Escola Secundária de Albufeira Português Módulo 9 Prof. Alexandra Coelho
Álvaro de Campos Heterónimo de Fernando Pessoa
Realizado por: Artur Birca, nº3 Cátia Neves, nº 4 Daniela Martins, nº 5 Reinaldo Júnior, nº13 1
Índice Introdução…………………………………………… …..3 Álvaro de Campos – Quem foi? ………………………....4 Obras ……………………………………………… ........5 Fases de Álvaro de Campos ……………………………..6 Características da sua poesia …………………………….9 “Esta Velha Angústia”…………………………………..10 -Análise …………..………..……………………...11 Conclusão ………………………………………………13
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Introdução Neste trabalho é pretendido dar a conhecer um dos heterónimos de Fernando Pessoa: Álvaro de Campos. Aqui estão presentes a sua vida, as suas obras, as suas fases, características da sua poesia, o poema: “Esta velha angústia” e a respetiva análise.
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Álvaro de campos – Quem foi? Segundo a carta de Fernando Pessoa a Adolfo Casais Monteiro, Álvaro de Campos surge quando este sente “um súbito impulso para escrever” sem saber o quê. Este nasceu em Tavira a 15 de Outubro de 1890. Teve uma educação vulgar de liceu, mas tornou-se engenheiro naval em Glasgow. Encontrava-se em Lisboa em inatividade. Numas férias fez uma viagem ao Oriente resultou o “Opiário” e um tio beirão que era padre ensinou-lhe Latim. Fisicamente, Álvaro de Campos usa um monóculo, é alto, com 1.75 m, magro, cabelo liso apartado ao lado, cara rapada, tipo judeu português. Este heterónimo aprende de Caeiro a urgência de sentir, mas não lhe basta a “sensação das coisas como são”, procura a totalização das sensações e das percepções 4
conforme as sente, ou como ele próprio afirma: “sentir tudo de todas as maneiras”. O “eu” do poeta tenta integrar e unificar tudo o que tem ou teve existência ou possibilidade de existir. O poeta procura incessantemente “sentir tudo de todas as maneiras”, seja a força explosiva dos mecanismos, seja a velocidade, seja o próprio desejo de partir. “Poeta da modernidade”, Campos tanto celebra, em poemas de estilo torrencial, amplo, delirante e até violento, a civilização industrial e mecânica, como expressa o desencanto do quotidiano citadino, adoptando sempre o ponto de vista do homem da cidade.
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Obras “agem das Horas”, 1916 “Apontamento”, 1929 “Tabacaria”, 1929 “Magnificat”, 1933 “Aniversário”, 1930 “Lisbon Revisited”, 1923 “Poema em Linha Recta” “Ode Triunfal” “Se te Queres”
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Fases de Álvaro de Campos 1ª FASE DE ÁLVARO DE CAMPOS – DECADENTISMO
Exprime o tédio, o enfado, o cansaço, a náusea, o abatimento e a necessidade de novas sensações Traduz a falta de um sentido para a vida e a necessidade de fuga à monotonia
Marcado pelo romantismo e simbolismo.
- Abulia, tédio de viver
“E afinal o que quero é fé, é calma/ E não ter estas sensações confusas.”
Jane Morris fotografia da D.G. Rossetti 1865
- Procura de sensações novas - Busca de evasão
“E eu vou buscar o ópio que consola.”
2ª FASE DE ÁLVARO DE CAMPOS - FUTURISTA/SENSACIONISTA Nesta fase, Álvaro de Campos celebra o triunfo da máquina, da energia mecânica e da civilização moderna. Sente-se nos poemas uma atracção quase erótica pelas máquinas, símbolo da vida moderna. Campos apresenta a beleza dos “maquinismos em fúria” e da força da máquina por oposição à beleza tradicionalmente concebida. Exalta o progresso técnico, essa “nova revelação metálica e dinâmica de Deus”. A “Ode Triunfal” ou a “Ode Marítima” são bem o exemplo desta intensidade e totalização das sensações. A par da paixão pela máquina, há a náusea, a neurastenia provocada pela poluição física e moral da vida moderna.
Celebra o triunfo da máquina, da energia mecânica e da civilização moderna Apresenta a beleza dos “maquinismos em fúria” e da força da máquina Exalta o progresso técnico, a velocidade e a força Procura da chave do ser e da inteligência do mundo torna-se desesperante Canta a civilização industrial Recusa as verdades definitivas Estilisticamente: introduz na linguagem poética a terminologia do mundo mecânico citadino e cosmopolita Intelectualização das sensações A sensação é tudo Procura a totalização das sensações: sente a complexidade e a dinâmica da vida moderna e, por isso, procura sentir a violência e a força de todas as sensações – “sentir tudo de todas as maneiras” Cativo dos sentidos, procura dar largas às possibilidades sensoriais ou tenta reprimir, por temor, a manifestação de um lado feminino Tenta integrar e unificar tudo o que tem ou teve existência ou possibilidade de existir Exprime a energia ou a força que se manifesta na vida Versos livres, vigorosos, submetidos à expressão da sensibilidade, dos impulsos, das emoções. 7
Futurismo - Elogio da civilização industrial e da técnica (“Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r eterno!”, Ode Triunfal) - Ruptura com o subjectivismo da lírica tradicional - Atitude escandalosa: transgressão da moral estabelecida
Sensacionismo - Vivência em excesso das sensações (“Sentir tudo de todas as maneiras” – afastamento de Caeiro) - Sadismo e masoquismo (“Rasgar-me todo, abrir-me completamente, / tornar-me ento/ A todos os perfumes de óleos e calores e carvões...”, Ode Triunfal) - Cantor lúcido do mundo moderno.
Retrato das cidades pós-Revolução Industrial
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3ª FASE DE ÁLVARO DE CAMPOS – PESSIMISMO Perante a incapacidade das realizações, traz de volta o abatimento, que provoca “Um supremíssimo cansaço, /íssimo, íssimo, íssimo, /Cansaço…”. Nesta fase, Campos sentese vazio, um marginal, um incompreendido. Sofre fechado em si mesmo, angustiado e cansado. (“Esta velha angústia”; “Apontamento”; “Lisbon revisited”). O drama de Álvaro Campos concretiza-se num apelo dilacerante entre o amor do mundo e da humanidade; é uma espécie de frustração total feita de incapacidade de unificar em si pensamento e sentimento, mundo exterior e mundo interior. Revela, como Pessoa, a mesma inadaptação à existência e a mesma demissão da personalidade íntegra., o cepticismo, a dor de pensar e a nostalgia da infância.
Caracterizada pelo sono, cansaço, desilusão, revolta, inadaptação, dispersão, angústia, desânimo e frustração Face á incapacidade das realizações, sente-se abatido, vazio, um marginal, um incompreendido Frustração total: incapacidade de unificar em si pensamento e sentimento; e mundo exterior e interior
- Dissolução do “eu” - A dor de pensar - Conflito entre a realidade e o poeta - Cansaço, tédio, abulia - Angústia existencial - Solidão - Nostalgia da infância irremediavelmente perdida (“Raiva de não ter trazido o ado roubado na algibeira!”, Aniversário)
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Características da sua poesia Poeta modernista Poeta sensacionalista (odes) Cantor das cidades e do cosmopolitismo (“Ode Triunfal”) Cantor da vida marítima em todas as suas dimensões (“Ode Marítima”) Cultor das sensações sem limite Poeta do verso torrencial e livre Poeta em que o tema do cansaço se torna fulcral Poeta da condição humana partilhada entre o nada da realidade e o tudo dos sonhos (“Tabacaria”) Observador do quotidiano da cidade através do seu desencanto Poeta da angústia existencial e da auto-ironia
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“Esta Velha Angústia” Esta velha angústia, Esta angústia que trago há séculos em mim, Transbordou da vasilha, Em lágrimas, em grandes imaginações, Em sonhos em estilo de pesadelo sem terror, Em grandes emoções súbitas sem sentido nenhum. Transbordou. Mal sei como conduzir-me na vida Com este mal-estar a fazer-me pregas na alma! Se ao menos endoidecesse deveras! Mas não: é este estar entre, Este quase, Este poder ser que..., Isto. Um internado num manicómio é, ao menos, alguém, Eu sou um internado num manicómio sem manicómio. Estou doido a frio, Estou lúcido e louco, Estou alheio a tudo e igual a todos: Estou dormindo desperto com sonhos que são loucura Porque não são sonhos. Estou assim... Pobre velha casa da minha infância perdida! Quem te diria que eu me desacolhesse tanto! Que é do teu menino? Está maluco. Que é de quem dormia sossegado sob o teu teto provinciano? Está maluco. Quem de quem fui? Está maluco. Hoje é quem eu sou. Se ao menos eu tivesse uma religião qualquer! Por exemplo, por aquele manipanso Que havia em casa, lá nessa, trazido de África. Era feiíssimo, era grotesco, Mas havia nele a divindade de tudo em que se crê. Se eu pudesse crer num manipanso qualquer Júpiter, Jeová, a Humanidade Qualquer serviria, Pois o que é tudo senão o que pensamos de tudo? Estala, coração de vidro pintado!
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“Esta velha angústia” - Análise Todo o texto se desenvolve em torno da expressão da angústia do sujeito poético "Esta velha angústia" - é a temática principal. O sujeito poético pretende comunicar que a angústia que o consome é real e se vem a desenvolver na profundidade da sua alma: "A fazer-me pregas na alma!" (v9) e "Que trago há séculos em mim" (v2) - a hipérbole, para mostrar convicção, enraizamento da angústia. E infere-se que tal acontece desde a idade da razão, desde quando ele tomou consciência de si, em termos racionais, pelo modo como o sujeito poético se refere à infância (fase da vida anterior à aquisição da consciência, do acto reflexivo; estado de felicidade e ausência de pensamento). Tudo no poema se destina a reforçar, a nível da expressão, o desabafo lamentoso do sujeito poético, irado de corno foi possível chegar à situação em que se encontra. “Que é do menino da casa?” O menino, centro das atenções na casa? - "Está maluco". O sujeito poético já não a controla por mais tempo, não a pode esconder, tem de exteriorizar o que sente e desejar que o "coração de vidro pintado" (v38) estale. E, em disposição anafórica, o poeta enumera as consequências desse transbordar: lágrimas, grandes imaginações, sonhos, grandes emoções (v4 a v6). É um estado de pré-demência, de indefinição; é "estar entre" (v11), "ser quase" (v12), "poder ser que..." (v13). O sujeito poético sente em exteriorizar o seu estado de alma), nas frases por completar, exprimindo hesitação, incerteza, ansiedade (v11 a v14). Considera-se possuído de um estado de loucura que o faz sofrer. Daí desejar endoidecer deveras (v10) ser um louco com direito a manicómio, reconhecido por todos como louco, como “alguém” (v15) já que à sua loucura ninguém atribui o estatuto de loucura. Ele é louco mas consciente, quando a loucura pressuporá a inconsciência por que o sujeito poético anseia. A consciência que o domina e faz sofrer leva-o a ansiar uma outra solução para o seu caso mas isso e impossível porque ele já não é mais a inconsciência da infância. A religião "Se ao menos eu tivesse uma religião qualquer" (v29) seria uma possibilidade de solução para o seu caso, mas não será viável. As coisas têm para cada um o valor que por cada um lhes é atribuído: “Pois o que é tudo senão o que pensamos de tudo?”(v37). Encontra-se cansado de tudo, descrente de tudo - a angústia, a velha angústia de há séculos, que transbordou, tomou conta dele todo. Para o seu “coração de vidro pintado” (frágil mas pintado, de transparência oculta) nenhuma possibilidade seria mais natural do que estalar, partir-se, destruir-se, desaparecer. 12
Conclusão Fernando Pessoa criou um personagem intrigante; desde a sua “vida” à sua obra, mostra-se interessante e cativo por ver tudo a partir das sensações. Com grandes extremos; às vezes com enorme entusiasmo, outras sem saber o seu rumo, Pessoa deixou grandes obras, tendo como seu heterónimo Álvaro de Campos.
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