónia. Casaram-se ao entardecer na capela do castelo, com dúzias de velas brancas atrás do altar e nos parapeitos de pedra das janelas. A luz iluminava as vidraças às cores e os arcos góticos que formavam o teto. Logan usava um vestido de seda em branco cru escolhido por Jax, que era a perita em vestidos de princesa. O corpete era apertado, enquanto a saia era vaporosa e tinha uma cauda destacável. Tinham tido de lhe fazer uns ajustes de última hora porque ficara um pouco justo: Tal como Rowan previra, engravidara novamente e, desta vez, de gémeos. Rowan e ela tinham decidido que não queriam saber o sexo dos bebés até nascerem e tinham pensado que o melhor seria esperar até depois do casamento para partilhar a notícia com o resto da família. Ainda que a primeira pessoa a saber fosse Jax, naturalmente, visto que lhes dissera que adoraria ter um maninho ou maninha com quem brincar. Logan só queria que os bebés nascessem saudáveis e Rowan, que sentia que todos os seus desejos se tinham tornado realidade, também não pedia mais nada. Agora, tinha a esposa, o seu amor verdadeiro, uma filhinha linda e mais dois a caminho e imensos parentes, porque, agora, considerava os Copeland parte da sua família. E, assim, aquela cerimónia bonita marcou o fim dos escândalos que tinham

envolvido os Copeland e o começo de um «felizes para sempre» em que cada um deles avançava para o futuro com amor e esperança.

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