Copyright © 2019 Xavier Neal
Copyright © 2021 Editora Bezz
Título original: Can’t Block my Love
Tradução: Letícia Carvalho
Preparação de Texto: Vânia Nunes
Capa: Denis Lenzi
Esta é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as pessoas. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da imaginação do autor. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência.
Esta obra segue as regras da Nova Ortografia da Língua Portuguesa.
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Neal, Xavier.
Bloqueio Duplo (Deuses do Hockey 1)/Xavier Neal. 1ª edição – São Paulo – Bezz Editora; 2021.
Sobre trademark™ : a autora reconhece aos legítimos donos das empresas e marcas citadas nesta ficção o devido crédito, agradecendo o privilégio de citá-los nesta obra pelo grau elevado de importância e credibilidade no mercado.
Editora Bezz
www.lojabezz.com.br
ÍNDICE Dedicatória:
Playlist
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Epílogo
AGRADECIMENTOS:
Dedicatória:
Para o Universo... Obrigada por nunca bloquear meu sonho de escrever.
Playlist
Aqui estão dez músicas de “Bloqueio Duplo”!
Sinta-se livre para seguir a playlist no Spotify e encontrar mais músicas que combinam com o livro.
1. Easy (Remix) – DaniLeigh ft Chris Brown (R&B)
2. Money – Pink Floyd (Rock)
3. Tempt My Trouble – Bishop Briggs (Indie Pop/Indie Rock)
4. Infinity – Niykee Heaton (R&B)
5. Good Girl – Dustin Lynch (Country)
6. No Brainer – DJ Khaled, Justin Bieber, Quavo, Chance the Rapper (Rap)
7. Hate That I Love You – Rihanna, Ne-Yo (R&B)
8. Quit Playing Games with My Heart – The Backstreet Boys (Pop)
9. Always On Time — Ja Rule ft Ashanti (Rap)
10. Don't Tell Me I Won't – Cody Webb (Country)
Mais músicas: https://spoti.fi/35p07vT
Capítulo 1
Sempre pensei que se eu fosse questionado sobre um vídeo que tinha caído em mãos erradas, ele mostraria meu pau oscilando entre a boca de uma garota e a bunda de outra, enquanto a linha de interrogatório seria inundada com perguntas sobre suas “idades verdadeiras”. Afinal, garotas mentem para foder caras mais velhos o tempo todo. Descobrir que tinha fodido umas garotas de dezessete anos de idade não valeria levantar a vista do meu celular, muito menos dar a mínima já que tenho apenas vinte anos, mas a diretoria babaca – ou como eu gosto de chamar: Baba-Ovo do Reitor – reclamando sobre outro escândalo que teriam de varrer para debaixo do tapete mereceria a porra da desculpa mais falsa que eu pudesse inventar. No entanto, esse não é o caso. Esse não é o motivo pelo qual estou aqui, caralho. O que prova que... as coisas raramente ficam feias como se espera. — Vamos assistir ao clipe novamente — insiste o treinador Stiles, virando seu notebook para nós dois assistirmos à filmagem. Dois cliques fortes no mouse pad com seu dedo do meio cor de cacau escuro é tudo o que preciso para retroceder ao momento em que estou prestes a pagar o preço. — Não deixaria a Filha Retardada do Otário do Reitor lamber meu rego em troca de quatro anos de aulas gratuitas — a versão em vídeo de mim ri ao mesmo tempo em que um som brusco voa no sentido da minha boca: caralho, chupa meu pau. Depois de compartilhar uma risada, uma tragada e uma tosse, eu pego uma garrafa de whiskey Wilcox próxima. — Já aquela gêmea, Alexis Texas, que precisa tirar as teias de aranha da boceta? É. Eu daria a ela uma foda de caridade se achasse que isso tiraria o nariz do marido velhote dela do meu rabo. Nem deve ser tão difícil já que eu fodo uma maria-patins no banheiro da recepção da istração ou contra a porcaria da porta do escritório dele. Eu paguei por aquela merda. Eu paguei por aquele pelo de texugo que você chama de cabelo. Provavelmente paguei pela porra da receita de Viagra também. Quer apostar quanto que aquela merda não funciona? O treinador Stiles inesperadamente pausa a filmagem e me lança um olhar
irritado. — Por... qual... merda eu começo, Rutledge? Dou de ombros e me recosto na sua cadeira confortável de escritório. Um escritório que o dinheiro da minha família também ajuda a pagar, devo acrescentar. Como tudo o mais nesta universidade privada, dinheiro é sinônimo de privilégio. Privilégio se converte em poder. E poder é a moeda definitiva... para tudo. Caralho, eu poderia fazer com que esse idiota fosse demitido agora mesmo por desperdiçar a droga do meu tempo, mas estou me sentindo generoso hoje. Vamos culpar a ruiva que eu literalmente tive que tirar do meu saco para que eu pudesse tomar banho para vir para o que achei que seria o primeiro treino da nova temporada. Se eu soubesse que meu tempo seria desperdiçado, eu a teria deixado continuar e teria entrado aqui com odor de sexo saindo pelos meus poros para que esse idiota ficasse extasiado por tabela. — Você chamou... a filha do reitor de um termo depreciativo. — É… foi descritivo. — Foi ofensivo pra caralho. — Assim como deixar os otários do banco ficarem confortáveis na porra do nosso gelo para você brincar de psicólogo. — Eles estão no time — reitera o treinador Stiles. — Eles têm o direito de estar lá. — Essa merda é como se fosse um boquete, treinador. Uma chupada inesperada é tão boa quanto uma planejada, mas os otários do banco no nosso gelo é como bater no fundo da garganta de uma maria-patins inconsciente. É simplesmente errado.
— Rutledge... — Imoral. — Rutledge... — Literalmente a porra de um crime. — Basta! — Treinador Stiles ladra, as mãos firmemente juntas em uma clara tentativa de salvar sua compostura. — Basta, Rutledge. Jogo uma perna vestida de moletom sobre a borda da cadeira e sorrio arrogantemente. Tão fácil de provocar quanto era o treinador Cannon. Porra, talvez até mais fácil. Sentirei falta daquele velhote filho da mãe. Diferente desse palhaço, ele sabia que não devia desperdiçar a droga do meu tempo. Ele sabia quanto poder de fato tinha e lembrava-se do seu lugar. Imagino quanto tempo seu sucessor levará para perceber que sua grande estatura física e a voz grave como a de Idris Elba significam quase nada nesta instituição. — Deixando de lado o seu... flagrante desrespeito pelo homem que dirige a universidade, que foi estúpido demais ao recrutá-lo... — Sortudo demais... — Você quebrou as regras de conduta do seu contrato. Meus olhos verdes não poderiam revirar mais. — Aquela merda é uma piada. — Não é. — É, sim. — Não é. — Sempre foi. — Outro sorriso arrogante cresce no meu rosto escultural. —
Sempre será. Por um momento, o treinador Stiles simplesmente olha em silêncio. Coitado. Ele está tão desesperado para provar que pode lidar com sua posição como treinador principal que não consegue evitar tentar fazer valer sua autoridade. Quase me sinto mal por ter que acabar com sua pose. Quase. Afinal, sou um Rutledge. Simpatia é um sentimento tão estranho quanto culpa. — Você precisa de uma mudança, Rutledge. O segundo revirar de olhos é pior que o primeiro. — Você precisava de uma na temporada ada, e o treinador Cannon deveria ter te dado. — Ele meneia sua cabeça careca. — Você era um calouro na época. Não tinha motivo para ser tão... arrogante como foi. Deveria ter agradecido aos seus patins da sorte por ter sido permitido no gelo, não importa o quão incrivelmente abençoado deve ter se achado quando subiu de posição no meio da temporada porque Byer se machucou. Você é um dos merdinhas mais ingratos, egoístas e pomposos com quem eu já cruzei em toda a minha carreira. Eu planto uma mão na minha camiseta branca da Universidade Vlasta e presenteio-o com uma expressão coberta de falsa emoção. — Para... Vai me fazer corar. O treinador Stiles solta uma risada curta. — Vai fazer serviço comunitário, Rutledge. — Eu já retribuo em abundância para a comunidade. — Compartilhar seu pau com qualquer uma não é o que quero dizer. Um leve sorriso desliza nos meus lábios.
Essa foi boa. Para ele. — Você vai fazer serviço comunitário de verdade. A falta de animação em seu tom me faz levantar a sobrancelha. — Sabe, sua boca — Ele aponta para a parte do corpo — é o que sempre vai te meter em encrenca. Ou, se você tiver sorte... longe de encrenca. Não há resposta minha. — Você vai fazer serviço comunitário ou seus patins não tocarão na porra de meu gelo. Own. Fofo. Ele está tentando me dar uma sacodida. Policial bom e policial mau, tudo em um só papo. Pena que seu método não vai rolar comigo. — Eu dou conta de não participar de um jogo — eu casualmente rebato. — Que tal da temporada? Apesar dos meus melhores esforços, minha cabeça se contrai de surpresa. O treinador Stiles não vacila nem acrescenta detalhes. Independentemente do meu choque inicial com sua declaração, eu rapidamente testo seu blefe: — Não faria isso. — Farei. — Você não pode fazer isso.
— Eu posso. Não mesmo. De jeito nenhum, caralho. Nem mesmo se o reitor for secretamente o filho bastardo dele com uma empregada que ele preferiria morrer a itir a paternidade. — Sabe, meu trabalho, Rutledge, como treinador... como treinador principal... como um treinador que se importa com seu time, é manter os traseiros de vocês na linha, dentro e fora do gelo. — Foi algo que Cannon parou de fazer anos atrás porque não tirava a aposentadoria da cabeça. Era algo que ele costumava fazer, quando estava ocupado preparando campeões que iam para as profissionais ao contrário de amadores que não conseguem nem chamar a atenção dos clubes. Seus olhos negros encararam os meus. — Você fodeu com tudo, Rutledge, e pela primeira vez na vida, vai pagar por isso. — Quanto? Mil? Dois mil? Precisa de, o quê, uns cinco mil para consertar o aquecedor da sua piscina interna? A resposta sem emoção ganha um aceno de cabeça. — Não é a quantidade que consegue pagar com seu cartão de crédito ou os dólares que seu papai pode doar para a construção de uma ala na biblioteca ou de um anexo na academia, mas seu sangue, suor, e tomara, lágrimas... — Lágrimas? — Meus ombros balançam em uma risada sufocada. — Hah. Todo engraçadinho... Adorei. Primeiro, o papo de serviço comunitário. Agora, eu chorar. — Eu balanço meu dedo de brincadeira em sua direção. — O senso de humor vai te ajudar a sobreviver à temporada, sabia? O treinador Stiles balança a cabeça mais uma vez. — Ninguém está rindo deste lado da mesa, Rutledge. — Bem, estou rindo do lado dessa porra. — E você pode continuar rindo da porra do banco.
— Você não vai me deixar no banco, caralho. — Você tem razão. Faça seu serviço comunitário, e não deixarei. — Eu não... — Escuta, Rutledge — ele rosna. — Você nunca escuta, porra. É um dos muitos, muitos problemas que você vai encarar este ano. — Um sorriso malicioso aparece astutamente em seu rosto. — Isso é... presumindo que sua bunda chegue a realmente tocar no gelo. — Um bom goleiro raramente deve ficar de bunda, mas sim de joelhos, treinador Stiles. A provocação é recebida com outro olhar feroz. — Olha, você pode continuar com essa porcaria de rotina de ser durão que você pegou do Samuel L. Jackson no filme Shaft, mas nós dois sabemos que está perdendo seu tempo. — Coço com irritação a lateral do meu maxilar. — Minha família deu tanto dinheiro para essa universidade ao longo de várias gerações que as políticas desta situação são simples. O que eu quero... o que eu quero que desapareça... desaparece. Por exemplo... se você continuar enchendo o meu saco... como está começando a encher, principalmente porque meus patins estão com saudade dos meus pés tanto quanto estou com saudade deles, eu farei você ser demitido e trocado por uma marionete melhor. Stiles não retalia. — Sabe... aqui no Hockey Heaven, tudo gira em torno do esporte. Toda faculdade quer ter aquele troféu na prateleira. Aquela fama. Aquela… atenção. Aqueles dez segundos de popularidade em todos os meios de mídia social. É por isso que somos tratados como atletas deuses do Olimpo neste campus e todos os outros atletas como nossos parentes semideuses bastardos. O hockey financia esta instituição dia após dia. E por causa disso, o Fã Clube Baba-Ovo do Reitor fará o que for necessário para garantir que continuemos a encher as arquibancadas, mesmo que isso signifique substituir o mais recente treinador que não conseguia entender o simples conceito de que não tinha poder de verdade nas mãos. — Eu sorrio alegremente. — É só política, Stiles. Nada pessoal. Ele solta uma pequena risada e se recosta na cadeira.
— Não sei o que me impressiona mais, Rutledge. Sua referência à mitologia grega, que indica que você pode ter uma afinidade com o assunto, ou quão versado em negócios você é. Dou-lhe uma piscadela condescendente. — O que posso dizer? — Que tal “Quando São os Testes” quando for expulso do meu time? — O q... — O Contrato de Conduta foi criado para garantir que a universidade, essa prestigiosa universidade, sempre saia melhor na fita que suas concorrentes. E acontece que o departamento de recursos financeiros que faz esses pequenos escândalos desaparecerem está com as mãos ocupadas com outras merdas como tentar reparar a falta de diversidade, o uso de drogas pesadas e as questões de estupro em encontros que estão dando mais pesadelos do que sonhos. Infelizmente para você, isso significa fazer idiotas arrogantes, falastrões e desafiadores serem um exemplo para todos. Meu queixo lateja de irritação. — Acontece que... eles estão animados para mostrar ao mundo que são superiores ao resto, fazendo com que aqueles que quebram as regras paguem penitência. Eu engulo o nó que está aumentando e olho para o chão. Mentira. Tem que ser. Eles... não fariam isso. Nem pensar que eles dispensariam a porra do seu melhor jogador por causa de alguma merda que eu disse enquanto estava chapado... e bêbado – que eu não deveria estar também. Com certeza, valho a pena que fechem os olhos para mim. As pessoas vêm ver a mim. Remington Ronald Rutledge, Terceiro. Elas têm vindo há anos. Eu tenho groupies jovens e velhas que dirigem horas só para vir
me ver fazer o que eu faço de melhor. Sou eu que querem ver detendo aqueles discos. É meu rosto sorridente em todo o site do campus que ganha mais cliques. Sou eu quem eles têm destacado durante suas viagens ao campus desde a última primavera e que há rumores de atrair mais recrutadores profissionais nesta temporada do que as três últimas juntas. Ele precisa de mim naquele gelo. Cacete, eu preciso de mim naquele gelo. — Me ponha à prova, Rutledge — o treinador Stiles tenta provocar. Quando meu olhar atinge o seu, ele encolhe os ombros. — Faça suas ligações. Mexa seus pauzinhos. Me mostre a mesma merda que todo pirralho da Universidade Vlasta faz quando não quer lidar com as consequências de suas próprias merdas. Mas, no final de tudo, eu garanto a você que ainda estarei sentado deste lado da mesa, e sua bunda ficará no banco até que esteja pronto para fazer o que for mandado. O tique-taque em minha mandíbula retorna. — Este time não é mais uma democracia corrupta. — Ele estende os cantos dos lábios em direção ao céu. — É uma ditadura bem preparada. Você segue minhas leis ou dá o fora do meu país. Sem exceções. Meu pomo de adão balança enquanto engulo minha raiva. — Devo esperar enquanto você dá seus telefonemas mágicos ou está pronto para ouvir o único jeito de pôr seus patins no meu gelo? Eu aperto minhas mãos firmemente no meu colo e bato as pontas dos meus polegares. — Ouvindo. — Chega de beber sem ter idade. O teste de drogas não é mais… uma aprovação opcional. Ou seja, a moreninha bonita que revezavam transando para garantir que seus testes sempre fossem aprovados, aquela que comiam como “rito de agem”, foi substituída. É. Fiquei sabendo dela no ano ado, quando O'Reilly não foi identificado, apesar de ter estado na cara que ele tinha aparecido drogado no treino.
Sheila. Ou era Shelly? Shantelle? Era... Sh... alguma coisa. E uma das primeiras tarefas que os veteranos do ano ado disseram que era necessário para que pudéssemos ter a faca e o queijo na mão. Como Stiles mencionou, sempre há um jeitinho de fazer com que os escândalos evaporem e deixem de existir. Só precisa saber como. — Isso significa... nada de melhoria de desempenho. Sem cocaína. Sem ecstasy. Sem maconha. Sem EA também. Comece a se importar para onde enfia a porcaria do seu pau. EA ou Enilanerda é uma droga um tanto mágica e altamente ilegal, que previne DSTs e basicamente acaba com o risco de gravidez. Além de ser o inimigo de toda empresa farmacêutica que já existiu, seus possíveis efeitos colaterais são atrozes. Tornar-se completamente dependente dela para ficar duro ou ter usado tantas vezes que seu pau não funciona mais de forma alguma não é exatamente o tipo de coisa aprovada pela Vigilância Sanitária. Só usei a merda uma ou duas vezes quando estava em uma dura situação – e por dura situação, digo, quando eu estava sem camisinhas, mas ainda precisava gozar. Estar aliviado proporciona uma atenção maior na pista. Atenção maior em qualquer coisa, na verdade. Essa merda é uma das poucas regras dos Rutledge adas para mim. Odeio a maioria, mas parece que não consigo deixar de obedecê-las. Em sua defesa, elas têm me ajudado a chegar até aqui. — As falhas nos testes são o principal motivo da maioria de vocês do segundo ano estar sendo titular em vez de reserva. Todos os que falharam no teste de urina não jogam mais para mim. Suas posições foram imediatamente desocupadas e substituídas por sangue novo. — Seus olhos brilham. — Você... de alguma forma... de algum jeito... conseguiu ar no seu, apesar da evidência óbvia do seu abuso de substâncias. — Acho que o teste de urina veio no momento perfeito, então. Stiles me lança outra carranca.
— Não se preocupe, Rutledge. Tenho outro copo para você mijar hoje. Não posso dizer que essa merda é uma surpresa. Nova temporada. Novo treinador. Novo teste de urina. Todos nós sabíamos que essa merda ia acontecer, ainda que não soubéssemos que nosso e livre seria revogado. Felizmente, mantive meu organismo limpo. Basicamente só bebida alcoólica de primeira e uma tonelada de merdas do tipo. O que mais se bebe quando se está jogando cabra-cega pelado? — Treinos e cronogramas não serão mais brandos. Não vão depender do seu critério. Não é mais você quem decide se este é o treino em que deve estar porque pode simplesmente se preparar para um jogo por conta própria nesse meio tempo. Seu regime deste ponto em diante será cumprido ou ficará no banco de reserva. Frequentará suas aulas, todas as aulas, ou sua bunda será deixada no banco de reserva. Seu serviço comunitário será feito, ou... — Minha bunda ficará no banco de reserva. Entendi, cacete. — Entendeu? — o treinador Stiles desafia com as sobrancelhas levantadas. — Porque isso não é a porra de um pôquer, Rutledge, e eu não estou blefando. — Seus grandes braços se dobram sobre o peito. — A única coisa que impede este time de valer a pena não é a falta de talento que vocês, rapazes, possuem, é a falta de disciplina. E disciplina? Vamos dizer que é a minha especialidade. — Você curte essa merda pervertida, treinador? A diversão ausente em seu rosto não é surpresa. Pelo amor de Deus, o cara morreria se se soltasse um pouco mais. Ele já está arruinando o que deveria ter sido um grande dia e está, praticamente, planejando arruinar o que teria sido uma temporada maravilhosa. Uma temporada fácil, despreocupada e maravilhosa. Nunca pensei que acabaria sentindo falta do treinador Cannon. — Seu serviço comunitário já foi determinado. — Ele se estica para clicar com o mouse, alternando as guias. — Deixar você escolher seria dar liberdade. Você não tem mais isso neste time.
Outro revirar de olhos acontece por vontade própria antes de me inclinar para ver o site na tela. Não consigo evitar lançar a ele um olhar sarcástico. — Isso é uma porra de uma piada? — Eu pareço a porcaria de um comediante stand-up para você? — Na verdade, você parece um pouco constipado. Ele deixa o canto do lábio levantar. — Provavelmente deveria ter dito a você quando esta conversa começou que toda vez que você me der nos nervos, eu vou colocá-lo na sala de musculação. — Um sorriso vingativo aparece de repente. — Você vai sangrar como a carne fresca que é. — Isso é uma ameaça? — É uma garantia, Rutledge. Em vez de abordar a clara noção de que não há garantias além do fato de que o dinheiro faz o mundo girar, aponto minha cabeça para o computador. — Garras & Patas? O abrigo de animais ligado a Petrópolis? Você quer que eu trabalhe com dondocas e vira-latas sarnentos? — Você se sentirá em casa. Hah. Essa foi boa. Já são duas desse cara. Ele tem coragem, algo que o treinador Cannon perdeu para a caridade, eu acho. E por mais que eu odeie, vai levar um pouco mais de manipulação para conseguir o que quero dele, e gosto do desafio. Que se foda isso. Eu amo desafio.
Tanta merda vem fácil demais quando se é um Rutledge que o momento ocasional em que é necessário se esforçar é por si só a própria diversão. —Você está escalado para ser voluntário, três vezes por semana durante toda a temporada. — Não. — Inclinando-me para trás na cadeira, rebato. — Um dia por mês durante metade da temporada. — Trrrim. Trrrim. — Stiles pronuncia, levanta um dedo e pega o telefone do trabalho. — Alô? O banco de reserva? Ah, você está ligando para falar com Rutledge? Sim, só um segundo. — Ele estende o dispositivo na minha direção. — É o banco. Ele quer verificar sua reserva para toda a temporada. Ele ganha um grunhido de desaprovação. — Tá. Um dia por mês durante toda a temporada. Meu treinador principal acena com a cabeça e pressiona o objeto de volta ao ouvido. — Aham. Claro. Vou perguntar a ele. — Ele cobre o telefone. — Eles têm um especial dois-por-um valendo agora. Duas temporadas por fazer besteira em apenas uma. Sua ameaça, embora provavelmente vazia, faz com que eu me mexa desconfortavelmente na cadeira. Não tenho certeza se ele tem o poder de fazer isso, mas pela primeira vez em muito tempo, não tenho certeza se ele não tem. Essa desgraça com certeza não é como quero descobrir a resposta. Tenho que ganhar algum tempo para dar um jeito nessa merda. Tipo, quem diabos gravou aquele vídeo... Todo idiota que festeja no Village conhece a porcaria das regras. Sem fotos.
Sem vídeos. Nenhuma prova de que estamos fazendo a merda que estamos fazendo. É a única maneira de termos um refúgio. Todos os atletas sofrem da mesma merda. Devemos ser quem esta escola exige que sejamos enquanto eles estão vendo. Somos como políticos desonestos, o que é hilário, já que alguns deles são, na verdade, filhos, legítimos e ilegítimos, daqueles que ocupam cargos importantes. O mundo quer nos ver sorrindo, abraçando órfãos e patinando por instituições de caridade que afirmam lutar contra o câncer de mama, quando na realidade estão lá apenas para dar aos nossos pais incentivos fiscais. O mundo quer nossos vícios, nossos defeitos, nossos erros, fora dos holofotes, assim como eles fazem com aqueles que preenchem os cheques para que estejamos aqui. É algo que todos nós no The Village entendemos. Uma linha de respeito que todos nós compartilhamos. Ou, pelo menos, foi o que pensei. Quando eu descobrir quem é o idiota que fodeu nosso santuário sagrado, farei mais do que destruir sua existência em pedaços. Vou fazer com que ele se arrependa de seu pai não ter metido em uma meia em vez de em sua mãe. — Três vezes por semana — resmungo minha aceitação. — Durante toda a temporada. Há hesitação a adicionar a frase. — Diga, Rutledge, ou eu adicionarei a cada dois domingos só por diversão. Ranger as palavras ao falar quase quebra meus dentes. — Durante toda a temporada. — Bom garoto. — Stiles ri pela primeira vez desde que entrei em seu escritório.
— Palavras que tenho certeza que você ouvirá muitas vezes nos próximos meses... só que não dirigidas a você. Eu evito o comentário ao questionar: — E os jogos fora de casa? — O que tem eles? — E quanto a essas semanas? Como posso aparecer para o serviço, presumindo que um dos meus turnos será no fim de semana, se nem estou na cidade? — Vamos dar um jeito nessa merda se você chegar a esse ponto. — Duvida de mim? — Com certeza. Sua falta de fé me enche de diversão e raiva. — Seguir as regras não é seu estilo, Rutledge. Quebrá-las é. E até você estar quebrantado, não vejo nada mudando. — Ele cruza as mãos firmemente no topo de seu bloco de notas. — Mudança é a palavra da temporada. O que isso significa para você ainda está para ser determinado. — Tá bem, Morfeu — murmuro baixinho. — A que horas amanhã devo aparecer? — Após o treino da tarde, no qual você estará no banco. Outro resmungo escapa. — Quem vai colocar no gelo para me substituir? O perneta do Byer? — Sim. — Qual é, treinador? Ele mal consegue impedir o cabelo de cair nos olhos, que dirá um disco. — Ele é a minha melhor escolha? Não. — Sua cabeça se inclina para um lado. — Ele está preparado para trabalhar mais do que nunca? Sim. É impossível não zombar.
Byer é medíocre no máximo. Ele claramente comprou sua entrada no time, motivo pelo qual quando alguém com habilidades de verdade, eu, foi colocado em seu lugar, nossas vitórias e derrotas viraram a nosso favor. Não, eu não carrego a porra do time inteiro e não hesito em itir isso, mas só de tirá-lo fez toda a diferença. Stiles sabe disso. Caralho, um monge tibetano cego de oitenta e seis anos poderia perceber isso. Colocar Byer de volta no gelo é apenas mais um chute no saco com coquilha. — Mais alguma pergunta, Rutledge? Pensando “por que não?”, pergunto por aquele que sei que terei de ar um tempinho procurando a fim de dar o troco. — Sim. Quem te enviou o vídeo? O treinador Stiles me dá um aceno lento que me pega desprevenido. — A pergunta mais importante não seria: por que me enviaram o vídeo? Eu levanto minhas sobrancelhas em resposta. — O que você fez que foi tão ruim que destruir sua chance de estar nesse time era a melhor vingança? Apertar minha mandíbula faz com que ela volte a pulsar. — Era uma conta anônima — confessa Stiles ao mesmo tempo em que fecha o notebook. — Agora, saia do meu escritório e junte-se aos outros “otários do banco” para seu primeiro treino sem estar no gelo. Um grunhido irritado salta da minha garganta antes de seguir as ordens. Ah, essa merda não acabou. Apesar desses dois minutos de penalização, esta partida está longe de ter um vencedor.
Eu não vou cair sem uma luta. E quanto mais difícil a luta, mais doce é a porra da vitória.
Capítulo 2
Não sei quem está se tremendo mais... eu ou essa spitz alemã que está quase desmaiando de medo das grandes bolas vermelhas durante a hora de brincar. Não posso dizer que não a entendo. Se coisas grandes estivessem vindo com tudo direto na minha cara, eu rolaria e fingiria que estou morta também. Infelizmente, isso nunca foi um problema para mim. Eu precisaria ter um tantinho mais de vida social para que isso fosse uma possibilidade. Deixando de lado a estranheza que sempre surge por simplesmente estar rodeada de pessoas pelo período de tempo que for, os cachorros são bem mais amigáveis e fáceis de lidar na... bem... maior parte do tempo. Essa spitz, sem dúvida, desafia essa ideia. Após sofrer por causa do meu tão conhecido tique nervoso no nariz, que me leva a levantar meus óculos redondos de aro dourado, eu gentilmente balanço Prudence em meus braços de tez marrom claro e mantenho meus olhos castanhos plantados no que vejo através das portas duplas envidraçadas. Por que, de todos os lugares desse mundo de meu Deus, Remington Ronald Rutledge, Terceiro, está estacionando na frente da nossa loja? Ele não tem animais de estimação. Pelo que me lembro, ele nem sequer gosta da ideia de um animal de estimação. Beleza, pode ser que isso tenha mudado já que, afinal, ele não fala comigo desde que tínhamos oito anos, mas até onde sei, e das vezes que fui na sua casa, tenho quase certeza de que isso ainda é verdade. Mais importante ainda, por que ele está estacionando seu Range Rover vermelho cereja na vaga para deficientes?
Ser atraente demais de repente é uma enfermidade? Quando isso começou? O nervosismo da Prudence finalmente para, já o meu, não. A cada o fico cada vez mais abalada. Ele é a última coisa de que preciso na minha vida. Ele é literalmente a personificação de tudo que ei a odiar em Vlasta, Wisconsin. Não é a neve infeliz ou a caminhada pelo campus. Não são as garotas bonitas e delicadas que estão sempre me lembrando por que as vitaminas de couve talvez sempre serão tendência ou por que a Sephora é quase obrigatória para a sobrevivência. Não. São babacas como ele. Os presunçosos, egoístas e idiotas carismáticos que têm os corpos estruturados como se Deus devesse a eles favor e dinheiro que mais parece que cresce nas árvores dos quintais deles. Os idiotas que acreditam que altas quantias em dólares podem apagar seus pecados mortais e não pensam duas vezes sobre os “criados” ou aqueles que os “servem” como sendo seres humanos de verdade, com sentimentos ou famílias. Monstros sem alma como Ren são o motivo pelo qual mal posso esperar para dar o fora desta cidade quando me formar na UV. Uma pena que ainda faltam mais três anos, já que este semestre acabou de começar. Ele atravessa as portas e enfia os óculos escuros na frente de sua camisa cinza justa, dando piscadelas para as duas garotas que cruzam sua linha de visão. Por que tenho a impressão de que ele toca sua própria música tema na cabeça? Prudence solta um pequeno latido como se reconhecesse sua presença se aproximando. — Sim, ele é uma peste, mas temos que ser boazinhas mesmo assim — sussurro baixinho, segundos antes de ele chegar ao meu balcão. O sorriso excessivamente exagerado e irritantemente brilhante que o vi lançar na frente de multidões mais vezes do que posso contar indica que ele não tem ideia de quem eu sou.
Por que não estou surpresa? Um pequeno caroço se forma na parte de trás da minha garganta. Por que eu me importo? Eu realmente esperava que ele entrasse, me visse e se lembrasse de que íamos para a mesma escola desde que estávamos cantando o ABC, ele um pouco desafinado e eu, um pouco atrasada? Eu realmente achei que ele se lembraria de antigamente me ver ajudando meu pai a cuidar do paraíso tropical que ele chama de quintal da casa dos pais, quando minha família ainda estava tentando fazer seu negócio de paisagismo decolar? Sou tão estúpida assim de achar que ele saberia que eu sou filha do homem que seu pai, assim como a empresa do seu pai, assina vários cheques todos os meses para manter o paisagismo magnífico, mas também que sou a garota que costumava ser sua melhor amiga quando ele ainda usava meias do Homem-Aranha? Nossa… O que deu em mim hoje? Eu esqueci de almoçar? — Ora, olá — sua língua roça seus lábios —, linda. O termo significaria muito mais se fosse sincero. Será que ele sabe disso? Ele já pensou sobre isso? Ele já pronunciou a palavra de maneira sincera? Eu mordo o canto do meu lábio inferior rechonchudo para me impedir de perguntar. — Com quem eu falo sobre o trabalho voluntário aqui ao lado? O site diz para ar na loja em caso de dúvidas sobre essa merda de abrigo. — Comigo — A palavra magicamente consegue deixar meus lábios. — Perfeito. — Ele joga um papel na minha frente, pega a caneta que as pessoas
normalmente usam para a entrada e a saída dos seus animais de estimação do serviço de creche e a usa para apontar para a linha na parte inferior da página. — Você vai aqui — ele informa antes de usar os dentes para remover a tampa, que cuspiu descuidadamente no chão —, e colocar a data. — O q... — Você vai continuar fazendo isso por mim, três dias por semana durante os próximos meses e, em troca, vou garantir que receba um tremendo bônus. Ele não deixa espaço para contestar. — Assine. Tento dar uma rápida leitura no que imagino ser um documento importante. Seu pigarro descontente, infelizmente, torna tudo mais difícil. As duas palavras que consigo entender são “voluntário” e “supervisionado”. — Pra hoje, doçura, tenho coisas para fazer. Ainda sem saber com o que estou me comprometendo, simplesmente rezo para que não seja minha alma, rabisco minha e dou a ele um sorriso de “por favor, vá se foder e morra”. Eu não sou uma doçura. Não comi açúcar hoje para a informação dele. Isso aqui são migalhas de ossos para cachorro. E preciso dar os petiscos do schnauzer da Sra. Tinsel com a mão, ou ele tem um ataque de raiva que impede todos os outros cães de cochilar. — Perfeito. — Ele agarra o pedaço de papel e pressiona os lábios para fazer uma careta de beijo. — Até amanhã. Prudence rosna e fico tentada a me juntar a ela. Como se eu já não tivesse tido um dia longo o bastante? Uma nova funcionária quase foi mordida pelo filhote bulldog inglês da Sra. Vale,
a entrega do xampu atrasou duas horas e nossa melhor voluntária no abrigo se demitiu para seguir a namorada para o Canadá para criar gansos ou alces ou microbananas ou alguma merda assim. Sei lá. Eu não estava prestando muita atenção devido ao pânico se espalhando por ter de trabalhar por mais horas para cobrir essa lacuna até que possa encontrar alguma alma caridosa que queira ar seu tempo ajudando a cuidar dos animais que estão esperando novos lares. Algo para o qual não tenho tempo extra entre dirigir este lado do negócio, o lado comercial do abrigo, e estudar pra caramba para manter a bolsa acadêmica que tenho a sorte de ter. É a única coisa que me separa de estudar em uma das faculdades mais prestigiadas do estado e ter que entrar na longa lista de espera de faculdades comunitárias que me salvariam da dívida iminente que certamente terei quando cruzar o palco algum dia. Ah, puxa... Ainda se atravessa o palco na faculdade? É obrigatório? É opcional? Fugi de fazer isso no colégio porque só os ensaios foram o suficiente para vomitar repetidamente tudo que já comi em toda a minha vida. Comida e água correram por mim como manteiga derretida por mais de uma semana. Foi um começo difícil para o verão. Não tenho melhorado muito ao lidar com meus nervos, mas houve uma pequena melhora. Hoje em dia, eu costumo só vomitar sob esse tipo de pressão. Ren sai facilmente pelo caminho que entrou, apenas diminuindo a velocidade para olhar para uma funcionária debruçada cuja bunda eu achava que não precisava de short mais longo até este exato minuto.
Eu me preparo para chamar a atenção dela para isso e sugerir uma mudança no guarda-roupa no futuro, quando o telefone do escritório chama minha atenção. Atendo rapidamente a chamada, sabendo a importância do atendimento rápido e excelente ao cliente. É por isso que subi tão alto e tão rápido. Posso ficar um pouco desconfortável falando com as pessoas em um sentido geral, mas se começarmos a falar sobre seus bebês peludos? Sou uma pessoa completamente diferente. Do tipo: caramba, essa garota tem uma gêmea idêntica. Talvez porque sei o quanto são importantes para o bem-estar de uma pessoa. Quanto valor eles possuem em um nível mais profundo e emocional. Talvez porque eles possam sentir o que estou sentindo, mas muitas vezes têm dificuldade em expressar com eloquência. Conversar com e sobre animais de estimação, principalmente cães, é a língua estrangeira em que me destaco. O que é fantástico para o que faço e quero fazer. Cursei linguagem de sinais no colégio, o que é mais prático do que as pessoas pensam. Muitas pessoas com deficiência auditiva são incentivadas a ter companhia peluda e precisam de ajuda para encontrar uma boa opção. — Petrópolis, aqui é Poppy falando. Como posso ajudar a alegrar o dia do seu animal de estimação? — Sim, estou procurando pela Srta. Diesel — informa o homem do outro lado da linha. — Ela gerencia a seção de voluntários do seu negócio Garras & Patas? — Bem como este lado. É ela, ao seu serviço — eu docemente informo enquanto pego uma escova para acariciar Prudence. — Como posso ajudá-lo a se conectar com um animal de estimação que vai adorar? Há um grunhido de descrença, provavelmente por causa da saudação que tenho que usar. — Srta. Diesel... — Pode me chamar de Poppy. — Com a escova em minhas mãos, pergunto: — E com quem tenho o prazer de falar esta tarde? — Sr. Joseph Stiles.
— Fantástico. Que tipo de animal você está procurando, Sr. Stiles? No Garras & Patas nos especializamos em cães e gatos; no entanto, temos uma filial do outro lado da cidade que trabalha com animais mais exóticos para novos lares, como cobras, iguanas e pavões. — Eu... — ele se interrompe abruptamente. — Espera. Você disse pavões? — Disse! No entanto, eles têm alguns requisitos diferentes a serem considerados para adoção. — Não é isso... — Há uma pequena pausa seguida por um suspiro alto. — Na verdade, não é por isso que estou ligando, mas pode ser que eu volte a esse assunto mais tarde. — Ah. Então, em que posso ajudá-lo? — Um dos meus atletas deve aparecer para um turno de voluntariado hoje. Suas palavras afundam no meu estômago. — O nome dele é Remington Rutledge; no entanto, ele provavelmente se apresentará apenas como Rutledge. Ele não fez nenhuma apresentação. — Estive em contato com seu chefe no fim de semana e ele me informou que não seria um problema adicionar Rutledge à sua lista de voluntários. Sem resposta. — Ele me garantiu que toda ajuda possível seria bem-vinda, visto que você recentemente perdeu uma voluntária. “Perdeu” faz parecer que ela morreu, não que deixou este país por amor. Ou dinheiro. Ou montanhas. O que for.
— Ter a ajuda do Rutledge três vezes por semana vai ser um problema? Ah… então isto é o que dizia sua papelada. Foi com isso que me comprometi. Não exatamente minha alma, mas definitivamente algo igualmente valorizado. Minha sanidade. — Não. Há uma longa e inesperada calmaria que é seguida por um “hum” suspeito. — Ele já apareceu, não foi? Dou uma longa carícia no pelo de Prudence. — Sim. — Você assinou a papelada dele? — Sim. — E, aí, ele foi embora, correto? — Sim. Um bufo irritado é emitido. — Deixa eu adivinhar... Ele ofereceu a você uma compensação pela sua colaboração. — Mais ou menos. — Aham — resmunga o Sr. Stiles. — Agradeço sua honestidade, Srta. Diesel... — Poppy. — Voltarei a entrar em contato em breve. Tenha uma ótima tarde.
— O senhor também. A ligação termina e fico me sentindo da mesma forma que começou. Confusa. Irritada. E certa de que nada de bom me aguarda, especialmente se envolve Remington Ronald Rutledge, Terceiro.
Capítulo 3
— Cai fora da porra do meu gelo, Rutledge! Minha cabeça gira sobre meu ombro de encontro ao olhar frio do meu treinador. Removendo meu capacete, eu rio. — Caramba. Os cumprimentos neste lugar estão decaindo muito. — Fora! — ele grita pisando forte até a borda da pista. — Agora! A descrença faz meu queixo cair, mas não tenho a chance de falar. — Agora! — O treinador Stiles aponta na direção do vestiário. — Nesse instante ou mandarei a segurança vir arrastar o seu traseiro para fora! Ouço arquejos e murmúrios de simpatia ao meu redor. Simpatia de que não preciso, caralho. Nunca precisei de simpatia. Essa merda é para mariquinhas choronas cujo Buscopan ainda não fez efeito. Não faz bons jogadores, muito menos ótimos. Com certeza não faz vencedores do hall da fama da NHL. Deslizando em sua direção, mantenho meu tom o mais leve possível, independente da vergonha se infiltrando em minhas veias. — Que porra é essa, treinador? Ele não alimenta meu desejo de conversar. Stiles sopra o apito bem na minha cara e direciona o time atrás de mim. — Vamos treinar a agilidade e os cruzamentos! Há um resmungo coletivo seguido imediatamente pelos sons de equipamento sendo batido no gelo pelo otário do gelo.
Claro, ele tem um nome. Claro, estou pouco me lixando para qual é. Não sou obrigado. Ele não é bem um membro do time. Lavar minha roupa suja e arrastar por aí as merdas que eu uso para treinar não te torna merecedor de ter seu nome lembrado por mim. Minha memória é para coisas mais importantes, como lembrar quem dá a melhor chupada no mais curto espaço de tempo. Merda útil. — Treinador... — É melhor que suas bundas estejam em posição na próxima vez que eu soprar este maldito apito! — Stiles grita para meus colegas, minhas interjeições continuando ignoradas. — Vai simplesmente me ignorar, porra? — Quer dizer, como você me ignora, porra? — O treinador finalmente direciona suas palavras em minha direção, embora não o seu olhar. Sou mais uma vez interrompido pelo som de seu apito. — Um sopro, agilidade. Dois sopros, cruzamentos. Fez merda, está fora do meu gelo. Minha boca mal se move quando ele sopra o ório duas vezes. O objeto permanece preso entre seus dois dedos enquanto ele observa o exercício. — Disse a você que tinha que fazer serviço comunitário, Rutledge, ou não estaria no meu gelo. — Eu fiz — minto descaradamente.
Ele lentamente arrasta seu olhar para mim segundos antes de soprar o apito mais uma vez. — Você apareceu. — E a papelada foi assinada. — Um sorriso presunçoso cruza meus lábios. — Havia mais do que isso? Dois sopros agudos saem dele, mas nada mais. Eu deveria me impedir de revirar os olhos, mas não consigo. — Qual é, treinador. Eu... — Não é mais bem-vindo no treino. — Um sopro. — De maneira alguma. Suas palavras fazem surgir um nó no fundo da minha garganta que faço o possível para ignorar. — Você não é uma pessoa matutina ou o quê, porra? Porque foi você que escolheu este horário. Ninguém queria acordar às seis da manhã para essa merda. Um apito ressoa. O som de pegadinha pega alguém desprevenido, como ele esperava. — Hanks! Fora do meu gelo! Para minha surpresa, não há resistência. Sem discussão. Sem queixa. Ele simplesmente patina enquanto dá o seu melhor para esconder seu mau humor. — Vê, é assim que um jogador de verdade lida com suas merdas, Rutledge. — Ele se prepara para colocar o objeto de volta nos lábios. — Faz o que é mandado. E até você colocar isso nessa sua cabeça dura de merda, não tem permissão para chegar nem perto dos meus treinos, caralho – nem perto do meu
gelo. As palavras de Stiles firmam o nó ainda mais para baixo. — E, caso tenha se esquecido — É a vez dele de sorrir presunçosamente — se perder um treino, não joga no próximo jogo. — Esse é o primeiro jogo da porra da temporada! — Amistoso. Mordo minha língua para me impedir de ladrar que mesmo assim importa. Não importa, tecnicamente, porque é a porcaria de um jogo-treino, mas importa porque é a referência de prestígio para a temporada. É a merda que eles usam para espalhar boatos como quem vale a pena e quem nunca verá os playoffs em sua carreira. É quando descobrimos quem melhorou ou quem será motivo de chacota. Os Vipers... não são o que costumavam ser, mas depois que ajudei a dominar o gelo na segunda metade da temporada ada, tivemos um pouco daquela maldita esperança de volta. Outros times ficaram com um olhar de preocupação que os veteranos na época mencionaram que não tinham visto desde que tinham se tornado titulares. O primeiro Amistoso é tão crucial quanto o primeiro jogo de verdade. Tenho que jogar. Preciso jogar. — Treinador... Ele sopra bruscamente duas vezes. — Eu... — Fora do meu gelo, Lee — ordena Stiles, pegando um erro cometido pelo canto do olho. — E fora do meu treino, Rutledge. Novamente ele não permite uma refutação. — Da próxima vez que estiver me importunando, é melhor ter alguma maldita
evidência fotográfica de que fez o que foi mandado fazer, juntamente com sua papelada assinada com uma nota pessoal da gerente, que tem que ser a pessoa que está supervisionando suas visitas, relatando o que você fez naquele dia e quão bem fez. — Ele sopra o apito uma vez. — E é melhor não pisar aqui até estar liberado. Porque se pisar... eu vou cortá-lo da porcaria do meu time. — A cabeça dele se volta para os exercícios. — Joelhos, Gibson! Joelhos, Stacy! Coloquem a porcaria desses joelhos para cima nos cruzamentos! A raiva corre desenfreada em minhas veias, tentando-me a dar cabo dele. Quem diabos esse miserável pensa que é?! Ele não pode me colocar no banco a temporada toda e, com certeza, não pode me tirar da porcaria do time. Eu fiz os testes como qualquer outro filho da puta lá. Eu me destaquei, e é por isso que eu sou o goleiro titular. Eu brilhei tanto – como a porcaria de um diamante na porra de uma vitrine da Tiffany – que o treinador Woods, o treinador de goleiros, quase chorou porque não tinha visto tanto talento nos últimos seis anos. Esse time precisa de mim. E, de um jeito ou de outro, vou jogar. O treinador Stiles pode pensar que tem todo o controle, mas não tem. Nunca fiquei preso em uma situação em que não pudesse pagar ou usar meu charme para livrar minha cara. Essa merda não vai ser uma exceção. Após rugir de raiva no vestiário, tirar meu equipamento de má vontade, e perturbar o ciclo de sono de uma estudante de medicina para gozar na cara dela, eu me dirijo para a primeira aula do dia, Literatura Mundial. A maioria das pessoas com quem me deparo odeiam essa merda. Não entendem por que deveriam dar a mínima para uma história antiga escrita há muito tempo
por um velhote. Conceitos básicos ou comparações com o que era relevante na época ainda serem relevante hoje ou foram perdidos ou descaradamente ignorados. Que se fodam. O único lugar que me dá vida fora do gelo é a literatura. Eu comprava livros antes mesmo de amarrar meu primeiro par de patins. Como dinheiro, conhecimento é poder. E, enquanto um Rutledge, é minha responsabilidade ser sempre uma, se não a única, das pessoas mais poderosas em uma sala. Às vezes, eu me pergunto: seria tão ruim assim não ser? Simplesmente... ficar em uma sala sem me preocupar se meu nome carrega mais influência que o dos outros ou ter que descobrir como diabos garantir que se curvem à minha vontade em vez do contrário. Às vezes, eu me pergunto: as pessoas podem simplesmente... coexistir sem concorrência? Às vezes, tarde da noite, quando estou tendo problemas para pegar no sono, eu me encontro desejando que possam. Que possamos. Que eu possa. É uma merda, mas mesmo em um time... ainda há disputa para ser o melhor. Você quer ser o Melhor Jogador. Você quer ser aquele que não pode ser substituído. Você quer ser aquele de quem todos os olhos na multidão não conseguem desviar o olhar. Você quer que seu time pague pau para você tanto quanto aqueles que estão nas arquibancadas. Talvez seja por isso que eu curto livros. Todo livro é um Melhor Jogador para alguém.
E cada leitor consegue determinar qual livro é esse para ele. Sim, há estatísticas e cifras e prêmios como nos esportes, mas a literatura tem esse jeito de deixar cada indivíduo definir qual é a coisa mais valiosa que já leram. Devolve o poder ao povo. Permite que opiniões e crenças pessoais superem as classificações e avaliações. Só porque um idiota acha que Moby Dick embala poder não significa que eu tenha que achar o mesmo. Os esportes vêm com fatos indiscutíveis. Livros vêm com noções variantes. Acho que gosto da flexibilidade oferecida nesse último. Não encontro essa merda em nenhum outro lugar da minha vida. Eu me recosto na cadeira da ponta na primeira fila. Na minha experiência, é um lugar onde as pessoas raramente se sentam por vontade própria, especialmente na faculdade. Muita pressão para a maioria estar tão perto de um professor a menos que sinta tesão por quem está ensinando. Eu? As pessoas não me incomodam aqui. Não me distraem. Permitem que eu me perca nas aulas, uma das poucas aulas do caralho que me importo em prestar atenção ao longo do dia. A Escrita Criativa é a outra, e essas geralmente não são nem aulas, são mais debates filosóficos. Cursei essa merda também. Mas sentei no fundo. Tinha uma putinha que eu deixei me chupar depois da nossa primeira aula. Não foi um jeito terrível de começar meu ano de calouro. A professora Perry se inclina de encontro à borda de sua mesa na parte da frente da sala e impacientemente olha o relógio da Apple em seu pulso.
Gosto dela porque é pontual. Ela começa e termina exatamente na hora. Nunca um minuto antes e, graças a Deus, nem um minuto depois. Ela foi minha professora de Literatura Inglesa ano ado. Algo me diz que ela sabia que eu estaria aqui, para a turma mais avançada este ano. Atiro meu tablet na carteira escolar, sento de qualquer jeito e me inclino para um lado, ignorando a morena peituda duas fileiras atrás de mim tentando chamar minha atenção. Não. Tive uma manhã de merda e quero refletir sobre algo que ninguém pode tirar de mim. Nem mesmo uma caloura peituda e dentuça que fode o esquema ao deixar o time de futebol se perguntando se ela é mesmo uma garota já que ninguém supostamente comeu ela ainda. — Frankenstein — a professora Perry começa a falar, jogando seu cabelo loiro sobre o ombro. — Vocês foram designados a ler a obra antes de pôr os pés na minha sala. Li. Amei. Li novamente. — O momento da verdade chegou. — Ela bate as unhas ao longo da borda que estava agarrando. — Nossa discussão em grupo será o primeiro teste de vocês. Sua participação é fundamental para ser aprovado. Se escolher não falar, será reprovado. Se escolher repetir a opinião de alguém que já compartilhou sem nenhuma elaboração própria, será reprovado. Se escolher desperdiçar meu tempo demonstrando que mal leu a página do Wikipédia, será reprovado. — Seu sorriso alegre, mas maldoso, me faz rir levemente. — Minha aula não é básica como
Literatura Inglesa. Terão essa aula comigo apenas uma vez por semana. Serão testados toda semana. É dessa forma que serão testados. Permitam que eu explique por quê. Eu brinco com a aresta da capa do dispositivo, curiosidade correndo por minhas veias. — Acredito fortemente na famosa citação de Eleanor Roosevelt: “Mentes grandes discutem ideias, mentes medianas discutem fatos, mentes pequenas discutem pessoas.” — Seu corpo finalmente se retira de sua posição inclinada. — Não estão nesta universidade para serem nada menos que grandes. É minha obrigação torná-los grandes, enquanto a pessoa destinada a guiá-los durante sua jornada no ensino superior. Para mim, isto significa dar a vocês as ferramentas para usar, não testes que esquecerão. Toda semana serão presenteados com a oportunidade de expressar suas opiniões, suas ideias, suas crenças, e toda semana terão a oportunidade de aguçar suas habilidades de ouvir ativamente, suas capacidades de debate, seus raciocínios dedutivos, suas compreensões não somente do material pelo qual vocês estão encarregados de ler, mas como ele afeta indivíduos assim como também multidões. Parte da beleza da Literatura Mundial não são apenas as culturas ou as dificuldades que estão englobadas nela, mas ver como ela afeta as massas. Suas respostas emocionais a ela. A percepção de que a humanidade, independentemente de a qual parte do mundo reside, enfrenta muitas das mesmas tribulações de princípios. — Professora Perry nos oferece um sorriso caloroso. — Esta aula será conduzida em um fórum de discussão aberto. Mas, repetindo, para ser aprovado a cada semana, devem participar da discussão. Há câmeras na sala de aula gravando. Vou rever as imagens e combinar suas participações com seus perfis a cada semana. — Ela dobra as mãos atrás das costas fazendo com que o peito se projete para a frente. — A ementa de leitura de vocês está inserida online. Para aqueles de vocês que já examinaram e estão se perguntando como é que iremos ter discussões com êxito nas semanas que leram livros diferentes... bom... apenas certifiquem-se de fazer a parte de vocês e entendam que farei a minha. Porra, essa mulher é sexy. Loira. Peitos de bom tamanho. Cintura minúscula. Adicione seu brilho e atitude ousada, e ela é praticamente perfeita. Se ela não fosse casada com o treinador do time masculino de remo, eu iria com
tudo. Isso, e claro, se o treinador Perry não tivesse 1,80m, 118kg, e não fosse musculoso como as montanhas de onde ele veio na Noruega. — Falando em vocês fazendo a parte de vocês, a leitura de Frankenstein. — Seu andar pelo espaço aberto é casual. — Digam-me um dos equívocos mais comum que o envolve. A resposta sai da minha língua sem pensar. — Que Frankenstein era o nome do monstro. Professora Perry dá um aceno com a cabeça na minha direção. — Muito bom, Sr. Rutledge. Sento um pouco mais desleixado, apreciando o elogio, mas inseguro se quero os holofotes. Minha reputação é categorizada como babaca – dentro e fora do gelo. Prefiro assim. Dá um alcance muito maior em relação às merdas que eu tenho permissão para dizer, bem como fazer; no entanto, ser o “preferidinho da professora” não tem vez perto da porra do meu rótulo principal. E eu sou rotulado. Como um Rutledge, fui ensinado cedo pra caralho na vida o que isso significa. Como um deus dos patins, eu era lembrado repetidamente da mesma coisa. Você é sua aparência. Mesmo quando não quiser que seja. — Turma, se fosse agora, nos tempos de hoje, que nome teriam dado a ele? Alguma voz mais perto da parte do fundo responde: — Adam, como o monstro refere-se a si mesmo. — Se encaixa — eu me pego murmurando —, embora nada original. — Elabore, Rutledge — a professora Perry ordena.
Droga. Deveria ter ficado de boca fechada. Pretendia manter minha boca fechada. — Houve inúmeras comparações alegando que a história era uma peça da criação da humanidade, o que tornaria Victor, Deus, e a horrível coisa que ele criou, a humanidade, daí nomeá-lo Adam, o mesmo que Adão em inglês, seria uma correspondência precisa considerando como outros retrataram a história, mas nada original. Beleza. Eu sei algumas merdas. E, ocasionalmente, especialmente quando se trata de livros, meu ego não me deixa não mostrar que eu sei fazer mais do que impedir discos de voar na minha cara. Professora Perry, mais uma vez, parece impressionada. — O que seria original para você? — Stanley. — Em homenagem à copa de hockey — um idiota atrás de mim dá uma gargalha. — Isso é original? — É o troféu mais desejado do meu esporte e o troféu mais antigo existente em uma franquia esportiva. É a maior realização para um atleta nesse esporte, e trazer à tona a existência da vida como cientista é uma analogia fácil que qualquer idiota deve ser capaz de entender. Há alguns “porra” e “uh” murmurados dos meus colegas de classe, o que me faz dar um sorrisinho sacana. Eu. Entendo. Minhas. Merdas. Hockey e literatura.
A professora Perry acena sua aprovação pela minha explicação. — Nobel — uma voz feminina grita. — Continuando como tema a ideia do Rutledge, sigo um raciocínio semelhante. Um Prêmio Nobel da Paz seria a maior conquista para mim, assim como tenho certeza que criar vida era para Victor. Professora Perry murmura seu entendimento antes de virar a linha de questionamento. — Se criar vida... trazer à luz vida... é o auge da realização para esse cientista, vocês concordam com todas as teorias sobre seu complexo de Deus, ou acham que, talvez, ele tinha inveja da capacidade da mulher de fazer isso sem ciência? Um clamor inesperado eclode, e eu vejo mãos se erguerem pelo canto dos meus olhos. Hum. Nunca considerei essa linha de pensamento antes. Caralho, amo quando isso acontece. Daria umas duas horas interessantes. A aula a mais rápido do que gostaria. Se fosse por mim, aria toda a minha existência falando sobre hockey e livros, mais sobre o segundo do que o primeiro, ao contrário do que todos acreditam. Uma vez que a aula termina, dou uma ada na academia só para membros no The Village para encaixar a malhação que me foi negada pelo treinador Cabeçudo mais cedo. Está relativamente vazia já que a maioria dos meus colegas de time está em uma sala de aula física neste horário. Optei por fazer a aula de matemática online para desfrutar de um pouco mais de liberdade do que a maioria de nós consegue. Rap inunda meus ouvidos durante o primeiro trecho de sprints na esteira, mas não é o único tipo de gênero que escuto. Mais uma vez, apesar do que a maioria das pessoas pensa, o que são conduzidas a acreditar, porra, o que eu as conduzo a acreditar, na verdade, eu curto as coisas mais aleatórias. Bandas da Irlanda e rappers da Inglaterra. Garotas cantando em espanhol e músicas feitas usando apenas um único instrumento, como um violoncelo. O que eu escuto é semelhante ao que eu leio. Claro, tenho minhas preferências, mas no geral? Estou praticamente aberto a qualquer coisa e tendo a encontrar algo que eu gosto
na maioria. Às vezes considero corrigir algumas concepções erradas sobre mim. Daí eu penso... Que se foda. Iria manchar meu rótulo. E meu rótulo é quem eu sou, mesmo que eu não queira que seja. Rutledge é um tô-pouco-me-lixando, Deus do Hockey, sem dúvida, destinado à Liga Nacional de Hockey. Ren é um ser atencioso e intelectual que o mundo esmagaria imediatamente se tivesse visto mais de trinta segundos dele. Depois de uma série de intervalos de quarenta e cinco minutos na esteira, na qual a maioria ei irando uma dançarina profissional se esfregando em uma bola de yoga e chamando isso de alongamento, eu pego uma garrafa de água grátis, entro no meu SUV, e sigo para Venom, uma praça de alimentação no campus que fica localizada bem do outro lado da estrada para The Village, para nossa conveniência. Afinal, tem que manter os atletas felizes. Existe um jeito melhor do que pôr as merdas que queremos o mais perto de nós e se certificar de que tenhamos sempre o dinheiro para desfrutar? O lugar é, sem dúvida, dinheiro bem gasto do campus. Enquanto a ideia principal de propaganda da Venom é o fato de que basicamente você pode tomar qualquer tipo de shake ou vitamina que a porra do seu coração desejar, eles também vendem uma grande gama de hambúrgueres – de merdas vegetarianas ao tipo que provavelmente daria a um cara sedentário um ataque cardíaco – e as melhores batatas-fritas que já comi na minha vida. Tenho quase certeza que polvilham droga nessa merda.
Nunca me sinto tão bem como quando como uma tigela cheia de poutine. Abro a porta de vidro, ajeito minha bolsa esportiva no ombro e dou uma rápida olhada no estabelecimento, me preparando para mandar outros babacas vazarem para a minha galera poder sentar onde geralmente a gente senta. Para minha surpresa, a garota do lugar de animais de estimação que fui ontem montou um esquema com vários livros na mesa perto do centro. Ela. Essa é a putinha que me dedurou. Sinto nenhuma relutância a atormentar e foder com o dia dela da mesma forma que ela fodeu com o meu. Batendo minhas palmas abertas em cima dos livros dela, eu rosno: — Dedoduro. O ato de interromper abruptamente seu estudo faz com que ela quase pule para fora da cadeira. Bom. Ela devia estar assustada, caralho. Ela arruinou a porra da minha manhã e se não conseguir deixar seus lábios carnudos de boca fechada, ela vai arruinar a porcaria da minha temporada inteira. E ela não vai querer isso porque, aí, eu teria de arruinar a porra da vida inteira dela. E ninguém quer isso. Gentileza da minha parte é um privilégio raro. Vingança da minha parte é a pior maldição. Inclinando um pouco mais perto, falo com fúria: — Qual o seu problema, caralho?
A garota, cujo nome não me recordo, usa seu dedo indicador para empurrar para cima seus óculos de vovozinha. — No momento, é seu tom abrasivo e hálito igualmente ruim. Abro bem minha boca, preparado para destruí-la em pedaços, no entanto, hesito graças as suas palavras sendo absorvidas. Merda. Meu hálito está ruim? Com meus olhos estreitados ainda nela, eu levanto lentamente uma mão para fazer uma verificação de qualidade. Um sopro imediatamente me faz resmungar e pegar a vitamina mal tocada. O único gole que tento tomar me faz engasgar. — Urgh. Que porra é essa? — Kiwi, espinafre e acelga chinesa. — Caralho, por quê?! Seus ombros cobertos por moletom balançam. — Por que não? — Porque tem gosto de merda de bebê. — Essa é uma comparação muito específica de se fazer. — E essa é uma coisa nojenta pra caralho de se beber. — Eu puxo uma das cadeiras desocupadas que está em frente a ela, viro a cadeira para trás, e coloco minha bunda nela, a bolsa no chão ao meu lado. — Da próxima vez, vê se adiciona maçã verde ou melão verde ou alguma merda nisso. Vai deixar melhor. Ela inclina a cabeça pensativamente para o lado. — Valeu.
— Agora que eu te ajudei... — Tá, mas você não chegou a me ajudar já que eu gosto da minha bebida do jeito que está... — É repugnante. — É deliciosa. — Tem gosto de depressão misturada. Sua mandíbula atinge a mesa. — Eu te ajudei... — Criticou... — Então, por que caralho você não podia ter me ajudado? — A pergunta a faz se recostar na cadeira. — Aquilo lá é jeito de tratar um estranho rico e charmoso que apareceu e estava desejoso de te oferecer toneladas de dinheiro para simplesmente manter sua boca fechada?! — Uau, bem Weinstein, hein? Sua resposta espertinha recebe um sorrisinho. — E, na verdade, você não é um estranho. — Ela enruga o nariz duas vezes como uma coelhinha nervosa. — E nem é assim tão charmoso. — Outra contorção da mesma parte do corpo. — Ou nem um pouco charmoso, na minha opinião. — Mas sou bem rico. Minha refutação faz com que ela me encare uma segunda vez. — Você está bem perto de ter minha bebida jogada em você. A ameaça me pega de surpresa. — Quê? Kiwi incha sua língua?
— Cenoura é do seu interesse? O golpe dado na ação inconsciente do nariz dela faz com que ela bufe alto. É. Foi um golpe bem baixo da minha parte, mas ela deu golpe primeiro. Eu só golpeei melhor. — Por que você acha que não somos estranhos? Ela não responde. — Você foi a um jogo uma vez e me pediu para autografar seu sutiã ou alguma merda assim? Ofensa surge em sua expressão. — Sinto desapontá-la, dedo-duro, mas isso não se equipara a saber quem diabos é você. — Impressionante que você usou essa palavra sem a ajuda da enciclopédia. É minha vez de fulminar. — Acredite em mim, eu te conheço desde que você estava usando cola cara para se transformar em um monstro Lego humano, só com pecinhas verdes e amarelas, porque, bom... — Vai, Packers — gritamos em uníssono. A risada que escapa de nós dois me pega tão desprevenido quanto a lembrança. Essa merda não é de conhecimento geral. Porra, essa merda nem é algo que eu achei que alguém além de mim sequer se lembrasse. E, como muitas das minhas outras lembranças, não relacionadas ao hockey, estão bem escondidas para nunca mais serem lembradas ou tocadas.
É a única maneira de mantê-las verdadeiramente conservadas. — Seu pai deixa aquela merda ao lado da coleção dele de modelos de carros em exibição, apesar do fato de que ele nunca montou as coisas sozinho. Ele nunca montou. Elas são apenas um símbolo de status para ele. Mais uma maneira de mostrar ao mundo que ele tem todo o dinheiro e está pouco se lixando. Como ela sabe disso? Ela tem me perseguido desde a primeira vez que curti Homem-Aranha? É bem menos comum agora, mas ocasionalmente, geralmente quando estou com um pouco de ressaca, ainda curto saborear uma tigela de cereal Crunch sabor Torrada de Canela usando nada mais que meu lançador de teias favorito. Essa também é uma informação desconhecida para todos, além de mim. — Eu estava lá no primeiro ano do Ensino Médio quando toda a multidão gritou seu nome porque você impediu aquela tacada contra o Springdale. — Ela faz uma pausa em seu discurso para entoar rapidamente “Fodam-se os Gambás” comigo antes de adicionar: — E eu estava lá quatro anos atrás no dia que você descobriu que sua mãe tinha tomado a combinação errada de pílulas, ou pelo menos o que você esperava que fosse a combinação errada e não que ela estava tentando acabar com a vida porque havia descoberto que seu pai tinha transado com várias comissárias de bordo nos últimos seis anos. A informação faz meus olhos saltarem da minha cabeça. — Como diabos... — Não somos estranhos, Ren — ela sussurra ao mesmo tempo em que pega seu lápis —, mesmo que você tenha ado anos fingindo que somos. Uma sensação incomum e desconfortável se enraíza na boca do meu estômago. Que porra é essa?
Culpa? Não pode ser. Eu não sinto culpa, porra. Além disso, por que eu me sentiria culpado, de qualquer maneira? Porque uma garota atraente, meio grossa, de cabelos cacheados com pele do mesmo tom do café da minha mãe (após ela ter adicionado seu amado creme Bailey's) se lembra desses... detalhes intrigantes da minha vida, e eu não consigo nem lembrar o nome dela? Não é como se eu a tivesse fodido e esquecido. Ou era o caso? Mas que merda? Por que não me lembro dessa garota? — Por que você me chamou de Ren? — Quando ela não responde, tiro da boca a ferramenta de escrita que ela está mordiscando. — E você é o quê? A porra de um castor? Seu nariz se contorce mais uma vez, só que dessa vez ameaça me fazer sorrir. É quase fofo. Irritante. Mas fofo. — Por que diabos não me chamou de Rutledge? — Porque antes de você ser Rutledge, você foi Ren. Ren fazia bolinhos de lama comigo no quintal dele enquanto meu pai aparava as roseiras. Ren guardava leite com chocolate em casa porque sua melhor amiga chocolate precisava de algo que se parecesse com ela na geladeira. — Que merda racista.
— Você tinha seis anos. Foi a sua tentativa de inclusão. — Foi estúpido. — Foi fofo. — Está vendo? Charmoso. — Eu pisco. Sua cabeça balança, e eu me pego gostando da maneira como a coleção de molinhas que ela chama de cabelo ricocheteia. Imagino como seria ver seu cabelo ficando todo desarrumado enquanto ela cavalga meu pau. O pensamento aleatório faz com que eu vá para mais perto da borda da cadeira para evitar que meu pau se junte à conversa. — Na época em que você parou de ser Ren e começou a ser Rutledge foi aproximadamente a mesma época em que você se apagou da minha existência. Acho que uma coisa é ser amigo da filha do jardineiro quando se tem cinco anos, e outra é continuar sendo quando se tem oito e é oficialmente titular do Hockey Hell. — Heaven. — Depende a quem pergunta. — Sua réplica espertinha é procedida por ela pegar o lápis de volta em suas mãos. — Adeus, Ren. Ela não teve a oportunidade de abaixar o rosto de volta para seus livros porque eu agarro o objeto. — É Rutledge. Embora... se eu ouvir a irritante voz no fundo do meu cérebro, tenho de itir, é revigorante ouvir alguém dizer algo diferente. Conhecer outra pessoa que sabe que existe um outro lado de mim que nem sempre consegue ver a luz do sol. — É babaca. — A garota vira a mão, de forma que a palma fique voltada para
cima. — Lápis. — Eu tenho algo que você quer — meu tom é provocador — e você tem algo que eu quero. Suas pernas cobertas com calça de moletom se apertam instintivamente. — Não isso. O alívio, assim como o que parece ser decepção, turva em seu olhar. Hum. Um tanto inesperado, mas que seja. — Ou, pelo menos, não agora. Ela engasga com o que acrescentei, mas não me engana como pensa. Se essa garota prefere pau a dinheiro para falsificar minha merda de voluntariado, é ainda melhor. Eu não me importo de transar para abrir caminho para ter o que quero. Não seria a primeira vez. Duvido muito que seja a última. — O que — um suspiro pesado sacode seu peito farto — você quer, Ren? Sua recusa em me chamar do que eu pedi ganha um sorriso estúpido. Tenho que itir. Gosto que ela não faz apenas o que eu exijo que ela faça. Um pouco. Ela pode parar com essa merda quando se trata de me impedir de falsificar essa sentença bizarra que o treinador Cabeçudo está tentando me empurrar. — Que me ajude a fingir meu serviço comunitário.
— Você está acostumado com garotas fingindo qualquer coisa por você, hein? O escárnio que escapa choca a nós dois. Ela... Ela realmente disse essa merda para mim? Seu rosto inteiro se contorce em uma natureza claramente apologética, mas as palavras nunca saem de sua boca. Vamos voltar para essa merda mais tarde... Primeiro, me colocando de volta ao treino, depois, colocando meu pau em sua boceta para que ela possa ver que não há motivo para garotas fingirem prazer ao treparem profundamente vinte centímetros de puro prazer. — O que é preciso para fazer você fingir que estou fazendo a merda que deveria estar fazendo? Ela cruza as pernas completamente na cadeira, dá um sorriso torto e desafia: — Diga o meu nome agora, e eu mentirei para um maldito tribunal por você. Por que eu não sei o nome dessa garota?! É tão complicado assim? Tem oito Os ou dezesseis Us nele ou alguma merda assim? Por que não consigo lembrar do seu rosto no meu ado ou, mais importante, seu nome? Porra, eu a vi ontem! Ela estava com um crachá?! Uma ideia surge na minha cabeça dois segundos depois. A garota tira sua vitamina, que tem o nome dela escrito, fora da minha linha de visão. — Tentando trapacear no serviço comunitário, por que é que não achei que tentaria trapacear ao lembrar meu nome? — Estou pouco me lixando.
Sua cabeça balança lentamente mais uma vez. — Eles não ensinam a importância da honestidade nos esportes? — Eles ensinam a importância de vencer. Algo que eu não vou deixar esta mesa até que consiga. — Agora, me diga... — minha voz falha na esperança de que ela implante seu próprio nome na conversa. Quando ela não faz isso, eu solto um bufo irritado — o que você quer em troca de fingir que estou lá como voluntário? Porque eu não planejo estar lá, e é óbvio que você não me quer lá. Ela não quebra nosso olhar firme. — Eu posso conseguir o que você quiser, doçura. — Vamos começar com você não me chamando assim. — Por dois dias seguidos tem açúcar em você. — Ontem eram migalhas de petisco para cachorro... — Faz sentido você beliscar os petiscos, já que têm gosto melhor que essa vitamina que você está segurando. — E hoje — ela rosna enquanto olha para baixo. Um pequeno rubor atinge suas bochechas antes de tirar os vestígios de pó — Tá, essas eram migalhas de açúcar do biscoito que eu comi antes, mas mesmo assim. Não me chame disso. — Claramente, eu não me lembro da porra do seu nome... — Mesmo que lembrasse, não tenho dúvidas de que ainda me chamaria de algo vazio e sem sentido como anjo ou linda. — Linda é sem sentido para você? Quão gostosona você se acha? — É sem sentido porque você não foi sincero, imbecil. — Quem diabos você está chamando de imbecil, cara de coruja?
A garota zomba do comentário. — Eu não pareço com a porra de uma coruja. — Você parece quando faz essa cara. Ela bufa fazendo com que seu corpo inteiro estufe. Eu atiro para ela um sorriso desagradável. — Quando você faz isso, fica parecida com o Sr. Coruja daqueles comerciais bestas, antigos pra caralho sobre pirulitos. — Docinhos. — Que ainda são legalmente considerados pirulitos, o que faz de você a imbecil por achar que é necessário me corrigir. Ver seu olhar castanho se encher de chama encoraja meu pau, mais uma vez, a declarar um convite para nossa discussão. Não agora. Nem nunca. Não a menos que eu tire seus óculos horrorosos do seu rosto redondo. — Olha, Corujinha — eu começo enquanto mexo com sua ferramenta de escrita favorita —, todo mundo tem um preço. Algumas pessoas querem dinheiro. Algumas pessoas querem fama. Algumas pessoas precisam de uma boa foda. — Batendo contra seu livro, eu informo: — Eu só preciso saber qual é o seu, para que eu possa dar a você. Sua boca se abre preparada para cuspir mais ódio, eu presumo, mas todos os sons são silenciados quando seus olhos se voltam para o grupo barulhento que entra. Dou uma olhada rápida para eles reconhecendo a maioria das vozes. — Rutledge! — Adrian Stratton, meu melhor amigo, chama por mim. — Você perdeu a merda do treino, não perca a chance de comer uma putinha também! —
A piada sem graça é seguida por ele beliscando a bunda da garota aleatória, que está grudada nele como se fosse uma ventosa. — Digo... poutine. Ela ri de Stratton enquanto outra garota que estava no balcão corre para se esgueirar até a multidão dos meus colegas de time, que parecem tão famintos por boceta quanto por proteína. — Não é como se tivéssemos notado, porra — Byer gargalha, cada bíceps abrigando uma loira diferente. Em vez de parti-lo em dois, eu mentalmente faço uma nota para esgueirar aquelas gatas para longe de seu alcance e para dentro do meu no instante em que terminar aqui. Não vai ser difícil. Byer não conseguiria manter uma putinha nem se ele usasse um maldito cimento. Meu rosto volta para a garota tagarela com quem estou discutindo e vejo uma expressão inesperada. Isso é... desejo? — Caralho, é sério? — eu resmungo minha descrença. — Isso é o que você quer? Ela volta seu olhar para mim. — Ser uma pele? — Uma o quê? — Pele. — Depois de colocar o lápis atrás da minha orelha, eu explico. — Geralmente, elas são conhecidas como vadias do hockey. Maria-patins. Piranhas do skate. Mas temos a tendência de chamá-las de Peles porque as cobras trocam de peles da mesma forma que trocamos de lençóis. Minha adversária inclina a cabeça para o lado em pura surpresa. — Hum. Isso é... estranhamente criativo.
— Só porque somos atraentes não significa que não podemos ser inteligentes. Seu revirar de olhos irritado me faz rir levemente. — Por que diabos você quer ser uma Pele? — Eu... não... — Aham. E agora você é digna de ser vencedora daquele People's Choice Award do caralho. Ela estreita o olhar de uma forma familiar. — Você quer ser uma Pele? Porra, tudo bem, tanto faz, isso é... com você, mas eu sei o jeito mais rápido de torná-la uma ou... levá-la ao que realmente quer. Essas palavras fazem com que ela dê uma rápida olhada para os meus colegas de time. Disfarçadamente percebo para quem ela lança um olhar rápido e tenho que me forçar a não zombar. Urgh. Byer. De todos os idiotas de merda, por que aquele é quem ela está de olho? Especialmente quando ela poderia ter a versão melhor dele? Eu. Ouvindo minha presença sendo convocada mais uma vez, pego minha bolsa de volta e lanço um sorriso para ela. — Pense sobre o que você quer agora, doçura, e quando eu ar na Petopoly... — Petrópolis. — Amanhã à tarde, poderemos chegar a um acordo em que ambos conseguiremos o que queremos um do outro. — Lanço uma piscadela para ela e
saio na direção dos meus colegas de time, certificando-me de fazer um gesto com a cabeça para a ruiva que estava me olhando boquiaberta desde que eu coloquei os pés dentro do prédio. Minha mão pousa em sua bunda antes mesmo que ela tenha a chance de me dizer seu nome. Sim, estou nem aí para qual é a porra do nome. Essa é a beleza das Peles. Você não tem que saber seus nomes. Seus gostos. Seus desgostos. Seus ados, seus presentes, ou a porra dos seus futuros. Tudo que importa é como gostam de ser fodidas e se valem a pena foder outra vez. Lanço um último olhar furtivo para a garota cujo nome eu odeio não saber quase tanto quando odeio ter de transformá-la em algo que ela nunca deveria ser. O custo de conseguir o que você realmente quer raramente é barato. Essa é a porra do meu time e eu vou jogar na porra da temporada. Se isso significa que uma pobre morena, linda e inocente será queimada no processo, então que seja, porra. Vou colher os benefícios agora e considerar pagar a penitência por essa merda depois.
Capítulo 4
Minha melhor amiga, Della, para de escorrer a a de miojo. — E você tem certeza? — Claro. — Certeza absoluta? — Sim. — Mil e cinquenta e cinco por cento que sim? — Sim. — Tá. — Sua pele pêssego permanece tingida de rosa. — Mas estou te dizendo, se me deixasse agir como uma AMIGA e me deixasse amaldiçoar o pau dele para que ficasse verde, nós duas nos sentiríamos melhor. — Pois é, mas não acho que ele se sentiria. Meu terrier escocês preto, Bond, late de onde está sentado no meu colo, no nosso balcão. — Estou com o meu cachorrinho. Estou nem aí para ele. Bond late alto novamente. — Exatamente — Della suspira derrotada. — E você, Poppy, devia parar de fingir que não se importa com ele e de fato ar a odiá-lo como ele merece. Algo que tenho dito a mim mesma, repetidamente, por onze, quase doze anos. — Pode acreditar, se fosse por mim, Bond transformaria as bolas dele em um brinquedo de mastigar. Ele levanta a cabeça para mim como se questionasse se isso era uma opção. Nossa, é impressionante quanta personalidade os animais têm. Às vezes você poderia pensar que Bond era uma cópia exata de Della. Apesar do fato de eles se conhecerem há apenas três anos e viverem sob o mesmo teto há cerca de quatro meses, são cópias carbono um do outro. Ela é, basicamente, ele em forma
humana. Seu atrevimento. Seu comportamento ferozmente leal. Sua necessidade de me amparar ou proteger de qualquer coisa que considere uma ameaça à minha felicidade. Ela é minha melhor amiga da mesma forma que ele. Sou grata por ambos... mesmo quando estão se unindo contra mim. — Não, senhor — eu reclamo para ele. — Você não vai transformar a área inferior do Ren em nenhum tipo de brinquedo. Sua minúscula cabeça preta se abaixa em óbvio desapontamento. — E não, senhora. — Minha repreensão mal parece ser ouvida. — Não vamos amaldiçoar o Ren... a ter um pau verde ou de qualquer outra cor. — Que tal só cair? — Não. — Que tal ficar coberto de verrugas? Ou manchas? Ou... — Não. Não. E, santo Deus, não para qualquer imagem horrível que você estava planejando ilustrar verbalmente. — Puff. — Seu bufo é esperado. — Por que não? — Porque ele não é tão ruim. Ela deixa cair a a quente no balcão vazio ao lado da pia e me lança um olhar sarcástico. — Ok, tá, estou brincando. Suas sobrancelhas se erguem em uma resposta silenciosa. — Mentindo. Seu corpo esguio se inclina ligeiramente para a frente. — Tá. Estou te enrolando como uma celebridade que afirma que nunca trairia sua esposa, apesar do fato de que é óbvio que é ele deixando uma boate com alguma fã do momento.
Minha melhor amiga joga as mãos para o alto para indicar que ela venceu esta rodada. Porque ela venceu. Caramba, ela ganha a maioria das rodadas. Não apenas porque ela é mandona, insistente e muito teimosa para achar que poderia estar errada, mas porque ela raramente está. Tal como seu cabelo pintado no estilo My Little Pony, eu culpo seus pais. Ser criada por dois psiquiatras deu a ela muita autoestima e uma irritante habilidade de ler com precisão qualquer situação. Ainda assim, o que ela quer como profissão? Acupuntura. Eu não entendo. E eu não posso perguntar sem ficar com medo de ela me paralisar enquanto estou dormindo. Tenho certeza de que ter um pouquinho de medo da sua melhor amiga no mundo inteiro é normal. Mas até aí, minha definição de “normal” provavelmente é mais distorcida que a da maioria das pessoas. Não deve ser normal preferir reality shows animais aos humanos. Não deve ser normal ter ou usar tantas camisetas relacionadas a cães. Ah, e com certeza não é normal esperar que depois de doze anos ainda vá conseguir respostas a por que seu melhor amigo/primeiro crush enterrou o relacionamento dele com você como um airedale terrier enterra um osso novinho em folha. Uau... se eu me afastar ainda mais do âmbito do normal, pode ser que eu precise de um aporte para sequer considerar ultraar os limites.
Ajeitando meus óculos, eu pergunto: — Você tem alguma solução não-violenta para a minha situação? Ela pega o pacote de tempero. — Você poderia deixá-lo pelado, com os olhos vendados e me deixar enfiar uma agulha no... — Não-violenta, Della. — Ah. — O desapontamento aprofunda em sua expressão. — Devia ter dito isso logo. — Eu disse. — Bom, eu não estava ouvindo. Pelo menos ela é honesta. As pessoas que não me ouvem e me ignoram têm atormentado toda a minha existência. Não é como se fosse difícil. Sou um pouco mais quieta que a maioria. Murmuro mansamente ao invés de falar. Não tenho nenhuma dificuldade em ficar de boca fechada se não for necessária em uma conversa. Deve ser por isso que Ren não se lembra de nada do que lembro da nossa infância... embora... em minha defesa, com frequência desejei não lembrar. Talvez não tivesse doído tanto quando tentei fazê-lo lembrar quem eu era além da garota com a blusa azul bebê da Petrópolis que o irritou. — Explica de novo por que precisa ser não-violenta? — Além do fato que eu sou do tipo de pessoa não-confrontadora? Della despeja a cobertura no miojo. — É. — Ele é um Rutledge. Seu escárnio é imediato. — Você, tanto quanto eu, sabe que tudo nessa cidade abandonada por Deus é
decidido por aqueles que têm dinheiro — gesticulo minha mão na direção dela — e aqueles de nós que não têm — gesticulo na minha direção — não tem voz a menos que se mude para outro lugar onde pessoas ricas e pobres possam coexistir em perfeita harmonia. — Então... tipo Nova York? A réplica de Della ganha um aceno de cabeça de desaprovação. Uma pequena risada escapa ao mesmo tempo que ela começa a se mexer. — Deixa eu dar uma de DJ e voltar o disco por um segundo e dizer que você não é uma “pessoa pobre”. Eu não poderia rir sarcasticamente mais depressa. — Você não é! O cara que os meus pais pagam para lavar as janelas do terceiro andar... ele é pobre. — Sim, e eu sou a garota que cuida dos cachorros dele enquanto ele está trabalhando durante o dia. — Mas você não vem de uma família pobre. — Eu venho — eu a lembro com um suspiro suave. — Só porque meus pais trabalharam até cansar para ultraar a linha para novos ricos, como preferem chamá-los... — Esse é o termo que meus pais usam para todos na cidade que não nasceram com uma colher de ouro na boca. — Sim, bom, só porque nós temos dinheiro agora, não significa que sempre tivemos, Della. — Meus dedos começam a massagear a cabeça de Bond. — Também não significa que eu quero ficar aqui e continuar a ajudar a reproduzir essas células cancerígenas na sociedade. Caramba, nós duas sabemos que se eu não tivesse conseguido uma bolsa de estudos completa e uma carta de recomendação pessoal do Reitor, graças a termos ficado encarregados de cuidar do gramado dele desde que eu tinha cinco anos, e de cuidar do paisagismo da universidade desde que eu tinha doze, eu sequer estaria em Vlasta. Eu teria acabado em algum lugar do sul desfrutando de um novo começo.
Ela esfarela pedaços de torrada em cima do miojo pronto. — Desfrutando? — Tá, hiperventilando — eu ignoro indiferentemente. — Hiperventilando e fazendo com que minha ansiedade me leve para o hospital por desidratação por não parar de vomitar e estar com diarreia, mas pelo menos não teria que lidar com isto. — Hospitalização é melhor que descobrir como contar ao Rutledge, hein? — Sim. Sua testa se enruga em confusão. — Porque não tem como dizer não a ele, Della. Não se diz não a um Rutledge. Sei que sua família ainda não cruzou com eles, agradeça a sua sorte por isso, mas é algo que você precisa armazenar no seu cérebro. Não se diz não a um Rutledge. — Talvez alguém devesse. Talvez esse alguém devesse ser você. — Ela volta a criar sua mistura caótica adicionando pimenta picada à a. — Talvez seja exatamente o que ele precisa. Talvez esse seja o grande momento na vida em que ele percebe que não pode simplesmente ter o mundo entregue a ele em um prato de platina pela eternidade e decide ser uma pessoa melhor. Bond abre um olho para lançar o mesmo olhar sarcástico que eu. — Deus, eu tenho que parar de assistir dramas no YouTube. — Della coloca duas colheres de semente de linhaça na mistura, mexe e dá uma mordida. — Na pior das hipóteses, o que acontece se você disser não àquele vaca mimado e podre? — Não seria babaca? — Caras podem ser vacas também, Poppy. Não seja sexista. A resposta resulta em meu nariz se mexendo inconscientemente. Contração estúpida.
Por que não fui abençoada com um tique menos óbvio – como meu dedão se curvar quando estou desconfortável ou chateada ou inquieta? — Além de todos os animais no abrigo cometerem suicídio simultâneo... — Sinistro. — Qual a pior coisa que poderia acontecer se você disser ao Rutledge que ele tem que, de fato, aparecer e fazer o trabalho comunitário que foi exigido? E o que diabos foi que ele fez para ter que fazer serviço comunitário, afinal? — Não faço ideia. Talvez se eu tivesse essa resposta seria mais fácil me relacionar com ele. Ou odiá-lo mais. Pois é, é uma chance de cinquenta por cento de qualquer maneira. — Na pior das hipóteses? — Eu foco meu olhar no pacote de docinhos Red Hots que estou pegando. — Ele pode fazer o pai dele comprar a Petrópolis, que istra o Garras & Patas, para que possa me demitir e me substituir por uma loira com peitos falsos e cabeça de vento, e ela acabe alimentando os gatos com ração para aves e os cachorros com charque. — Quando não há resposta vinda da minha melhor amiga, viro meus olhos na direção dela e a encontro encarando o nada sonhadoramente. — Della! — O quê? — Ela encolhe os ombros inocentemente. — Foi você que descreveu imagens pornográficas. Você sabe o quanto eu amo loiras. Um punhado de doces é enfiado na minha boca. Vlasta está cheia delas. Natural e aprovada pelo fabricante não natural. — Eu não posso perder esse emprego. — Enchendo a bochecha de doces, eu continuo. — Sou voluntária no abrigo desde os quinze anos, trabalho no daycare desde os dezesseis e sou gerente há um ano. Não só sou uma das funcionárias mais antigas naquele lugar, como também uma das poucas que realmente se
importa com esses animais, em vez do tremendo salário que recebo deles todas as semanas. Perder uma coisa dessas na minha vida me colocaria em níveis de ansiedade que precisaria de medicação, e nós duas sabemos que essa é a última coisa que eu quero na minha vida. Ela levanta outra colherada em direção à boca aberta. — Acha mesmo que ele faria isso? Faria o pai comprar um negócio só para demitir a mulher que disse não a ele? — Sem dúvida. Minha melhor amiga cantarola enquanto reflete mentalmente sobre a verdade da minha declaração. Esse é outro problema de morar aqui. O dinheiro literalmente faz com que os problemas de muitas pessoas simplesmente desapareçam. E embora eu tenha sido criada para ser trabalhadora, honesta e para saber lidar com meus fantasmas, meus pais são vítimas das regalias de pagar o preço por não se importarem mais com certos dilemas, embora prefiram rotulá-las como “doações”. — A melhor hipótese seria, é claro, ele ser atingido por uma Mercedes e virar purê — ela murmura mais para si mesma do que para mim. Essa é a melhor hipótese? Como que essa é a melhor hipótese? Por que essa é a melhor hipótese? Posso até não gostar mais dele, ou, sendo bem sincera, eu simplesmente odeio o quanto uma parte de mim na verdade ainda gosta de ver seu rosto sorridente e ouvir sua voz deliciosa, mas isso não significa que eu desejo uma morte sangrenta a ele. Agora, um chow chow aleatório transformando seu pau em um brinquedo de mastigar? Eu sou a favor.
A culpa não recairia sobre meus ombros porque não seria meu cachorro. — Ele estava disposto a me oferecer algo em troca de falsificar o tempo dele lá... — Meu lembrete gentil é seguido pela minha mastigação e ingestão do docinho que eu tinha acumulado no canto da minha bochecha. — Acho que poderia aproveitar o cheque absurdo que ele preencheria pelos meus serviços. Mais dinheiro sempre é uma coisa boa, certo? — Errado. — Ela alega entre palmadas. — É assim que você acaba ficando com os princípios todos ferrados como os dele... presumindo que ele tenha princípios, o que eu duvido. — Colocando a colher na mesa, ela começa uma reflexão da qual não tenho certeza se devo fazer parte. — Por um lado, você pode cobrar dele uma quantia absurda de dinheiro para entrar no jogo, encher seus bolsos e continuar o ciclo de “dinheiro resolve tudo” inculcado naquele asno que ele é... ou... por outro lado, você pode atingi-lo onde mais dói. Garantir que ele sinta dor de verdade, de forma que ele possa lembrar de não repetir o que quer que tenha feito para ficar nessa situação, para começo de conversa. — Sem violência, Della! O canto do lábio dela se levanta. — Dessa vez me referi a um chute no saco mais mental ou emocional do que de verdade. — Ah. — O ronco suave do Bond na minha coxa me encoraja a voltar a acariciá-lo. — Como eu faço isso? — Bom... o que babacas nadando em dinheiro se importam tanto quanto o dinheiro? Com certeza não são os animais de estimação. — Poder — Della responde prontamente indicando que esse não é de fato um momento toma-lá-dá-cá. — E de onde vem o poder deles? Da reputação deles. — Você quer que eu arruíne a reputação dele? — Uma expressão confusa é imediata. — Eu não sei como fazer isso. Eu não saberia nem como começar a fazer isso. Eu...
— Não me deixou terminar — Seu tom de bronca cala minha boca. — Você não vai arruinar a reputação dele, você vai usá-la, da forma que ele tem usado a dos outros, para benefício próprio. Você ganha ao se antecipar, e ele perde ao perceber que teve que ajudá-la a fazer isso ou ele iria, em troca, perder algo de valor para ele. Eu não me oponho. — Ele poderia muito bem fazer o Papai Ceio da Grana fazer essa merda desaparecer, mas o mais provável é que, o que quer que ele tenha feito, não quer que o papai saiba, para começo de... — Precisa ficar dizendo papai? — Amplifica a natureza condescendente. Meu aceno com a cabeça de entendimento é imediato. — E, como resultado de não querer que o papai saiba como ele fez merda, possivelmente não fará ele ameaçar seu emprego, porque quer que isso suma por conta própria ou quer provar que é homem o suficiente para fazer sumir por conta própria, o que significa que é provável que vá participar de qualquer baboseira que você inventar para impedir que o segredo dele se espalhe. Ela não permite nenhuma objeção à sua teoria. — O que você poderia conseguir por conhecer e ser próxima do Rutledge? — HPV? — Além disso. Eu jogo uma mão para o ar em sinal de que não faço a menor ideia. — Que tal um encontro? — A pergunta flui de sua língua sem pensar. — Ele poderia te juntar com qualquer um... Porra, ele provavelmente poderia me juntar com qualquer um... Os dedos dele já tocaram os melhores que a UV tem para oferecer. — Vamos fazer isso. — Meus dedos empurram mais Red Hots na minha direção.
— Seria um desafio maior para ele arrumar alguém para você do que para mim. — Você acha que ele teria mais dificuldade porque eu sou uma oportunista à altura, e você não é? Incerta de como responder, não respondo. — Errado, Poppy. Ele teria mais facilidade porque eu gosto dos dois lados da moeda. Encontrar para você alguém com quem ar o tempo ao invés de deixar você entrar em uma espiral velhinha depressiva dos cachorros seria bem mais difícil. — Ei! — Você está discutindo pelo nível de dificuldade ou pelo comentário de velhinha dos cachorros? Merda, eu nem sei. Della é franca. Mordaz. E, às vezes, hostilmente sem rodeios. Ela uma vez disse a uma garçonete que ela deveria tomar mais banho porque não havia nenhum motivo para ela ter cheiro de frutos do mar trabalhando em uma lanchonete de hambúrguer. Infelizmente, ela pensava que o que havia dito tinha sido prestativo e não detestável. Como continuamos amigas às vezes é um mistério que acho que nem a turma do Scooby poderia resolver. Parte de mim acha que ela sempre quis uma irmã ou um irmão em quem poderia mandar e proteger, enquanto outra parte de mim acha que talvez há algo dentro dela que só uma alma como a minha poderia verdadeiramente entender. Negligência parental é praticamente minha especialidade. A consistência deles em “estar lá” está muito longe de ser perfeito, disso tenho certeza. — Você precisa tentar namorar, Poppy. — Já estive em... encontros. — Com caras que você não conheceu na internet?
— Bom, às vezes, é simplesmente... mais fácil. E mais conveniente. E... — Ideal para os introvertidos, isolados e antissociais? — Certeza de que o último abrangeria os anteriores. Della pisca e retorna rapidamente sua colher à sua posse. — Vamos usá-lo para desenvolver um status social para você. — Eu não quero status social. — É, mas para um dia conseguir o que você quer, quer seja um dia comprar a Petrópolis ou casar com um cara que pareça com o Tom Holland e fazer ele comprar para você, vai precisar de status. E o jeito mais fácil de conseguir é drenando um pouco de alguém que já tem uma tonelada. Entre mordidas no meu doce, eu murmuro: — Está soando como o Ren. — Só porque ele é um babaca não significa que ele é um idiota. — Agora está soando exatamente como ele. Ela zomba e dá outra mordida. O silêncio se instala entre nós e nervosismo rasteja pelas minhas veias. Sair com alguém já é difícil sem um intermediário, então, por que é que ela acha que ter um iria me ajudar? Namorar é... confuso e complicado e completamente caótico. Com frequência, só a ideia de ir jantar com um estranho com quem eu mal conversei antes daquele momento faz meu estômago revirar até me fazer ir procurar o banheiro mais próximo para fazer amizade. Há tanta pressão para ser a pessoa perfeita, dizer a coisa perfeita, e ser o sonho do outro a fim de manter o interesse que é mais fácil ter amigos do que namorados. Não que eu tenha muitos amigos do sexo masculino. A maioria dos caras com quem me dei no Ensino Médio ou estava me usando para ter ajuda com os assuntos das aulas, o que não incomodava as namoradas deles já que eu aparentemente não representava nenhuma ameaça, ou para conseguir bolsas de estudo para outras universidades e desembolsava o cartão Cair Fora de Vlasta, o que eu me encontrava com mais frequência me arrependendo de não ter aceitado. Eu não
mantive contato com eles como todos nós prometemos que manteríamos. Curto uma foto do Instagram aqui. Dou retweet em um comentário político ali. Faço careta para postagens com filtros do Snap Chat enquanto finjo achar graça... Talvez eu não tenha sido feita para namorar. Merda. E se eu estiver destinada a ser a velhinha dos cachorros quando envelhecer? — Poppy — Della chama delicadamente meu nome, redirecionando meu olhar do pacote de doce que eu estava encarando. — Faça com que Rutledge marque um encontro para você com um dos colegas de time dele. Certa de que não entendi o que ela disse, eu pisco vagamente como resposta. — Hum, como é que é? — Acompanhe o que digo — ela diabolicamente começa. — Rutledge é um deus do hockey, certo? — Certo. E com razão, quero acrescentar. Ele é um dos melhores goleiros que eu já vi jogar sem ser profissional. É, literalmente, como se o tivessem envolvido em um equipamento ao invés de um cobertor quando ele nasceu e nunca mais olhou para trás. Suas manobras sem defeito no gelo nunca deixaram de me impressionar ou de impressionar qualquer outra pessoa com quem me deparei. Sempre que seus patins pisam na pista, fica claro que ele voltou para casa e que está pronto para ser recebido. Adorado. É ao mesmo tempo fascinante e assustador. Meio que como ele. Eu nunca tive esse tipo de paixão ou de conexão com qualquer coisa além dos cães.
Novamente, a teoria da velhinha dos cachorros de Della pode, de fato, ser a coisa mais precisa que ela já disse para mim. — Como o deus dos babacas — Della continua —, ele tem influência. Faça com que ele influencie um dos outros babacas mais tolerável e mais gostoso a sair com você. Em um encontro de verdade. Do tipo em que você tem que colocar um vestido minúsculo e jantar em um restaurante que não tem cachorro-quente no cardápio. Só a ideia faz com que meu estômago dê o primeiro nó. — Ele tem que chamar a atenção para quão incrível ele acha que você é, o que ele perceberia bem rápido sem nenhum esforço se chegasse a conhecer você de novo. Seu comentário fofo ganha um leve sorriso. — Ser gentil com você e fazer você parecer inesquecível deve ser um processo doloroso para ele, considerando o babaca egocêntrico que ele é, e ter de ver seu colega de time se apaixonar loucamente por você... — Não vai rolar. — Iria irritá-lo ainda mais, que é o que nós queremos. — Quando isso se transformou em um nós? Della ignora minha objeção — Você namora um dos jogadores delícia enquanto estiver aqui, termina com ele quando se recusar a segui-lo para as ligas profissionais para que possa ir fazer um mestrado em Paris... — Paris?! — E aí, de repente, você tem toda essa influência no seu nome porque conseguiu agarrar um dos caras que nunca pensaram que iria se comprometer. — Ela me dá um ávido aceno e pega de novo a colher. — Essa merda vai funcionar. — Não, obrigada.
— Super vai funcionar. — Não. — Certeza que vai ser fabuloso. — Você parou completamente de me ouvir, não foi? Della mastiga uma pouco de sua comida e pondera seus pensamentos olhando para o teto. — Quem ele mais detestaria que você namorasse? — Provavelmente o Byer — eu murmuro em voz alta ao mesmo tempo que pego meu telefone. — Quem é Byer? — Ah, isso, você ouviu? — Quando meus olhos se levantam, vejo que ela não foi afetada pela minha cortada. — Willard Byer é o reserva do Rutledge. Ou... pelo menos, ele é agora. Byer era goleiro titular no ano ado, mas se machucou no meio da temporada, que foi quando Rutledge tomou seu lugar. Eles acabaram ganhando a maioria dos jogos durante a mudança, e pelo que sei, que obviamente foi por seguir os Vipers rigorosamente no Instagram, Rutledge conseguiu manter sua posição titular este ano. E, pelo que vi em Venom hoje cedo, há claramente alguma inimizade entre eles. — O que o torna perfeito para a vingança. — Você assistiu Pretty Little Liars demais. — Tal coisa não existe — ela descaradamente desconsidera. — Além disso, joguinhos estão no meu sangue. Eu não preciso de um programa bom... — Medíocre... — Para elaborá-los. Você esqueceu qual o trabalho dos meus pais? — Terapeutas ou seja lá o que fazem para tornar as pessoas melhores. — Mesmo? — Sua sobrancelha com três piercings levanta. — Ou fazem você
refletir sobre quão ferrado está, de modo que continue a confiar na orientação deles a fim de alcançar ou manter um estilo de vida mais saudável? O desafio da pergunta dela me deixa sem palavras. Então, tá. Está resolvido. Deveríamos fazer as coisas do jeito de Della. Sei que não posso dizer não a Ren, mas isso não significa que seu sim tem de vir tão fácil. Talvez fazer as coisas do jeito dela, fazer um joguinho mental bobo seja algo que vá fazer a ficha cair. Talvez forçá-lo a ver que ele nem sempre consegue ditar as regras vá ajudar a nós dois. Raramente sou firme sobre qualquer coisa. Caramba, até mesmo conseguir o emprego de gerência que eu sabia que merecia, só rolou porque alguém recusou, sem querer se comprometer com uma empresa que não conseguiam encontrar energia para se importar. Talvez seja hora de começar a assumir um pouco mais o controle fora do trabalho. Talvez seja hora de ganhar um pouco de confiança. Talvez seja hora de me desafiar. Talvez isso acabe com uma vitória em que eu irei enaltecer a Della por décadas. Ou talvez vá fazer com que eu vomite nos vasos de plantas mais perto pelos próximos cinquenta anos enquanto vou criando cada vez mais cachorros. Acho que vou ter que esperar para ver.
Capítulo 5
— Poppy Diesel. — Eu estendo o pirulito laranja coberto em sua direção. — Uma oferta de paz. Ela deixa seus olhos roubarem um vislumbre do objeto antes de removê-lo suavemente das minhas garras. Assim que meu sorriso infame começa a cruzar meu rosto, ela me bate entre as sobrancelhas com ele. — Filha da puta... — A dor começa a se espalhar ao mesmo tempo que eu vocifero: — Por que é que você fez essa merda? — Queria ter certeza de que não era tão falso quanto você. Uma risada genuína escapa antes que eu possa impedir. Essa garota... Ela está brincando com a minha realidade, e eu não aprovo. Começou eu sendo expulso do treino ontem porque não podia mentir de forma mais convincente para o meu treinador e terminou comigo procurando nas redes sociais informações sobre ela em vez de fazer minhas merdas de matemática. Depois de ficar decepcionado com a piada de conta que ela chama de Instagram e retweets ináveis de “cachorros fofinhos”, fiz algo que não me previ fazendo antes de ser obrigado a fazer. Fui à casa dos meus pais. Aquele manicômio sugador de almas devia ser evitado a menos que seja feriado. E por feriado não me refiro apenas aos que estão no calendário emitido pelo governo. Refiro-me àqueles que velhos ricos babacas inventam para beber whiskey caro, enquanto escapulam para foder uma amante entre brindes para ajudar a solucionar a pobreza e cheques para instituições de caridade que não fazem nada além de desafiar a porra da minha já baixa fé na humanidade. Ocasionalmente ainda tenho que ir para casa para essa merda.
O hockey sempre proporcionou um e livre para fugir da maior parte dessa palhaçada, o qual sou eternamente grato. Eu entendo a necessidade de comparar abotoaduras e pontuações de golfe. A vontade primordial de saber de quem são as bolas maiores e de quem é o pau que mais fica molhado. É como eles medem quem é que vale a pena se importar. Não significa que quero ser incluído no “Clube do Bolinha” deles. Tenho meu próprio clube de garotos baseado em habilidades de verdade. Até que ponto você consegue se equilibrar nos patins. Até que ponto você vai ficar no banco. Até que ponto você desenrola novas jogadas. O quem é quem do meu grupo é o único que me importo em me envolver, ainda que provavelmente não seja o que quero a longo prazo. Mesmo que às vezes aquele idiotazinho intelectual dentro de mim deseje ter um grupo que pudesse discutir a escritora Le Guin em vez do atleta Gretzky. Descobrir que Poppy Diesel já foi a garota de quatro olhos e gorducha que eu costumava perseguir pelo quintal e com quem coloria no deck, enquanto aguardava a hora de sair correndo para a pista, me pegou de surpresa. O fato de minha mãe, dentre todas as pessoas, se lembrar de quem ela era apesar das bebidas que raramente larga trouxe um novo nível de culpa que eu não soube bem como lidar. Decidi ir para o gelo numa pista local. Dei ao cara responsável pelo fechamento mais duzentos dólares para me deixar patinar e atirar discos sozinho depois do expediente. Eu me vi determinado a lembrar as merdas que Poppy tinha mencionado antes. Não porque eu me importo com ela, mas porque não gosto da ideia de alguém ser melhor do que eu, especialmente em recordar minhas próprias lembranças. Custou-me quase a noite toda, deixar de lado minha investigação de quem tinha enviado o vídeo ao treinador, e ignorar as três Peles com quem tinha inicialmente marcado, mas finalmente fiz progresso. As merdas começaram a ressurgir quando abri aquela caixinha de Pandora “Não Abrir Nunca” no fundo da minha mente. Infelizmente, alguns sentimentos de merda profundamente enraizados que eu não queria ter de lidar surgiram também. O que interessava era que descobri quem ela era. A filha gorducha e bobinha do cara que cortava nosso gramado. Finalmente descobri quem ela é para que pudesse conseguir o que queria, e ela
pudesse voltar a não ocupar toda a capacidade mental destinada a merdas mais significativas, como o fato de Tye Gray ter sido trocado pelo Camelot Cheetahs nesta temporada ou o fato de que eu adoro ainda mais minha professora por escolher Orgulho e Preconceito e Zumbis para o próximo debate da nossa turma. Poppy arranca o invólucro do pirulito e rapidamente enfia tudo na boca. Ela tenta não estremecer pelo fato de ter batido contra os dentes, mas não tem sucesso. Caralho, espero que ela não me peça para ensiná-la como levar um pau até a garganta. Não sei se quero marcas de dentes espalhadas de cima a baixo no meu pau. — Você vai nos acompanhar em um eio — ela anuncia segundos antes de deslizar por trás do balcão. — Opa, opa, opa, vai com calma aí, Corujinha. — Minhas costas cobertas pelo meu moletom se apoiam contra a parte do móvel que ela acabou de abandonar. — Não vou a lugar nenhum a menos que ear com você seja o que vai me pedir em troca do que eu vou pedir. Poppy empurra para cima seus óculos que estavam caindo. — Ah. Então, você quer discutir isso aqui? Onde qualquer um pode se aproximar e ouvir a conversa? Ou onde as câmeras — aponta para os diferentes cantos do abrigo de animal — podem captar nossa conversa deixando um rastro de evidência digital? Não deu nem tempo de dar uma olhada para os dispositivos. — Beleza! — Ela declara debochadamente. — Vamos falar sobre como... — Porra, tá, argumento provado — resmungo ao mesmo tempo que ajeito meu corpo para ficar em pé. — Vou ear com um desses pobres vira-latas, malamados e patéticos que se consideram privilegiados de estar na presença do seu óculos de vovozinha. — É uma forma apropriada, mas indelicada, de falar de si mesmo.
A retaliação me pega de surpresa quase tanto quanto me pego amando a gargalhada vingativa que ela dá depois. Amando, não. Gostando. Gostando, não. Apenas não detestando. Isso é tudo. Poppy nos guia para a lateral do prédio onde o canil está. Diferente do lado felino, que é um espaço mais livre para perambular, com vários lugares para eles se esconderem ou tomarem banho de sol, sua construção permite um processo de seleção mais natural entre quem vai adotar e o adotado. Ou, pelo menos, é o que a placa torta do lado de fora da prisão para animais de estimação diz. Do outro lado da porta que ela destrava usando um cartão de o, somos recebidos por um alvoroço de latidos, uivos e choramingos. De uma forma estranha me lembra uma multidão torcendo quando seu time favorito entra no gelo. Ela é a pessoa favorita deles? Pelo amor de Deus, por quê? — Boa tarde! — Ela os cumprimenta alegremente como um todo enquanto caminha para a esquerda. A animação deles cresce, fazendo o sorriso dela ampliar. Por que é tão difícil deixar de olhar para essa merda? E por que me encontro ansioso para ser eu a fazê-la sorrir? Que porra é essa que colocaram nas minhas batatas-fritas hoje? Poppy enfia o pirulito na bochecha e coerentemente chama a voluntária mais velha na extremidade oposta da sala.
— Michelle, que grupo você levou para ear quando seu turno começou? — Os de porte grande! — E Dil estava trazendo os de porte médio quando cheguei aqui... — ela murmura para si. — Isto significa que é hora dos pequenos. Seu andar feliz para a extremidade mais distante me intriga e enfurece. Com o que ela está tão feliz, porra? Ela tem que levar cães para ear como trabalho. Não, espera. Ser babá. Ela tem que ser babá de cachorros mimados e vira-latas indesejados para viver e, ainda assim, está andando por aí como se achasse essa merda divertida. Como diabos alguém pode achar divertido lidar com animais de estimação descartados dos outros? Onde raios fica o divertimento nisso? Como diabos isso não é assustador e depressivo, sabendo que você está cuidando de um bando de merda que outras pessoas não queriam ter mais de se preocupar? Meus olhos curiosamente observam os animais em suas grades. A maioria parece tão feliz quanto ela. Como se não tivessem nenhuma preocupação de merda no mundo. O fato de não estarem olhando para mim com aqueles olhos grandes e brilhantes ao som daquela música ridiculamente triste que sempre tocam nos comerciais da Associação Protetora de Animais que eu lembro de assistir quando era criança faz com que eu queira perguntar se este lugar é mesmo um abrigo ou um tipo de estalagem ou acampamento onde eles recebem tratamento de spa até que alguém queira calar os filhos jogando um animal de estimação na cara deles. Eu já quis um cachorro. Disseram que eu não deveria desperdiçar meu tempo com criaturas insignificantes assim. Lamentavelmente, ele repetiu as mesmas palavras para mim em referência a
estar perto de certos tipos de pessoas. — Com que frequência eles são adotados? — pergunto, as mãos deslizando para dentro dos bolsos do moletom. — Não tanto quanto gostaria — Poppy retruca sombriamente enquanto pega várias coleiras em uma prateleira suspensa em frente às grades. — Na verdade, temos estado com a capacidade máxima nos últimos quatro meses. Meu olhar se afasta da bolinha de pelo olhando na minha direção. — Estações mudam e há sempre influxo. Na maioria das vezes, nem sequer temos espaço para os animais que são resgatados. — Espera, esses são animais resgatados? Ela abre a grade da cadela que estava me olhando. — A maioria. Alguns foram abandonados na soleira da porta, mas a maior parte dos animais aqui foi encontrada pela equipe de Resgate de Animais de Vlasta City. — Nós temos um desses? Poppy se agacha para colocar a coleira. — Temos. Garras & Patas, o abrigo de caridade ao lado da Petrópolis, recebe o que pode, se puder, e depois transferem os outros para abrigos nos arredores da cidade, se possível. — E quando não é possível? Os olhos dela olham para mim de tal forma que eu imediatamente me arrependo de ter perguntado. Desconfortável com a expressão, eu esfrego a parte de trás do meu pescoço, constrangido. Ela não oferece mais informações sobre o assunto. Em vez disso, faz uma apresentação desnecessária: — Esta é Pixie.
Olho com desdém para a spitz-alemã anã. — Nós a temos há um ano. — Poppy começa a explicar. — Não me importo. — Pixie, fica. A cachorrinha imediatamente faz o que é dito. — A seguir — ela continua falando, claramente desconsiderando minha falta de interesse —, temos a Petúnia. — O gingado que ela faz para manobrar para a próxima grade é adoravelmente estúpido. Enquanto liberta a basset hound, ela acrescenta: — Ela está conosco há quatro meses. — Ainda não me importo, porra. — Petúnia, fica. Surpreendentemente, esta cadela também faz o que é dito sem hesitação. Beleza, isso é... impressionante. Esses cães a respeitam e a ouvem. Talvez seja a delicadeza no tom dela. Ou o fato de que podem sentir que ela se importa com eles. Eu sei que eles podem porque eu posso, e eu mal conheço a garota. Poppy se move para a terceira grade, coleiras reunidas em uma mão. — Wally — ela cantarola para a pequena esfera branca de penugem que se assemelha a uma bola de algodão que alguém deixou na secadora — é o bebê do pequeno clã. Ele só está aqui há duas semanas — seus dedos rapidamente prendem sua coleira. — No entanto, sua papelada diz que há uma família voltando para visitá-lo neste fim de semana para uma possível adoção. — Por quê? Eles estão sem bolas de algodão para acariciar?
O cachorro mutante se irrita com a minha réplica como se entendesse o insulto. Ela se levanta, todas as três coleiras na mão. — Não se preocupe, Wally. Ren é um babaca com todo mundo. Não consigo impedir que o canto do meu lábio se erga. Não sei se estou tentando não sorrir por causa da merda atrevida que ela disse ou por reprovar a forma que ela disse meu primeiro nome. Que merda é essa que ela tem que fica fodendo com a minha cabeça? Desde quando me importo com qualquer coisa além da forma que uma garota grita meu nome ou elogio? Por que estar perto dela faz parecer que tenho uma lesão cerebral que não sei como consertar? Porra, preciso conseguir logo esse acordo e me distanciar dela. Encontrar o completo oposto dela para me distrair. Talvez uma ruiva alta, magra e engasgando no meu pau. Isso serviria. Duvido que Poppy tenha se engasgado com qualquer coisa além do próprio cuspe. De repente, um pequeno pug está sendo enfiado nas minhas mãos. — Que porra... O flash da câmera dela muda o assunto da minha frase. — Que merda... — Prova. — Após sua resposta, ela coloca o telefone no bolso longe da vista. — De acordo com o e-mail que seu treinador enviou, ele quer confirmação visual de que você esteve mesmo aqui e comentários detalhados em relação à sua participação. Em troca, por permitir que cumpra seu serviço comunitário
conosco, uma boa parte da receita de certos jogos será doada para o abrigo. Minha boca não tem tempo de se mover. — Esse é o Brutus. — Ela sorri para o monstro se mexendo em minhas mãos. — Nosso mais velho e mais rabugento cão até hoje. Está conosco desde que comecei a trabalhar aqui. Ele late mais alto e mais irritado que todos os outros juntos. — E isso foi? — Há uns cinco anos. Ele tinha apenas seis meses quando foi encontrado. O choque não tem a chance de entrar no meu organismo graças ao seu latido incessante. Seu corpo minúsculo chicoteia fortemente para frente e para trás me fazendo grunhir. — Porra, faço nem ideia de por que ninguém quer levá-lo para casa. — Eu também — ela docemente cantarola, afagando delicadamente a lateral do rosto dele. — Por que estou segurando essa coisa? — Alguém esqueceu de pendurar a última coleira — Poppy suspira — e eu não posso segurar ele e as coleiras dos outros ao mesmo tempo. Minha expressão sarcástica é imediata. — Quê? Ele é difícil. — Alegria salta em seus olhos. — Como você. Ela não espera por uma refutação ou uma resposta sarcástica. Ela simplesmente gira em seus calcanhares, encoraja os cães a segui-la, e parte para recuperar o item perdido. Ao longo do caminho, amos pelos quatro cães de porte médio, que estão no meio da sala, e os quatro de grande porte que estão na extremidade oposta. Apesar de esperar que os de grande porte fiquem aborrecidos com a invasão dos pirralhos perto deles, acaba ocorrendo o oposto. Os cachorrinhos pequenos explodem em um grasnado feroz e alto que não perturba ninguém além de mim.
Brutus late freneticamente como se fosse o rei dos animais e no processo dá várias cabeçadas no meu peito. O que há de errado com essa coisa? Está quebrado? O botão de aumentar o volume está permanentemente preso no volume máximo? Poppy consegue encontrar a coleira extraviada emaranhada com as das raças maiores e a prende na praga que estou sendo forçado a segurar. Como ela fez isso sem a minha objeção? Por que não larguei a maldita coisa e a fiz lidar com isso sozinha? — Tudo certinho — ela anuncia com alegria, indicando que posso finalmente colocá-lo no chão. Usando a mão que não está prendendo as coleiras juntas, Poppy abre a porta lateral para a liberdade momentânea deles. Mais uma vez, aguardo uma visão patética e triste, no entanto, sou surpreendido com o vasto espaço que eles têm para correr livre quando são permitidos. Ela nos desvia da área de brincar repleta de brinquedos e tigelas de água em direção ao percurso pedestre. Poppy retira alguns sacos para cocô da caixa no começo da trilha e os enfia nos bolsos do jeans. — Não vou tocar na merda de ninguém. Seu comentário é quase inaudível: — Mas que surpresa, não quer ser responsável por ninguém além de você. Não é verdade. Não me importo de cuidar da porra do meu time... é por isso que estou aqui. Eles precisam de mim naquele gelo se quiserem chegar a qualquer lugar perto do campeonato este ano, não do caralho do Byer. Este sacrifício ou acordo que estou prestes a fazer com a satanás nerd é tanto por eles quanto por mim. — Vamos discutir os termos, Corujinha.
Seus olhos estreitos viram na minha direção. — O que decidiu que quer de mim? Ela endireita os ombros cobertos por sua blusa cinza Cachorros Antes de Caras e levanta a cabeça como se estivesse prestes a negociar algo ao invés de concordar com o que o quer que eu proponha. O que ela vai. Garotas não costumam oferecer muita resistência perto de mim. — Quero que Byer me convide para sair. Não engasgar com o nome dele é difícil. — Essa é fácil. — Por própria volição. A adição ao acordo faz com que eu estremeça. — Volição significa... — Eu sei o que diabos significa — eu revido. Removendo o pirulito de sua boca, ela zomba: — Sabe mesmo, ou está apenas tentando não parecer tão burro quanto é? — Pode ir se foder. Eu me destaco nas merdas de gramática e não só porque minha língua é campeã de soletração entre qualquer par de coxas que eu queira entrar no meio. Algo similar a um gemido escapa de Poppy, e ela sem demora coloca o pirulito de volta na boca para abafar. Tarde demais. Eu ouvi. E parte de mim, a mesma parte que raramente dou ouvidos, adoraria ouvir novamente.
O doce se aninha de novo em sua bochecha. — Sempre gostou secretamente de gramática? A inocência sincera de sua curiosidade faz com que eu fique inquieto ao lado dela. — Isso... não é importante. — É, sim. — Não, não é. — É, sim. — Não é. — É. — Não é. — Meio que é. — Não é. — Mas... — Então, você só quer que Byer te chame para sair? Isso é tudo? Seu sorriso presunçoso parece fora de lugar. — Tudo por conta própria dele. Não se esqueça dessa parte. E por conta própria significa sem suborno, sem bullying, ou implorar para ele fazer isso para livrar sua cara. Você só precisa ficar se gabando sobre como eu sou maravilhosa, e usar doces mensagens subliminares. — Tô na porra de uma sinuca — eu resmungo baixinho. — Você disse que sabia o que “por própria volição” significava. — Eu sei. — Minha reiteração é seguida por meus braços se cruzando no meu
peito. — Estava só aguardando espaço para negociar. — Não há. — Sério? — Sério. Descrença surge na minha cara. — Eu poderia te dar mais dinheiro do que este lugar possivelmente dará, um carro novinho em folha, ou até mesmo uma viagem paga para Paris, porra... — Por que todo mundo quer que eu vá para Paris? — E você escolhe um encontro com Byer? — E se eu não quiser ir para a França? — Poppy. — E se os ses me assustarem? — Poppy. — E se eu tiver medo de insultá-los enquanto tento simplesmente me adaptar à cultura deles? — Corujinha! O apelido indesejado traz sua atenção de volta para mim. — Tem certeza, porra, que um encontro com Byer é o que você quer para me tirar dessa merda? Poppy balança a cabeça, seu rabo de cavalo alto quase me chicoteando na cara. Seus olhos se concentram nos cães aos seus pés que estão tentando ao máximo ir em duas direções diferentes. Sem pensar, eu pego metade das coleiras e permito que eles explorem a direção da esquerda enquanto ela deixa sua dupla cheirar para a direita.
Eu silenciosamente penso um pouco em sua certeza. Por que ela não podia aceitar logo o dinheiro? Por motivos de sanidade. Sério. Quem é que recusa dinheiro fácil para foder um pau medíocre? Ah, correção. Ela não disse foder. Ela disse sair. Porra, isso é pior. Bem pior. Vai ser preciso bem mais esforço do que eu queria despender, mas, ainda assim, será bem menos do que se de alguma forma eu ainda tivesse de fazer merdas nesse lugar. Um encontro na verdade é bem mais simples do que a merda em que me enrosquei e não exige que eu faça uma ligação para o meu pai, na qual eu teria que explicar como entrei nessa situação de merda, para começo de conversa. Pensando bem... conseguir um encontro com Byer não deve ser terrivelmente difícil. Tão fácil que eu provavelmente deveria me sentir mal por tirar vantagem dela. Hum. A garota precisa aprender que a vida vai ar por cima se deixar. Meu rosto vira sobre meu ombro. — Essa merda vai exigir um pouco de trabalho... — Assim como falsificar convicentemente sua participação aqui. — A minha é mais difícil.
— Veremos. Sua cortada sarcástica, mais uma vez, traz um sorriso aos meus lábios. — Mas, aconteça o que for, nunca iremos contar a ninguém sobre esse pequeno — Poppy pausa para procurar pela palavra correta — acordo. — Contrato verbal. Ela não suprime sua gargalhada, mas eu viro as costas para esconder meu sorriso. Porra, queria que meu rosto parasse de fazer essa merda. — Contrato verbal — ela atrevidamente imita minha correção. — Eu poderia potencialmente perder meu emprego por causa disso. Em ambos os lados deste negócio. E talvez isso não pareça grande coisa para você, mas seria o fim absoluto do mundo em um nível apocalíptico de horror para mim. Amo este lugar. Amo esses animais. Eles são praticamente família para mim. Um caroço pesado despenca na boca do meu estômago, e me encontro prometendo sem pensar: — Relaxa, Corujinha. Não vou deixar isso acontecer. Por que diabos acabei de dizer isso? — Obrigada, Ren. Não gostando da vibração do mocinho corretamente nomeado Ren que está tentando rastejar pelas minhas veias, lanço a ela um sorrisinho sórdido. — Não me agradeça. Você perder seu emprego resultaria em eu ter que convencer outra pessoa a me ajudar a falsificar minha escapatória dessa merda. Poppy começa a andar na trilha de terra mais uma vez. — O que você fez para merecer isso? Brutus, Petúnia e eu seguimos atrás. — Fui pego dizendo uma merda que não deveria ter dito enquanto fazia uma merda que eu não deveria ter feito.
— Uau. Dá para ser mais vago. Acho que você compartilhou demais. Seu sarcasmo faz com que dê uma risadinha. — Você quer a verdade? — Você conhece a definição da palavra verdade? — Você conhece a definição da palavra desesperada? A facada certeira no seu pedido de encontro faz com que ela caia em absoluto silêncio. Merda. Isso foi... provavelmente desnecessário. É claro que essa garota não tem ideia de em que está se metendo, só por contemplar a ideia de um único encontro com um idiota como Byer. Eu deveria mostrar um pouco de compaixão. Compaixão?! Quem diabos disse isso?! Rutledges não demonstram compaixão. Não em nossa descrição precisa. Algo semelhante a uma fungada delicada chega aos meus ouvidos, e o meu lado que me ensinaram a odiar diz: — Desculpe. Não há resposta verbal, mas seus ombros tensos visivelmente caem. Nós fazemos outra parada na trilha desta vez por conta de as criaturas barulhentas latirem para um farfalhar que ouvem no mato. Eu aproveito a parada adicional na caminhada para confessar: — Eu fui pego bebendo em um vídeo, fumando, e falando algumas merdas vergonhosas sobre o reitor, sua esposa, e sua filha.
Ela me lança um olhar horrorizado. — Eu meio que tenho o hábito de dizer merdas que eu provavelmente não deveria dizer. — Não é um bom hábito... — Pois é. — Meu encolher de ombros é breve. — De qualquer forma, algum idiota enviou para o novo treinador, e ele me sentenciou a uma temporada neste buraco do inferno. — Ele provavelmente quer que você aprenda um pouco de humildade. — E você devia aprender a ser um pouco mais durona. Os olhos da Poppy se estreitam mais uma vez. — Que tal ao invés de se concentrar nas lições de moral que o treinador Cabeçudo espera que eu leve a sério, você se concentra nos detalhes que precisa gerar para que ele acredite no papo de que estou mesmo cumprindo pena nesse purgatório — eu aponto com o dedo para onde os cães que estou levando tentam subir em uma árvore para pegar um esquilo — ao invés de por aí — o movimento é dirigido ao estacionamento — no céu onde uma Pele está chupando o meu pau enquanto outra está sentada na minha cara? Um som distinto de nojo chega até mim antes que ela vire seu rosto para longe mais uma vez. — Só... faça o que eu te disser para fazer, quando eu disser, e não teremos nenhum problema. — O mesmo. Poppy não discute nem acrescenta outro comentário sarcástico. É estranho desejar que ela acrescentasse? É ainda mais estranho curtir todas as provocações que ela faz? É estranho pra caralho que ficar pau a pau com ela em nossas conversas
empolgue não um, mas os dois lados em mim? Não. Não posso permitir essa merda. Só há um lado meu que o mundo realmente conhece e precisa conhecer. E esse é o lado que está irritado por ela ter escolhido Byer dentre todas as pessoas de merda, mas que sabe que manipulá-lo para, em suma, sair com ela por pena, vai ser moleza. Enquanto ela fizer a parte dela, eu vou fazer a minha. Até o final dessa merda, nós dois teremos o que queremos. Eu, levando por direito meu time para o campeonato. Ela, sendo mais uma insatisfeita na lista de trepadas do Byer. As coisas não podem ficar menos complicadas do que isso.
Capítulo 6
Um som grave e irritante sai do Range Rover vermelho estacionado na última vaga da fila em frente ao abrigo ao lado do estabelecimento. A mesma coisa, todas as segundas, terças e quartas nas últimas três semanas. Ren aparece de uma forma irritantemente extravagante. Se estiver remotamente quente lá fora, as janelas ficam abertas, e posso ouvir qualquer que seja a música da temporada de sacudir o traseiro que está ouvindo para aprimorar suas habilidades de caça às marias-patins. E se estiver muito frio para mostrar abertamente sua escolha de conduta de merda, faz o que está fazendo hoje. Toca a música tão alto que parece que vai quebrar seus dentes ao invés de estourar seus tímpanos. De repente, ele desliga o veículo e eu mordo com força o lápis entre os dentes. Em seguida, vai entrar aqui presunçosamente, me chamar de doçura ou Corujinha, o último até que eu acho meio cativante, e exigir minha como se eu fosse a Zendaya na porra de uma Comic Con. Por último, ele vai mandar eu tirar de dez a doze fotos dele – falsificando uma atividade que ele poderia facilmente fazer – para postar em suas redes sociais para que possa parecer um santinho e enviar para o treinador como mais uma prova de que está fazendo exatamente o que o mandaram fazer. Embora ele não esteja. Para ser sincera, não tenho nem certeza se ele está fazendo o que deveria estar fazendo para mim. Desde o início do nosso pacto, parece que sou a única a cumprir meu lado do acordo. É bem possível que ele esteja tentando me sacanear. Urgh. É mais do que possível, já que presumo que esse seja o tipo de babaca egocêntrico que Ren foi criado para ser. Afinal, uma família que teve tanto dinheiro por tanto tempo provavelmente não consegue criar queridinhos sentimentais e honrosos. Não é dessa forma que se ganha bilhões de dólares de acordo com os lamentáveis documentários que Della me fez assistir. No entanto, há uma pequena parte de mim... a parte obviamente estúpida de mim... a parte estúpida que tem uma tendência a hiperventilar antes de chorar como um bebê quando percebe que o mundo é verdadeiramente tão cruel quanto parece... que quer acreditar que há uma pessoa melhor dentro dele.
Uma pessoa que ele deve estar sufocando até a morte sob seu uniforme de goleiro. Uma pessoa que não estou planejando secretamente que seja atacada por todos os cães do abrigo sob meu comando. Todos estariam prontos se não fosse pelo Brutus. Ele é ainda mais teimoso que Ren. O sino da porta toca anunciando sua presença segundos antes de ele fazer isso sozinho. — Ei, Corujinha. Corujinha significa que ele teve um bom treino hoje. Doçura significa que o treinador o deixou puto. Não tenho certeza se gosto de quão fácil de ler ele se tornou, mas não tenho certeza se odeio... Em vez de me distrair com sua atitude, algo que geralmente faço independente se estou aqui no abrigo ou no meu escritório, estendo minha palma para cima para silenciosamente pedir o papel que devo . Ele só dirige até aqui pelas aparências. Assim como deixa seu veículo lá fora para que a data e a hora gravada pelas câmaras batam com as horas registradas enquanto ele sai de fininho no carro de qualquer que seja a maria-patins da semana. Ou, em alguns casos, simplesmente fica no carro dela onde ela só tem tempo de dar um boquete porque ele está com a agenda apertada. De acordo com seu treinador, o tempo exigido de entrar é flexível, mas ele precisa ficar pelo menos quarenta e cinco minutos a cada visita. Geralmente eu o vejo por sete. Infelizmente, alguns dias eu me pego curtindo aqueles sete minutos, provando o argumento da Della mais uma vez. Preciso começar a viver.
Que tipo de garota gosta dos míseros quatrocentos e vinte segundos que um babaca que ela costumava chamar de melhor amigo a concede como se ela fosse um cachorro de rua precisando desesperadamente de uma refeição? A comparação me faz resmungar alto atrás do lápis ainda enfiado na minha boca enquanto rabisco meu nome e a data na folha. Ele remove o objeto sem esforço e o coloca atrás da orelha como se fosse seu o tempo todo. — Você está de péssimo humor. — Valeu por notar. — Seu comentário faz meu olhar levantar para ele acompanhado de um sorriso irônico. — Lápis. Ren imediatamente nega meu pedido balançando a cabeça. — Urgh. Que seja. — O rápido abandono da ferramenta de escrita claramente o pega de surpresa. Estendendo minha palma, eu ordeno. — Telefone. Para minha surpresa, ele hesita em remover o dispositivo do bolso. — Qual o seu problema, caralho? — Você, no momento — eu falo ao mesmo tempo que movo meus dedos impacientemente. — Rápido. Eu tenho coisas de verdade para fazer. Essa frase interrompe seus movimentos. — Tipo o quê? — Tipo, um monte de coisas. Sua cabeça se inclina em uma alegação silenciosa. — Quê? Acha que a minha única função é esperar você aparecer para encenar para o seu treinador? — O arrogante encolher de ombros de Ren faz com que eu dê um engasgo alto. — Acredite ou não, Capitão Babaca, eu tenho uma tonelada de coisas para fazer em vez de esperar para atender às suas demandas enquanto não fazemos progresso com as minhas.
A sobrancelha de Ren se levanta. Percebendo que deixei minha amargura escapar, me apresso em disfarçar. — Podemos apenas... andar logo com isso? Tirar uma foto sua enchendo uma tigela de água de gato ou o que seja e terminar por hoje? — Seu papel é empurrado de volta no balcão à sua frente. — Tenho uma montanha de papelada para preencher, encomendas para fazer, e dinheiro para magicamente encontrar para não precisar mandar embora alguns dos nossos cachorros para outro abrigo que não hesita em fazer eutanásia nos animais mais velhos. — Pego a prancheta que estava revisando quando ele chegou, mantenho o olhar baixo e continuo a despejar incontrolavelmente minhas frustrações. — Além de estudar para minha prova de matemática, fazer um questionário de biologia e encontrar tempo para comer. Não é surpresa nenhuma que ele não diga nada. E quem pode culpá-lo? O que você diria para a garota que praticamente acabou de dar uma cagada emocional em seus sapatos muito caros? “Certifique-se de limpar isso porque você sabe que eu não vou”? A ansiedade em relação ao compartilhamento excessivo começa a fazer meu nariz se contorcer inconscientemente. O contato visual não é feito novamente até que o som de suas chaves tilintando prenda minha atenção. Quando eu olho para cima, fico chocada ao vê-lo saindo do abrigo em direção ao seu SUV. Confusão se mistura com agitação, e não consigo impedir que minhas emoções escapem de mim na forma de um rangido alto. Qual é o problema dele? Ele está tendo um dia ruim? Foi ele ou eu quem teve que istrar um teste de drogas surpresa a um funcionário porque uma dona muito certinha jura que o casaco do seu cachorro sempre cheira a “ervinha” sempre que ela o pega do referido funcionário?
E quem diz “ervinha”, afinal?! É erva! Ou maconha! Ou, se você estiver se sentindo divertido e livre, então, pode sintonizar Rick James e chamar de Mary Jane (como marijuana). Ótimo. Agora, estou aborrecida, mais uma vez, com a coisa errada. Outra contração no nariz começa quando eu me reajusto no banquinho. Não tenho tempo para me preocupar se o grande deus goleiro está ou não chateado hoje. Não. Tenho que terminar de revisar esses arquivos e ter certeza de que Wally está indo para uma casa que se encaixa bem. Alguns abrigos podem até ignorar o que seria uma óbvia combinação de merda só para ter uma boca a menos para alimentar, mas me recuso a ser um deles. Quando assumi a liderança do abrigo, acabei com isso. Faz mais mal do que bem. Ambas as partes acabam sofrendo quando não precisam. A relação entre um bebê de pelos e uma pessoa visa trazer paz. Alívio. Alegria. De que adianta adotar se for só para trazer estresse, irritação e infelicidade para eles? Eles podem muito bem ar algum tempo com outros humanos para isso. Depois que tiro Ren do foco da minha mente, onde normalmente gosta de acampar, consigo sem problemas aprovar a papelada de adoção para entrar em seus estágios finais. Pensamentos sobre ele têm uma tendência de simplesmente aparecer e não ir embora até que eu os dê atenção. Não posso contar a Della sobre eles, porque ela vai dizer alguma bobagem sobre meu subconsciente estar mais ligado a ele do que eu de fato estou, em vez do óbvio, que é ele ser tão irritante que meu cérebro não consegue compreender como outros humanos neste planeta querem estar em sua presença. Quer dizer... claro, ele tem um belo sorriso, uma bela mandíbula, uma bela... bunda que cai bem em tudo que veste; mas, olhares superficiais de lado, ele é um babaca colossal que anda, fala e pisca. Um babaca colossal com nada a oferecer além de maços de dinheiro e acordos trapaceados porque é óbvio que não vai cumprir com o que prometeu. Tinha acabado de enviar as encomendas para o abrigo quando mais uma vez soa
o sino da porta indicando que alguém estava entrando. Merda! Esqueci de trancar após a saída dramática de Ren. — Desculpe, estamos fechados — declaro sem olhar para cima, o olhar voltado para a tela para garantir que o pedido fosse feito. Problemas com wi-fi irregular. — Nosso horário está... — Localizado na porta e no site — Ren responde com confiança. — Estou ciente, porra. Minha cabeça vira em sua direção e vejo dois sacos de papel em sua posse. Ele não espera por um questionamento sobre seu desaparecimento ou reaparecimento inesperado. — Cachorro-quente com pimenta e anéis de cebola. — As sacolas de fast food são jogadas no balcão ao lado do meu notebook de trabalho. — Duas águas. — Como um mágico especializado em comida, ele tira as garrafas dos bolsos da calça e as coloca ao lado do nosso jantar. Nosso jantar? Espera. O quê? Vamos jantar juntos? Tipo... juntos ao mesmo tempo, no mesmo lugar, um com o outro? Estou tendo uma alucinação induzida pela fome? Minha boca se abre para intervir, mas sou interrompida, novamente, pelo som do meu notebook sendo fechado. — Tem outro banquinho aí atrás, ou o quê? De alguma forma, consigo fazer que sim com a cabeça, o que o leva a dar a volta e pegar. Claramente tendo entrado em coma por baixo nível de açúcar no sangue, eu me limito a observá-lo arrastar o objeto até o outro lado, posicioná-lo de modo que
esteja na minha frente e começar a desempacotar o conteúdo gorduroso. — É melhor eles terem colocado guardanapos pra caralho aqui. Eu pedi a eles, porra. Uma embalagem fechada é deslizada para mim pelo balcão e eu finalmente desato minhas cordas vocais. — O que está acontecendo? Ren enfia um anel de cebola na boca ao mesmo tempo que ordena: — Coma. — O que... — Agora. Mais uma vez, ele me deixa dividida. Ninguém deveria mandar em mim além de mim! Por outro lado, estou morrendo de fome ao ponto de ter certeza que meu estômago está se alimentando de si mesmo enquanto falamos. Meu nariz se contorce em evidente inquietação, o que o faz rir. — Calma, Corujinha. Não envenenei suas merdas. Ainda incerta se ele tem intenções ocultas ou se está falando a verdade e não colocou um laxante na salsicha, com cuidado trago a comida mais para perto. — Vá em frente — ele exige enquanto remove os pacotes de condimento da sacola. — Coma, porra. Não vou reaquecer essa merda se esfriar. Remover a tampa da embalagem do cachorro-quente com pimenta libera um aroma tão delicioso que, inconscientemente, gemo. Minha língua umedece ansiosamente os lábios, enxugando a saliva que acumulou nos cantos, antes de soltar outro “hum” celestial. — Você planeja foder esse cachorro-quente com pimenta? A pergunta grotesca me faz suspirar e lançar um olhar horrorizado para ele.
— Qual o seu problema, droga?! — Qual o seu problema, porra? — ele desafia. — É a porra de um cachorroquente com pimenta, não o pau de um medalhista de ouro olímpico. Um som de aborrecimento escapa segundos antes de um som de nojo. — O que diabos você está fazendo? Ren aperta o pacote de maionese ao longo da borda de sua refeição. — Que porra parece que estou fazendo? — Arruinando uma das maiores criações de Deus. Ele faz uma pausa, dá uma olhada em si mesmo e balança a cabeça. — Não. Ainda estou perfeito. Sua resposta faz com que eu revire os olhos com força, bem como dar um leve sorriso torto. Por que eu me divirto, ainda que remotamente, quando ele diz merdas como essa? Qual o meu problema? — Por que diabos você está colocando maionese em um cachorro-quente com pimenta? Ele chupa o resíduo do dedo. — É uma delícia. — Não é. — É. — Não é. — É.
— Não é. — Já comeu? — Bem, não, mas... — Então, como diabos você sabe que não tem um gosto bom? — Ren leva a comida aos lábios e dá uma grande mordida. — Como você sabe que essa merda não tem gosto de ambrosia? Seu contra-ataque atordoa meus movimentos. — Ambrosia? — Tipo, comida dos deuses. — Eu sei o que é... — Eu imito sua ação anterior e levanto meu cachorro-quente. — Só... um tanto surpresa que você saiba. Ele se contrai em reflexo antes de empurrar a comida na minha direção. — Morda. — Você não tem bons modos? — Morda. — Você fez uma intervenção cirúrgica especial para imbecis para removê-los? Suas sobrancelhas castanha-escuras se erguem ao mesmo tempo em que ele repete com firmeza: — Morda. Estar igualmente intimidada e curiosa me faz engolir a oferta. A mistura que cobre minha língua não é tão repulsiva quanto eu estava imaginando, nem é algo que eu chamaria de divina. Com um encolher de ombros depois de engolir, eu declaro: —É. Dá para aguentar. — Foi o que ela disse na cama. Sua piada juvenil me fez balançar a cabeça e dar uma mordida na minha própria refeição.
Por alguns instantes, comemos em silêncio verbal absoluto. O aquecedor ligando e desligando age como a trilha sonora do nosso jantar um tanto estranho, e os latidos ocasionais do Brutus nos fundos são quase comparáveis a ter um DJ de rádio excêntrico estragando o clima. Não que haja um “clima”. Taciturno e mal-humorado não é lá muito romântico. Ou amigável. Ou divertido. Eu me preparo para enfiar na boca o anel de cebola que peguei. — Por que... hum... por que você me trouxe jantar? Seu encolher de ombros é inesperadamente inocente. — Você estava esfomeada. — Eu não estava esfomeada. — Você estava esfomeada pra cacete, Corujinha. — Ele torce a tampa da garrafa. — Algo me disse que um Snickers não resolveria essa merda. Enquanto mastigo, digo: — Não estava esfomeada! — Não use esse maldito tom de voz de cachorro comigo! Chio outra vez e ele apenas ri como um vilão de desenho animado do início dos anos 90. Eu o odeio. Mesmo quando ele é legal, ele é um babaca. Ren coloca sua garrafa de lado e começa a pegar as cebolas do meu cachorroquente com pimenta que caíram na embalagem. — Você tinha um problema. Eu consertei. Agradeça.
Saber que ele está certo me enche de mais irritação. — Mas eu não pedi que você consertasse. — É o que me torna um cara incrível. O sorriso arrogante que ele dá faz com que eu abandone a última mordida do meu jantar. — Não dói ter a cabeça tão cheia de si? — Qual cabeça? Mais engasgos são seguidos por mais escárnios. Seu pau é a coisa mais distante da minha mente. Estamos falando da distância da Antártica. Plutão de distância. A língua de Ren remove lentamente o molho de pimenta de seu lábio inferior, e minhas coxas não conseguem parar de se apertar. Tudo bem, talvez a Europa? Marte? Seu sorriso se suaviza enquanto ele continua a olhar nos meus olhos. Porra... Flórida? A lua... talvez? Agora, aquecida por todos os motivos errados, eu coloco minhas mãos no meu colo e timidamente digo: — Obrigada por isso, Ren. — Não foi nada.
Definitivamente, não. Não preciso ouvir as teorias de segunda mão de Della sobre o que isso pode ou não significar. — Você, hum... terminou suas merdas do trabalho? Ficar ligeiramente surpresa com sua pergunta me fez responder com cuidado: — Tudo... não. Ele acena em compreensão enquanto retorna a pegar minha comida. — Que droga se tiver que mandar um cachorro embora. — Seria uma droga. — Sem duvidar dos seus motivos para falar sobre isso, deixo minha guarda baixar. — É uma merda ainda maior saber quantos animais domesticados são sacrificados a cada ano sem precisar serem. — Mas não precisam? — Ren se estica para pegar os restos da minha refeição. — Do contrário, a superpopulação, a fome e outras merdas não seriam um problema? — Sim, mas acho que uma maneira de reduzir isso é desenvolver mais programas em que animais em abrigos sejam adotados por aqueles que poderiam se beneficiar da companhia. Apesar de sua boca cheia, ele pergunta: — Como gente velha? — Mais como animais de apoio emocional. Ren permanece em silêncio como se estivesse esperando por informações adicionais. — Existem inúmeras pessoas que sofrem de distúrbios emocionais. Ansiedade. Pânico. Depressão. Estresse Pós-Traumático. E há estudos que mostram que às vezes ter um animal de apoio com eles pode ajudar o indivíduo que está tentando sobreviver. Então, eu acho que seria incrível se houvesse uma maneira de mais abrigos implementarem programas onde aqueles que poderiam se beneficiar com um companheiro de apoio pudessem se conectar a animais em abrigos que precisam de lar. Existem programas semelhantes, mas não exatamente como o
que estou imaginando. Haveria algumas dificuldades no que estou propondo idealmente? Sim. Teria de ser feito um programa de treinamento para lidar com o trauma pelo qual muitos animais resgatados e abandonados am, mas parte da reabilitação deles seria se reunir com seu futuro dono para resolverem seus problemas juntos, construindo um vínculo. Ver a diferença que eles estão fazendo para outra criatura viva, enquanto percebem que outra criatura viva está fazendo a diferença para eles, pode fazer coisas incríveis. — A explicação prolixa do que espero um dia realizar no futuro fez meu nível de ansiedade aumentar rapidamente. — Você se importa mesmo com essa merda. Nossos olhares se travam enquanto eu silenciosamente aceno com a cabeça. — Por quê? — Por que, o quê? — Por que você se importa tanto? — Porque eu entendo. — Pensamentos sobre Bond vêm à tona em minha mente. — Eu sei exatamente o que é precisar desse apoio. Se... beneficiar com isso. E um programa desse, especialmente em grande escala, permitiria uma relação simbiótica da qual o mundo como um todo poderia se beneficiar. Abrigos menos superlotados. Menos eutanásia. Um pequeno “hum” sai dele. — Qual o nome do seu cachorro? — Bond. — A confissão automática me faz querer desfazê-la. — Digo... — Como o espião? Outro aceno balança meu cabelo encaracolado. — Menos nerd do que eu esperava. O comentário insultuoso me faz ficar carrancuda.
— Por que esse nome? — Costumava assistir aos filmes com meus pais. Outro “hum” pensativo sai sem pensar. — Então, é isso que você quer um dia fazer, Corujinha? Desenvolver esse programa? — É. — Eu suspiro inocentemente. — Esse é... esse é sem dúvida o plano. Seu sorriso é surpreendentemente gentil. — É um bom plano. Meu sorriso é apenas momentâneo. — Mas, em relação ao ruim — ele grunhe abruptamente enquanto pega seu lixo. — Sobre Byer convidar você para sair... — Está tentando desistir do acordo? Porque fiz a minha parte! Toda vez que você aparece! Toda... — Quietinha. O comando interrompe minha fala. — Estou trabalhando nisso. ei as últimas semanas trabalhando na fase um. Amanhã, amos para a fase dois. Depois de concluída, amos para a terceira e última fase. — Por que existem fases? — Porque todos os melhores planos diabólicos têm. — Diabólicos? — Não posso deixar de provocá-lo. — Primeiro, Ambrosia. Agora, diabólico. Você gosta mesmo de literatura inglesa, hein? Ren absorve a provocação pior do que o esperado. Ele usa as pontas dos dedos para atirar minha embalagem de molho de pimenta em mim, e o conteúdo cai no meu colo. Eu bufo em descrença com a ação enquanto ele se levanta.
— Me encontre na sala dos gatos para tirar a porra da minha foto. Tenho uma Pele cuja cama preciso fazer uma visitinha. A mudança repentina de volta ao seu comportamento de babaca extremo faz minha cabeça girar. Em seu caminho até a lata de lixo, ele rudemente ladra: — Jogue suas próprias merdas no lixo. Talvez ele precise de um animal de apoio. Talvez ele e o Brutus sejam perfeitos um para o outro. Eles podem ladrar, dar chilique e se unir enquanto fornicam com piriguetes por todo o país... Pelo menos Brutus tem uma desculpa para sua natureza rabugenta. Ele foi encontrado abandonado em uma parada de caminhões, coberto de vômito e arranhões. Ren, por outro lado, tem tudo o que a maioria das pessoas poderia desejar. Pais ricos e poderosos. Talento e habilidades que o dinheiro não pode comprar. É tão bonito que deveriam fazer um modelo de impressão 3D baseado nele. Tudo o que ele sonha ou deseja é entregue a ele em uma bandeja de platina porque prata está abaixo dele. Com o que ele poderia estar assim tão infeliz? E por que... por que estou determinada a descobrir isso?
Capítulo 7
Minha bunda bate no gelo com minhas pernas tão abertas que vou ficar em dívida com Deus por não massacrar minhas bolas. Ou Satanás. Quem quer que tenha me dado esse talento. O disco ricocheteia na beirada dos meus patins e volta ao jogo quando o apito soa para anunciar o fim do treino. — Porra! — Byer ladra de frustração enquanto arranca o capacete. — Essa merda deveria ter entrado! — Mas não entrou — afirma o treinador Stiles, presunçosamente. — Rutledge fez a porcaria do trabalho dele. — Minha atenção se volta para a origem do elogio imprevisto. — Agora, vamos todos torcer para que os Harrington Hawks tenham alguém um pouco mais lento nos patins do que o nosso garoto. Um pequeno sorriso desliza em meu rosto, e me encontro grato por minha máscara bloqueá-lo. Não, eu não preciso de reconhecimento, porra, mas isso não significa que não seja ótimo ouvir, especialmente quando eu ainda não joguei nesta temporada. Tenho que dar crédito ao Stiles por uma coisa. Ele é um maldito homem de palavra. Eu não joguei nenhum dos nossos amistosos, nem o jogo-treino na semana ada. Os dois primeiros foram resultado de eu não levar meu serviço comunitário a sério, enquanto o do último domingo foi simplesmente um jogo de poder para me lembrar de que ele tem a palavra final em relação a quem entra no gelo. Ele pode tomar a decisão, mas eu ainda não jogo segundo suas regras. Ele apenas acha que sim.
Isso é vencer em sua máxima expressão. Tirando meus patins, sigo meus colegas de time até o vestiário e me certifico de dar uma piscadela para Byer no momento em que meu capacete é retirado. O processo de tirar nosso equipamento, tomar banho e sair para o estacionamento é tão rápido quanto eu estava prevendo. O que é perfeito. Não quero ouvir Corujinha matracando sobre quanto tempo ela teve que me esperar. — Rutledge! — Stratton grita atrás de mim. No minuto em que me viro para encará-lo, ele me lança um aceno de cabeça questionador. — Venom? Rapidamente, eu balanço minha cabeça. — Outros planos. — Que porra você quer dizer com outros planos? — Tucker Gillette, outro amigo e colega de time do segundo ano, pergunta de onde ele está andando entre Adrian Stratton e Hugo Rhinehart. — Você ainda vai para a Game Galleria, né? — Rhinehart, que também está no segundo ano, questiona. — Por quê? — Continuo andando para trás. — Vocês, idiotas, precisam do meu rostinho bonito para trazer uma boa boceta para a mesa? — Que nada, é para isso que temos a mim — Stratton rebate. Graças a Deus não é por ele que a Corujinha está decidida. Trabalhar para valer no abrigo sugador de almas teria sido o caminho mais inteligente nesse caso. Stratton é bonito pra caralho, charmoso pra caralho e inteligente pra caralho para ser enganado bem no focinho a ir atrás de algum caso de caridade. Quer dizer, não me entenda mal. A Corujinha é bonitinha. Beleza, ela é mais que bonitinha. Definitivamente comível. Na verdade, ela é até linda. Seus óculos ampliam seus olhos castanhos brilhantes e quando ela deixa algumas mechas de seu cabelo escandalosamente encaracolado moldarem seu rosto redondo, ela
quase a uma energia de anjo. Como a garota da pintura Vênus de Urbino. Ela não é muito magra nem parece que está treinando para uma competição de comer tortas. ito. Ela tem uma bunda grande que eu não me importaria de pegar de jeito e uma comissão de frente de bom tamanho que dá para notar que não é só sutiã. Seu corpo tem de fato uma forma. Curvas. Não é a porra de uma bolota como se alguém tivesse dado forma a partir de batatas amassadas e tentou fazer se ar por uma pessoa, e não é da mesma finura dos lápis que eu roubo dela para fazer minhas tarefas de matemática. Não estou dizendo que me empenharia ativamente para vê-la pelada, só estou dizendo que se fosse acontecer, provavelmente seria uma merda fácil de apreciar. Os babacas duelando dentro de mim não têm dificuldade em chegar à mesma conclusão de que meu pau não murcharia em resposta. Isso é tudo que estou tentando dizer. — Tradição — Patrick Peck, o último do nosso time que é do segundo ano, bufa com as mãos enfiadas no capuz. — Você sabe como é importante para a gente manter certas tradições. Eu sei como é importante para alguém como ele que é baseado em superstição como um filho da puta. Porra, ele não aprendeu nada com aquela música do Stevie Wonder? — Sim, como ar umas duas horas na Game Galleria — lembra Rhinehart desnecessariamente. — E algumas gozadas na cara de uma mina — Stratton dá uma risadinha e começa a fazer um gesto grosseiro com a mão. — Preciso treinar minha pontaria. Rimos coletivamente, concordamos sem pensar, e concluímos que os verei mais tarde. Assim como planejei, Byer informa ao grupo que estará lá também, junto com os outros veteranos. Como se ele não tivesse nenhuma merda melhor para fazer. Chego na Petrópolis alguns segundos mais cedo do que esperava. Talvez porque
todo mundo quisesse dirigir bem rápido graças à maldita queda de temperatura, ou talvez porque todo mundo ainda esteja onde quer que seja seus trabalhos de merda tentando evitar sair nessas temperaturas. De qualquer forma, eu me beneficio pra caralho. E, mais importante, não me incomodo com essa merda fria. Me lembra a pista. Faz com que me sinta em um segundo lar. O que faz meu lado Rutledge relaxar, algo que é uma maldita raridade. É uma linha de pensamento meio fodida, mas qual a novidade? Ao invés de entrar para chamar Poppy, espero dentro do meu SUV quentinho até que na hora combinada ela sai. Ela rapidamente se apressa para dentro do meu SUV, mas o vento forte aumenta e ela quase se esborracha no caminho.
Querida Coordenação, Pode dar à Corujinha aqui outra chance? Seria útil pra caralho para mim. Assinado, Atenciosamente pra Cacete, Um atleta que Não a Humilhação.
— Uau — Poppy dá uma baforada enquanto fecha minha porta assim que está no assento. — Essa coisa dá para levar Dorothy a Oz. — Um tornado levou Dorothy a Oz. — Tá, mas se fossem fazer outra versão... — Fizeram... — Poderia ser uma tempestade de vento como a do lado de fora agora.
— Essa seria uma história terrível. — Como você sabe que seria? — Sua alegação continua enquanto ela enfia sua bolsa entre os pés e larga sua jaqueta puffer roxa e feia. — Poderia ser uma história fantástica! Poderia ser um livro bestseller que ainda está para ser escrito! — É provável que já tenha sido escrito e foi um fracasso devido à escrita de merda, à reinvenção de merda, como aquela nova versão estúpida dos Muppets que fomos obrigados a assistir quando tínhamos seis anos, e a enredos de merda, como transformar um tornado, que poderia facilmente ser considerado um elemento de enredo infeliz, em um vendaval, o tornando um elemento de enredo de merda ofensivo. Os lábios da Poppy momentaneamente franzem em conjunto. — Você disse merda umas dezessete vezes nessa frase. Esse é um jeito de merda de falar. — E o que você está vestindo agora é uma roupa de merda. — Encostando minhas costas na porta, eu balanço minha cabeça pelo fato de que ela não trocou de roupa. — Parece que você está prestes a fazer um comercial de Natal da Pedigree. Seus olhos se voltam para a camisa da cor sempre-verde. — Você não tem mais nada para usar? — Não acho que estou assim tão mal... — Sinto vontade de cobrir sua bunda de decorações e pendurar enfeites nos seus mamilos. — Isso doeria. — Não tanto quanto ter que olhar para você com esta camisa. Os olhos da Poppy se viram para mim e se estreitam. — Bom, a menos que queira ar na Target...
— Tente outra vez. — Ou na Macy's... — Mais provável. — Ou na Nordstrom's. — Temos uma conta lá. — Isso é o que eu vou vestir — ela rebate desafiadoramente. — Vai ter que lidar com isso. — Tá. — Tá. Em um movimento rápido, eu alcanço e desfaço os três botões superiores da camisa. Seus gritos de objeção são ignorados enquanto mentalmente considero abrir mais um. Na verdade, isto me dá apenas um pequeno vislumbre dos seus peitos, o que deve ser suficiente para atrair sem fazê-la parecer uma maria-patins vadia que é o que estou tentando evitar. Eu aprovo meu trabalho com um aceno satisfeito. — Pronto. — Ren... — Cabelo. — O que tem meu cabelo? — Poppy instantaneamente chia. — Parece que você não tem escova. — Eu inclino minha cabeça condescendentemente para o lado. — Você tem? A mandíbula dela despenca no colo do meu jeito favorito. Incapaz de resistir à vontade de mexer com ela, eu reprendo: — Talvez queira fechar isso antes que meu pau vá parar aí. Ela fecha tão rápido que um som de trinco ecoa pelo meu SUV.
— Arrume essa merda. Poppy me lança outra carranca, põe o cinto de segurança, e silenciosamente pega sua escova. Saindo da vaga de estacionamento, me preparo para recitar as regras que fiz questão de compilar antes de buscá-la. — Eis o resumo. Quanto menos merda deixarmos ao acaso, melhor. — Meus olhos procuram uma abertura para entrar no trânsito. — Então, absorva tudo o que estou prestes a dizer pelo vosso coração e profundamente pela vossa alma. Essa merda que estou prestes a despejar agora é o seu maldito evangelho. Você... — Posso trocar a rádio? Sua interrupção inesperada faz com que eu vire minha cabeça em sua direção. — Não. — Eu volto minha atenção para a estrada. — Como eu estava dizendo... A mudança de artista no meio da música me leva a redirecionar meu olhar mais uma vez. — Que porra é essa, Corujinha? Eu disse não. Poppy me dá um encolher de ombros inocente. — Sim, mas você vai ser um babaca comigo de qualquer jeito, então, eu poderia muito bem encontrar algo que eu quero ouvir enquanto isso. Um ponto, nervosinha. Ela golpeia com dureza o botão do meu som várias vezes, nunca mais de dez segundos em uma música. — Dá para acalmar suas garras, Corujinha? — Finalmente capaz de sair do estacionamento, eu resmungo: — Não quero que quebre a porra do meu rádio. — Você curte mulheres? — A pergunta dela faz com que eu lance um olhar confuso. — Tipo, todas as músicas desta playlist são de um cara — Poppy bate no botão Próximo de novo. — Com outro cara. — Ela repete sua ação. —
Gabando-se de suas façanhas para outros caras. — Um olhar crítico é atirado para mim sobre os aros de seus óculos. — Essa playlist se chama Grupo da Batida? Porque é praticamente só sobre bater uma. Desta vez é a minha mandíbula que cai. Porra, eu não sei se a cumprimento com um soquinho por sua conclusão espertinha ou se mordo sua bunda por falar essa merda. Por que ela faz isso tão facilmente comigo? Por que ela me divide em dois sem nem pensar duas vezes? — Podemos ouvir alguém que tenha vagina? — Contanto que ela não seja reclamona como você. Caralho, por que não?! — Eu desbloqueio meu celular e o entrego. — Não vá xeretar minhas merdas. A Corujinha alegremente começa a mexer. — Por que eu faria isso? — Você é uma garota. É o que vocês fazem. — Hum... não — ela murmura enquanto digita na busca. — Nem todas nós somos tão paranoicas ou desconfiadas. Meus dentes afundam na lateral da minha língua para ficar em silêncio. Curiosamente, essas são as que geralmente deveriam ser. Como minha mãe. Talvez se ela tivesse xeretado as coisas do meu pai um pouco mais cedo no relacionamento deles, ela poderia ter salvo o casamento ou saído quando poderia ter sofrido menos dano. Talvez eu tivesse seguido outro caminho. Talvez o hockey ainda parecesse uma escolha ao invés de uma obrigação. Mas ela não fez isso. E ainda não faz.
Descontente com a linha de pensamento que estou tomando, altero a conversa para onde eu inicialmente queria. — Regras, Poppy. Você tem que jogar conforme as seguintes regras se quiser que essa merda dê certo. — Você me chamou de Poppy — ela rapidamente nota segundos antes de se decidir por uma artista. — Essa merda deve ser séria. — É, sim. Ela gentilmente coloca o telefone de volta em seu e e dedica toda a sua atenção a mim. — Você não vai se apresentar; não vai oferecer qualquer informação sobre si mesma; e não vai falar a menos que falem com você. — Já estou vendo que esse encontro vai ser divertido. — Seu objetivo é ficar tão bonita... — eu tenho um vislumbre do que terei que fazer nesse departamento — quanto possível no seu fracasso de roupa e olhar para mim como se mal pudesse esperar que a gente saia para que possa chupar meu pau. — Quer dizer, assim? Dou uma olhadela de relance de novo, embora desta vez seja da sua aparência facial ridícula. Seus olhos estão focados no centro do seu nariz. Suas sobrancelhas estão levantadas para o teto. Sua língua curta mal está pendurada para fora da sua boca enquanto ela exageradamente geme para mim. Para minha surpresa, não consigo esconder minhas risadas. — Você está parecendo e soando como o Brutus. — Não é verdade! — A alta-oitava que sua voz alcança sempre que está ofendida só encoraja mais risos. — Brutus não é vesgo. — Aposto que ele ficaria se colocasse um petisco no nariz dele.
Poppy se junta a mim nas risadas antes de acenar concordando. — Tudo bem, é justo. — Pego a saída que nos leva para mais perto do campus ao mesmo tempo que ela esclarece: — Só para deixar claro... Você quer que eu pareça bonita e burra pelas próximas horas? — Basicamente. — Não sou muito boa em nenhuma dessas coisas, Ren. — Não é verdade. — Está dizendo que eu sou bonita ou que sou burra? Meus lábios se pressionam em recusa a responder. Um som ofendido escapa dela que incita a alma torturada que ela sempre consegue fazer com que desenterre a verdade. Ela, sem dúvida, tem momentos em que é bonita. Mesmo agora. Camisa horrível à parte, a encantadora loucura de cachos bagunçados na parte superior da sua cabeça suaviza seu rosto, enquanto a maquiagem mínima não distrai das pintinhas fofas que ficam do outro lado do queixo e diretamente ao lado de sua orelha. Suas bochechas são um pouco mais cheias do que algumas garotas gostariam, mas aumentam o apelo de sua inocência. Os óculos que são claramente dois tamanhos a mais não fazem nenhum favor ao rosto dela, mas aumentam o charme que é fácil de ser encontrado se simplesmente prestar atenção. Como eu me permiti observar durante nossos curtos períodos no abrigo. Como eu me permiti observar por muito tempo ontem à noite. Não havia nenhum motivo, porra, para eu ter recusado uma boceta fácil para me masturbar pensando na Corujinha. Nenhum. Caralho de. Motivo.
Outra razão pela qual o Espertalhão enterrado em mim não é permitido tomar decisões. Ele escolhe mal. Mal pra caralho. — Você quer exalar mistério. — Minha explicação continua enquanto troco para a faixa esquerda da pista. — Essa é a grande questão dessa porra. Caras que podem conseguir a garota que quiserem, quando quiserem, têm uma tendência a encontrar emoção na caça. No desafio. Uma garota que sai falando toda a sua história de vida como um perfil de aplicativo de namoro de merda não interessa a eles. E queremos que Byer note você pelos motivos certos. — Ser bonita e burra são os motivos certos? — Hoje, sim. — Ligando minha seta, eu informo: — E eu nunca disse que você tinha que ser burra, Corujinha. Você concluiu isso, embora seja uma boa dedução. Idiotas como Byer gostam de achar que são a pessoa mais inteligente em uma conversa. A maneira mais fácil de fazer isso é não falando muito. Às vezes eu digo palavras difíceis para ele só para estragar seu dia. Ok. O Espertalhão dentro de mim ocasionalmente faz bem. Bem pra caralho. Ver Byer ferver por não saber o significado de uma palavra que usei enche cada célula do meu organismo de pura alegria. — Acima de tudo? — Minha cabeça gira na direção dela. — Não. Me. Faça. ar. A porra. Da vergonha. Os olhos da Poppy se ampliam na direção dos aros de seus óculos. — Se isso acontecer, a merda que eu vou fazer com você fará o que fizeram com Mussolini parecer tratamento adicional de spa.
Sua mandíbula se abre mais uma vez e eu retribuo dando a ela um sorriso grande, alegre e falso. O sinal troca para verde, e eu acelero para a frente para fazer a curva. Depois de uma discussão desnecessária referente a ela deixar o casaco, a bolsa e o telefone no meu Range, finalmente entramos na Game Galleria. Funcionários conhecidos me cumprimentam na chegada com “toca aqui!” e soquinhos. Alguns mencionam sua empolgação em me ver jogar amanhã à noite, enquanto outros repreendem alegremente dizendo para não quebrar as máquinas novamente. Se Poppy não disse nada por compreender o papel que deve desempenhar ou por estar um tanto oprimida pela abundância de luzes fortes e ruído, não sei dizer. O lado Ren em mim odeia não saber. No entanto, o lado Rutledge o odeia por se importar. Por que essa parte em mim se importa tanto? Desde quando eu o deixo se importar? Primeiro, não querendo que ela morresse de fome como um imigrante que estava trabalhando por três dias, sem parar, para alimentar a porra da família, e agora isso? Me sentindo um merda porque ela está toda calada devido ao excesso de estímulo de um novo ambiente como se ela fosse um de seus animais resgatados e eu fosse ela? Pelo amor de Deus – alguém me mate. Tenho certeza que iria preferir. No momento em que eu nos paro nas mesas de aero hockey, que não são distantes da praça de alimentação, minha atenção se concentra no adorável tique nervoso do nariz dela. Porra, ela é como se fosse uma mistura de todos os personagens fofinhos da Disney que alguém fez e colocou em uma só pessoa. Como diabos um ser humano parece assustado, triste, esperançoso e lindo, tudo ao mesmo tempo?
— Você está bem, Corujinha? O sorriso da Poppy se ilumina, e me vejo lutando contra o impulso de fazer o mesmo. Dê o fora daqui, Ren. Você tem muita merda para fazer como Rutledge. Ela acena com a cabeça ao mesmo tempo que sua cabeça se move para observar o restante do ambiente. — Nunca estive aqui antes. — Isso é óbvio pela sua expressão de chupar pau. O olhar furioso da Corujinha é tão imediato quanto seus braços cruzando sobre o peito. — Eu não tenho uma expressão de chupar pau. — Provavelmente não, porque você teria que chupar pau para ter uma. — Minhas sobrancelhas saltam para cima e para baixo de uma forma infantil que a força a lutar contra a vontade de sorrir. — A galera estará aqui em algum lugar na próxima hora. O que acha de a gente jogar uma partida de aero hockey enquanto esperamos? Ela olha para a mesa ao nosso lado. — Nunca joguei aero hockey antes. — Como isso é possível, caralho? — Nem todos nós crescemos vivendo e respirando um esporte em suas várias formas. Nem todos nós crescemos querendo viver e respirar um esporte. Eu combato o instinto de corrigi-la assumindo uma posição à mesa. — Você nunca veio para festas de aniversário aqui? Poppy relutantemente se desloca para o lado oposto.
— Não era convidada para muitas festas de aniversário. — Ela pega o rebatedor vermelho. — Bom, nenhum tipo de festa. Uma sensação estranha afunda meus ombros. Que porra é essa? Culpa? Simpatia? Pare com isso, Ren! Caralho, pare com isso. Depois de limpar a garganta, pego minha carteira para ar meu cartão de jogo. — Você sabe como jogar? — Humm... se usa esse troço... — Rebatedor. — Para atirar... — Lançar. — O disco no gol do oponente. — Entusiasmo aparece em sua expressão. — Certo? — Basicamente. O ar enche a mesa ao mesmo tempo em que as cores neon iluminam o placar para indicar que meu cartão foi lido. Mais emoção se expande em seu olhar, e tudo dentro de mim de repente fica ansioso para alimentar essa emoção. Para mantê-la crescendo. Para impedi-la de se esconder como parece que ou uma vida inteira fazendo.
Beleza, isso é sem dúvida novidade. — Vamos deixar essa merda interessante, Corujinha — eu comento enquanto pego o disco. — Você provavelmente não vai marcar nada... Seu dedo médio voa no ar, me fazendo sorrir. — E eu preciso de alguma motivação a mais para ficar nesta mesa além de tirar sua virgindade no aero hockey. Algum tipo de mistura de carranca e rubor surge em seu rosto. — Que tal a cada ponto marcado, o jogador que fez o gol poder fazer ao oponente qualquer pergunta de sua escolha? — A visão do nariz dela balançando me faz condescendentemente advertir: — Não se preocupe, Corujinha. Serei gentil. — Duvido, Ren. Gentil não está exatamente no seu vocabulário. — Está, sim. Só escolho não usar. Meu comentário termina em uma piscadela, e ela balança a cabeça de uma forma já derrotada. — Eu tenho escolha? Afinal, de uma forma ou de outra, você sempre consegue o que deseja. — Tem razão. Toda a razão. — Urgh. Que seja. Estou dentro. — Está vendo? — Eu mexo o disco em minha posse. — Mantendo meu histórico perfeito. — Seu olhar faz com que eu dê uma risada. — Pausa para as regras básicas. Fique do seu lado da mesa, e não toque seu disco com nada além do seu rebatedor a menos que for colocá-lo de volta na mesa depois de fazer ponto, porque se tocar, será jogo sujo e como farei você pagar a penalidade vai ser de fato um jogo sujo. — Jogo de palavras — Poppy finge provocar de forma sedutora. — Adoro quando fala coisas literárias para mim.
O lançamento do disco na mesa é tão rápido quanto a tacada que o manda para o gol. — Ei! Eu não estava pronta! — Não brinque comigo, Corujinha — minhas palavras rastejam insensivelmente da minha língua. Ela tenta falar, mas é rapidamente cortada. — Meu ponto. Minha pergunta. Ela levanta o disco do buraco. — Que é? — Encerada, raspada, aparada ou definitiva? Confusão inicialmente envolve seu olhar; no entanto, horror a substitui poucos segundos depois. — Aimeudeus! — Responda. — Aimeudeus! — Agora. Sua tez marrom-clara parece cereja ao mesmo tempo em que ela gagueja: — Raspada. Um aceno impressionado é dado. — Aimeudeus — ela resmunga uma última vez enquanto solta o disco sobre a mesa. — Não acredito que acabou de dizer isso. — Sério? — Eu prontamente empurro o objeto de volta na direção dela. — Não acredita que acabei de dizer isso? Poppy bufa sua irritação ao mesmo tempo que abana os braços em uma tentativa de correr para se defender. A parte mais triste de sua execução não é nem mesmo o fato de ela parecer uma versão maluca do apelido que a dei. É que sua natureza excessivamente dedicada a acertar a peça do jogo faz ela ricochetear a peça nas
paredes e de volta para o seu lado, diretamente ao lado do seu gol desprotegido. É claro que ela não tem coordenação motora, assim como qualquer habilidade atlética básica, pelo jeito que ela pula freneticamente toda vez que o item que ela deveria acertar cruza para seu lado. Eu deveria me sentir péssimo por não tornar isso mais fácil para ela. Mas não sinto. Ninguém melhora em nenhum esporte recebendo ajuda na pista ou no campo. Regras básicas. De olho no disco, espero que ele deslize na trajetória ideal para uma tacada fácil e limpa direto para o gol aberto. A máquina acende com a minha vitória mais uma vez, e eu rapidamente a repreendo. — Precisa se proteger, Corujinha. Todas as vezes. Seus lábios franzem para o lado como se ela quisesse acrescentar algo à declaração. — Qual o tamanho dos seus peitos? Ela dá uma revirada de olhos previsível, o que alivia o clima novamente. — 44C, do tipo, cê nunca vai vê-los. — Você diz isso, mas... Sou pego de surpresa quando o som de estalo pousa na minha frente e a mesa se ilumina novamente. — Hah! — Corujinha aponta com entusiasmo. — Deveria ter seguido seu próprio conselho, Ren. Um sorriso satisfeito cresce em meu rosto. Tenho que itir. Essa foi boa.
Definitivamente instiguei o lado competitivo dela tanto quanto o atrevido. — Minha vez de fazer uma pergunta. Eu aceno minha mão vazia em sua direção. — Quem é o seu escritor favorito de todos os tempos? — Terry Pratchett. — A falta de hesitação em minha resposta choca a nós dois. Normalmente, não ito esse tipo de merda. Uma coisa é parecer o babaca inteligente que sou no meio da aula de literatura, mas é uma porra totalmente diferente oferecer essa informação livremente. Tenho vergonha de ser bem versado no mundo dos livros? Sim. Profundamente. Eu quero que essa merda se espalhe? Porra, não. O mundo me conhece como o goleiro taciturno e ousado. Aquele que não tem medo de se quebrar para interromper a tacada. Aquele que está disposto a fazer o que for preciso para levar seu time ao topo. Aquele que sabe quanto vale no gelo e nos lençóis. Essa é a reputação que cultivei. Essa merda nerd não é permitida. Reduz-se à nomenclatura. Rutledge é o que o mundo adora. Ren é o fraco que apenas ela parece se importar. Poppy cantarola docemente. — Hum. Nunca ouvi falar dele. Suas palavras franzem minha testa. — O que ele escreve? — Essa é a segunda pergunta, Corujinha. Uma pergunta por acerto. — É mesmo? — ela desafia. — Ou está simplesmente tentando ganhar tempo para a resposta que me deu e que desconheço e que não posso pesquisar já que alguém exigiu que eu deixasse meu celular no carro? — SUV.
— Você tem que me corrigir? — Você tem que errar? Outro impulso de sorrir puxa os cantos dos seus lábios, e não há como resistir ao instinto de fazer o mesmo. Caralho. Porra. Por que isso continua acontecendo? Como sorrir pode ser contagioso? — Sir Terry Pratchett quando estava vivo escreveu majoritariamente fantasia. — Então... Seu tipo favorito de livros é fantasia? — Agora essa é sem dúvida uma segunda pergunta que você não ganhou. — A peça do jogo volta para a mesa. — Quer a resposta. — Eu acerto o disco. — Ganhe. Poppy instantaneamente se debate para tentar impedir que ele entre. — Fique de olho na peça — meu conselho é seguido por um toque leve de volta. — Tente golpes mais longos e mais precisos do que aqueles curtos e rápidos. — Foi o que ela disse na cama? A piada interrompe minha vergonha momentânea pelo que falei. Em um golpe forte, jogo o disco na parede oposta a que ela estava protegendo, e sorrio presunçosamente quando afunda em seu objetivo. — Não. Seu grunhido de desprazer é cômico. — Pergunta? — Por que Byer? A indagação nos choca.
Por que eu me importo com por que Byer? Que mal há nisso? Por que isso importa? E por que sinto que os dois lados em mim precisam da porra dessa resposta? Nervosismo corta sua voz. — O quê? — Por. Que. Byer? Certo de que ela pode ouvir a dor imprevista em meu tom, ela me dá um olhar surpreendentemente frágil. — Às vezes não há escolha a não ser se contentar com o segundo melhor. Hum. Espera. Ela está dizendo...? Ela quer dizer...? Sair comigo não era uma das opções? Se era isso que ela queria, por que simplesmente não pediu? Por que tenho que perder meu tempo fazendo isso? Por que ela simplesmente não veio atrás de mim se sou o que ela realmente quer? Outra onda inesperada de pensamentos espirais me atinge. Isso teria importância? Eu teria dado a ela o que ela realmente queria ou teria fingido, também, apenas para conseguir o que eu queria? Ela quer sair por cima disso pegando tanto a mim quanto a ele? Ela está manipulando? Ela é mais inteligente do que eu pensei que era?
Poppy coloca o disco de volta na mesa e empurra na minha direção. Desta vez, ela segue meu conselho e controla seus retornos. Foca não apenas onde o objeto está voando, mas também onde é possível que vá ricochetear. Eu não intensifico meu ataque, que seria a maneira mais fácil de vencer esta partida, mas em vez disso, mantenho uma defesa constante. Deixe-a aprender a correr riscos. Ir atrás do que ela quer. Controlar a situação. Sua confiança sobe mais e mais a cada vez que ela se aproxima de acertar. Assim que o tilintar surge na minha frente, fico mais tentado do que nunca a lhe lançar um sorriso orgulhoso. — Ponto! — ela anuncia vertiginosamente. — Sim, você é a cega, Corujinha. Não eu. — Aham — Poppy diz, ambas as mãos pousando na borda da mesa. — Pergunta. — Não, fantasia não é necessariamente meu gênero favorito de ler, no entanto, está entre os favoritos. Seu rosto se inclina petulantemente para o lado. — Não era isso que eu ia perguntar, mas obrigada pela informação. Constrangimento faz o possível para penetrar no meu olhar. Eu acabei de... itir livremente essa merda? Sim. Devo destruí-la ativamente de agora em diante. Para o bem da minha própria sanidade. Engolindo minha descrença, eu resmungo: — Qual é a sua verdadeira pergunta? — Por que deixamos de ser amigos? Surpreso com a pergunta, tenho que usar a borda da mesa para me sustentar.
Ela não quer essa resposta. Não de verdade. E eu não quero responder. Nunca. De repente, por cima do ombro, vejo uma visão que não tenho certeza se merece o rótulo de salvação ou maldição. Volto meu olhar para o dela e ignoro o pedido por resposta que há nele. — Hora do show. O medo substitui imediatamente o desespero. — Ah, puxa... — Lembre-se do que eu disse antes. — Não posso fazer isso. — Vai se sair bem. — Eu vou vomitar — Corujinha dramaticamente murmura se aproximando de mim. — Você não vai vomitar — Eu me afasto antes de levantar alguns dedos para que eles saibam onde estou. — Você está bem, porra. — Nada bem. — Um tom inegável de amarelo mancha suas bochechas. — Agir... em... público... ansiedade... e... eu... — Um braço envolve seu estômago. — Vou vomitar. — Tá de sacanagem, porra — minha queixa é resmungada por entre os dentes cerrados. — Segura essa merda, Poppy. — Não consigo. — Ela balança a cabeça apressadamente. — Vou vomitar. Meus dedos correm pelo meu cabelo castanho enquanto coloco um sorriso digno de entrevista na ESPN. Em voz baixa, eu instruo: — Vou te dar uma palmada na
bunda. Abaixe sua cabeça como se estivesse corando e casualmente salte para o banheiro. Vomite. Pegue a porcaria de uma pastilha de menta ou Tic Tac ou milkshake e me encontre aqui. Entendeu? Ela mal consegue cantarolar em confirmação. Mais um sorriso falso é exibido antes de bater em sua bunda firme. Algo semelhante a uma risadinha dolorosa começa a brotar, e ela foge como precisa. Stratton é o primeiro a notar sua fuga. — Aonde vai essa Pele? — Tirar o hálito de pau — eu minto brincando e prontamente mudo de assunto graças à ausência óbvia de alguém. — Onde diabos estão Stacy, Byer e Billingsley? — Recarregando — Rhinehart responde enquanto se senta em uma mesa próxima. — Acho que o cartão do Stacy estava vazio. O desejo de xingar Byer por estar mesmo vindo e agradecê-lo são estranhamente iguais, apesar do fato de que não deveriam ser. Não. Ela queria um encontro com aquele idiota. Esse era o combinado. Eu sempre cumpro minhas merdas. O babaca do meu pai definitivamente instigou isso em mim. — Viu que as tabelas do jogo saíram? — Peck pondera ao mesmo tempo que senta de frente para Rhinehart. — Já? — Stratton franze a testa, encostado na beirada da nossa mesa de aero hockey. — Nosso primeiro jogo de verdade ainda nem foi marcado. — Não importa. — Gillette balança a cabeça e se junta aos que estão à mesa. — Eles começam a postar suas previsões após o primeiro amistoso.
— O que estão dizendo? — pergunto, vendo os três outros jogadores vindo em nossa direção. — Que os Timberwolves vão ganhar — Peck informa ao time. — Tomas Park Timberwolves? — Uma risada alta me escapa. — Eles não têm nenhuma chance, porra. Perderam seu melhor atacante... — Ele era bom pra caralho mesmo — lembra Rhinehart. — E seu goleiro titular. Aquele desgraçado do time reserva que eles tiveram que promover faz com que Byer pareça o maldito Peter Parker em seu auge. — Mas Parker não ficou assim porque foi picado por uma aranha radioativa? — Gillette pergunta desnecessariamente. — E o novo goleiro deles faz parecer que Byer foi mordido por 80 delas. Meus amigos riem, no entanto, Byer encara quando se aproxima. — Já está falando merda, Rutledge? — É que você torna tudo tão fácil, Byer. — Estávamos falando das classificações — Peck decide diminuir a tensão da situação. — Vi algumas previsões online. E não parecemos candidatos ao título. — Isso é o que vai deixar essa merda ainda melhor quando levarmos para casa aquele troféu — declaro arrogantemente. — Concordo — afirmam Rhinehart e Stratton em conjunto. — Não seria nada mal terminar meu tempo aqui com um registro de vitória. — Stacy encolhe os ombros. — Ei, contanto que mantenham Byer fora do gelo, deve ser moleza. — Você não é melhor do que eu porra nenhuma, Rutledge. — Errado. — De repente, a chegada da Poppy me inspira a ser ainda mais presunçoso. — Eu sou melhor que você em tudo. — Eu largo meu braço
possessivamente em volta do ombro dela. — Não é mesmo, fofinha? Ela cantarola bem alto em concordância e chupa com mais força o pirulito que está em sua boca. Essa é uma ideia terrível. Vai contra a rota de construção “misteriosa” que estou tentando tomar. Não queremos que ele tenha pensamentos de sucção de pau agora ou foque em quão bem ela faz ou não faz isso. Sim, nós queremos que ele a queira... bom, porra, não, eu não quero, mas é o que ela quer. De qualquer forma, não precisamos que sua mente assuma imediatamente que ela está desesperada para engolir seu pau sem nenhum esforço. Ela não é uma Pele, mas andar por aí fazendo uma pantomima de suas pobres habilidades de chupar vai dar a ele essa impressão se não fizermos essa merda direito. — Prove — Byer ladra seu comando. — Fiz isso antes, quando impedi sua tacada de merda, Tortinho. — Que porra você acabou de me chamar?! — Do que você é. — Cuidado, Rutledge — adverte Billingsley. — Sabe de uma coisa, filho da puta, deixa eu provar o quanto sou melhor que você, agora — ele provoca, recuando para tomar o lado da mesa que Poppy estava posicionada antes. — Um contra um no aero hockey. Você perde, eu levo para casa a maria-patins que você está trepando e mostro a ela o que é diversão. Sem pensar, meu aperto aumenta. — Você perde, e tem de dizer a todos que está com inveja por não conseguir pegar uma garota como Poppy. — Está se gabando? — Stratton murmura sua confusão.
— Você acabou de dar nome à sua Pele? — Gillette engasga como se estivesse profundamente ofendido. — Nunca disse que ela era uma Pele. A declaração lança olhares para mim. Beleza. Novo plano. Fingir que Poppy é minha namorada, fingir um término e deixar Byer vir atrás das minhas sobras. Hum. Parece bem mais fácil do que apenas balançar a bunda dela na frente dele como uma isca que ele não pode morder. Claro, ver o rosto dela repetidamente criaria interesse suficiente, mas fazê-lo ir atrás da única garota que conseguiu “me pegar” ou “me amarrar” ou o que quer que seja, vai agradar muito mais o seu ego. — É com você — Byer ri arrogantemente. — Espere por mim com Rhinehart — eu instruo enquanto a liberto de minhas mãos. — Rhinehart — ele diz apontando para si mesmo. Como avisei antes, ela apenas sorri. Rhinehart continua as apresentações, apontando bruscamente para cada jogador correspondente. — Esse é o Stratton. Gillette. Peck. Stacy. Billingsley. Ela humildemente se encolhe no assento ao lado dele enquanto abre sorrisos educados para eles. — E você é Poppy?
Mais uma vez ela acena com a cabeça. Stratton parece desinteressado na aposta, assim como na convidada. — Sabem que é um dia antes do jogo, o que significa que Poutine está chamando, e eu nunca deixo aquela vadia cair no correio de voz. — Ele segue em direção à praça de alimentação. — Os idiotas que quiserem uma rodada grátis por minha conta, agora é a hora de seguir. Rhinehart, Stacy e Gillette não hesitam em aceitar a oferta. — Tradição pré-jogo — Peck afirma para Poppy enquanto finalmente deixamos a mesa adequadamente arrumada para uma nova partida. — Todos nós temos. Stratton precisa comer Poutine. Gillette precisa comer todas as balas de ursinhos verdes de um pacote grande. Rhinehart precisa ver seu reflexologista. E Stacy precisa raspar os pelos das axilas. Os olhos dela se voltam para mim, buscando ansiosamente respostas ou permissão para consegui-las. — Ele acha que isso o deixa mais rápido no gelo. — Não deixa — retruca Peck com razão. Poppy ri, e algo dentro de mim se acalma de forma imprevisível. Que porra é essa? Eu estava nervoso por ela? Não é como se fosse importante ela se encaixar no time ou até mesmo ficar confortável com eles. Essa coisa toda é algo ageiro que vai acabar mais cedo ou mais tarde. Caralho. Tenho que me empenhar um pouco mais em convencer a mim mesmo das minhas próprias merdas. — Está pronto? — Byer chama minha atenção para longe de onde Peck está
dando o seu melhor para ser acolhedor. Esse é Peck. Atencioso, mas cauteloso. Ele odeia a ideia de qualquer coisa ou pessoa afetar nosso time de forma negativa. É ele que monitora de perto nossas dietas e nossas horas na academia fora dos treinos. Foi ele também que decidiu no ano ado que criar laços antes dos jogos seria benéfico para nós como um time. E já que ele não iria calar a boca a respeito até que começássemos a fazer isso, não tínhamos voz no assunto. Ele é ideal para capitão, e não vou nem fingir surpresa quando o técnico o nomear capitão alternativo em algum momento. — Poppy, fofinha — convoco seu olhar —, venha lançar este disco para a gente. Ela se levanta com entusiasmo, mas consegue tropeçar na perna da cadeira em seu caminho. Meus olhos se fecham brevemente por vergonha. É. De. Lascar. Essa garota tem que tornar tudo difícil? Quando nossos olhares se encontram, o pedido de perdão é tão palpável que não posso ignorá-lo. Eu simplesmente balanço minha cabeça ao mesmo tempo que entrego a ela a peça do jogo. — Eu sei que você está caidinha por mim, fofinha, mas tenha um pouco mais de cuidado. A chama que amo ver em seu olhar irrompe; no entanto, ela simplesmente me dá uma piscadela. Byer e eu ansiosamente nos inclinamos um pouco para frente, antecipando a queda do disco, mas infelizmente para mim, a sorte é uma vagabunda, não uma dama, e pousa a seu favor. Eu mal tenho tempo de lutar pelas minhas defesas para impedir o deslizamento que vem em minha direção. Recuperar é fácil, mas marcar é um pouco mais difícil. Ele é sem dúvida um adversário melhor que a Corujinha, mas um macaco
treinado também é. Para lá e para cá, a peça chicoteia sobre a mesa. As tacadas são afastadas das bordas. Movimentos de pulso são calculados mentalmente para realizar execuções mais criativas. Grunhidos e resmungos de frustração são expelidos alto enquanto falamos merda. Poppy recua para longe da possível zona de perigo, mas permanece perto da mesa como uma torcedora silenciosa. Odeio que ela esteja torcendo por aquele idiota. Sou o primeiro a marcar gol, mas o placar continua empatado. Sua dedicação em me destruir irradia cada vez que ele joga o disco para o meu lado; no entanto, sua petulância repetidamente leva o melhor dele. Quanto mais ele sente que está em vantagem, mais desleixadas suas ações se tornam e mais oportunidades surgem. Com ele dois pontos atrás e eu apenas a um da vitória, tenho que tomar uma decisão rápida. Eu continuo com essa merda? Segurando as pontas até ele começar a perder o interesse, o foco ou a resistência, ou devo deixá-lo marcar e executar um ataque surpresa? De jeito nenhum vou deixá-lo levar Poppy para casa para transar com ela e jogála fora como se ela não significasse nada. Ela pode não significar algo, mas, com certeza, é mais do que nada. E embora eu tenha que servi-la a ele como um copo de whiskey Wilcox envelhecido, ele deve apreciá-la da mesma forma. Não posso desistir do meu acordo. Posso evitar que seu valor um tanto frágil seja completamente destruído. Pelo menos desta vez. Eu deliberadamente movo para o lado para permitir que Byer faça um gol, e ele morde a isca como eu sabia que faria.
— Isso! E agora, Rutledge?! Que... — O som do disco pousando no gol dele é o que inicialmente o interrompe. — Jogo. A tacada surpresa, que é um presente para quem se distrai facilmente, aprendi desde cedo. Colocar a peça de volta na mesa diagonalmente e, depois, mandá-la diretamente para o canto da baliza do seu oponente. Suas defesas estão baixas. Seu tempo de reação praticamente inexistente. E o ego, assim como o dele, cai alguns níveis. — Essa foi patética — Stacy ri com a boca aberta, lambendo os dedos. — A próxima é minha. — Quer saber? — Eu arremesso arrogantemente meu rebatedor na mesa. — Pode derrotar o imbecil do Byer. Eu vou para casa e mostrar a Poppy outra merda que faço melhor que ele. — Meus olhos se fixam nos dela, que mal escondem sua raiva. — Dê tchau aos garotos. Ela relutantemente remove o pirulito que tinha enfiado em sua bochecha e olha por cima do ombro para os colegas de time que me importam. — Tchau. — Ela dá mais uma olhadela para o idiota que ela esperava muito ganhar. — Tchau... Ele acena para ela com a cabeça em resposta. Descontente com a adição desnecessária de uma despedida pessoal para ele, eu a puxo para mim pela sua mão sem o doce. — Fala sério, Rutledge, você não pode ir mesmo embora — Stratton reclama. — É, cara, espere pelo menos mais vinte minutos para deixá-la chupar seu pau de novo — Gillette atira. Um estranho amálgama de raiva e possessividade corre em minhas veias. Eles não precisam falar dela assim. Ela não é uma Pele. Ela também não está tentando ser.
Porra, iria matá-los mostrar a ela um pouco mais de respeito? — Cuidado com o que fala sobre ela — repreendo friamente, o braço se enrolando firmemente em torno de sua cintura. — Esse é o seu único aviso. As sobrancelhas castanhas de Gillette saltam no ar. Sua reação se repete em toda a multidão, e rapidamente me vejo precisando sair. Por que diabos eu tinha que dizer essa merda? Mesmo que estejamos fingindo ser um casal ou o que quer que seja para acelerar essa merda, essa talvez tenha ido longe demais. Quanto exagero. Não estou procurando um agente de Hollywood por essa performance. Meu adeus é mais murmurado do que pretendia. — Até mais. Eles ecoam o sentimento antes de retornar aos seus modos turbulentos. Eu mantenho meu braço situado na sua cintura durante toda a caminhada de volta para o carro, mas evito o contato visual que sei que ela está procurando. Sua atitude tensa e nariz constantemente balançando que posso ver pela minha visão periférica, me dizem tudo que preciso saber. À distância, eu dou o arranque automático no meu SUV para aquecer o interior e me certifico de ajudá-la a subir assim que chegamos. No entanto, no momento em que estou no banco do motorista, o pirulito que ela estava chupando vem voando na minha testa, me deixando quase sem tempo para esquivar. — Que porra é essa, Corujinha?! — Seu idiota! — ela grita a plenos pulmões. — Tudo que precisava fazer era perder e sua parte estaria resolvida! Raiva ruge rapidamente para fora de mim.
— Ele não estava atrás de um encontro, Poppy, ele estava na expectativa de foder! Sua mandíbula cai ligeiramente aberta. — Isso. Mesmo. Os punhos da Poppy se fecham com força em seu colo. — Você disse que queria que ele a convidasse para sair, certo? — Quando ela não responde, eu berro: — Certo?! — Certo — A natureza tímida de seu tom me diz para acalmar o meu. — Não era isso que ele estava planejando fazer se ganhasse. Ele iria te foder em vingança a mim. Te comer como se você não fosse nada mais que uma mariapatins. Iria se vangloriar de ter tirado uma vadia de mim e nem se preocuparia em lembrar seu nome enquanto fizesse isso. E você não merece essa merda. Sua cabeça se inclina ligeiramente para o lado, a suavidade retornando em um ritmo surpreendentemente rápido. Droga. Não precisava ter adicionado a última frase. Com certeza não deveria ter adicionado a última parte... ainda que tivesse sido sincero. — A propósito, você me deve um detalhamento automotivo — declaro enquanto recupero o pirulito que pousou no da porta. Sacudindo o pedaço de doce para ela, provoco: — Não é assim que eu gosto que minhas merdas fiquem pegajosas, Corujinha. Ela geme em desgosto. — Está com fome? — Minha pergunta é seguida por jogar o pirulito no lixo. — Esse é o motivo de ter jogado o pirulito em mim? O sorriso travesso que odeio e gosto aparece em seu rosto. — Talvez...
Eu ligo o carro ao mesmo tempo que sugiro: — Quer comer um cachorro-quente com pimenta antes de te deixar em casa? — Sem maionese. Meu revirar de olhos é instantâneo. — E talvez dividir de verdade os anéis de cebola desta vez — Poppy continua a criticar de brincadeira enquanto afivela o cinto de segurança. — O meu intelectual de fato entende o que significa compartilhar? Por alguma razão, o comentário dela me faz sorrir muito. É porque ela se referiu a mim como dela? Não. Não pode ser. Eu não sou, nem quero ser, porra. Seu nariz se contrai levemente. Tá, tenho certeza de que não quero ser. Por que eu iria querer? O que ela realmente tem a oferecer? Algumas risadas? Talvez me escutar de verdade quando falo sobre outras merdas além de hockey? Importar-se com quem eu realmente sou versus o rótulo com que me retrato? Permitir que ambos os lados de mim compartilhem seu amor ou atenção? Quer dizer, eu não quero mesmo essa merda... quero?
Capítulo 8
— Está indo à igreja? — Della pergunta atrás de mim na porta do meu quarto. Afastando-me do espelho cujas bordas são cobertas por ímãs de cachorro, eu a fuzilo com os olhos. — Uma festa. — Em uma igreja? — Ela deduz novamente, desta vez usando o dedo indicador para apontar para o meu traje. — É uma reunião para fazer o menino Jesus chorar? Meu queixo atinge o piso de madeira. — Talvez, um Desfile de Suéteres Feios para Louvar a Lúcifer? — Della me dá um encolher de ombros curto que joga seu cabelo colorido sobre os ombros. — Seja o que for, divirta-se, tente não voltar para casa antes dos alunos de Ensino Médio estarem saindo às escondidas, e não espere por mim. Provavelmente vou dormir na casa da Brenda. — De novo? As coisas estão ficando... sérias? — Eu cutuco com cautela. — Já são três vezes esta semana. — Por que está contando? — Por que está fugindo da pergunta? Segundo você, essa é uma técnica clássica usada para evitar ter de lidar com a culpa ou enfrentar uma verdade indesejada. Seus olhos castanhos atiram punhais segundos antes de ela abrir um sorriso largo. — Estou indo embora. — No segundo em que ela se vira, ela levanta o punho fechado no ar e entoa: — Salve Satanás. Reviro os olhos com a crítica e volto a me irar. Ela não tem ideia do que está falando. Bom, é provável que sim, porque deve ter ido a mais festas do que eu em toda a minha vida, mas desta vez ela está errada.
Este suéter é perfeito! É quente, algo que estou achando cada vez mais importante, não apenas porque as temperaturas parecem estar caindo constantemente, mas porque Ren tem o hábito de não me deixar usar meu casaco, alegando que pareço uma ameixa que já deveria ter sido colhida. O corte não é bem um cropped; no entanto, é mais alto do que um suéter normal para dar a ilusão de tal, fazendo com que o jeans de cintura alta que botei combine bem. Eu sei que listras não são para todos, independentemente se são grossas ou finas, mas parece que elas combinam comigo. Além disso, as cores não são marrons ou amarelas, o que seria um não absoluto para usar esta noite, considerando que são as cores dos Hawks e nunca se deve usar o padrão de cor de outro time na festa da vitória da sua faculdade. Imagens do momento da interceptação do Ren que salvou o jogo de hoje começam a se repetir em minha mente pela centésima vez. Vê-lo se debruçar, deslizar para o lado para impedir a tentativa inicial de gol antes de jogar rapidamente a perna esquerda para cima para parar uma segunda tacada foi como assistir ao Lago dos Cisnes de tão belo. Todos nós nos levantamos e aplaudimos quando o apito tocou logo após. Ele os impediu de criar um empate e, no processo, se tornou um campeão que agradou ao público. Ao contrário do que ele pensa, eu planejava ir aos jogos neste fim de semana de qualquer maneira. Na verdade, eu gosto de hockey. E apesar de vir de um lugar pouco saudável, não muda o fato de que fico feliz em assistir. Para algumas pessoas, é futebol. Para outros, é basquete. Para pessoas como Della, é dança com lenço interpretativa. Para mim? Para mim, é tudo relacionado ao que acontece naquele gelo. A determinação. A agressão. A dedicação. O trabalho em time. Nossa, acrescente como eles são incríveis de patins, as simulações de jogadas e as tacadas astutas, e eu estou praticamente no modo aficcionada. Ocasionalmente, arrasto Della junto com a promessa de um pretzel gigante de graça, mas na maioria das vezes vou sozinha. A verdade é que não me importo. Normalmente encontro um assento alto longe das pessoas e me perco na emoção. Quando Ren exigiu que eu estivesse lá pelas aparências, não me preocupei em mencionar que já havia planejado isso ou que meu horário de trabalho para a temporada já está programado de acordo com todos os jogos em casa ou o fato de ter ido a todos os jogos da temporada ada, mesmo quando ele não era um ponto de destaque. Havia algo tão... excepcionalmente doce na forma rude, mas carinhosa, como ele ordenou que eu mostrasse meu rosto nas arquibancadas. Era como se ele realmente quisesse que eu estivesse lá, mas
precisasse de uma desculpa para se esconder. Pensando nisso, tenho a sensação de que é isso que está acontecendo constantemente. Ele precisa de uma desculpa para fazer as coisas que ele secretamente quer. Ler, por exemplo. Parece não se importar contanto que a desculpa seja de que é para uma aula, mas trazer à tona perto de outras pessoas, ou na verdade, de qualquer pessoa que ele ache que possa usar isso contra ele, é proibido. Estranhamente, sua escolha de palavras também. Perto de seus amigos é significativamente reprimida. As duas vezes que saímos sozinhos? Surpreendentemente vasta. Os latidos de Bond me arrancam do complexo furacão Ren que estava começando a me engolfar. Minha mente faz isso toda vez que eu cometo o erro de refletir sobre ele um pouco mais. Era de se esperar que depois de todos esses anos minha mente fosse mais esperta e evitasse entrar naquele vórtice esmagador de almas... Assim como era de se esperar que eu fosse mais esperta e não acreditasse que talvez... alguma parte dele estivesse de fato interessada em alguma parte de mim. Bond late novamente e sai correndo do quarto em direção à porta da frente. Eu rapidamente sigo atrás, sem saber quem poderia ser. Não há motivo para Ren aparecer. Ele me disse para mandar uma mensagem com meu endereço, me vestir e estar pronta quando ele mandasse uma mensagem dizendo que estava aqui. Dizer que é frustrante a falta de parâmetros em seu cronograma seria um eufemismo. O jogo terminou há quase duas horas. Quem precisa de tanto tempo para se trocar para a misteriosa festa pós-jogo? A batida na minha porta não é educada nem paciente.
— Abra essa porra, Corujinha. Preciso mijar. Assim que eu abro para ele entrar, todo o ar dos meus pulmões é roubado. Puta. Merda... Acho que nunca o vi tão... gostoso. Não que seu traje pós-treino também não seja atraente. A maneira como seu moletom preto ou cinza adere aos quadris finos, mas dá forma à sua bunda redondinha, e a maneira como seu moletom se ajusta adequadamente ao corpo até que ele arranca a roupa e revela a camiseta mais justa por baixo, que às vezes é longa, às vezes é curta, é uma visão muito desejável, ainda assim, esta é mais potente. Mais dominante. Mais adequada à reputação de seu sobrenome. Sua camisa preta fina de manga comprida é a morte agarrando cada músculo que consegue capturar, enquanto sua calça preta está ocupada alongando suas pernas, garantindo que você sinta a presença poderosa de todo o seu um metro e oitenta e nove. Um relógio caro capta a luz que vem de nossa sala de estar, e imediatamente me pego querendo encontrar uma desculpa para fingir que estou checando a hora só para poder tocá-lo. Enquanto sua aparência por si só é o suficiente para me fazer gemer, o cheiro da sua colônia é quase um destruidor de boceta. Ao contrário do seu sabonete que após o treino geralmente está fraco no momento em que o vejo, o cheiro que está saindo dele atualmente possui uma fragrância forte e sensual, quase como um cheiro fresco de mar. Senhor, tenha piedade, vou ter que trocar de roupa íntima antes de partirmos. — Que. Porra. É. Essa que está vestindo? — ele rosna com desaprovação. Balançando a cabeça para me livrar da névoa em que havia me dissipado, respondo: — Jeans e suéter. Sua expressão permanece indiferente. — Eu acho bonitinho.
— Não é. — Ren declara enquanto a por mim para entrar. — Essa blusa parece o filho do amor profano entre Freddy e Jason. — Um guincho chocado mal a pelos meus lábios. — Banheiro? Depois de trancar a porta atrás de nós, aponto para a extremidade oposta do apartamento de dois quartos. — Pode usar o meu. Meu quarto fica à esquerda e o banheiro é a primeira porta à direita. Ele começa a seguir nessa direção com Bond latindo em seus calcanhares. Em vez de me perguntar sobre ele ou pedir uma apresentação ou até mesmo dar ao cachorro protetor uma saudação calorosa, ele resmunga: — Relaxa, Connery. Não estou investigando o lugar. Só preciso mijar. Um leve sorriso cruza meus lábios. Eu meio que gosto que ele soube a qual Bond fazer a referência correta. Eu meio que gosto que ele trate Bond como se não fosse a primeira vez que se encontraram. Eu meio que gosto que ele caminhe pela sala como se tivesse estado aqui mil vezes antes. E eu meio que me odeio por gostar de todas essas coisas. Os latidos implacáveis de Bond me levam a segui-los, para que eu possa acalmar os seus nervos de cão de guarda. No momento em que estou me curvando para pegá-lo na porta do banheiro onde está latindo, a calça de Ren atinge meu chão de cerâmica. — Não vai nem fechar a porta?! — Colocando Bond em meus braços, certificome de manter minhas costas viradas. — Quem não fecha a porta?! O som dele urinando começa ao mesmo tempo em que fala: — Pode fechar, se quiser. — Por que você não fecha?!
— Estou pouco me lixando se está me ouvindo mijar, Corujinha. Descrença queima minhas bochechas. — Mas é tão... pessoal. — Me ver cagar seria pessoal. Me ver mijar não é motivo para corar. Minha boca se abre, mas não sai nada. — Você nunca ouviu um cara mijar do lado de fora de uma festa? A pergunta absurda faz com que vire meu rosto para dar uma resposta sarcástica, mas rapidamente volto a cabeça na direção oposta quando percebo que ele ainda está sem calça. Eu me pergunto quantas garotas com quem ele não dormiu já viram o tamanho do seu pau... Minha cabeça balança rapidamente para banir o pensamento segundos antes de Bond resmungar em desgosto. — Não me julgue — eu sussurro asperamente para ele. Assim que o som da descarga do banheiro a, tento me virar novamente, desta vez igualmente grata e desapontada por sua calça estar de volta no lugar apropriado. — Canela é o seu lance favorito ou o quê? — Ren pergunta, inclinando o queixo em direção ao frasco de sabonete que está usando. — Eu... eu não sei. — Que porra quer dizer com não sabe? Você gosta ou não? — Claramente eu gosto se eu tenho essa merda no meu banheiro... — Faça isso — ele interrompe enquanto liga a água. — Use esse tom comigo enquanto usa a porra desse suéter horrível. — Não é tão ruim.
— Você parece o camarada da vizinhança que é fã de Homem-Aranha. — Ei! Ren puxa a toalha do e para secar as mãos. — Cadê seu armário? Não querendo itir a derrota, mas não vendo outra escolha, deixo escapar um suspiro pesado e aponto para a porta do outro lado do quarto. Ele sorri presunçosamente, joga descuidadamente o pano úmido no chão do meu banheiro e segue para seu novo destino. No momento em que abre a porta, ele embarca no que parece ser uma aventura frustrante. Bond e eu paramos na beirada do meu colchão queen-size e observamos seu processo de uma distância segura. Grunhidos, resmungos e rosnados rapidamente saem dele, e as imagens de Della esfregando pratos vêm imediatamente à mente. É assim que soa quando ela mesma tem que lavar. É um dos motivos pelos quais é fácil lembrar que ela não a muito tempo em casa. Não há gritos de guerra vindos da minha cozinha. — Mas que droga, Corujinha — ele resmunga, girando sobre os calcanhares. — Tem alguma merda que não diga “Oi, posso cuidar do seu cachorro pra você?” Horror envia minha boca ao chão, mais uma vez. Ele não consegue ouvir as coisas rudes que saem da sua boca?! — Você tem uma colega de quarto, certo? — Eu... — Ela também pertence ao Clube das Babá de Cachorro ou tem alguma merda que possa pegar emprestado?
Eu o fuzilo por seus comentários maldosos antes de responder: — Eu gosto das minhas roupas. — É óbvio pela quantidade de blusas relacionadas a cães que você tem. Acho que nem o maldito Jack Skellington possui roupas com tantos ossos. — As pessoas devem usar o que querem. Ele não parece muito entretido. — Uma pessoa deve usar o que se sente à vontade para usar. Sua expressão perdura. — O que a faz se sentir confiante. — Você horrorizaria até mesmo a maldita Patrulha Canina com as merdas no seu armário. Outro olhar reprovador dispara em sua direção. — Colega de quarto — ele enfatiza enquanto leva a conversa na direção em que quer. — Ela tem opções melhores, cacete, ou as duas são do mesmo saco de apreciadoras-de-cachorro? — É provável que ela tenha, mas não somos do mesmo tamanho. — Claro que não são — Ren murmura sob sua respiração. — Porque aí seria conveniente pra caralho. — Qual o problema com o que estou usando? — minha pergunta sai mais queixosa do que pretendia. — Tudo. — Suas mãos se enterram nos bolsos. — Corte. Cor. Padrão. Escolha um. Outro suspiro pesado e abatido escapa, só que desta vez Bond se empurra contra mim na tentativa de me confortar. Por um momento, nós três permanecemos em um silêncio desapontado.
Acho que deveria ter ouvido a Della. Talvez minha roupa não seja ideal para uma “festa”, mas, como diabos eu ia saber? Eu nunca fui a uma. Não fui a nenhuma no colégio. Não fui convidada a nenhuma na faculdade. Na maioria das vezes, quando Della quer que eu saia, tenho que abrir a loja ou tenho aula cedo. Talvez a minha escassez de idas a festas ou boates seja a razão de eu não possuir nada que seria “apropriado” para vestir em uma. — Seria melhor se eu simplesmente não fosse? — eu sugiro cautelosamente. O olhar de Ren se levanta do chão. — Dizer a eles que fiquei doente ou algo assim? Que os nachos do jogo não me fizeram bem? — Não. — Sua expressão se suaviza momentaneamente. — Quero que vá. Esperança atinge meus olhos por causa de suas palavras, o que o leva a esmagála rapidamente. — Digo, eu preciso que vá, para que toda esse... hum... caso de fisgar Byer funcione. Há uma relutância em minha resposta. — Certo... Às vezes acho que posso precisar ir a um especialista em quiropraxia devido às dores que ele provoca... ou talvez a um mago fraudulento na beira de uma estrada dourada para me libertar do feitiço que continuo a permitir que caia sobre mim. Ele me abandonou inesperadamente quando éramos crianças. Por que estou pensando que ele não fará o mesmo quando esse acordo acabar? Por que sou burra ao ponto de querer que ele não desapareça de novo? — Ache uma bota — Ren exige abruptamente. — Volto em um minuto.
— Aonde vai? Não me surpreende que ele não responda. Espero um pouco antes de solicitar mais informações. — Que cor? — Preta ou branca. Ah, isso obtém uma resposta? Pouco depois, a porta da frente se fecha e eu me levanto para executar a tarefa. Sabendo que os poucos pares que tenho provavelmente não irão servir, atravesso o corredor para o quarto de Della em busca de uma seleção mais apropriada. Manobrar pelo chão do quarto dela é como ter de cruzar um campo minado ativo, mas ter de vasculhar seu armário é algo que deveria exigir um doutorado em paleontologia ou geologia. No canto de trás do local da escavação, consigo desenterrar um par de botas brancas de couro falso até o joelho que tenho certeza de que não só cabem nas minhas pernas, como também são fáceis de andar e não me farão parecer o coitado do Bambi indo ao baile. Apenas segundos após sentar de novo na minha cama e enviar uma mensagem a ela avisando que peguei as botas emprestadas, Ren retorna com sua bolsa da academia pendurada no ombro. Ele a coloca ao meu lado, abre o zíper e rapidamente começa a procurar algo. Bond, sendo o cachorrinho curioso que é, enterra o nariz lá dentro, farejando os novos cheiros e roubando umas fungadas de outros. Nervosa, espero Ren afastá-lo ou pará-lo, mas fico aliviada quando o único indício de que está ciente da intrusão é dar uma boa coçadinha atrás das orelhas do meu cachorro. E voltamos às coisas que gosto nele. Ren triunfantemente remove uma camisa verde de manga longa de sua bolsa. — Achei. A intriga levanta minhas sobrancelhas. — Não. Deixe. Isto. Sujar. Sem comida na camisa. Sem bebidas. Sem sombra de
olho ou glitter ou a porra do brilho labial com sabor de canela. Só porque eu gosto de usar para treinar quando estou sozinho, essa porra não se torna menos valiosa, estamos entendidos? — Não estamos. — Eu balanço minha cabeça rapidamente. — Estamos confusos. Confusos pra cacete. Ele tenta não rir. — Você vai usar isto como vestido. Deve ser longa o bastante. — Não, obrigada. — Não estou perguntando, Corujinha. — Ren empurra a peça para mim. — Estou dizendo. Olha só! Mais uma vez chegamos a coisas que eu não gosto nele. — Vista. — Mas... — Agora. — Mas... — E faça algo diferente com o seu cabelo — aponta para ele. — O coque bagunçado é bonito, mas vamos dar uma variada nessa merda. Um pequeno rubor vem com o elogio que escapou. Percebendo seu erro, ele desvia sua atenção de volta para a bolsa da academia. — Vá. Sem demora, eu fico de pé e vou para o banheiro trocar de roupa atrás da porta fechada. Durante o processo, Ren decide começar um interrogatório inesperado. — Toda essa... atuação de Princesa Virgem dos Cachorros...
— Não é uma atuação. — Minha calça jeans atinge o chão ao mesmo tempo que o arrependimento pela confissão me atinge. — Digo... — Poppy, é evidente que você é virgem — ele afirma com tanta naturalidade que quase dói. — A questão é que preciso que pegue leve com essa merda. Eu arranco o suéter de uma só vez. — O que quer dizer com “pegue leve”? Como é que se “pega pesado”?! — Você cora pra caralho toda vez que eu digo a palavra foder no sentido literal. — Não é... verdade... — Você está corando agora. Eu lanço um olhar feio para a porta. Ele agora tem visão de raio-x? — Você fica vermelha quando um boquete é mencionado. Outra onda de calor atinge minhas bochechas enquanto eu puxo a camisa sobre a minha cabeça. — Você quer que Byer acredite na inocência e na pureza e se convença de que deve ser ele a conduzi-la no caminho da tentação — Ren explica, a voz se aproximando —, mas você não quer que Byer acredite que está tão intocada que é virgem. Pego um laço de cabelo enquanto continuo a ouvir a palestra ridícula. — Caras como ele gostam da glória dessa merda. A glória de pegar a garota de outro cara. A glória de foder melhor. Ele poderia? Ele poderia foder melhor do que acredito que Ren poderia? Mais cor se espalha pelo meu rosto e instantaneamente faço uma carranca para mim mesma.
Não devo corar! Além disso, não deveria querer que Ren fizesse todas as coisas que está dizendo que Byer fará comigo. Sabe, se eu realmente deixasse. O que eu não vou. Tenho dificuldade até em considerar qualquer coisa além de um jantar em um restaurante cinco estrelas chique. — Por que você está... falando sobre sexo? — A pergunta sai mais instável do que o pretendido. — Tudo que quero é um encontro. — Sim, e às vezes basta um encontro para acabar trepando. Ele não está... errado... embora para mim, pessoalmente, ele esteja. — Além disso, assim que conseguir o seu encontro combinado, você provavelmente vai querer outro. Meus dedos ajustam os prendedores de cabelo enfiados atrás da orelha para equilibrar o meu rabo de cavalo baixo. — E, mais importante, para conseguir esse primeiro encontro, temos que macular essa sua pose de santinha. Fechar as botas de Della acaba sendo a parte mais difícil desta operação. — Não estou dizendo que deveria chupar dezoito caras para ter alguma experiência, mas ser mais convincente ao fingir que as merdas que ouve são merdas que já fez. Abro a porta do banheiro e o vejo encostado no batente. Por uma fração de segundo, ele parece atordoado. — E aí? Seus olhos descem em cascata pela frente da sua camisa 01 verde, acariciando
meu peito de uma forma que me encontro desejando que suas mãos fizessem. Ele permite que caiam lentamente até onde o material termina no meio da coxa antes de silenciosamente gemer para as botas que completam o conjunto. Quando seu olhar retorna para o meu, ele deixa as pontas dos dedos tocarem a ponta dos meus cachos. — Perfeita. Talvez seja a sinceridade em sua voz... ou o fato de ele não estar se afastando rapidamente de sua réplica genuína que faz com que excitação domine minha expressão. De qualquer forma, deixo resplandecer intensamente. — Só uma pergunta sobre toda essa merda de virgem. — Seu volume abaixa um pouco. — Em que categoria você está? Confusão envolve meu olhar. — Categoria? — Sim. Já foi sondada pelos profissionais ou está mais para nunca apareceu para os testes do time? A analogia com os esportes é impressionante, além de exasperante. — Por que isso soa como se eu curtisse orgias? — Pelo menos você sabe o que são — ele brinca com uma risada —, mas o rubor que está tentando combater diz que provavelmente nunca assistiu pornô. — Já assisti pornô. — Já, Corujinha? — Outra risada salta em seu peito. — Foi algo com um enredo longo, chato e mal escrito, mas com apenas cinco minutos de foda de verdade? — Não... — Até parece — Ren rapidamente descarta. — Diga que pelo menos foi beijada. — Claro que fui.
Sua cabeça se inclina de forma suspeita para o lado, que é quando eu percebo que meu nariz deve ter se contraído inconscientemente. Filho da puta! Meu próprio corpo está tentando me entregar! — Sem ser jogando verdade ou desafio ou gira a garrafa de tequila? — Gira a garrafa de tequila? Quem joga aquele jogo com... O final da frase é roubado pela língua do Ren tocando a minha. Oprimida pela sensação tanto quanto pela subitaneidade, faço a única coisa possível. Eu me rendo completamente. Meus dedos agarram a borda de sua camisa precisando de toda a estabilidade que eu possa encontrar já que a minha foi abruptamente arrebatada. Os movimentos ásperos e irregulares de sua língua refletem a crueza de suas palavras. Assim como não faz rodeios quando fala, ele não amortece as carícias que dá. Elas são afiadas e selvagens. Fortes e sem vergonha. Ele invade o beijo, reivindicando os sabores tênues de Red Hots e marcando o território como se planejasse viver aqui para sempre, em vez de apenas por um momento. Deus, espero como nunca que não seja só por um momento. Não há nenhum aviso antes do nosso beijo parar. Em um segundo estou gemendo com as leves mordidas no meu lábio superior, e no seguinte, estou ofegando por ar. Com os olhos semicerrados, consigo distinguir seu telefone sendo pressionado contra o ouvido. — O quê? Minha visão embaçada luta para se ajustar, no entanto, esse é apenas um problema entre muitos. Remington Ronald Rutledge, Terceiro, acabou de roubar meu primeiro beijo. E como tudo o mais que ele faz, ele o fez sem remorso. Deveria estar com raiva?
Chateada? Gritando a plenos pulmões que ele não tinha o direito de fazer o que acabou de fazer? Meu olhar consegue capturar o seu momentaneamente, e o ar que acabei de reunir é roubado mais uma vez. Ou ele simplesmente fez a única coisa que ei uma boa parte da minha vida esperando que fizesse? Depois de pegar meu telefone, garantido que Bond tivesse água suficiente e discutido sobre qual casaco eu posso usar, pegamos o SUV de Ren para The Village. Na viagem, ele me explica verbalmente sobre seu time principal: Stratton, Peck, Gillette e Rhinehart, certificando-se de me dar os detalhes básicos de cada um. Kehlani sussurra ao fundo através dos alto-falantes, e eu uso cada grama de força de vontade que tenho para não perguntar se a mudança na música é para mim. Aprendi isso sobre Ren. Ele não se sai bem quando é elogiado por ser doce, atencioso ou gentil. Me faz pensar por que isso acontece. Me faz desejar que ele me permitisse elogiá-lo mais. Todos poderiam se beneficiar com um pouco mais disso em suas vidas, e é uma coisa fácil de dar. The Village, que é uma grande extensão de propriedade privada que abriga apartamentos apenas para atletas da Vlasta, é ainda mais hipnotizante de perto do que da grande janela de vidro dentro da Venom. Embora seja, tecnicamente, separado por esporte com uma enorme academia compartilhada localizada no centro, Ren me informa que geralmente todos festejam juntos, principalmente quando ganhamos um jogo, porque uma vitória da Vlasta é uma vitória de todos. Encontramos vaga para estacionar perto dos condomínios onde a festa está sendo realizada e seguimos lado a lado. Entre as temperaturas frias e a falta de barreira para me manter protegida delas, estou uma bola de calafrios a um metro do SUV
dele. Ren liga o alarme com suas chaves e as enfia no bolso. — Você está sendo dramática. — Eu. Não. Estou — eu respondo com os dentes batendo. — Corujinha, se quer que eu envolva meu braço em volta de você, é só dizer. — A declaração presunçosa é prontamente procedida por ele fazendo exatamente isso. Tudo dentro de mim quer gritar com ele para parar de ser arrogante e tão convencido; entretanto, o calor que seu grande corpo fornece cancela todos esses instintos para me aninhar no calor. Foda-se. Se ele quer pensar que tudo isso tem a ver com a necessidade de uma desculpa para me aproximar dele, então, que seja. Este é um momento do tipo “perder a batalha, vencer a guerra” para mim. Seus dedos flexionam com força contra o meu lado e eu pressiono meus lábios para parar de gemer. Tá. Eu preciso seriamente ser mais convincente. À parte a dureza de sua repreensão anterior, eu preciso mesmo me esforçar para ser um pouco mais confiante e menos arisca a respeito de certos assuntos. Não é como se eu não soubesse o que é sexo ou como funciona o sexo ou não quisesse sexo, é só que não é um tópico de conversa que estou acostumada a ouvir ou participar constantemente. A maior parte das coisas que estou preparada para discutir é sobre cães ou estudos com animais ou, ocasionalmente, um programa que não está no Animal Planet, mas isso é tudo, a menos que você inclua o hockey, embora a maioria das pessoas que eu encontro odeie o esporte. Algo sobre sua natureza bárbara e que celebra a masculinidade tóxica. Urgh... Esses também não são temas de discussão casuais. A única pessoa na minha vida que
traz à tona o tema sexo, além de Ren, é Della, e ela é mais como ouvir um audiolivro com a intenção de te empoderar, mas que faz você se sentir inadequada. Afinal, tenho vinte anos e acabei de dar meu primeiro beijo de verdade. Dá para ficar mais constrangedor que isso? Ren aperta o botão externo para entrar. Uma voz grave e profunda ladra em resposta. — Nome? — Rutledge. Há uma curta pausa seguida por um zumbido que indica que nossa entrada foi concedida. No caminho para dentro, Ren murmura baixinho: — Aja como se já tivesse estado aqui antes. Eu me preparo para perguntar por que quando pisamos no saguão do prédio de luxo. Meu queixo cai sem pensar enquanto minha cabeça gira lentamente em um círculo, observando os detalhes caros que mal posso acreditar que estou vendo. O lustre de cristal no meio da sala dá a ilusão de que está chovendo diamantes, enquanto o tapete de pele branca por baixo te desafia a sequer pensar em sujá-lo. Espreguiçadeiras de couro branco se alinham nas paredes sob peças de arte eróticas incomuns. Tenho que lutar mentalmente para não falar nada sobre o retrato, pelo que presumo que sejam suas posições, que parece o rosto de uma mulher com esperma espalhado por toda parte. Será que eu simplesmente não entendo arte? Ren desvia minha atenção de onde estou de boca aberta para a porta excessivamente polida do elevador. — Desta vez, a merda vai ser um pouco diferente. Eu levanto meu olhar para encontrar o dele.
— Você vai ter que falar com as pessoas, porra. — Nós entramos. — Faça com que pareça que você pertence a essa merda. — Ele aperta o botão para o subsolo. — Beba. Dance. Flerte. Suas divagações fazem meu estômago revirar. — Ontem foi como uma merda de clube da liga infantil. — Nossa jornada para baixo chega a uma parada suave. — Hoje é a merda grande. A chave do sucesso é a confiança. Minha mão segura minha boca nervosamente enquanto murmuro: — Acho que vou vomitar. — Essa é a porra do oposto de confiante, Corujinha — ele resmunga enquanto nos guia para longe do elevador no novo andar. — O que é que espera? — eu sibilo. — Quando fico muito nervosa, meu estômago não aguenta e tenho que vomitar. Sou assim desde os dez anos de idade e tive que fazer minha primeira apresentação oral sobre o livro infantil que achava que toda criança deveria ler antes do Ensino Médio. — Eu me lembro desse projeto. — Ele dá uma parada imprevisível do lado de fora da porta. — Eu escolhi Ah, Os Lugares Aonde Você Irá. O dez mais fácil que eu já consegui. — Pois é, o nove mais difícil que já ganhei. — Que livro você escolheu? — A Caixa de Lápis Que Falava... — Boa escolha. — Foi uma ótima escolha! — eu chio. — O problema não era o livro, era a parte em que eu tinha que ler a maldita coisa em voz alta e explicar por que não tem problema todos serem únicos. Me lembro de correr para o banheiro antes de ler e vomitar na frente da turma inteira no meio do banheiro. Ren faz uma careta.
— E não tive permissão para trocar de escola porque era bolsa de estudo, devido a minha família fazer o paisagismo da escola, assim como a da casa do diretor. Sua boca se abre; no entanto, não sai simpatia como eu esperava. — Você tem que aprender a engolir essa merda, Corujinha. — Que nojo! — Assim como vomitar toda vez que a vida exige que saia da sua zona de conforto. — A vida não está exigindo isso neste momento. Você está! — Idiotas como eu fazem parte da vida, Corujinha. Acostume-se conosco porque não vamos a lugar nenhum. — Seu braço cai da minha cintura para permitir que sua mão agarre a maçaneta de metal. — E não pode se esconder em seu apartamento com seu cachorrinho ou no abrigo com um bando de outros cachorros para sempre. — Mas... — Respire fundo — ele ordena enquanto abre a porta. — Mas... — Estou no seu time — Ren gentilmente lembra, me conduzindo para dentro. — e o disco quando você precisar. Nossos olhos se prendem momentaneamente, e a bile que estava começando a borbulhar incontrolavelmente parece parar. Se foi o humor dele usando uma analogia com o hockey ou simplesmente saber que não tenho que me sentir tão sozinha o tempo todo, não importa. Respiro fundo, tiro uma mecha de cabelo solta dos óculos e entro na festa barulhenta com o máximo de confiança que consigo reunir. Não é muito... mas é melhor do que nada. Ren retorna seu braço ao meu corpo, desta vez colocando-o possessivamente sobre meu ombro. Batidas altas familiares soam pelos alto-falantes, e no canto
de trás vejo o que parece ser um DJ de verdade tocando. Como se pudesse ler minha mente, meu encontro informa: — Ele é um nome promissor nos clubes, mas na verdade começou aqui, nas festas do campus. Seu irmão mais novo joga basquete e aluga permanentemente este espaço para as festas de sábado à noite. Como se fosse a porra do nosso próprio santuário. As regras são simples. Sem fotos. Sem vídeos. Nenhuma prova de que estamos fazendo nenhuma dessas merdas. — Tá, Clube da Luta. — Chuck Palahnuik é na verdade um escritor e tanto, mas gosto do final do filme mais do que do livro. Sua confissão inesperada me fez levantar um dedo ansiosamente para pausar a conversa e fazer um milhão de perguntas pessoais. — O objetivo dessas festas é permitir que nós, atletas, tenhamos um refúgio. — Viramos para a esquerda em direção às mesas onde as pessoas estão jogando de tudo, desde strip poker até beer pong. — Nossas diretrizes de conduta são muito rígidas e se formos pegos as quebrando, podemos perder tudo, mas, ao mesmo tempo, se não encontrarmos uma saída para extravasar, a mesma merda ainda pode acontecer. — Todo mundo precisa de uma maneira de relaxar. — Exatamente. E esta é a nossa. Meus lábios começam a se mover para pedir a continuação das informações. — Agora, se alguma merda acontecer que não deveria acontecer — ele praticamente rosna —, essa merda deve ser relatada. Venha até mim, e eu irei garantir que seja tratado adequadamente. A promessa sinistra de fato inspira conforto. — Fora isso — Ren casualmente encolhe os ombros —, tente se divertir. Ou, pelo menos, finja estar. Eu aceno minha compreensão e observo os arredores em que me colocaram.
Algumas das mesas contêm garotas de topless, rindo e saltitando de um lado para o outro por causa de suas vitórias e derrotas, enquanto outras têm tanto dinheiro que quase desejo ser uma criminosa. Quem precisa roubar um banco quando poderia simplesmente vir afanar essas coisas? O ressentimento imediatamente toma conta do meu organismo. Meus pais trabalharam até seus dedos sangrarem e sua filha enfrentou problemas de abandono para ganhar o tipo de dinheiro que essas pessoas estão jogando tão descuidadamente. Não entendem que não é de brinquedo? Que aqueles pedacinhos de papel que estão literalmente jogando e usando para cheirar coisas pelo nariz têm valor real? Ren me aproxima dele quando nos aproximamos de uma mesa localizada ao lado de um bar improvisado, e eu tento sufocar meu ódio. Por que estou aqui? Por que eu quero ser aceita por essas pessoas? — Melhor Jogador! — Rhinehart cumprimenta entusiasticamente da mesa. Ren ri levemente e a resposta à minha pergunta é óbvia. Não é a aprovação dessas pessoas que eu quero. Nunca foi a dessas pessoas. Sempre foi só a de uma. — Sim — Stacy, cujos dentes estão sempre amarelos, rapidamente concorda. — A defesa daquela tacada, cara! — Podemos dizer que foi digna da NHL? — Rhinehart, ou como eu o chamo na minha cabeça, Sr. Alto, Sombrio e Pensativo, ri. — Sério, foi uma defesa muito boa, Rutledge — acrescenta uma loira delicada de topless na mesa. — Sério, sério, sério.
— Sério? — eu zombo em voz alta. O desabafo recebe uma rodada de risadas de todos os outros do grupo, incluindo as outras quatro garotas. O polegar dele me dá uma carícia surpreendentemente reconfortante ao mesmo tempo que ele pergunta: — Estão jogando o quê? — Alto ou Baixo — Billingsley responde ao lado de Byer, que ainda não disse uma palavra. — Quer entrar? Ren não hesita em balançar a cabeça. — Não. — Não quer arriscar ficar no banco de novo? — Byer decide provocar entre os goles de sua cerveja. De repente, todo o corpo dele está tenso contra o meu, como se estivesse em guerra consigo mesmo. Provavelmente não seria inteligente da parte dele dar um soco nos primeiros cinco minutos em que estamos aqui. Eu decido mais uma vez ir com a minha reação instintiva em vez de analisar demais a minha decisão. Uma mão suavemente pousa em seu peito duro, e eu me encontro imediatamente lamentando a ação que estou fazendo devido a quão difícil é não gemer agora que posso sentir o quão firme ele realmente é. — Gosto que esteja colocando seu time em primeiro lugar, fofinho. O olhar de Ren imediatamente cai sobre mim, o espanto claro como o dia. O quê?! Estou tentando aqui! Ele se ofereceu para ser um bom colega de time para mim... O mínimo que posso fazer é ser uma boa para ele. Leva um momento para a surpresa em seu olhar diminuir, mas quando diminui, é
substituída por gratidão genuína. Ren me dá uma piscadela antes de balançar o rosto de volta para Byer. — Só estou lidando com as minhas merdas como um titular em vez de um otário do banco, Tortinho. Byer mostra os dentes, e Stacy rapidamente entra para interver. — Rhinehart, distribua. Eve, pegue uma garrafa nova. — A loira de topless se afasta para fazer o que foi dito, e é quando o olhar castanho dele cai sobre mim. — Você quer jogar? — Eu... não sei o que vocês estão jogando. — Alto ou Baixo — afirma Rhinehart enquanto distribui uma carta para todos. — O jogo de bebida mais fácil que existe — anuncia uma morena à mesa. — Todo mundo pega uma carta — Stacy começa a explicar. — Uma vez que todo mundo tem uma, todos tem que virar. A pessoa com a carta mais baixa tem que beber, assim como a pessoa com a mais alta. — Você basicamente quer ficar no meio — acrescenta Billingsley. — Muito fácil — declara a ruiva à mesa com entusiasmo. — Você devia jogar — Byer sugere de uma maneira um pouco lenta. — Não me importaria de olhar para um rosto bonito e novo. Um rosnado inconfundível é emitido por Ren. Esse som é de encenação ou ele está mesmo com ciúmes? — Jogue — Rhinehart encoraja, lançando uma carta na minha direção. — Você pode gostar. Eu cautelosamente pego o objeto segundos antes da loira se atirar na cadeira de novo. — Pronto!
— Virem — Rhinehart casualmente exige. No momento em que minha carta é revelada eu percebo que as chances não estão a meu favor. Uma rainha vermelha de ouros sorri para mim, e não consigo evitar encarar de volta. Vadia presunçosa. — Uhhh — Stacy faz careta na minha direção. — Carta mais alta da mesa. Que azar, Pele. — Poppy — Ren corrige firmemente. Stacy e Ren trocam um olhar silencioso e significativo para o qual Stacy acena seu entendimento. — Poppy. — Por que você liga para qual é o nome dela? — resmunga a ruiva perto de Billingsley. — Porque ela é mais do que um lugar para enterrar minhas bolas entre os jogos. — A resposta insensível de Ren me enche de felicidade e ansiedade. Essa provavelmente foi apenas uma deixa para manter as aparências. Uma bem meiga... Bom, meiga para um homem das cavernas e babaca alfa por natureza. — Parece que somos eu e você, Poppy — Byer cantarola de uma maneira que obviamente incomoda Ren. Ele enche dois shots e empurra um na minha direção. Quando eu cuidadosamente levanto o meu, ele diz: — De uma vez. Juntos, viramos os shots. Sensações desagradáveis de ardor abrem caminho goela abaixo, e eu mal consigo impedir minha ânsia de vômito. Aimeudeus... Qual o problema dessas pessoas?!
Por que bebem isso por diversão?! Por que não simplesmente bebem uma garrafa de champanhe Bubble Bath? Tenho certeza que seria mais suave. Byer abandona seu copo sobre a mesa, os olhos ainda em mim. — Quer mais uma rodada? Não. Não. Todos os “não” e depois um pouco de “porra, não” também. — Onde está Stratton? — Ren felizmente intervém para que eu não tenha que responder. — Pista — Rhinehart retruca enquanto recolhe as cartas. — Boa ideia — meu encontro declara. — Nos vemos mais tarde. Byer se inclina para trás em sua cadeira em derrota silenciosa, mas mantém seu olhar plantado no meu. Ao contrário dos olhos de Ren, que são verdes e sempre brilhantes, os seus são cinzentos e quase tempestuosos. A mistura de ódio e vingança que persiste em seu olhar me assusta um pouco. Claro, inicialmente eu queria provar algo para Ren enquanto dava um pequeno golpe em seu ego, mas machucá-lo de verdade nunca foi, e não tem sido, minha intenção. Queria que ele percebesse que não pode ar por cima de mim como faz com todo mundo. Queria que ele entendesse que teria que fazer algo que não quisesse como pagamento por me levar a fazer algo que eu não queria fazer. Eu queria que ele... se lembrasse que os desejos e os sentimentos dos outros importam. Ajudá-lo a encontrar sua compaixão era o meu plano. Não uma retaliação cruel. Será que quero mesmo ser um peão no que quer que Byer claramente planejou
para machucar Ren? Posso... cancelar tudo isso no final da noite? Dizer a ele que vou continuar falsificando a papelada dele, se ele continuar... me trazendo o jantar ou algo assim? Eu o sigo para fora da sala e volto para aquela onde o DJ estava tocando. Quase instantaneamente, como se uma espécie de Bat-Sinal idiota tivesse aparecido no céu, Stratton e Gillette levantam as mãos para ele de uma forma acolhedora. Ren os dá um aceno e agarra as pontas dos meus dedos antes que eu possa correr para longe. Insensivelmente, ele me arrasta para o que é, obviamente, um ensaio para algum vídeo de rap muito atlético e excessivamente sexual ou audições vestidas para acrobatas do circo do sexo. Urgh. Isso realmente existe? Ren toma uma posição do outro lado de Stratton que é naturalmente tão bonito que parece que nasceu com um filtro de foto permanente instalado nele, e sorri amplamente para mim. Talvez eu possa terminar esta noite vendo se ele conseguiria bloquear a tacada que eu quero dar nas bolas dele. A mão dele sai da minha e faz um movimento encorajador. Eu recuso com um balanço instantâneo de cabeça. Ren move seu corpo conforme a batida ao mesmo tempo que se inclina mais perto para declarar: — Você bebeu. Agora dança. — Eu... Seu dedo levanta no ar para me silenciar antes de apontar na direção do DJ como um agradecimento por mudar a música. Ai, Deus...
Ai, meu Senhor... Esta é uma cena exata dos meus pesadelos. Cena por cena. A única coisa que falta é vestir uma roupa ridícula nada a ver. Ah, não, espere, isso está acontecendo também. Novos níveis de ansiedade começam a tecer cada fibra do meu ser, mas Ren não recua de sua exigência. Em vez disso, ele faz algo muito pior. Ele amplifica minha ansiedade sincronizando para movimentos básicos de dança que alguns dos outros caras na pista estão fazendo com a música. Sim. Ou estou no meu próprio pesadelo ou fui sugada para um filme original da Netflix porque esse deve ser o único lugar onde qualquer tipo de dança coreografada acontece. Seus movimentos consistem basicamente em um balanço viril no ritmo e movimentos de mão que correspondem com as palavras, enquanto todas as mulheres na área ao redor parecem estar executando ações semelhantes em uma variedade de rebolado conforme a música dita. Ren usa os olhos para indicar para fazer o que elas estão fazendo, e eu silenciosamente imploro por uma alternativa. Talvez mais jogos de bebida? Acho que ficaria mais confortável bebendo aquele líquido que mais parece veneno de rato do que ar vergonha balançando o traseiro. A garota mais próxima de mim inesperadamente encontra meu olhar fazendo com que o cabelo na parte de trás do meu pescoço fique em pé. O pânico instantaneamente se empala na boca do meu estômago, mas é prontamente substituído por surpresa quando ela balança a cabeça junto em um esforço para me ajudar a encontrar o ritmo.
Essa não é exatamente a parte com a qual tenho problemas. Ela espera até voltarmos ao refrão para me mostrar os os básicos que todo mundo está fazendo. Apesar da angústia imediata que eu estava exibindo, acontece que não é tão difícil. Tudo o que sou obrigada a fazer é balançar meu traseiro na direção dele. Até o ponto que eu bem decidir. A garota ao meu lado que está com uma blusa cropped arrastão decide mal remexer sua bunda coberta por jeans apertado enquanto outra do meu outro lado agarra seus tornozelos e faz seu traseiro com short dourado reluzente falar como se fosse uma língua estrangeira que todos nós falamos. Não tenho certeza se eu falo. Mas sei que Ren fala. Olho por cima do meu ombro esperando vê-lo a observando e acabo o vendo esperando que eu me junte a ele. Estranhamente tocada por ainda ter a atenção dele, apesar de todos os traseiros, aprisiono minha ansiedade em uma caixinha e a enterro no fundo da minha alma. A música exige remexer o traseiro mais uma vez, e desta vez eu me entrego. Ren sorri com orgulho pela minha rebolada. Acena sua aprovação. Incentiva-me a continuar com uma piscadinha. A garota da blusa arrastão dá risadinhas e me dá um “toca aqui!” para me animar mais. Para meu azar, parte da melodia de um rap feminino começa e tudo muda. Todas as garotas começam a desfilar pelo espaço como se tivessem personificado a própria artista. Algumas ficam um pouco mais obscenas rolando seus corpos até o chão para abrir as pernas e simular sexo na pista. Outras dançam normal, mas sensualmente e fazem truques com seus troncos. Completamente sem ideia do que fazer, lanço para o meu encontro outro olhar inquisitivo. Outra vez, seus olhos apontam para as outras mulheres, indicando para imitá-las. Fácil para ele dizer. É bem minimalista a forma como os caras dançam em vídeos que não sejam do Chris Brown ou do Ne-Yo. Grata por pelo menos ser familiarizada com a música bem como com a batida simples, junto-me às meninas na festa feminina, articulando as palavras e jogando meu cabelo dos meus ombros. O refrão retorna bem rapidamente, o que leva os caras a engatarem seus pequenos movimentos, mais uma vez. Nós nos dirigimos para perto deles, nos movendo para estarmos no lugar para balançar o
traseiro no verso certo, e para minha grande surpresa, eu acabo gostando. Abandonar minha natureza tímida fica cada vez mais fácil a cada batida que a. Há algo no ritmo da canção, na camaradagem das garotas que eu não esperava, e na confiança que eu estou começando a sentir que é bem intoxicante. Ou talvez seja aquele único shot de veneno que chamaram de vodca. Não dá para ficar bêbada com um único shot... dá? O DJ emenda uma música na outra com perfeição, essa apresentando uma batida mais tranquila, embora ainda com um padrão previsível fácil de seguir. Com a música, Ren agarra minha mão e me gira para ficar de frente para ele. Ele mantém sua mão na minha, as levanta no ar, e gira seu quadril em um círculo, gesticulando sua cabeça para que o acompanhe. Eu descaradamente observo nossos corpos esbarrarem um no outro para corresponder à cadência. Um sorrisinho satisfeito desliza pelo meu rosto e parece que o incita a apertar a mão na minha com mais força. Ren canta, muda ligeiramente seus movimentos com as menores alterações na canção e continua a criar mais perguntas impróprias. É verdade que a forma como um cara se move ao dançar simula o que fazem durante o sexo? Dançar é mesmo parecido com o sexo, só que com roupas? Essa merda é um tipo de preliminar? A inundação de pensamentos queima minhas bochechas as deixando bem vermelhas, e Ren nem tenta esconder sua risada. Babaca. Sempre um babaca. Quando a música troca uma terceira vez para algo bem mais lento, fico esperando que a dança mude para algo mais no estilo Ensino Médio com minhas mãos bem posicionadas perto ou nos seus ombros e as dele logo acima do meu quadril; no entanto, em vez disso, ele nos reposiciona de modo que sua perna esteja encaixada entre minhas coxas, suas mãos na parte inferior do meu quadril quase agarrando meu traseiro, e sua estatura se curva para a frente para que
nossos rostos fiquem mais perto. Em reação à posição ainda mais íntima, meus dedos se fixam em seu suéter e apertam firme. O como entorpecido é estranhamente sedutor ao ponto de quase ser hipnótico. Minha testa recai sobre seu peito enquanto minha parte inferior repetidamente se escova contra seu joelho rígido. Inicialmente fico intimidada com as fricções eróticas, mesmo assim me vejo ansiosa para senti-las cada vez mais. Cedendo à tentação, eu aperto minhas coxas e roço ativamente nelas. As carícias no meu clitóris em conjunto com o atrito extra do tecido do meu fio dental criam um fluxo constante de umidade. Pequenos gemidos começam a sair de mim ao mesmo tempo que minhas unhas tentam cavar além do material do suéter dele para sua pele. Ren me prende a ele mais firmemente. Desliza suas mãos para mais baixo. Flexiona os dedos. Gentilmente me puxa para os movimentos até que o gemido pesado se transpõe em ofegante. Tudo o que é externo a nós começa a desaparecer. As batidas da música mal podem ser ouvidas acima da minha própria respiração. Cheiros avassaladores de charutos e maconha dissipam-se ao ponto em que tudo que consigo sentir é o cheiro familiar de mar. A iluminação um pouco fraca se entorpece para o que parece mera cintilação de uma chama. Tudo o que resta sou eu e Ren. Nossas esfregações indecentes. Nossa conexão lasciva. Nossas curiosidades carnais. As carícias leves e sensuais no meu clitóris são diabolicamente combinadas com impulsos mais fortes, e umidade começa a encharcar minha calcinha. Apesar de saber que devo parar, não paro. Não consigo. Só consigo cavalgar desesperadamente e saborear as deliciosas sensações. O suor começa a formar gotas no meu pescoço como um aviso antes que o impensável aconteça. Mas é tarde demais. Fui longe demais. É tão bom. Tão bom.
É como nada que já tenha experimentado anteriormente e algo que quero ir ao encontro por toda a vida. Os dedos de Ren conseguem alcançar a pele delicada bem debaixo da borda da camisa ligeiramente amontoada, e eu sou enviada em uma espiral sem controle. Exalações afiadas e curtas são expelidas contra seu peito enquanto minha boceta de repente começa a pulsar rapidamente. Arrepios se estendem pela minha pele da cabeça ao dedo do pé enquanto o fluido espesso sem qualquer pudor sela nós dois juntos. As sensações são tão chocantemente satisfatórias que só o que me importa é navegar com elas até que me levem para fora do barco. Vários segundos se am antes de eu ser trazida de volta à realidade onde percebo que ainda estamos dançando e que eu deveria ser grata pelo como lento não ter mudado, apesar de a música ter. A humilhação, por outro lado, se estabelece instantaneamente. Ah, não. Pelo amor de Deus, diga que isso não aconteceu. Diga que foi tudo uma ilusão induzida pelo álcool! De repente, a voz do Ren aparece calmamente ao lado do meu ouvido: — Corujinha... você acabou de gozar? Meu nariz se contrai contra seu peito o fazendo rir arrogantemente. Sim. Vou ter que trocar de faculdade ou transferir completamente para o programa online. Esse é o único jeito de sobreviver a este nível de vergonha. — Da próxima vez é melhor essa merda acontecer nos meus dedos ou no meu pau. A declaração firme envia meu olhar para cima para me conectar com o dele. — Entendido?
A impaciência floresce instantaneamente em seus olhos quando ele não recebe imediatamente uma resposta. Como se estivesse sendo controlada por algum mestre das marionetes no céu, forço minha cabeça a acenar que eu entendo o que ele está dizendo, mesmo que não esteja completamente certa de que entendo. Porque, se eu tiver entendido, significaria que Ren realmente me quer como eu o quero também. Como eu sempre quis que ele quisesse. Como eu acreditava que ele nunca iria querer. E isso seria loucura. Pura maluquice. A nerd cheia de ansiedade finalmente atrai o gostosão do hockey? É, duvido. Ren deixa o canto do lábio momentaneamente se levantar antes de atacar meus lábios do mesmo jeito que fez no início da noite. No entanto, desta vez, eu reivindico também. A cada pressão da minha língua, eu prontamente professo todos os meus sentimentos. Finalmente paro de fingir que minhas fantasias não começam e terminam com ele. Ele cordialmente geme com os movimentos confiantes antes de aumentar agressivamente nossa velocidade. Seu domínio se torna mais possessivo do que nunca, e eu me encontro corajosamente imitando a ação enquanto secretamente espero que o que ele disse aos seus amigos seja verdade. Quero ser mais do que alguém com quem ele brinca entre as partidas. Quero ser mais do que apenas mais um rosto que ele esquece. Quero ser mais do que a garota que ele vai atrás só para que seu rival não possa tê-la. Só rezo para que eu consiga ser.
Capítulo 9
— Mais rápido, Brown! — o treinador Stiles reclama de onde está andando do lado de fora da pista. — Não há motivo para Peck estar dando a volta mais rápido! Você é o maldito capitão! Peck não engoliu três garrafas de tequila na noite de sábado e ou o dia todo lidando com uma ressaca. Ele voltou para a cidade depois do nosso jogo fora, foi para casa, apagou por volta das onze e estava na academia às cinco da manhã – o mesmo de sempre. De todos nós, ele tende a levar um estilo de vida de santo. É, essa merda compensa. Como agora, por exemplo, quando ele está envergonhando nosso atual capitão. Se Stiles não nomear Peck capitão no próximo ano ou, pelo menos, capitão alternativo, aí, terei certeza de que ele está louco. Um forte sopro de seu apito é dado. — Atacantes fora! — Assim que eles vazam, o treinador sopra o objeto duas vezes. — Defesas dentro. O grupo começa sua rodada de voltas pela lateral da pista, mostrando facilmente quem sempre atinge o gelo primeiro e quem se senta no banco como deveria. Stiles fica de olho no relógio enquanto eu fico de olho nele. Obviamente, somos os próximos. Somos os únicos que restam agora. E, uma vez que há apenas dois de nós, ele vai descer o cacete em quem for mais lento. Com certeza não serei eu. — Boa melhora, Rhinehart — o treinador reconhece, o apito rastejando para seus lábios. — Muito boa. — O som que esperávamos soa, seguido pelas
palavras: — Defesas fora. Byer e eu esperamos impacientemente o sinal ser dado. Há uma pausa inesperada antes dele desferir os dois sopros. Desde o minuto em que entramos na competição de velocidade, estou na frente. Sou naturalmente um patinador melhor sabendo da importância do joelho dobrado. De como conseguir uma boa distância entre cada impulso nos meus patins. Eu fico em sincronia com cada parte do meu corpo para me livrar das algemas que geralmente impedem os jogadores de correr riscos que valem a pena e entender os ângulos agudos aos quais isso pode ou não dar certo. Meu coração bate profusamente no meu peito, como uma audiência batendo os pés para torcer por mim. Não importa que meus pulmões estejam começando a queimar querendo o alívio que Stiles raramente permite ou o fato de minhas pernas ainda estarem um pouco doloridas por salvar o time neste fim de semana quando Byer nos decepcionou. Eu continuo a me esforçar o máximo que posso pelo tempo que posso, porque é isso que significa estar em um time. Além disso, é assim que você os torna dependentes de você. Ser um Melhor Jogador vem de merdas como deixar de ir a festas para ter um desempenho melhor ou, no meu caso, jogar com dor para impedir que mais pontos sejam marcados. Quatro sopros agudos atacam nossos ouvidos, e nossos corpos param por completo. O treinador acena em aprovação e faz um movimento de tornado com a mão. — Já chega por hoje. Há vários gemidos de gratidão vindos de mim e dos meus colegas de time. Tenho certeza de que ele nos pressionou bastante devido ao fato de mal termos vencido este fim de semana contra Greydale. Eles não foram lá muito difíceis, e nós fomos um pouco desleixados. Não queria itir, mas acho que alguns dos jogadores veteranos estão dando deslizes. Talvez eles não estejam nem aí, já que é a última temporada deles, ou talvez subestimaram o quão diferente a temporada seria com Stiles, como eu subestimei. Seja qual for o caso, eles
precisam pôr a cabeça no lugar. Quero uma temporada impecável como a que tivemos quando substituí Byer no ano ado. Que se foda isso. Eu quero uma melhor ainda. — Precisa aprender a olhar para cima, Byer — Stiles critica enquanto nós dois saímos da pista. — Eu não deveria ter que te lembrar disso. Essa é uma merda que você deveria saber. Ele acena com a cabeça timidamente depois de arrancar o capacete. — Sim, senhor. Vou melhorar. Um resmungo de desacordo escapa do treinador, e sua atenção se volta para mim. — Bom trabalho hoje, Rutledge. Tirando meu próprio capacete, pressiono dois dedos em minha orelha zombando. — O que disse? Pode repetir, por favor? Acho que devo estar ficando com deficiência auditiva. Stiles estreita o olhar para indicar que não está achando graça. — Agende uma sessão com um terapeuta ao sair para ver essa perna. Vamos nos certificar de que é apenas um músculo dolorido e não distendido. Decido não fazer mais comentários espertinhos e simplesmente aceno. — Pode ser para amanhã, já que... você tem uma convidada esperando. — Seu sorriso sabe-tudo me faz sorrir timidamente. Olhando para onde Poppy está posicionada nas arquibancadas, fazendo sua lição de casa, aceno para ela para informá-la que eu sei que ela está lá. O que não vou itir abertamente que gosto.
A primeira vez que ela veio para o treino, não foi de fato para assistir. Ela veio na segunda-feira após a festa para deixar minha camisa. Ela ou todo o domingo na casa dos pais e não teve tempo de lavá-la, ou pelo menos é o que ela diz. Sinceramente, acho que ela ficou com vergonha de ter gozado na minha perna e ainda não estava pronta para me encarar. Era o primeiro treino do dia, então, era cedo pra caralho, sem falar que estava congelante do lado de fora, mas, mesmo assim, ela apareceu para me entregar. Ela não queria que eu ficasse encrencado por não estar com a camisa. Por um lado, eu odiei ter que explicar a ela que é a que eu uso para treino pessoal, não do time, cara a cara, mas por outro lado, eu estava grato por ela não ter se preocupado em mandar uma mensagem para perguntar. Eu meio que gosto que ela simplesmente apareceu. Ela até me trouxe um kolache. O treinador não se importou que ela ficasse aqui para assistir, e por mais que os outros jogadores tenham tentado pegar no meu pé por causa disso, acabou me dando uma certa vantagem. Um motivo extra para não ligar para a merda que normalmente ligaria no primeiro treino pós-jogo. Compramos vitaminas como café da manhã assim que eu terminei e a levei para a aula. A coisa toda parecia um tanto... natural demais. Tinha a tranquilidade que consigo quando coloco meus patins e entro na pista só para estar lá, mas com toda a flexibilidade que encontro ao mergulhar em um livro. Ela não exigiu que eu ligasse para ela ou mandasse uma mensagem. Não havia expectativa de jantar ou esperar por ela depois daquela aula. Mesmo naquela tarde, quando ei para a papelada e tirar foto, ela não me pressionou para mais nada. Isso meio que irritou pra cacete a metade territorial e babaca em mim. Me fez repensar a merda que aconteceu no fim de semana. Me fez pensar: tudo o que aconteceu entre nós foi apenas um acaso do caralho? O resultado estúpido da minha própria necessidade gananciosa de ter tudo primeiro? Eu realmente queria outra coisa além de destruir a porra da única inocência que encontrei desde que tinha quatorze anos? Isso é o que mais me lembra a literatura em Poppy. Ela me faz realmente pensar. Avaliar. Questionar. Só estar perto dela já me faz quebrar a mentalidade de rebanho na qual é fácil cair sendo um atleta. Ela é uma toxina terrível para Rutledge, mas um excelente elixir para Ren. Eu sei que não posso ser os dois para sempre. E o relógio do jogo começou a funcionar, mais uma vez, para escolher um lado dominante no minuto em que me lembrei de quem ela era. O treinador Stiles arrogantemente gargalha para si mesmo sobre algo e me dá um
tapinha no peito. Não ter certeza de por que ele está sendo tão presunçoso me leva a perguntar a ele; no entanto, ver Byer observar a beleza que ele não deveria nem estar perto, muda imediatamente minha decisão. Marcho em meus patins até ela com confiança e dou um comando no momento em que chego: — Beijo. Poppy levanta os olhos do que quer que estava lendo com uma expressão confusa. — Isso não é muito educado. Talvez devesse tentar... O relógio não consegue finalizar a contagem porque eu rapidamente a puxo para a frente. Ela desajeitadamente recupera o equilíbrio usando meus ombros como ajuda enquanto eu capturo seus lábios nos meus. Como de costume, não há hesitação em abrir os lábios nem resistência em me deixar provar os sabores que parecem estar sempre persistentes em sua língua. Eu gemo levemente com os indícios de canela e lambo tudo o que posso entre os açoites que dou por seu comportamento abusado. Quando eu me afasto abruptamente, seus olhos ainda estão fechados. Eles sempre estão. Eu amo que ela leva um tempo para voltar aos seus sentidos. Quero dizer, gosto. Sim. Sem dúvida quero dizer gosto. — Bebida? Seus cílios naturalmente longos, que tendem a roçar o interior dos óculos, se agitam para revelar seus grandes e lindos olhos castanhos. Desta vez, ela não briga comigo sobre minha exigência. Ela simplesmente se inclina para o lado, pega a caneca de café e a oferece para mim.
Dou a ela um sorriso vitorioso e dou um gole. Todos os impulsos de vomitar é imediatamente convocado, fazendo-me engasgar com o líquido de uma forma forte e violenta. Poppy resgata rapidamente sua bebida antes que ela se espalhe por todo o lugar. Depois de ter engolido o fluido com sucesso, balanço rapidamente a cabeça em desaprovação. — Que porra era essa? — Gemada de café. — Que nojento. — É delicioso. — Tem gosto de meleca de Papai Noel. — Começando a achar que você tem péssimo gosto. — Então, como explica você? — A tez avermelhada de Poppy me faz rir arrogantemente. Eu dou uma olhada por cima do ombro para onde Byer estava perambulando antes e descubro que ele se foi, como todo mundo. Não querendo arriscar deixá-la em uma posição vulnerável enquanto tomo banho, eu pergunto: — Pronta para dar o fora daqui? Ela usa a mão sem caneca para tocar meus ombros com ombreira. — Você não precisa tomar banho? — Hã, vou tomar banho na minha casa. Seu nariz se contrai visivelmente. — Sua casa? Tipo, nós vamos para sua casa ou tipo, eu vou para a minha, e você vai para a sua, e nos encontraremos em outro lugar mais tarde? Ou, tipo, você vai para a sua, e eu vou para a minha, e espero que você envie uma mensagem... — Corujinha — eu calorosamente interrompo.
Ela agarra sua caneca com mais força. — Nós vamos para minha casa para que eu possa tomar a porcaria de um banho antes de levá-la para jantar. Você pode não ligar se eu cheirar mal enquanto comemos, mas eu ligo. O canto de seu lábio se contorce. — Vou pegar minhas merdas. Me encontre na porta da frente em cinco minutos. Poppy balança a cabeça cheia de cachos selvagens em compreensão. Eu me preparo para sair, mas paro para roubar mais um beijo casto. A ação simples gera uma risadinha feminina dela que faz eu me sentir vitorioso sem nenhum motivo. Não é como se eu tivesse vencido o jogo que nos levará ao campeonato ou mesmo vencido o campeonato em si, mas há algo em ouvi-la rir, ser o motivo pelo qual ela sorri, que me dá uma sensação semelhante. Minha cabeça balança por vontade própria. Estou fodido. Absolutamente fodido. Os dois idiotas dentro de mim estão fodidos. No curto trajeto até meu apartamento, hockey é o assunto escolhido. Poppy expõe suas opiniões sobre as jogadas praticadas, os próprios jogadores e a previsão para o jogo que ela promete assistir, já que vai ser na cidade. Digo muito pouco em troca, em parte porque estou impressionado que ela saiba tanto quanto sabe e em parte porque não há nada do que discordar. Tenho que itir que amo o fato de ela saber do que diabos está falando e não apenas acaricie meu ego por ser uma Pele. Eu amo que ela soa mais como uma fã apaixonada do que uma perseguidora que acabou de ler minhas merdas em um site.
Droga. Gosto. Eu gosto dessa merda. Amo, não. Amo, nunca. O amor é traiçoeiro pra caralho. Eu digito o código na minha porta no momento em que Poppy pergunta: — Não faria mais sentido você tomar banho lá, como todo mundo, e depois me levar para jantar? A neve está piorando, não melhorando. Empurrando a maçaneta para nos permitir a entrada, eu prontamente respondo: — Provavelmente, mas aqui, há uma probabilidade maior de que você tire suas roupas e se junte a mim. Ela chia em choque; entretanto, seu rosto não muda de cor. Minha bolsa de ginástica desliza preguiçosamente do meu ombro ao mesmo tempo em que observo verbalmente: — Você não está ficando vermelha, Corujinha... Isso significa que teve essa fantasia também? Poppy morde o canto do lábio inferior. — Sabe, eu posso fazer todas as suas fantasias se tornarem realidade. — Eu balanço minhas sobrancelhas e me volto para o corredor à direita. — Você só precisa me dizer quais são. — No momento são seus olhos ardendo bastante por causa do xampu. Uma risada alta salta de mim. A dela está mal escondida por uma carranca fingida, e tenho que me impedir de correr de volta para beijá-la até ela sorrir. Eu foderia até ela sorrir, se estivéssemos indo nessa direção, mas não estamos.
Não estamos nem perto. Em minha defesa, não há exatamente uma porrada de tempo para chegar lá. Seu cartão V significa que tudo vai progredir lento pra caralho o que seria diferente se ela já tivesse deixado alguém tirar sua virgindade. O status de extra virgem atrasa as merdas ainda mais. Uma garota que teve pouca experiência é mais flexível em seu cronograma de “quanto falta até que ele possa meter a mão”, mas a possível candidata a freira requer encontros de verdade e conversa de merda sem um monte de insinuações em que ambas as partes sabem que algo sexual está, sem dúvida, no trato. Entre nossas aulas, meus treinos e jogos, seu trabalho e seu voluntariado, a maior quantidade de tempo cara a cara que temos é quando eu paro para fingir minha visita e levar o jantar para ela ou quando nos encontramos para tomar milkshake antes de dispararmos em direções opostas. No ritmo em que estamos indo, minhas bolas provavelmente vão fazer um maldito motim e simplesmente abandonar meu pau. Não me masturbava tanto desde que aprendi a fazer isso. Eu poderia facilmente resolver o problema encontrando uma maria-patins que não se importasse de ser reserva enquanto trabalho em algo melhor, mas toda vez que considero essa merda, fico com dor de estômago. Ainda mais do que quando provo suas bebidas com gosto de merda. É um abismo bem evidente que continua a se abrir dentro de mim. Rutledge está perdendo a paciência. Ren está disposto a esperar até que ele coloque a porcaria de um anel de promessa em seu dedo. — Você deve estar esfomeada, Corujinha — declaro brincando, encostando na parede ao lado da minha foto emoldurada e assinada do Henrik Lundqvist. — É a única ocasião em que fica violenta. Ela me lança um olhar estreito. — Serei rápido, mas fique à vontade para fazer um lanche ou algo assim. A cozinha, obviamente, está localizada atrás de você. Peça à Alexa para tocar o que quiser ouvir, mas saiba que se fizer com que eu esfregue minhas bolas ao som de
qualquer tipo de boyband de merda, haverá consequências hediondas. — Hediondas? — Poppy finge arfar. — Você sabe que adoro quando fala prolixo comigo. Meu dedo médio voa no ar ao mesmo tempo em que giro nos calcanhares para me retirar para o meu banho. Como de costume, começo a tirar minhas roupas na caminhada pelo quarto até o banheiro. Descuidadamente atiro meu casaco e camiseta, não surpreso que um pousou no meu colchão e a outra, no chão perto dele. Tirar os sapatos enquanto conecto o telefone para carregar é algo que sempre faço impensadamente. Minhas meias foram descartadas em algum lugar por cima do ombro e meu moletom foi abandonado perto da pia. No momento em que abro a porta de vidro do chuveiro de mármore, meu short esportivo encontrou um lar temporário perto do cesto de roupa suja que eu nunca uso, e minha mente está freneticamente se preocupando com onde devo levar a Corujinha para jantar. Girando o registro para que a água quente seja despejada do chuveiro do teto, continuo a contemplação mental profunda. Eu não saio em encontros, caralho. É por isso que não tenho a menor ideia de para onde devo levá-la. Poderia ligar para o Stratton pedindo recomendação. Estranhamente, ele namora e fode. Sempre foi assim. Não vê nenhum motivo para que não possa fazer as duas coisas... ocasionalmente ao mesmo tempo. Acho que ele gosta de toda aquela coisa de “ofereça vinho e jantar a elas e faça um meia-nove tão bom que elas pensarão que não podem viver sem você”. O problema é que se eu ligar pedindo esse tipo de informação, terei de abrir a caixa de Pandora um pouco mais, que é exatamente o oposto do que estou tentando fazer. Não preciso avaliar o que está acontecendo comigo e com a Corujinha mais do que estou. Não preciso mesmo. Eu não preciso mesmo, porra. Já sei como estou fodido por estar investindo tanto em uma garota que nem estou fodendo. Eu teria que ser um idiota de merda para não perceber que nossas noites juntos no abrigo onde comemos pizza ou cachorro-quente com pimenta ou qualquer outra coisa rica em carboidratos, já que deixei para comer as porcarias do dia com ela são, na verdade, nossos encontros, assim como eu teria que estar cego pra caralho
para não ver que eu não estou, de fato, fingindo mais ajudar. Eu estou mesmo ajudando. Diabos, eu apareci no domingo depois de não a ver durante todo o fim de semana e dei uma ajuda no abrigo enquanto ela tentava evitar uma crise no daycare. De alguma forma, sempre acabo ando a maior parte do tempo lá com ela e aquele monstro resmungão e ofegante, Brutus. Aquele cachorro é um babaca sem remorso. Ela diz que na verdade ele gosta de mim, mas essa merda é difícil de acreditar quando ele está espirrando em mim de propósito e usa meu braço como seu guardanapo pessoal. Aquele terrorzinho anda por aí como se achasse que é o gostosão e dezoito vezes o seu tamanho. Alguns dias só quero jogá-lo em uma grade de cachorro grande para fazê-lo cair na real. Água quente desce em cascata pelo meu pescoço e ombros, aliviando a dor que eu havia esquecido. A Corujinha tem um jeito de me fazer esquecer as merdas ruins... não apenas fisicamente, mas mentalmente também. Caralho, provavelmente ela é a razão pela qual eu praticamente abandonei minha busca estúpida por quem me colocou nessa confusão, para começar. Quando estamos juntos, não pensamos no que está desmoronando em nossas vidas ou no que o mundo facilmente chamaria de nossas falhas. Conversamos sobre merdas que nos fazem rir. Às vezes rimos um do outro. Às vezes rimos de nós mesmos. Discutimos à toa sobre as mensagens nos livros que lemos e nos filmes de histórias em quadrinhos que ambos vimos, mas nunca parecem discussões desagradáveis, mas sim, debates intelectuais. Eu amo que podemos falar sobre esportes e depois mudar e falar merda sobre viagem no tempo. Eu amo que ela apazigua sem esforço ambos os lados em mim. Caralho. Não. Amo, não. Gosto. Por que eu continuo pensando isso, porra? Pego o sabonete e a escova poucos segundos antes de a música começar a vazar dos alto-falantes.
A voz sensual de Niykee Heaton começa a tomar conta do meu chuveiro assim como o vapor. Um sorriso puxa meus lábios ao mesmo tempo que esguicho o sabonete líquido. Os gostos musicais da Corujinha são semelhantes aos meus, no sentido de que estão em todo lugar; entretanto, cheguei à conclusão de que ela curte cantoras muito mais do que eu. Não sei exatamente por que, mas parte de mim acredita que tem algo a ver com elas dizendo e fazendo as coisas que ela pensa que não pode. Quase como se cada uma permitisse que ela liberasse uma parte de si mesma que ela não sabe como liberar sem cantar ou fazer rap. A confiança dela em si mesma é uma merda. O que dói... é ter de me perguntar se eu sou parte do motivo. E se eu não a tivesse abandonado quando éramos crianças? E se eu tivesse me dado ao trabalho de perceber que ela ia me ver jogar, depois de ter que implorar aos pais dela para levá-la porque eles não estavam nem aí para o esporte, ou se apaixonar pelo esporte, para começo de conversa, porque era meu outro hobby favorito quando éramos amigos? E se eu tivesse percebido que ela sempre vinha me ver jogar nos times do clube porque parte dela sempre esperou ter a chance de resgatar ou reviver nossa amizade? Quão menos intensas seriam suas inseguranças se eu a tivesse ajudado a fazer outros amigos em vez de fingir que nunca nos conhecemos até eu mesmo acreditar na mentira? Quão diferente ela seria? Quão diferente eu seria? Eu ainda seria este anjo, demônio, criação de Joss Whedon, ou eu seria uma alma um tanto equilibrada, moderadamente estável? Eu rapidamente esfrego e lavo meu cabelo, certificando-me de evitar que se concretize seu rancoroso desejo de cair xampu nos meus olhos. Assim que termino, enrolo uma toalha na cintura e pego outra na saída do banheiro para secar meu rosto e cabelo. O fato de eu ainda não ter ideia de onde vamos jantar
retarda um pouco meus os, mas a ideia imediata de que eu poderia deixar ela escolher, mas prometer pagar, acelera-os. Como se eu fosse o cara mais inteligente do mundo, eu chego ao fim do corredor, preparado para falar meu plano genial e descubro que ela não está na cozinha ou em qualquer lugar perto. Cheiros vagamente familiares naquele ambiente me convidam a investigar, mas são deliberadamente ignorados. Meus olhos vão para o outro lado da sala de estar onde Poppy permanece adoravelmente com a cabeça inclinada perdida em seus pensamentos ou em confusão. Eu engulo a irritação por causa de suas ações e piso forte para interromper. — Que está fazendo, cacete? A intrusão inesperada em sua bisbilhotice resulta em um alto arremesso, o boneco Pillsbury Dough Boy fazendo barulho ao ser jogado no ar junto com uma colher de cozinha que eu não sabia que ela estava segurando. Pegar o utensílio antes que atinja o chão faz com que eu adicione: — Além de arrumar mais merda para minha governanta limpar. A boca da Poppy se move como se estivesse preparada para dizer uma coisa e depois faz uma pausa antes de dizer outra. — Você tem uma governanta? — Claro que eu tenho uma governanta. — Eu coloco o objeto no móvel. — Quem mais vai lavar todas as minhas merdas? — Você nunca lavou suas próprias roupas? O olhar sarcástico que lanço a ela não poderia ter sido mais rápido. — Tá, seus próprios pratos? — Claro. Eu já coloquei essas merdas na lava-louças antes. — Sua boca cai, claramente pronta para surtar com as novas informações quando eu a corto. — Corujinha, por que está fuçando minhas coisas?
— Eu não estava fuçando. Meu queixo aponta em direção às coisas que ela tirou do lugar para fazer a descoberta que ela estava olhando boquiaberta. — Isso não é fuçar. Outro olhar sarcástico é dado. — Fuçar implica que eu estava procurando por algo em particular. — E você não estava? — Bom, não — a cabeça dela salta de um lado para o outro —, não no começo. — Ela não faz uma pausa com tempo suficiente para eu retrucar. — Sabe, eu tinha acabado de começar a aquecer a sopa em fogo baixo... — Por que está fazendo sopa? Disse para pegar a porra de um lanche, não servir entrada. — Eu estava verificando o tempo porque Della disse que cancelou o encontro dela devido aos relatórios sobre a forte queda de neve, então, quando vi isso, imaginei que quando você saísse do chuveiro e eu te dissesse, você ficaria todo “bom, vamos te levar para casa, também”, mas eu ainda queria jantar com você porque eu gosto de jantar com você, e pensei que eu poderia fazer algo para a gente comer, para que ainda pudéssemos ar um tempo juntos antes de sairmos. — Dá para bater uma com toda essa enrolação que você acabou de dizer em frases contínuas. Poppy cora e encara simultaneamente. — Você não tem muitas opções de comida para escolher... — Normalmente como no campus ou fora. — Apesar disso, consegui encontrar coisas para fazer queijo grelhado e uma tigela de sopa de tomate. Imaginei que talvez pudesse ser um encontrinho em casa, ao invés de fora...
— Mas ainda ser um encontro. — Isso! — Atencioso. A Corujinha junta os lábios para um lado segundos antes de seu nariz ligeiramente balançar. Essa merda foi atenciosa pra caralho. Por que não pensei nisso, porra?! Por que não decidi simplesmente pedir algo? Por que ela é melhor nessa merda do que eu? É porque ela tem mais prática? De jeito nenhum ela teve mais prática nisso do que eu. — Agora... me diga por que você está vasculhando minhas coisas... — Eu não queria começar os sanduíches até saber que tipo de queijo você queria no seu, você tem muito queijo guardado lá, muito queijo mesmo, tipo, quem come tanto queijo e não fica constantemente constipado? A pergunta contundente gera uma risada mais alta do que o esperado. São merdas como esta que mantém meu lado Rutledge muito entretido. De certa forma, rir de suas más habilidades de conversa e, em outra, achá-las o máximo, é como tirar onda com a galera. Às vezes acho a Corujinha estranhamente impressionante... Seu nariz enruga enquanto ela balança a cabeça. — Ah, nossa... Ah, nossa... que coisa inapropriada de se perguntar, mas não de fato perguntar. — Corujinha... — Minha mão faz movimentos para ela continuar no tema. — Certo! Eu decidi não fazer sanduíche até você sair, aí, coloquei a sopa em fogo baixo, comecei a andar pelo seu apartamento...
— Bisbilhotando... — irando sua decoração e acabei aqui na estante. — Os braços dela se cruzam na frente do seu moletom “Você Me Conquistou com o Au-Au”. — Por que você tem todos esses livros escondidos atrás dessas biografias esportivas? — Quando não há resposta minha, ela continua a interrogar: — Todas as prateleiras são assim? — Não. — Tem mais livros escondidos em outro lugar? Minha hesitação em responder faz seus olhos saltarem. — Você tem, não? — Eu... — Me mostra! Sua exigência se depara com mais relutância. — Vamos, Ren — ela alegremente implora. — Me mostra! Me mostra! Me mostra sua coleção de livros! — Eu... — Por favor. — Eu... — Por favor… A esperança nos olhos arregalados da Corujinha puxa as palavras da parte de trás da minha garganta em um gargarejo baixo: — Caralho. Suas sobrancelhas levantam precisando de esclarecimento. — Tudo bem — eu suspiro profundamente —, mas não diga a ninguém sobre isso.
— Ninguém. — Nem uma única alma, porra. — Nem. Uma. — Especialmente a Della. — Muito menos a Della. Aquela mulher adoradora de demônios não precisa de mais munição para atirar em mim quando estiver pronta. Tenho certeza de que ela tem muita, considerando que provavelmente foi ela quem ajudou a Corujinha a criar o plano Byer, para começar. Não posso provar, mas meu instinto me diz que alguém ajudou a Corujinha a inventar essa palhaçada, e como Della é sua única amiga humana, vou supor que foi ela, o que significa que ela também sabe que estou falsificando minhas horas de serviço e poderia potencialmente me fazer ser expulso do time. Vou ter que ser bonzinho se nos encontramos por esse motivo em particular... mesmo que eu a odeie por convencer uma garota claramente feita para mim a ir atrás de outro. Eu silenciosamente giro meus pés úmidos e piso de volta na direção que eu vim. A primeira porta que amos no corredor é o banheiro de hóspedes; no entanto, a porta da direita do outro lado que também se conecta, é o quarto de hóspedes. Depois de ligar a luz para expor um quarto bastante estéril além da cama e da cômoda, eu caminho até o armário e abro a porta. Eu decido ficar do lado de fora, mas gesticulo para a Poppy entrar. Assim que ela tem um vislumbre dos tesouros, ela suspira alto e entra tempestuosamente dentro. — Aimeudeus! Minhas costas se inclinam contra a moldura da porta em silêncio contínuo. Ren está pulando de alegria por estar tão perto de casa, mas Rutledge está rugindo de desaprovação. — Aimeudeus! — Ela grita de novo, o corpo girando em um lento círculo. —
Aimeudeus! — Relaxa, Corujinha. Não dá para usá-los para fazer ninho. A piada parece tirá-la do ciclo de frases em que ela tinha entrado. — Você gosta mesmo de livros, não é? — E daí? — E daí, por que é que você esconde isso? Inconscientemente, meu olhar se volta para o chão. — Por quê? — As meias confusas de cachorro da Corujinha entram na minha visão ao mesmo tempo que ela pede: — Quero saber por que, Ren. Eu arrasto meu olhar de volta para cima. — Por que é que você pode gostar de hockey, mas de literatura, não? Por que é que pode ser obcecado por esportes, mas ser louco por livros, não? Por que ser um atleta é aceitável para você, mas ser um acadêmico, não? As palavras saltam de mim sem censura. — Porque eu não posso ser um nerd de merda! A dor se espalha como fogo em sua expressão, e eu me encontro sufocando com a fumaça de sua tristeza. — Corujinha... A mão dela se levanta para me impedir de falar. — Coruj... — Você não quer ser rotulado de “nerd” ou “geek”, tudo bem. Eu... entendo — ela fala enquanto acena com a cabeça —, mas não precisa dizer a palavra como se carregasse câncer ou algum estigma inédito. Porque não é mais assim. Não precisa ser um segredinho sujo só porque acha que há vergonha em ser algo além de um babaca obcecado por mídia social.
Ela se prepara para ar por mim quando consigo segurá-la suavemente pelo braço. — Poppy, espere. Contra sua própria vontade, ela espera, mas não levanta o rosto para o meu. A visão de uma única lágrima em cascata pelo rosto dela arrebata da ponta da minha língua a verdade raramente trazida à tona. — Eu não fui... criado para acreditar nisso. Poppy olha para cima sobre a borda de seus óculos. — Me ensinaram que como o mundo te vê é tudo. Que o seu valor é definido pelo que as outras pessoas pensam, e para que elas considerem que você é de alto valor como deve ser, tem que se apresentar de uma certa maneira. Como você é rotulado por todos os outros é mais importante e mais valioso que qualquer outra coisa. A cabeça inteira da Corujinha gira em direção ao céu para encontrar meu olhar taciturno. — Eu nunca deixei ninguém ver o quanto amo ler fora da faculdade. Porra, eu até minto e digo às pessoas que estou cursando inglês porque é fácil e é uma daquelas graduações que dá para simplesmente enrolar com papo furado. Para constar: não é. Requer tanta dedicação quanto entrar no gelo. Fico acordado até tarde aperfeiçoando meus trabalhos da mesma forma que acordo cedo para aperfeiçoar meus treinos. A energia que eu dedico cuidando dos patins dia após dia é, sem dúvida, proporcional aos esforços que eu dedico para corrigir meus capítulos... — Seus capítulos? Minha boca congela no lugar com a confissão imprevista. Porra. Porra.
Porra. É por isso que eu não gosto da porra do Ren falando! Ele não consegue ficar na dele! — Tipo... seus escritos pessoais? Eu não respondo. — Tipo... você está trabalhando em um livro? Um livro de verdade? Coçando a parte de trás do meu pescoço, eu dou um encolher de ombros tímido e inseguro. — Não sei. Talvez um dia. — Caramba! — Ela grita saltando no lugar. — Isso é tão incrível! A excitação dela alivia meu ego e me deixa perplexo pra cacete. Não era nada do que eu esperava que ela dissesse. Por que ela não está rindo? Por que ela não está chamando essa ideia de ridícula? Por que ela não está pegando no meu pé dizendo que todo mundo sabe que a maioria dos escritores mal ganha o suficiente para pagar as contas e, depois, continuando com alguma merda do tipo “Ainda bem que você tem fundo fiduciário” ou “Ainda bem que você é incrível nos patins”? Melhor ainda, por que... por que eu acharia que ela pensaria esse tipo de coisas? Ela... não é essa pessoa. Ela não foi criada para ser esse tipo de pessoa. E se ela tivesse ficado perto de mim... provavelmente teria destruído as coisas que amo tanto nela.
Como sua compaixão básica. Como a maneira como ela tem uma tendência a despertar a minha. Como ambos os lados da minha personalidade são acolhidos com a mesma quantidade de emoção. — Eu posso ler?! — Poppy pergunta sem demora. — Não. O lábio inferior dela atiça para fora. — Você é fofa pra caralho, Corujinha, mas não é tão fofa assim. — Meu dedo indicador gentilmente o acaricia. — Agora, guarde antes que eu o coloque na minha boca. Ela imediatamente esconde os lábios enquanto eu iro o tom de vermelho se espalhando em suas bochechas. É preciso um pouco de silêncio antes que ela volte à sua linha de questionamento intrusivo sobre algo que eu nunca disse a ninguém. — Você pode me dizer do que se trata? — Não. — Porque você não sabe ou não quer que eu saiba? — O último. Corujinha bufa novamente sua infelicidade. — Urgh, pode, pelo menos, me dizer qual é o gênero? — Ficção científica. — Sério? — Ela balança a cabeça em surpresa. — Esse é o seu gênero favorito? — É, sim. — Eu nunca teria previsto isso em um milhão de anos.
Ofereço um inocente encolher de ombro em troca. — É isso que tudo isso é? — Ela volta para dentro do armário, e finalmente parece que é seguro respirar de novo. — Ficção científica? Tipo alienígenas e essas coisas? — Sabe, ficção científica não precisa ter inclusa criaturas de outros planetas. Isso é um estereótipo de merda desnecessário. Seu olhar sarcástico dispara para mim em velocidade relâmpago. — Sim, eu vejo a contradição em ficar irritado com estereótipos considerando a merda que eu disse alguns minutos antes. Corujinha logo pisca, e eu reviro meus olhos. Por que aturo as merdas dela? Cacete, por que ela atura as minhas? — Por que você gosta tanto de ficção científica? — Ela começa a navegar pelas pilhas de livros que estão aleatoriamente empilhados nas fileiras e fileiras de prateleiras. — É isso que está escondido no outro cômodo? — Aqueles são os livros que eu mais reli. Nem todos são ficção científica. Alguns são fantasia. Terror. Uns thrillers de espionagem. Alguns clássicos. — Finalmente me juntando a ela no armário, começo a fazer uma turnê improvisada. — Aqui você vai encontrar todos os meus livros do Terry Pratchett — eu aponto para a prateleira de cima —, seguidos por algumas merdas de Tolkien, Anthony, King, Stoker, porque quem não ama Drácula?! — Aponto para a prateleira abaixo. Apontando meu dedo para a terceira prateleira, eu continuo a divagar: — Lá embaixo você vai encontrar merdas como Fitzgerald, Walker, Morrison, e mais alguns livros de pessoas como James Patterson e Dan Brown. No entanto, em todas as outras prateleiras — minha cabeça aponta em direção a elas —, você vai encontrar ficção científica. Tudo, de David Webber a John Ringo a clássicos como Isaac Asimov e George Orwell. Corujinha faz uma péssima tentativa de assobio. — Uau. É tipo... — sua voz segue enquanto ela toca as bordas de algumas lombadas aleatórias —, a biblioteca secreta da Fera de A Bela e a Fera.
— Analogia bastante precisa. Ela me dá um sorrisinho doce sobre o ombro que faz meu coração dilatar. Porra, é como aquele momento no filme Grinch quando o coração dele ficou maior. Dói. Fisicamente dói pra cacete... Mas, talvez no final, valha a pena. Poppy tenta ser atrevida e desfilar pela área e acaba tropeçando em seu próprio pé. Por instinto, um braço agarra em volta dela de forma protetora, enquanto o outro consegue impedir que os livros a enterrem. — Cuidado, Corujinha — eu brinco. — Esses livros não valem tanto quanto você, mas alguns deles são valiosos mesmo assim. Ela olha sobre o ombro para mim. — Porque significam muito para você? Abrandando meu aperto, mas mantendo-a por perto, eu respondo: — Não, porque são primeiras edições. — Você tem primeiras edições aqui?! — Tenho. — Meu polegar imprudentemente acaricia a área em que ficou. — E segundas edições de outros. Quer dizer, eu tenho todas essas merdas no meu aplicativo, mas sei lá. Às vezes gosto de entrar e simplesmente estar rodeado de livros de verdade. Acho que é reconfortante da mesma forma que gosto de amarrar meus patins e ficar sozinho no gelo. Seu olhar, assim como seu sorriso, suaviza. — E para responder à sua pergunta anterior, gosto muito de ficção científica porque meu filme favorito é ficção científica. Lia mais merdas de fantasia quando era criança, mas uma vez que assisti Matrix, eu sabia que aquilo era o
que eu queria ler. — E escrever. — Sim, essa ideia é bem mais recente. — A issão e o lembrete que deixei escapar me fez me desenrolar dela. — É um filme incrível. — Nunca assisti. Eu olho fixamente em derradeira confusão. Devo ter desmaiado de fome. O nariz da Corujinha mexe do seu jeito conhecido indicando que não foi o caso. — Vamos consertar essa merda, agora mesmo. — Mas... — Agora. Mesmo. Porra. — Ela tenta falar novamente, e eu rapidamente balanço minha cabeça. — Você não vai sair da porra do meu apartamento até que eu conserte isso. É um dos maiores filmes, se não o maior, de todos os tempos, cacete, e não posso permitir que a garota com quem estou e a vergonha de nunca ter visto. Poppy abafa uma risada. — Eu vou colocar um calção, você vai fazer os sanduíches, e aí, vamos assistir essa merda toda. — Uhhh — ela balança os ombros em provocação — jantar e filme. — Seja boazinha e talvez eu te dê sobremesa. — O comentário é procedido por uma lambida dos meus lábios que matiza suas bochechas. Com um sorriso presunçoso, deixo o armário e vou em busca de algo além da toalha para usar. Duvido que façamos qualquer coisa além de jantar e corrigir o horrível fato de que ela nunca viu o filme que praticamente mudou a minha vida da mesma maneira que terem me dado um par de patins mudou. Por mais estranho que seja... estou bem com isso. Não me interprete mal. Eu quero ouvir a Corujinha
berrando meu nome e gozando até que ela literalmente não consiga lembrar como era a vida antes de provar o meu pau, mas eu não me importo de fazer outras merdas com ela. As merdas que não faço com mais ninguém. Meio que amo isso. As duas metades em mim meio que amam. Nossa noite a um pouco mais rápido do que eu gostaria. Trabalhamos juntos para fazer sanduíches de queijo grelhado, criando uma bagunça e tanto no processo. Decidimos dispensar as tigelas e, inicialmente, usar somente pão para absorver a sopa diretamente da a na frente da minha tevê. Dou várias voltas fazendo torradas para a gente, pegando biscoitos e, eventualmente, colheres para terminar o que restou depois que os sanduíches acabaram. Poppy ri por eu ficar recitando as falas junto com o filme, pula em flashes de luz aleatórios e, eventualmente, se aninha calorosamente contra o meu peito em nossa posição esticada no sofá. Ela constantemente faz perguntas, algumas das quais não posso responder para não estragar o enredo, enquanto outras tenho que fazer uma pausa para despejar minhas opiniões. No momento em que os créditos estão rolando, duas coisas são absolutamente certas. Uma, eu nunca tive um encontro melhor na porra da minha vida inteira. Duas, eu não quero que ela vá embora, caralho. — Acho que a mensagem a ser ada é que o que mais importa na vida é o que você pensa de si mesmo. Que... ser dono de quem você é, é a coisa mais poderosa e libertadora que você pode fazer. — Ela brinca com alguns cachos em seu ombro. — Já considerou que talvez este seja o motivo pelo qual esse é seu filme favorito? Deixando de lado a ação louca em câmera lenta e as cenas desnecessárias de artes marciais? — Sem dúvida necessárias pra cacete — eu contesto, brincando. E sim, as palavras que ela tão casualmente despejou no meu piso de madeira é algo que eu tenho ado mais horas pensando do que jamais terei coragem de itir.
— Sabe... de certa forma — Poppy continua a ponderar enquanto pega seu celular da mesa de café — assistir Matrix é quase como sua própria Matrix. Permite que você escape da realidade. Mais uma vez, com as reflexões óbvias sobre a minha vida. — Ah, merda — ela grunhe, mudando toda a vibração da noite. — Della disse que está nevando com tudo. — Seu dedo desliza sua tela, suponho que para verificar. — E o aplicativo diz que não deve parar até de manhã. Decepção se fixa em minhas cordas vocais, me forçando a fazer o possível para disfarçar. — Então, eu vou deixar você em casa. Ela encontra meu olhar com confusão no dela. — Por que não volto com meu carro? — Porque você não deveria estar dirigindo aquela merda. Não é seguro. — Você também não deveria estar dirigindo, então. — Sim, mas se eu te levar para casa e te deixar lá em segurança, poderei dormir esta noite sabendo que fiz tudo ao meu alcance para tornar isso possível. — Sim, mas aí eu não vou dormir porque estarei me revirando e me odiando por deixar você ameaçar sua própria vida para me levar para casa praticamente em uma nevasca. — Tá... — Eu cruzo minhas mãos. — Então, fique aqui esta noite. — Ficar... a-a-aqui? — Seu nariz balança profusamente. — Aqui, aqui? — Sim, você vai dormir na minha cama, e eu farei a coisa menos babaca que me ocorre e dormirei no quarto de hóspedes. — Mas Della pode não se sentir confortável cuidando do Bond por tanto tempo. Ela nunca tomou conta dele durante a noite. — Mande uma mensagem para ela.
— Agora? — Sim, Corujinha. Você já disse que a neve não deve parar. É melhor descobrirmos logo se vou levar você para casa nesse globo de neve de merda lá fora. O nervosismo é aparente; no entanto, isso não me impede de acenar com a mão para que ela acelere essa merda. Poppy escreve a mensagem como a mulher de oitenta anos de quem roubou o óculos, em vez da estudante do segundo ano da faculdade que ela é. Qual o problema dela, porra? Quase imediatamente após clicar em enviar, ela recebe uma resposta de volta. Faço o possível para decifrar a expressão de espanto que ela é incapaz de esconder, mas que mesmo assim não faço ideia do que significa. — O que ela disse? — Ela... vai... Sem saber por que parece que ela vai vomitar tudo o que engolimos mais cedo, eu cautelosamente vou em frente. — Beleza, então. Merda resolvida. Você dorme aqui. — Tá, mas eu não posso ficar aqui. — Tá, então, vou vestir um moletom e te levar para casa. — Tá, mas você não devia me levar para casa. — Então você vai ficar aqui. — Eu não posso ficar aqui. — Então, eu vou levar sua bundinha para casa. — Você não pode dirigir nessa tempestade!
— O que é que você quer que eu faça, Poppy?! — A menção de seu nome a faz pular como a criatura sempre arisca que é. Odiando-me por levantar minha voz, mas ainda mais por assustá-la quando tudo que eu quero é fazê-la feliz, eu suspiro profundamente e digo: — Me diga que jogada você quer que eu faça, Corujinha, e eu vou fazer. O que quer que seja. Quer que eu leve sua bundinha para casa e durma no seu sofá, assim não precisa se preocupar se voltei em segurança, tudo bem. Quer que eu durma na porcaria do saguão para que não precise se preocupar com o que quer que ache que vou tentar forçá-la a fazer, porque está no meu apartamento, então... — Não — sua voz argumenta fracamente, a mão trêmula pousando em cima da minha. — Não é... não é isso. — Ela balança a cabeça rapidamente ao mesmo tempo em que afirma suavemente: — Você é um babaca, Ren, mas não é tão babaca. Eu sei que nunca me forçaria a algo assim. Ela não está errada. A reputação de Rutledge não envolve estupro. Nunca envolveu. Até meu pai, o desgraçado infiel que é, nunca forçou as mulheres a fazerem merda. Sua afirmação sempre foi: qual é o sentido quando já há tantas que estão dispostas? — Então, o que é? — Minhas mãos se movem para moldar em volta das dela. — Diga o que está incomodando você. Diga por que não pode ar uma noite aqui. — Eu... O fim de sua frase nunca aparece, e luto contra todos os meus instintos de ficar furioso. Que tipo de merda é essa? Ela me pressionou a contar a ela algumas merdas profundas e sombrias que eu nunca disse a ninguém, e aqui está ela escondendo alguma coisa de mim? Como isso é justo, porra?
Ou certo? Como essa porra é uma boa conduta esportiva? Ela está jogando algum jogo secreto onde o objetivo é me irritar, saber merdas que eu nunca, em um milhão de anos, itiria em voz alta para os outros, e depois se aproveitar disso para conseguir vantagem? É disso que isso tudo se trata? Estou sendo vítima de alguma porra de trapaça que deveria ter previsto? Meu queixo começa a pulsar de indignação com a acusação mental. — Vou precisar da porra de uma resposta, Poppy. E vou precisar de uma agora. Seu olhar, que ela tinha desviado, volta ao meu e expõe outra série de lágrimas. Porra. Não aguento choro. Por que ela é tão sensível? Por que sou tão bom em fazê-la chorar? Achei que meu lado erudito fosse um pouco mais preparado para falar como um ser humano civilizado. — Eu não... — A voz da Corujinha se torna pouco mais do que ar. — Eu não sei dormir sem o Bond. Minha sobrancelha se contrai. — O quê? — Bond... é meu animal de apoio emocional... — Sim, isso eu sei. — Embora ele de alguma forma ajude a aliviar o pouco de ansiedade que tenho durante o dia, o motivo de tê-lo, é por causa das noites. A percepção de que ela nunca revelou qual a necessidade que tinha dele me
atinge inesperadamente. Como eu nunca perguntei, porra? É tudo sempre sobre mim? Em vez de reconhecer o quanto sou egocêntrico, solicito discretamente mais informações. — O que... acontece à noite que faz com que você precise de apoio emocional? — É uma combinação de coisas. — Corujinha hesita em continuar até que eu dou um toque gentil em sua mão. — Quando eu era criança, sofria de terrores noturnos. Eles resultaram de problemas de abandono. — Problemas de abandono? Quem te abandonou? — Na minha cabeça, todos. — Ela deixa seu olhar cair para onde estamos conectados. — Eu não tinha muitos amigos, e aqueles que eu tinha me deixaram. Você, sem aviso ou motivo, quando tínhamos oito anos. Minha vizinha, Melissa, com quem eu costumava brincar, mudou-se para Michigan alguns meses depois. O garoto com quem pegava carona para a escola, Dylan, desaparecia no minuto em que saíamos do carro da mãe dele. E aí... o negócio dos meus pais atingiu um tremendo crescimento ao ponto de raramente estarem em casa ao mesmo tempo. Minha mãe tinha um emprego noturno de meio período em uma lanchonete local para que tivéssemos dinheiro extra quando o negócio de paisagismo deles estivesse lento ou os clientes ameaçassem sair, e meu pai ava a maioria das noites cuidando das finanças, agendamentos e estudando para novos testes de certificação, porque ele queria estar sempre pronto para provar aos seus muitos clientes de prestígio que sua empresa realmente valorizava o atendimento ao cliente acima de tudo. — Como a casa dos meus pais. Poppy mal assente com a cabeça. — Durante anos, acompanhar coisas assim quando eles estavam trabalhando geralmente era o máximo em que eu os via sem ser feriado. Pensamentos irracionais e medo de que não me queriam mais, só me toleravam, e de que não me amavam, mas sim, me odiavam, causavam grande ansiedade. Tudo começou
com terrores noturnos. Gritos a plenos pulmões, horríveis, ocorriam após saírem por uma hora. Por fim, cheguei a um ponto em que não dormia o suficiente, o que fez com que me levassem a médicos que acabaram recomendando aconselhamento para encontrar a fonte da ansiedade que acreditavam estar criando pesadelos, em vez de me medicar tão jovem. Foi isso que me levou a conseguir um animal de apoio emocional e meus pais ajustarem seus horários para ar mais tempo comigo. Como me levar para ver você jogar hockey, apesar das aversões pessoais ao esporte, e eios com o Bond no parque de luxo para cães. De vez em quando ia com eles checar clientes, ainda gostando das lindas criações que sua empresa fazia, mas ia só a alguns que eu conhecia para não criar mais ansiedade em relação a estranhos. E só faziam isso quando eles estavam preocupados por estarem ando de novo muito tempo longe de mim. Mais auto aversão por contribuir para os problemas de ansiedade dela é como levar uma tacada forte que foi mais do que merecida. É bom saber que não foi apenas a porra da minha própria vida que ajudei a foder com tudo. — Já se ou mais de um ano desde que tive um, mas ter Bond na cama para se aconchegar comigo tende a mantê-los afastados. Ele está lá para me lembrar de que não há necessidade de pânico. Que não estou sozinha. Que não fui abandonada. Que sou desejada e indispensável. Por alguns instantes, nós dois permanecemos completamente imóveis. O que é loucura para mim é que eu sei exatamente como é essa merda. A necessidade esmagadora de ser indispensável e desejado. É por isso que ralo do jeito que ralo pelo meu time. A última coisa que preciso é que eles decidam que sou dispensável. Descartável. A porra de um inútil. Ela ou toda a vida temendo que a dedicação de seus pais em proporcionar
uma vida melhor para ela significasse que eles não a amavam mais, enquanto eu ei toda a minha temendo que, se não me dedicasse a esse esporte, meu pai se importaria menos ainda comigo. O medo é um grande sacana... Espero que ele morra sufocado com o pau do carma. Eu gentilmente levanto seu queixo para que nossos olhos possam se conectar. — E se você se aconchegar em mim? Seu lábio inferior desliza para baixo para liberar som, mas nada escapa. — Olha, eu sei que não sou tão peludo ou fofo ou minúsculo, mas... talvez ajude mesmo assim. Você sabe... a não dormir... sozinha. Conflito cobre o rosto da Poppy. — Tenta? Na pior das hipóteses, levo sua bundinha para casa às duas da manhã, para que possa dormir um pouco, ou, na segunda melhor das hipóteses, nós pulamos a parte de dormir juntos e ficamos acordados a noite toda fazendo uma maratona de Matrix. Sua cabeça se inclina em dúvida. — Espera, se essa é a segunda, qual é a primeira? — Você dormir. Um leve sorriso tenta deslizar em seu rosto. — O que você quiser fazer, Corujinha. É o que faremos. Você está com o disco. Faça a jogada, seja qual for, quando estiver pronta. Leva mais alguns instantes de silêncio absoluto antes que ela se levante, a mão ainda na minha, e pergunte com a voz trêmula: — Você tem uma escova de dente extra? Eu sufoco o desejo de fazer um gesto de vitória.
— Hum... não sei. — Como você não sabe disso, Ren? — Tenho cara de que faço minhas próprias compras? — Meu tom brincalhão continua enquanto eu me levanto. — Pensando bem, isso explica por que minha escova de dentes muda de cor aleatoriamente. Margret deve trocá-las quando chega a hora. — Você não troca nem a sua própria escova de dente?! — Ela critica. — Não pie para mim — brinco. — Quer dizer, sei que está de noite e esse é o seu ruído natural, mas... Poppy me dá um tapa de brincadeira e eu rapidamente me esquivo. — Precisa ser mais rápida do que isso. — Minha sobrancelha salta para cima e para baixo. — Você me viu no gelo esta tarde, Corujinha. Sou incrível pra caralho. Ela engasga e tenta outro ataque bem-humorado. A ação, mais uma vez, é evitada, no entanto, uma terceira tentativa é rápida demais. Nossa jornada pelo corredor até o meu quarto é cheia de provocações minhas, mas risos de nós dois. Eu mantenho as palhaçadas enquanto separamos para ela uma escova de dentes, uma das minhas camisetas para vestir, e me acomodo debaixo dos meus lençóis cinzas. Assim que as risadas diminuem, nossa nova situação se estabelece depressa. Merda... A garota que eu quero foder está parcialmente despida na minha cama. Merda em dobro. A garota que eu quero foder está parcialmente despida na minha cama e está com a bunda pressionada firmemente de encontro à minha virilha. Como diabos vou dormir assim? Com um braço enrolado firmemente em volta de sua barriga e o outro enfiado
embaixo de mim como um travesseiro mixuruca, pergunto com cautela: — Assim... está bom? Corujinha se mexe para ainda mais perto de mim, a bunda roçando indelicadamente meu pau coberto pela boxer. É indelicado. É indelicado pra caralho tentar o desgraçado a se levantar só para eu ter que ameaçá-lo com remoção permanente para se acalmar. Minha voz está estranhamente sem fôlego: — Melhor? — Muito. Bom, pelo menos está para um de nós. O silêncio começa a preencher meu quarto escuro, e concentro toda a energia que tenho nas merdas menos sexuais que posso conjurar mentalmente. Como ver o treinador Stiles de coquilha. E a maneira deselegante que Brutus lambe as próprias bolas. O corpo da Corujinha se contorce, me forçando a morder o interior da minha bochecha para não gemer. Normalmente, uma merda básica dessa não chamaria atenção, mas eu nunca quis uma garota tanto quanto me encontro querendo a Poppy. E eu não sei se é toda aquela espera que cria toda aquela baboseira de antecipação ou o fato de que eu sei que ninguém mais teve a chance de fazer as coisas que eu farei com ela, o que a tornará indiscutivelmente minha e só minha. Porra, há algo tão perfeito nisso que não consigo nem expressar coerentemente. O engraçado é que, mais uma vez, a Corujinha tem ambos os lados de mim concordando sobre alguma coisa. Sua mão de repente pousa na minha, acariciando docemente. Sem surpresa nenhuma, momentaneamente varre as ideias pervertidas, me lembrando que se
trata dela. Lembrar que ela não está sozinha. Que ela não é indesejada. Que ela está segura. Que ela sempre estará segura em meus braços. Essa é uma promessa, porra. — Ren — sua voz chama delicadamente. — Posso te perguntar uma coisa? — Nada de jornalismo contundente tão tarde da noite. — Ela ri, e o som me acalma como sempre faz. — O que é, Corujinha? — Quantas... — A pausa me faz imaginar seu nariz balançando — garotas estiveram nesta cama? — Nenhuma. Minha resposta rápida recebe um escárnio. — Não minta para mim, Ren, para proteger meus sentimentos. Sou uma garota crescida. Eu aguento. Não sou tão ingênua a ponto de acreditar que não sou uma entre milhares que já estiveram aqui ou nesta posição. Eu quero a verdade. Quero que possamos ser honestos um com o outro... — Ela acaricia minha mão mais uma vez. — Mais ou menos como foi antes, quando me contou sobre como é importante que o mundo te veja de uma certa maneira, e eu confessei meus motivos de ter o Bond. — Uma respiração pesada é expelida. — Talvez não possamos ser tão abertos com o resto do mundo, mas quero que sejamos assim um com o outro, pelo menos. Seu pedido recebe um aceno relutante. — Beleza... vou confiar a você todos os meus segredos... se você me confiar os seus. — Combinado. — Ela cruza os dedos nos meus com força. — Quantas outras garotas estiveram nesta cama? — Nenhuma — repito com firmeza. — Ren...
— Nós fodemos nas casas delas, em festas, parques, carros, porra, em banheiros... — Paro abruptamente de listar percebendo que ela não precisa de todos os lugares. — Eu não trago marias-patins aqui, Corujinha. É aqui que eu moro. Este lugar é importante para mim. Elas não. Corujinha imediatamente responde: — Está dizendo que eu importo? — Mais do que sou capaz de entender. Ela cantarola e se aninha mais perto. — Então... se fôssemos... você sabe... — Transar? O aceno dela precede o resto da pergunta: — Eu seria a primeira com quem você faria isso na sua própria cama? — Sim. — Eu flexiono meu aperto em sua mão ao mesmo tempo que reitero: — Você será. — Imagens dela corando surgem em minha mente e eu sorrio presunçosamente. — Agora, durma um pouco, Corujinha. Os movimentos de Poppy cessam novamente, fazendo com que meus olhos finalmente fechem. Desta vez, infelizmente, os movimentos recomeçam mais rápido do que antes. E muito mais gostoso. Sua mão puxa a minha para cima em direção ao seu peito, muito perto de seu mamilo endurecido, para minha própria sanidade. Devo considerar este meu primeiro dia no inferno? Todas as coisas idiotas que fiz finalmente conseguiram me alcançar em um estado excitado e dolorido? Resolvo arriscar e rezo para que não termine com minhas bolas doloridas porque foram atingidas com um bloqueio literal no pau. Usando a ponta do meu polegar, eu gentilmente roço a área, me preparando para um comando verbal para parar. Ou tirar a mão. Ou uma reprimenda básica por presumir que era isso que ela queria. Em vez disso, o gemido mais suave é fornecido como um sussurro de
encorajamento para fazer novamente. Então, eu faço. Eu adiciono um pouquinho mais de pressão para garantir que ela sinta e acaricio suavemente o ponto enrijecido. A respiração da Poppy fica presa em sua garganta, e minha boca cai na curva de seu pescoço para sentir o gosto dos tremores. A primeira lambida é dada ao mesmo tempo que o primeiro toque no outro mamilo é feito. Mais suspiros são dados ao mesmo tempo que eu rosno. Para frente e para trás, eu esfrego cada um com ternura, desenhando círculos, imitando os movimentos contra seu pescoço com a minha língua. Não demora muito para que todo o seu corpo esteja voltado para mim, e meu pau seja abençoado com carícias constantes. Querendo mais, querendo realmente sentir os minúsculos pontos entre meus dedos, eu contorno minha mão para baixo para levantar a borda da camisa e vejo seus quadris ansiosamente balançando para a frente. O resultado acidental é minha palma pressionada firmemente contra sua boceta. O forte calor esquenta meus dedos enquanto os fluidos encharcando sua calcinha lentamente começam a encharcá-los. Minha cabeça cai em derrota no ombro dela, sem saber o que diabos eu devo fazer a seguir. Porra, se Poppy fosse qualquer outra pessoa, essa merda seria moleza. Eu a foderia com o dedo até que ela gozasse, depois, diria que ia foder seu rosto enquanto ela goza pela segunda vez. Seria um comando fácil de dar e ainda mais fácil de ser executado. Exceto, é claro, a Corujinha, que nunca esteve com ninguém além dela e da porra da minha coxa a tocando. Meu pau lateja de excitação, fazendo-a balançar os quadris contra ele. Sem pensar, meus dedos flexionam, segurando sua boceta e a trazendo para mim. Antes que um pedido de desculpas ou pergunta possa se libertar dos meus lábios entreabertos, Poppy solta um gemido tão necessitado que é óbvio que ela está implorando por mais, sem palavras. Mas eu preciso da porra das palavras dela. Eu preciso da porcaria do consentimento dela. De jeito nenhum vou foder com essa merda levando isso longe demais, rápido
pra cacete e arruinando a única coisa boa que tenho na minha vida. A única segunda chance que tive de consertar um erro. De escolher o que eu realmente quero versus o que me mandaram. — Dedos ou pau? — eu rosno contra seu ombro. Poppy apenas choraminga mais uma vez e repete a ação anterior. — Não, não, Corujinha. — Meus dentes raspam ao longo do tecido em direção a sua orelha. — Você vai ter que dizer. — Eu posso sentir ela ficar tensa contra mim, o que me leva a agarrar sua boceta com mais força. — Encontre a porra daquela confiança que está sempre escondendo. De repente, sua mão cai em cima da minha e me empurra com mais força contra ela. — Dedos, Ren. Um gemido baixo paira no fundo da minha garganta. — Quer rápido ou lento, fofinha? — Tanto faz... — Não, não — eu repreendo, de novo, ao mesmo tempo que aperto minha mão. — O que você quer? Ela choraminga e se mexe, a bunda com fio dental provocando meu pau já aos prantos. — Rápido. Obrigado por isso, porra. — Abra suas pernas. Poppy as separa sem objeções. Eu deslizo minha mão inteira pela frente de sua calcinha e gemo quando a
umidade que está saindo dela faz um contato mais íntimo do que antes. Meus dedos deslizam deliberadamente para baixo, roçando suavemente sua abertura nua em sua viagem para o único lugar que eles não aguentam mais esperar para estar. Assim que o primeiro dedo mergulha dentro dela, todo o corpo de Poppy arqueia para trás, o que me faz empurrar para frente sem pensar. O gemido pecaminoso que escapa dela é tão poderoso que juro que a cama inteira estremece. Caralho... Essa é a merda que os diretores de pornô querem ouvir durante as audições. De repente, ela tenta fechar as pernas em volta de mim, e eu repreendo a ação. — Pernas abertas. Um som mal-humorado sai dela; no entanto, é prontamente substituído por outro gemido inebriante quando o dedo dentro dela começa a se mover. A umidade afoga o dedo enquanto dou a volta em aquecimento. Rodando e rodando em círculos, explorando os músculos tensos. Varrendo sexualmente suas profundidades aparentemente rasas. Eu paro o primeiro dedo e forço um segundo. Há um grito imediato de desaprovação e dor, mas é ignorado. Eles se cravam cada vez mais fundo enquanto minha palma aplica a pressão que seu clitóris inchado está desejando. — Fecha. Poppy retorna suas pernas para a posição completamente fechada em que estavam antes, e eu dou exatamente o que ela pediu. A primeira retirada na minha direção ganha um grito de surpresa, mas a segunda garante um suspiro lascivo. Cada vez que entro com um impulso forte por trás, levo meus dedos em direção ao seu limite intocado. Sua boceta apertada grita em objeção à crescente aceleração e força dos meus movimentos, mas o resto de seu corpo canta de excitação. Os gemidos são distorcidos pelas tentativas de murmúrios do meu nome. Tremores intermináveis caminham da cabeça aos pés. Sons de lençóis e travesseiros sendo arranhados se tornam uma playlist de Spotify que eu ficaria feliz pra caralho em continuar repetindo. Parte de mim está aliviado por não conseguir ver quão sexy ela deve estar.
A outra parte está me xingando por não ter a porcaria de uma visão noturna como um morcego. Em um ritmo constante, meus quadris empurram para a fenda de sua bunda, o tecido da minha boxer esfregando impiedosamente meu eixo em conjunto com a forma como meus dedos estão empurrando impiedosamente. Apesar da falta de contato pele a pele no meu pau, o desejo de gozar com essa merda é pra valer. E urgente pra cacete. A necessidade de gozar se mistura com a ganância da certeza de que sou o único a fazer ela gozar, e cria algo tão inebriante que parece que estou rastejando para um novo nível de êxtase. A natureza tímida de Poppy foi substituída por um balanço implacável como se ela fosse incapaz de não correr para o orgasmo no final do arco-íris. Minhas típicas tendências autoritárias assumem o controle e nos giram de modo que ela está de bruços, embora minha mão permaneça presa entre suas coxas grossas e músculos latejantes. Eu uso minha mão agora livre para puxar minha boxer para baixo até que meu pau não esteja mais preso. Apoiando-o entre suas lindas nádegas redondas, vou de encontro a ela uma e outra vez, o impacto do meu impulso empalando-a em meus dedos. A boceta de Poppy de repente começa a se contrair rapidamente em volta de mim, ao mesmo tempo que ela planta seu rosto no meu colchão para gritar. Seu gozar repentino causa o meu. Jatos quentes de esperma descem em cascata por suas nádegas enquanto grunhidos fortes atravessam os dentes cerrados e ecoam pelo cômodo. Leva mais tempo do que nunca para a névoa do sexo se dissipar. E, quando finalmente acontece, as primeiras palavras que saem da minha boca me pegam desprevenido. — Você sabe que pertence a mim agora, não é, Corujinha? Ela se mexe embaixo de mim; presumo que para permitir que sua voz seja ouvida. — Você pertence a mim também, Ren. Essa afirmação é verdadeira. Ren pertence a ela. Estou começando a pensar que talvez ele sempre tenha pertencido.
Mas Rutledge? Rutledge não será conquistado tão facilmente. Ele não teve dificuldade em ferrar com a vida dela uma vez... Eu só rezo como nunca para que ele tenha mais misericórdia na segunda vez.
Capítulo 10
Juro, é como se eu tivesse piscado e já é Natal. Em um minuto estou adormecendo pela primeira vez nos braços de Ren, sexualmente saciada, devo acrescentar, e no seguinte, de alguma forma, tenho espaço no armário do apartamento dele. Espaço de verdade. Ele liberou uma parte para eu deixar coisas para vestir quando quiser dormir em sua casa e, casualmente, começou a adicionar coisas, embora ele ache que eu não notei. Uma garota lembra quando compra um vestido preto chique com um decote profundo, especialmente quando custaria vários contracheques para fazer a compra. Além disso, as coisas que ele gosta de ir acrescentando não tem nenhuma referência a cachorro. Quer dizer, nada contra o suéter chique de tecido patchwork cinza e marfim ou mesmo a blusa cropped branca de manga comprida e soltinha, mas ambos seriam bem mais fofos se tivessem ossinhos de cachorro em algum parte. — Atenção, Corujinha — Ren me chama antes de jogar a bolinha de brinquedo do outro lado da sala de estar dos meus pais. Eu empurro meus braços à minha frente e me debato na tentativa de pegá-la. Em vez de alcançar, eu acidentalmente a jogo na direção dos dois cães que a perseguem ativamente. — Qual é, Corujinha! — Suas mãos são jogadas para o alto em derrota. — É o melhor que sabe jogar? Minha carranca é quase tão imediata quanto a risada do meu tio Robert. — Ela nunca foi muito boa nos esportes — ele informa com um encolher de ombros casual. — Herdou do meu irmão. — Fique sabendo que isso é conversa fiada — meu pai argumenta rapidamente, espalhando as migalhas de biscoito da boca. — Sou ótimo nos esportes! — Tênis — tio Robert diz com desdém. — Isso conta? A tez cor de caramelo do meu pai fica em um tom carmesim de indignação.
— Pare com isso — minha mãe rapidamente intervém. — Vocês dois sempre ficam assim após alguns copos de cidra de maçã. — Deve ser o rum que você colocou — sua irmã, Tamia, interrompe. Ela inclina o rosto chocolate escuro e apoia as bochechas nas palmas. — Deus sabe que você tem uma mão pesada com essa merda. Minha mãe lhe lança um olhar estreito e o constrangimento devido as suas ações imediatamente entra em ação. Ai, Deus... Eu finalmente trago um namorado para casa, e é assim que eles se comportam?! Essa não é a visão da minha família que eu queria que ele visse! Eu queria que ele se lembrasse de quão amáveis e atenciosos meus pais eram. Ver como a dedicação ao seu trabalho árduo compensou ao serem capazes de fazer coisas, como pagar esta casa enorme neste lado do rio e serem anfitriões da festa de Natal sem que cada um precise levar alguma coisa para todos comerem. Sem dúvida, não queria o lado feio, que é mais feio que o suéter que o primo do meu pai, Chester, está usando. — Que jeito de deixar um cara com inveja por não estar bebendo — Ren acrescenta jovialmente. — Nós podemos mudar isso — minha tia, Sharon, maliciosamente sugere de onde está servindo seu quarto copo. — Não podemos — nego baixinho. Chester balança dois pedaços de presunto com suas mãos grossas de cor creme. — Quem quer um petisco? Os cães abandonam imediatamente todos os brinquedos que espalharam na sala para pegar o petisco oferecido. — Eu não... — mal escapa antes de eles devorarem os restos de carne que foram presenteados. Um apelo silencioso é feito na direção de Ren e como o cara doce que ele odeia itir que é, ele diz: — Corujinha, está pronta para levar os meninos para casa?
Borboletas vibram incontrolavelmente em meu estômago sempre que ele usa essa palavra. Casa. Tecnicamente, não é nossa casa, mas de certa forma é nossa casa. Além do meu espaço designado no armário e das roupas elegantes para cães do Bond em todos os lugares, há outros pequenos detalhes que indicam que é mais nossa do que apenas dele. Como a governanta agora comprar meu sabonete, xampu e sabão em pó favoritos, já que não me importo de limpar minhas próprias roupas. Tem o estoque da Red Hots que parece nunca diminuir, sem falar na cafeteira aleatória que, assim como o salto alto prateado e brilhante no armário, simplesmente um dia apareceu. Tenho meu próprio chaveiro para entrar no prédio e o código de o à porta dele. Quer dizer, ainda tenho um pouco das minhas coisas no apartamento que divido com Della, que odeia a frequência com que estou longe, mas adora a liberdade de andar nua, mas isso está mudando lentamente. Não acho que Ren vá me pedir oficialmente para me mudar. Ele só vai esperar que um dia todas as minhas coisas estejam lá. Ou... mais provável... um dia vai aparecer aleatoriamente na minha porta com a empresa de mudanças e fazer ela mudar todas as minhas coisas para o seu apartamento. Nós estamos mais ou menos inseparáveis desde a primeira noite em que dormi em sua cama. Cada momento livre que um de nós tem é ado com o outro ou próximo ao outro. Eu vou a alguns de seus treinos. Ele sempre cumpre seu horário de trabalho voluntário, embora agora e o tempo realmente ajudando, quando não está tentando me apalpar. Vamos juntos para sua tradicional noite na Game Galleria com os meninos e para as festas de vitória para ele dar as caras antes de celebrarmos a vitória do seu time de uma forma indecente e mais privada. Todos os caras, surpreendentemente, me tratam como se eu pertencesse ao invés de como uma pária. Eles nunca me chamam de Pele ou maria-patins ou vadia do hockey; no entanto, eles também nunca usam o termo “namorada”. Apenas meu nome. Talvez seja porque Ren e eu não nos demos um rótulo verbalmente? Mesmo quando o apresentei aos meus pais, não especifiquei em que tipo de relacionamento estamos. Acredito que não deveria precisar ser dito a essa altura.
Espero que não. E o motivo de eu não tocar no assunto é porque acho que eu não aguentaria se isso desfizer tudo o que temos. Por mais que eu queira acreditar que não iria desfazer, não sei ao certo. Ren ainda está vivendo uma vida de “Matrix”. Eu vejo um lado. O restante do mundo, outro. Claro, há momentos em que os dois se fundem, como quando ele acidentalmente usa uma classe superior de vernáculo ou a a juntar seus dois lados para assistir a um filme de ação de merda e fazer uma viagem secreta à livraria na cidade mais próxima, mas na maior parte, eles permanecem separados. Separados, mas dificilmente equivalentes. Ren calorosamente sugere: — Quer pegar as sobras da comida da sua mãe enquanto pego os brinquedos deles? — Boa ideia — eu docemente replico e sigo na direção dela. Na cozinha, ajudo minha mãe a fazer alguns pratos para levarmos para casa e comermos nos próximos dias. Ela pergunta sobre minhas provas finais, meu trabalho e Della, aproveitando os únicos minutos que tivemos a sós o dia todo. Não consigo resistir a roubar vislumbres de Ren, que está rindo alto com meu pai e meu avô. É difícil olhar para outro lugar quando ele se permite ser tão aberto. Tão honesto. Tão livre. — Pelo amor de Deus, Poppy, você está inegavelmente apaixonada — mamãe sussurra baixinho ao meu lado. Meu nariz balança ao mesmo tempo que minhas bochechas ficam tingidas.
— Você sempre foi apaixonada por aquele garoto — ela calmamente relembra. Os olhos castanhos brilhantes que herdei dela encontram os meus. — Só tenha cuidado, querida. Errar uma vez é humano. Errar duas vezes... — É escolha. Ela pisca e lambe uma gota de molho de queijo do polegar. Poucos minutos depois, meus pais estão se despedindo de nós quatro na garagem deles. Ren está segurando as coleiras dos nossos cachorros, enquanto eu agarro os quatro pratos de comida que minha mãe exigiu que levássemos. — Obrigado, mais uma vez, por vir comemorar conosco, Ren — meu pai declara calorosamente. — Foi um prazer receber você. Ele fica radiante. — Foi maravilhoso ter vindo. Obrigado por me convidar. — Foi bom te ver de novo — meu pai fala impensadamente. — É bom ver quão bem cresceu. Que excelente jovem se tornou. — Deseje a seus pais um Feliz Natal pela gente — minha mãe acrescenta enquanto começamos a nos dirigir ao SUV dele. Ren oferece a eles mais um sorriso largo e educado e acena. Ele não vai fazer isso. O único motivo pelo qual ele ligou para sua mãe esta manhã para desejar um Feliz Natal foi porque discutimos sobre isso até que ameacei chorar como o menino Jesus nascendo se ele não ligasse. Do pouco que consegui arrancar dele e dos pedacinhos que soube ao longo dos anos visitando meus pais, só tenho certeza do seguinte: Um, Ren ama sua mãe. Ela é a única outra pessoa que eu já vi ter vislumbres do cara que eu vejo. Dois, Ren odeia seu pai, mas não consegue ar a ideia de desapontá-lo.
Três, ele prefere fazer qualquer outra coisa ao invés de ar tempo com eles. O único motivo pelo qual ele ou o Dia de Ação de Graças na presença deles é porque seu pai oferece um jantar do time para todos os jogadores e seus respectivos familiares todos os anos. Quando perguntei se ele queria que eu fosse, o não foi tão imediato que foi quase impossível esconder minha dor ao ouvir. Não pedi detalhes sobre o motivo e ele não deu. No entanto, quando as conversas sobre o Natal surgiram e eu o convidei para se juntar a nós para o feriado, ele não poderia ter aceitado mais depressa. Sei que deveríamos eventualmente tocar no assunto como um todo, mas o que posso dizer? Prefiro a ideia de um feliz Natal em vez de um triste. No SUV, Ren abre minha porta antes de deixar os cães entrarem pelo lado traseiro do ageiro. Eu me acomodo, afivelando o cinto de segurança e ajustando a comida em minhas mãos enquanto Bond pula para dentro do veículo e sobe no assento sem problemas. Ele caminha até o outro lado, faz um pequeno círculo e se senta, indicando que está pronto para partir. Ele é um cão muito bem treinado e adorei cada minuto que amos deixando-o assim. — Entre — Ren grunhe atrás de mim. Não acontece nada. — Entre. Ainda não acontece nada. — Mas que droga, está muito frio. Pra. Dentro. Suas frustrações florescendo me levam a esconder minha risadinha atrás de lábios bem apertados. — Entre! Eu inclino minha cabeça sobre meu ombro para afirmar: — Brutus, entra. O pug rabugento entra no SUV e sobe para o assento, o nariz desafiadoramente levantado. — Brutus, senta.
Ele chega um pouco mais perto de Bond e estatela sua bunda para baixo. Ren solta mais alguns resmungos provocando mais risos em mim. Faço tudo ao meu alcance para abafá-los, para não adicionar combustível ao adorável fogo. Alguns segundos depois, quando ele se senta no banco da frente, ele imediatamente se vira para reclamar para o cachorro. — Olha, sei que ela é basicamente sua mãe, dado o tempo que aram juntos ao longo dos anos e que ainda am juntos, mas eu sou o alfa dessa relação. Entendeu? Você faz o que eu digo. Brutus bufa imediatamente, como se discordasse. Meu punho cerrado voa para os meus lábios em uma tentativa final de segurar a risada. Ren me lança um olhar furioso, lança um olhar furioso para Brutus e coloca a chave na ignição. Mantendo uma mão em cima dos pratos no meu colo, eu estendo a outra para descansar amorosamente em sua perna. Uma vez que se am alguns minutos de viagem de volta para seu apartamento, ele abaixa uma das suas para embalar docemente a minha. Ele ter adotado oficialmente o Brutus foi uma grande surpresa. De alguma forma, ele conseguiu fazer tudo oficialmente pelas minhas costas, o que é difícil considerando que sou a responsável pelo abrigo, mas ele conseguiu. Ele veio ontem à noite um pouco antes de eu ir embora. Eu gentilmente o lembrei que tínhamos concordado em nos encontrar em sua casa porque eu tinha uma adoção que precisava concluir oficialmente. Foi quando ele me informou que era a dele. Houve muitas lágrimas de alegria, não apenas porque Brutus finalmente estava conseguindo um lar, mas por toda a consideração. O esforço que ele despendeu na surpresa. O fato de ele ter formado um vínculo com um animal que a maioria das pessoas imediatamente descarta. O fato de ele querer “uma bolinha de pelo” para que eu lembrasse dele quando fosse jogar fora da cidade. Foi romântico e sincero e me deixou totalmente pronta para dizer a ele que estou loucamente apaixonada por ele. Mas não posso dizer essas palavras em voz alta.
Ainda não. Não até que eu saiba que ele não vai se transformar no Dr. Imbecil e insistir que toda essa merda foi apenas para me amaciar para Byer. Para deixar de ser tão grudenta. Ou pegajosa como a virgem necessitada que sou. Essas palavras terão que esperar até que ele decida qual pílula ele quer permanentemente tomar. Ai, Deus... Acabei mesmo de fazer uma referência à Matrix por conta própria?! O que está acontecendo comigo? Por que não foi uma referência a cachorro? Colocar a comida, os cachorros e nós mesmos no apartamento é um desastre hilário. A partir do momento em que estacionamos, fica claro que sair será tão difícil quanto foi entrar. Eu equilibro a comida. Preparo-me para sobreviver ao vento inável. Mostro a ele a linguagem, o tom e os gestos adequados fazendo uma demonstração com o Bond. Não funciona. O ego machucado de Ren por ser descaradamente ignorado por algo que poderia fazer voar pelo gelo com um esforço mínimo não o permite ouvir a razão. Ou sugestões. Ou fatos. Só quando ele vê meus dentes batendo sem parar é que ele abandona o ime. Em um golpe rápido, ele arremessa o cachorro em suas mãos e o repreende por fazer o resto de nós congelar até a morte. Brutus late e se agita nas mãos de Ren, claramente descontente por não ser capaz de andar. Eles continuamente reclamam um do outro como se realmente entendessem o que o outro está dizendo durante toda a caminhada até o apartamento. No momento em que entramos, Ren o coloca no chão, solta sua guia e exige: — Vá para a sua cama. Brutus funga sua recusa. — Brutus — meu tom é firme —, cama. Sua carranca de cachorro permanece, mas ele marcha para o outro lado do quarto, onde sua cama luxuosa está ao lado da estante de livros. Ele desaba, mas
garante que esteja de costas para nós. — Porra, ele é teimoso — Ren resmunga, lidando com a remoção da coleira de Bond, o que me permite arrumar as sobras. — Ele tem que parar com essa merda. — Sim, só há espaço para um babaca teimoso neste apartamento. Minha provocação é recebida com um escárnio cheio de alegria. — De que lado você está, Corujinha? — Humm — murmuro durante a colocação da comida na geladeira — vou ficar com o meu lado. De repente, seus braços estão em volta de mim, me puxando para longe da geladeira. — Resposta errada, Corujinha. — Ele me prende em seu torso sólido coberto por uma camisa azul marinho e pressiona seus lábios perto da minha orelha. — Devo amarrar e dar uma palmada em você para conseguir a certa? — A língua de Ren toca a ponta da minha orelha. — Mostrar o que acontece quando torce para o outro time? Suas sugestões sexuais acendem o que acredito ser a transição perfeita. — Quer seu outro presente de Natal agora? Ele belisca minha orelha. — É você nua, espalhada na minha cama, para eu comer como se fossem os biscoitos do Papai Noel? — Talvez... Com isso, Ren me gira em seus braços. — Essa é a única merda que eu quero, Corujinha. Nós conversamos sobre isto. Nós conversamos.
Em parte. Ele não queria que eu gastasse nenhum dinheiro com ele sabendo que tenho contas, aluguel e, basicamente, a vida para pagar. Sim, meus pais ajudam nas despesas quando preciso, mas a expectativa sempre foi fazer isso sozinha. Trabalhar duro. Construir uma vida para mim da maneira como eles construíram a deles. Favores não são frequentes em minha casa, mesmo agora que facilmente poderiam ser. Eles acreditam que há mais valor a ser aprendido na arte da luta do que na arte de mendigar. Eu entendo. Eu... respeito. Minha conta bancária, por outro lado... não está apaixonada por essa filosofia, embora tenha gostado da presença do Ren. Ele se recusa a me deixar pagar pela comida ou qualquer coisa quando saímos. Não tenho permissão para ajudar a colocar mantimentos em sua casa, apesar do fato de que provavelmente como a maioria, não tenho nem permissão para oferecer a ele dinheiro para gasolina já que dirige tanto. Ele tem um estado de espírito muito cavalheiresco, o que não é totalmente surpreendente, considerando toda a sua mentalidade de “você é minha”. Eu não tinha permissão para dar presentes, só ser mimada com eles. E eu, sem dúvida, era. Os presentes que ele me dava eram ridiculamente caros e sentimentais. Ele não só adotou o Brutus, como também comprou brinquedos novos para Bond, um moletom “Cachorro-Sempre?” com capuz para mim, um notebook novo, uma capa nova para notebook e um tablet novo, que ele conectou com o site onde publica seus escritos de ficção científica sob um pseudônimo. Tive que prometer que só leria naquele aparelho, e nunca deixaria sair do apartamento. A exigência foi um pouco intensa, mas sei que é porque é seu segredo mais valioso. Compartilhar comigo foi o verdadeiro presente. Assim como compartilhar outra parte de mim está prestes a ser o meu. — A boxer do Homem-Aranha que estou usando no momento foi fácil de deixar ar. Ela é confortável pra caralho, e eu rio pra cacete por causa dela toda vez que vou mijar. — Como eu esperava. — Mas a porra do livro que você comprou para mim... — Não foi tão caro! — eu chio.
Suas sobrancelhas se erguem instantaneamente. — Pois eu digo que isso é conversa fiada. — Sério, não foi o preço dramático que está fazendo parecer que é. — É uma primeira edição assinada em capa dura de Clube da Luta. Essa merda não foi barata, Corujinha. — Não foi... ultrajante. — Foi de graça? — Bom, não, mas... — Então, você quebrou a primeira regra do acordo de dar presentes, algo que eu poderia deixar ar uma vez por algo simples como minha boxer, mas não duas vezes e, com certeza, não três vezes, porra. — Não tínhamos nenhum tipo de acordo oficial! — O que eu disse estava dito, e você concordou com isso. — Eu não concordei, tecnicamente! Você simplesmente disse o que você achava que deveria acontecer... e, aí, foi o fim da discussão. — Exatamente. — Não é assim que as discussões funcionam, Ren. — Funcionam comigo. — Suas mãos deslizam para baixo para agarrar minha bunda. — Assim como essa agora acabou. Vesti a cueca fodona, aceitei o livro, obrigado de novo, fofinha, foi mesmo um ótimo presente, mas agora, eu quero o único presente que importa de verdade para mim, que é você — ele flexiona os dedos —, gozando nos meus dedos e na minha língua pelas próximas horas. A contraproposta voa com confiança para fora da minha boca: — E no seu pau? Pela primeira vez desde que me lembro, Ren está sem palavras. Hum.
Nunca pensei que isso fosse acontecer. Um cara com um vocabulário do tamanho do dele ficando sem palavras é incrível. Estou meio orgulhosa de ter conseguido isso. Ainda como se tivesse sido atingido por uma daquelas luzes espalhafatosas do filme Homens de Preto, outra franquia que ele ama, eu aceno freneticamente uma mão na frente dele, na esperança de trazê-lo de volta a esta realidade. — O quê? — Ele finalmente balança a cabeça em uma tentativa de recuperar seus sentidos. — O que você acabou de me dizer? A timidez de ter que repetir a frase surge. — Eu, hum... eu... Seus olhos me encaram. — Só diga essa merda quando for verdade, Corujinha, ou nem diga nada. Meu queixo cai. — Você quer transar... eu sou totalmente a favor. Não quer, então, continuaremos fazendo a merda que fazemos agora. — Ele dá uma olhada nos meus lábios com gloss. — Afinal, você chupa meu pau como se fosse seu sabor favorito de pirulito, Corujinha. — O olhar cheio de júbilo do Ren levanta de volta para o meu. — Isso é o suficiente para mim. — Não é o suficiente para mim. — Eu projeto meu queixo. — Eu quero... eu quero tudo. Ele cantarola se preparando para procurar um blefe. — Tudo? — Aham. — Do que estamos falando? Cachorrinho? Sapo? Cavalgar de costas?
A lista de posições faz meus olhos esbugalharem. — Algemas? Grampos para mamilos? Plugues para bunda? Meu peito sobe e desce um pouco mais rápido. — Por telefone? Transmissão? Opções de chat ao vivo? Horror salta na minha expressão. — Não diga tudo para mim, porra — ele repreende de brincadeira. — Porque tudo é merda demais para você e faria com que sua bundinha virgem pensasse em investir em um cinto de castidade. Eu nervosamente mordisco meu lábio inferior em vez de retrucar. — Você quer mesmo transar? — Ren questiona cautelosamente. — Ou acha que tem que transar? — Eu quero. Seus olhos procuram meu rosto, mais uma vez, em busca de falhas no que ele obviamente acredita ser uma fachada. Meus dedos deslizam para os lados e até suas costelas. Lá, eles se contraem, arranhando as zonas certas que nunca falham em deixar seu pau duro. — Eu quero que você tenha a mim, Ren... Um rosnado baixo e sombrio cresce na parte de trás de sua garganta. — Tudo de mim. Ele permite que sua língua toque brevemente em seus lábios antes de assentir. — Você pensou nessa merda? Eu prontamente faço que sim. — Quanto tempo?
— Quê? — Há quanto tempo você tem pensado em me foder? “Desde que aprendi o que era foder” provavelmente não é a resposta correta... Inconscientemente, minhas bochechas ficam vermelhas e Ren geme. — Cacete, Corujinha. Me diga o que está deixando seu rosto dessa cor... — Ele aproxima sua boca da minha. — Me diga há quanto tempo você está esperando que eu te foda. Seu dedo desliza entre minhas pernas por trás, tirando o fôlego e a resposta de mim. — Desde que consigo me lembrar. — Ren ataca meus lábios entreabertos, mas só é capaz de roubar com sucesso um gostinho da minha língua. — Mas... — Sem merda de “mas” — ele resmunga. — Nenhuma coisa boa vem após essa palavra, porra. — Eu quero que seja especial. — Tipo velas e essas merdas? Um encolher de ombros inocente sai de mim. — Velas seria bom. Talvez... música também? — Beleza. — Ele acena rapidamente. — Posso fazer isso. Mais alguma coisa? Não tenho a porra das pétalas de rosa por aí nem nada, mas acho que se realmente quiser, podemos jogar alguns enfeites na cama. Eu rio e dou um leve empurrão nele. — Nada de enfeites, mas arrumei algo para vestir, que é o presente que quero que você desembrulhe... — Então, mal posso esperar, caralho. — Vou pegar e me arrumar.
Ren balança a cabeça em objeção. — Corujinha, você sabe que eu vou te foder tanto que vai ser uma perda de tempo, certo? O mais tênue gemido escapa, e ele arrogantemente pisca. Babaca. — Pode até ser verdade, mas quero que seja tudo memorável. Quero que você se lembre de como eu estava na primeira noite em que transamos. — E eu irei, independente do que você colocar ou não, Poppy. Ouvir meu nome ser dito tão docemente resulta em um beijo suave nele. Depois, fujo para pegar o traje especial que pedi para Della me ajudar a escolher. A lingerie temática de Natal acabou sendo mais complicada do que eu esperava. Originalmente, eu tinha algo bem objetivo e simples no meu carrinho de compras. Era um conjunto vermelho de sutiã e calcinha que tinha uma pequena penugem branca nas bordas. Eu ia colocar um chapéu de Papai Noel, dizer “ho ho ho, Sr. Noel” e me dar por vencida. Esse era o plano até que Della descobriu o que eu estava fazendo... Ela começou a me fazer um milhão de perguntas que melhores amigas fazem da série “você tem certeza que quer transar com esse idiota” antes de decidir que eu não podia comprar “coisas sensuais” por conta própria. Eu quis protestar, mas as lembranças de ter que pegar emprestadas as botas dela, nas quais me encaixei remotamente na minha primeira festa, vieram à mente. Enquanto percorria o site, ela me deu dicas e também avisos do tipo não ter medo de me tocar para ajudar a ser agradável para mim também na primeira vez. Não ficar surpresa se eu não gozar porque os caras são egoístas, especialmente durante a primeira vez de uma garota. Ela também me alertou sobre a dor mais provável de ser sentida, de não ficar chocada se houvesse sangue, e que chorar depois é totalmente natural. No final da nossa conversa, eu não tinha certeza se ela estava descrevendo sexo ou a remoção do meu primeiro órgão. Ela escolheu essa monstruosidade cheia de cordão insistindo que seria melhor do que o que eu tinha escolhido, porque um cara como Rutledge não gosta de merda sem graça, e seria mais divertido deixá-lo desfazer as tiras uma por uma para criar antecipação. Eu deveria ter ficado com a minha escolha.
A dela não vem com as instruções tão necessárias. Por mais tempo do que deveria, luto no banheiro, não para colocar o sutiã ou a calcinha, mas para conectar as tiras que deveriam mantê-los juntos. Infelizmente, toda vez que penso que estão devidamente colocadas e tento prender as tiras nas meias vermelhas, algo se desfaz, me forçando a reiniciar o processo. Xingamentos e bufos e guinchos saem de mim com tanta frequência que Ren cautelosamente me verifica três vezes. A segundos de abandonar a roupa completamente, eu finalmente tenho tudo onde deveria estar. Eu dou uma longa olhada no espelho e dou o meu melhor para encontrar a confiança que Ren diz que está apenas se escondendo. A confiança que ele afirma ver brilhar quando estou trabalhando no Garras & Patas ou na Petrópolis. A confiança que ele diz que sempre vem quando estamos sozinhos, e eu facilmente o ponho na linha. Ou jogo um pirulito nele. Eu prendo meu cabelo encaracolado como Della recomendou e faço uma pose ardente. Estou sexy. Estou gostosa. Estou pronta. Abrindo a porta do banheiro, fico aliviada ao ver Ren pacientemente esperando na beira da cama, o rosto enterrado nas páginas do livro que comprei para ele. Seu cabelo está um pouco bagunçado por causa da constante esfregação que ele faz enquanto lê. Seus músculos sem camisa realçados sensualmente pela luz das velas. A boxer do Homem-Aranha bem na altura dos quadris. Dedos do pé batendo no ritmo da música de vez em quando. É assim que eu prefiro vê-lo. Descontraído.
Guarda baixa. Sem preocupações. Esse é o cara que não tem problema em me beijar com meu hálito matinal ou em apontar que estou com migalhas, de novo, na camisa. Esse é quem eu sei que no fundo me ama. Quem eu sei que amo. Abro a boca para anunciar minha presença quando o cheiro repentino de algo queimando faz cócegas no meu nariz. — Algo está pegando fogo? Ren atrai sua atenção para mim e abre um sorriso impressionado. — Sim... você. Apesar de não ser o que eu quis dizer, paro um momento para perguntar: — Você gostou? Ele deixa seu olhar vagar ao longo das tiras em zigue-zague até as meias na altura da coxa antes de voltar aos meus olhos. — Vou adorar essa porra no chão. — Vai ter que trabalhar um pouco para chegar lá. A provocação o faz jogar o livro na mesinha de cabeceira e caminhar em minha direção. — Você sabe que amo a porra de um desafio. Um sorriso malicioso começa a se espalhar pelos meus lábios quando o cheiro me atinge pela segunda vez. — Sério, Ren. O que está queimando? — Velas, Corujinha. Você precisa de óculos novos?
Eu reviro meus olhos para ele. — Não está sentindo esse cheiro? Ele inspira profundamente e imediatamente faz careta. — Caralho, sim, agora eu sinto. Que porra é essa? — Seu tom se torna brincalhão. — O que você fez no meu banheiro? — Nada! Meu guincho é seguido por ele inclinando a cabeça em uma suspeita jovial contínua. — Não tem cheiro de nada. — Nada do que eu faço cheira a... — Dou outra baforada no ar — plástico queimado. Isso é plástico queimando? Ren e eu desviámos nossa atenção para as velas que ele conseguiu pegar. Escondo minhas risadinhas pelo fato de serem as decorativas da mesa de Natal que montei e procuro o que está causando o cheiro. No mesmo instante, nossos olhos localizam a garrafa de água que está derretendo por estar perto demais da chama viva. — Merda — Ren grunhe e corre para corrigir a situação. Sua mão mal toca antes que ele tenha que afastar. — Caralho! A explosão alta faz com que uma rodada de latidos comece, seguida prontamente por nossos dois cães correndo para dentro do quarto, preparados para ajudar a derrotar o que quer que esteja nos incomodando. Faço o possível para acalmá-los enquanto ele apaga as velas, acende as luzes e se desfaz do plástico derretido. Quando ele retorna, ele imediatamente pega o purificador de ar do banheiro e começa a borrifar todo o cômodo. Os jatos são rapidamente avassaladores e, quando vou dizer isso, ele borrifa bem na direção da boca. — Ai, merda!
Tosses fortes e engasgos escapam imediatamente. Eu freneticamente aceno minhas mãos para a minha língua que está saindo da minha boca e grito balbucios de como isso é nojento. — Água! — Ren anuncia apressadamente. — Deixa eu pegar um pouco de água. Ele sai correndo para pegar com dois cachorros em seu encalço. Seu retorno imediato é bem-vindo, no entanto, devido aos cães, sem saber, bem debaixo de seus pés, ele tropeça acidentalmente, espirrando o fluido por toda a frente da minha lingerie. Descrença e receio mergulham em sua expressão. O que é que está acontecendo? Por que tudo está dando tão errado?! Ren cautelosamente se aproxima com o que resta no copo e tenta uma piada grosseira. — Gosto assim bem molhado... Minha testa franze quando tiro a água de suas mãos. Depois de lavar o gosto dos produtos químicos que entraram na minha boca, deixo meus olhos se conectarem aos dele, vendo um fragmento de esperança remanescente. Certo. Tivemos um começo um tantinho difícil, mas isso não significa que vai acabar assim. Talvez precisássemos apenas tirar todo o lixo do caminho para que desse ponto em diante navegue sem problemas. Decidindo que esse é o quadro mental que vou seguir, coloco cuidadosamente o copo na mesa de cabeceira próxima e flerto: — Por que você não vem aqui e me ajuda a tirar essas roupas molhadas? O cara por quem estou absolutamente apaixonada me dá um sorriso malicioso. — Não vai ser nada difícil fazer isso.
Ren dá alguns os arrogantes em minha direção, envolve seus braços em volta da minha cintura e abaixa seus lábios para a lateral do meu pescoço. Seus dentes raspam suavemente em seu caminho para baixo em direção ao ponto sensível perto da minha clavícula, ao mesmo tempo que suas mãos escorregam por baixo da borda da minha calcinha atrevida. Elas adentram a área suavemente, fazendo promessas silenciosas de prazer enquanto sua língua faz promessas semelhantes ao longo do caminho até meus mamilos. Ele dá a cada um uma chupada forte por cima do material molhado, e um leve gemido parte meus lábios. Seus dedos deslizam ao longo das alças até a frente do traje. Eles se ocupam com a tarefa de abrir o material, e tento me lembrar de respirar. De não fugir do seu toque. Nossos olhares se conectando apenas aumentam a forma como meu coração está batendo incontrolavelmente no meu peito, e a adoração que encontro em seu mar infinito de verde me tenta a professar a única coisa que venho me recusando. De repente, uma pontada de dor vem da área em que suas mãos estavam demorando. — Ai! Ren estremece com sua própria confusão. — Desculpa. — Está tudo bem. Está... — Outra dor rápida é sentida. — Ai! — Mas que porra? — ele resmunga olhando para cima. — Por que diabos essa merda é tão difícil de desfazer? O que você fez? Colocou super bonder? — Hah hah. Muito engraçado. Está... — Ele puxa o material com raiva acidentalmente me acertando de novo. — Ai! Pare com isso. — Estou tentando te deixar nua! — Está tentando me irritar! — Porra, Corujinha, me dê um minuto para dar um jeito nessa merda — Ren retorna a puxar as alças. — Você encomenda essas merdas da NASA ou algo
assim? — Eu estava tentando ser sexy! — Você estava tentando estar segura. Não é isso que querem dizer com sexo seguro. — Sexo seguro é não fazer sexo — eu sarcasticamente rebato. — O que não estamos fazendo graças a essa merda, então, missão cumprida. A irritação sobe pelo fundo da minha garganta, no entanto, faço o possível para encontrar minha paciência. — Você... quer ajuda? — Você tem uma tesoura que eu não consigo ver? Minha cabeça cai para baixo para ter uma visão melhor do que ele está fazendo meros segundos antes dele estourar o material bem próximo das minhas costelas novamente. — Ai! Cuidado! Sua cabeça se levanta batendo na minha. — Estou sendo cuidadoso! O som dos meus óculos caindo no chão atinge meus ouvidos enquanto uma dor terrível se espalha pela minha cavidade nasal. Fecho meus olhos e gemo desconfortavelmente: — Aimeudeus... — Poppy. As lágrimas obstruem minha garganta, mas eu as empurro para dizer: — Por favor, pegue meus óculos antes que os cachorros pisem neles. Ouve-se um som de uma confusãozinha seguida por: — Vamos te levar até a cozinha e pegar um pouco de gelo. Eu nem me preocupo em assentir devido ao latejar extremo.
Ren me pega pela mão e me guia pelo apartamento até a pequena mesa da cozinha. Depois que ele me ajuda a sentar, ouço-o criar desesperadamente uma solução para a situação. A máquina de gelo estremece, deixando Brutus perturbado. Ele vasculha as gavetas à procura de um saco plástico com zíper, que na verdade fica guardado na despensa. Os resmungos de perguntas para si mesmo consistem em quando ele comprou tantos panos de cozinha para o feriado e por que não consegue encontrar um quando realmente precisa. Eventualmente, ele puxa uma cadeira de madeira na minha frente e pressiona suavemente a bolsa de gelo na área inchada. Lágrimas caem silenciosamente dos meus olhos. Quer seja pela nova agonia em meu rosto, por estar presa nesta roupa idiota ou pelo fracasso ridículo que deveria ser minha primeira vez, não tenho certeza. Por que a pior merda sempre acontece comigo? Por que não poderia ser simplesmente um momento como eu sonhei? A palma quente de Ren pousa contra minha bochecha para permitir que seu polegar acaricie suavemente. — Me desculpa mesmo, Corujinha... Abro os olhos e vejo seu rosto um tanto desfocado. — Está cega? — ele provoca levemente. — Quantos dedos estou levantando? Não é muito claro, mas sou capaz de vê-lo levantando dois e balançando a língua entre eles. — Pervertido. Uma pequena risada escapa. — Então, não tão cega... Por que você simplesmente não usa lentes de contato? — Não quero enfiar coisas nos olhos todos os dias. — Não deve ser tão ruim. — É horrível.
— Rainha do drama. — Rei do desastre. A resposta, para minha surpresa, o faz rir desconfortavelmente. — Nem brinca. Acho que nunca antes fodi tanto algo. — Ele abaixa a bolsa de gelo para tocar suavemente a pele entorpecida. — Dentro ou fora do gelo. — Não é tudo culpa sua — eu calmamente consolo. — Meio que é. — Ren me oferece meus óculos. Enquanto eu os coloco, ele continua: — Você queria romance, e essa merda é, hum... não é... exatamente minha especialidade. — Não conscientemente. Ele levanta as sobrancelhas em questionamento. — Ren, você é romântico o tempo todo. Do seu próprio jeito. Em vez de comprar flores para mim, você compra vitaminas de couve... — Com maçã. — Em vez de jantares caros em restaurantes cinco estrelas, que você sabe que provavelmente não vou me sentir confortável, você me traz os melhores cachorros-quentes com pimenta e anéis de cebola que esta cidade tem a oferecer. Sua expressão começa a suavizar. — Você é tão atencioso e doce e é minha culpa por querer coisa demais para esta noite. Eu deveria ter apenas... ficado nua, subido na sua cama e dito “me possua”, como um romance lixo. — Você sabe que os bons também têm essa merda. Não consigo evitar perguntar. — Você também lê romances?! — Já li — ele corrige apontando firme com o dedo. — Não vá distorcer. Eu não
saio procurando por essas merdas. — É por isso que você é tão bom de cama? — A réplica sai antes que eu possa segurar. — Você estudou muito? Um sorriso torto cruza seu rosto. — Só espere até ver o que todas aquelas horas de leitura podem fazer, Corujinha. O calor enrubesce minha bochecha enquanto me encontro odiando que não seja agora. Como se pudesse ouvir os pensamentos, ele deixa sua mão sem gelo cair na minha coxa. — Vai acontecer quando tiver de acontecer, Corujinha. Não tem que ser hoje à noite. — Mas eu queria que fosse. — Eu sei... mas... meu corpo parece não estar bem com essa quantidade de pressão... — Desculpe — eu sussurro timidamente. — Só para deixar claro, eu queria romântico, não perfeito. — Romance forçado é uma tentativa de perfeição. — Se você acha isso, por que tentou? — Por você. — Ren joga o saco de gelo e a toalha na mesa. — Eu gosto de fazer você feliz, Corujinha. — Seus olhos travam nos meus. — Isso me deixa feliz. O canto do meu lábio inferior desliza entre os dentes. Ele nem precisa tentar me fazer feliz. Ele simplesmente faz. O som de sua risada. O brilho de seu sorriso. A crueza de suas piadas. Além disso, há a maneira como ele divaga sobre esportes quando está nervoso ou
animado e a maneira como ele fala sobre livros quando termina de ler um ou de trabalhar em um capítulo próprio. E, claro, há o jeito que ele instintivamente me abraça quando o vento aumenta... o jeito como ele precisa me beijar duas vezes antes de correr para o vestiário... o jeito que ele dá um único beijo no meu ombro antes de apagar… Há tanto nele que me deixa feliz. Tanta coisa que eu amo. Talvez dizer o que ele disse foi sua maneira de me informar que está indo nessa direção também. — Quer ouvir sobre o desastre que foi a minha primeira vez? — Aimeudeus, sim! — Não me venha cantar que nem High School Musical. Seu comentário me faz encará-lo. Ren ri vitoriosamente antes de começar. — Tudo bem, então, eu tinha quatorze anos... — Quatorze?! — A descrença rouba minha respiração. — Quatorze, cacete?! Ouvir essa história está dentro da legalidade? — Essa história, sim. Algumas que vieram depois... provavelmente não. Meu queixo cai em choque. Será que eu quero saber sobre essas? — Enfim... eu tinha quatorze anos. Estávamos fora da cidade para um torneio de clubes durante o verão. Estávamos hospedados nesse hotel, onde também estava hospedado um time feminino de vôlei. A gente relaxava na piscina, com supervisão mínima, é claro, e eu ava a maior parte do tempo beijando uma garota chamada Teressa. Nome de vadia.
Quer dizer, não é. Mas tanto faz. Estou com tanto ciúme de ouvir essa história agora quanto estou curiosa. — Ela me disse que me mandaria uma mensagem para ir ao quarto dela mais tarde naquela noite para que pudéssemos fazer outras coisas uma vez que sua colega de quarto adormecesse. Stratton era meu colega de quarto, então, eu sabia que ele daria cobertura para mim na pior das hipóteses. Naquela noite, ela me deixou entrar furtivamente, começamos a brincar na cama dela e ela disse “vamos lá”. Como um cavalheiro, fui preparado... — Você quer dizer como um adolescente excitado cheio de esperança. — Mesma merda — ele descarta. — A primeira camisinha, coloco do avesso. As próximas duas, eu acidentalmente rasgo. No momento em que realmente consigo colocar uma... — Por que você estava com tantos preservativos?! — Era só uma tira. — Quem é você, o Joey de FRIENDS? Ren sorri pensativamente para si mesmo, e eu dou um tapa de desaprovação na perna. Não é o que nenhuma virgem quer ouvir. — Quando eu realmente coloquei uma, estava mais nervoso do que jamais estive em toda a minha vida. Foi quando tudo piorou. Minhas sobrancelhas sobem em direção ao teto, causando uma dor em meu rosto que exige que eu recupere o saco de gelo. — Eu fico em cima dela e... não consigo encontrar o buraco. — Ele faz careta para si mesmo. — Tentei... enfiar na bunda dela. Erro meu. Então, eu meio que esfaqueei sua coxa. Seu clitóris. Em seguida, a outra coxa. Quando eu finalmente entrei? Eu durei talvez dez arremetidas. — Ren balança a cabeça em
desaprovação. — Talvez. Eu deixo minha mandíbula abrir. — Basicamente, subi em cima dessa garota, me debatendo como se meu pau tivesse encontrado o espírito santo e peidei quando gozei. Na adição final a sua história, eu explodo em gargalhadas que são seguidas por gemidos de dor. — Isso é o que você ganha — ele repreende de brincadeira. — Por ficar rindo da minha dor... Mais gargalhadas saem de mim. — Você peidou?! — Aham. Um peido bem barulhento e úmido que sua colega de quarto, que afinal de contas não estava dormindo, não pôde evitar rir também. — Aimeudeus! — Provavelmente a pior coisa que já me aconteceu. — Aimeudeus! — Todo esse desastre, um segundo lugar logo atrás — Ren docemente suspira. — Ahh — eu cantarolo, mão abandonando o bloco de gelo sobre a mesa mais uma vez. — Essa foi ruim..., mas não tão ruim. Ele me dá um sorriso. — Leve essa história para o túmulo, Corujinha, ou o inferno que você terá de pagar será tão severo que será ado para os seus tatara tatara tataranetos. É errado querer dizer nossos tataranetos? Urgh, provavelmente. — Só há uma outra pessoa que conhece essa história...
— Stratton. — Sim, e eu tenho um trunfo igualmente terrível sobre ele só para manter a merda equilibrada. — Com isso, ele se move em direção à minha roupa — O que diz, corto para te tirar dessa merda, e vamos dormir? Eu tenho um treino às 6h com alguns colegas que ficaram na cidade. Eu suavemente aceno em concordância. Não demora muito para me tirar da roupa, guardar o bloco de gelo, desligar as luzes junto com a música e rastejar pelada para a cama. Os cães se ajeitam ao longo da borda do colchão perto dos meus pés enquanto Ren se emaranha em volta de mim, uma perna jogada sobre a minha, um braço protetoramente em volta da minha cintura, e seu rosto perto do meu ombro. Espero, como sempre, pelo beijo dele no meu ombro antes de cair no sono. Em algum momento durante a noite, eu me pego abrindo meus olhos com um pequeno gemido e fico desapontada que o sonho vívido que eu estava vivendo era apenas isso. Nosso quarto, que tem uma tênue luz devido a do banheiro que Ren ocasionalmente deixa ligada, está completamente silencioso. Nossos cães estão espalhados, Bond mais perto de mim, Brutus angulado um pouco mais perto de seu pai. Ren se reorganizou para estar de costas com os dois braços enfiados atrás da cabeça e o lençol mal cobrindo sua metade inferior. Ele solta um ronco leve que me diz o quão morto para o mundo ele de fato está. Aproveito o momento para irar com ternura seu peito esculpido. A maneira como seu V aponta diretamente para a parte diabolicamente deliciosa dele que eu mal posso esperar para ter dentro de mim. Com cuidado, puxo o cobertor um pouco para roubar um vislumbre do caminho de cachos e seu eixo adormecido. Minha boceta molhada está empolgada com a ideia de enrolar minha boca em volta dele para acordá-lo só por prazer. Não há muita contemplação na decisão. Eu simplesmente estico minha palma e começo a acariciá-lo para acordar. A emoção me rasga enquanto ele ganha vida ao meu toque. Cada masturbada me enche de orgulho sabendo que ele está gostando do que estou dando a ele, enquanto o peso de suas palavras funciona como uma canção de sereia, me convocando para seu colo, mas não do jeito que eu originalmente pretendia. Eu gentilmente rastejo em uma posição montada ao lado de seu comprimento. Gemidos sonolentos de aprovação escapam dele.
— Vai sentar em mim, Corujinha? Ele está falando do rosto dele. É o seu jeito favorito de me comer, o que demorou um pouco, mas, eventualmente, se tornou meu favorito, também. — Sim — minha resposta silenciosa nos pega de surpresa junto com a próxima ação. Em um movimento confiante, eu coloco a cabeça de seu pau na entrada da minha boceta e desço. Suspiros de dor e prazer são simultaneamente expulsos de mim. A confusão de Ren é liberada em um bufo. — Mas que... — Gemidos altos são banidos do seu corpo à medida que seus quadris sobem por vontade própria. — Porra, você é apertada, Corujinha. Meus músculos lisos incham com a declaração. — Isso... isso é ruim? Ele resmunga e contém seus movimentos, me permitindo afundar até a base na minha própria velocidade. — Não. — Ren solta uma respiração controlada e lenta. — Só... é bom demais. A nova informação me faz sorrir um pouco. Melhor do que ser horrível demais. — Nunca me senti tão bem antes — confessa calmamente. — Porra, nunca mesmo foi assim tão bom. Faço o possível para relaxar na posição. Seu pau grosso parece que está determinado a me rasgar em duas ao invés de oferecer qualquer tipo de prazer. Meus músculos levam um tempo se ajustando à intrusão, oscilando entre rejeitar e acolher. Quando eles finalmente decidem pelo último, eu me levanto ligeiramente para deslizar de volta para baixo. — Caraaaaaalhooooo — Ren geme, dedos agora voando para agarrar minhas
coxas. Eles se prendem na parte de trás delas e gentilmente me puxam para a frente fazendo minha boceta moer contra ele. Nós dois gememos com a sensação e imediatamente a perseguimos. Meus quadris começam a balançar um pouco mais rápido em direção ao atrito que sentimos, encorajando-os a encontrar a velocidade que vai me dar prazer de novo e de novo. Eu ancoro meu punho em seus lados, diretamente em cima das suas zonas sensíveis conhecidas, precisando de apoio enquanto minha metade inferior descontroladamente balança. Seu pau incessantemente perfura minha boceta, elogiando-a pelo o. Prometendo satisfação. Proclamando-a como sua propriedade, e apenas sua. Ren geme um pouco mais alto e rapidamente realoca o polegar para o meu clitóris. A pressão adicional imediatamente gera um choramingo por mais, mas a fricção febril me deixa em uma bagunça gritante. — É isso aí, Poppy — Ren rosna. — Possua essa merda. Foi-se a garota que precisava de velas e músicas pop piegas como distração de seus modos novatos, e em seu lugar está uma deusa sem medo de experimentar tudo o que está sendo oferecido. Descaradamente, eu me esvaio, amando a combustão que está sendo construída por ambas as partes dele. Eu me afogo nas ondas da minha própria umidade, me banho no calor escaldante que estamos trocando, e me banho nos gemidos selvagens que Ren está incessantemente dando. Lençóis são enviados para o chão. Cachorros assustados, para fora do quarto. Parafusos da cabeceira soltos. Nossos corpos colidem continuamente juntos até que estamos cobertos de suor e gritando sons que não se assemelham a nada humano. Eu posso sentir suas bolas apertando debaixo de mim; no entanto, ele não cede às suas exigências. Em vez disso, ronrona: — Nós não vamos parar até que você goze no meu pau, Corujinha. Meus dentes apertam meu lábio inferior em conjunto com minha boceta no pau dele. Os músculos de repente começam a se torcer firmemente, ameaçando ceder logo às suas exigências. Não querendo que nossa primeira vez terminasse assim, eu sem fôlego respondo: — Goze comigo. Ele bufa sua recusa enquanto ajusta o controle da minha perna. — Por favor...
Não importa se é por conta da minha súplica ou da minha boceta pulsando, mas Ren se rende. Juntos, nossos orgasmos se chocam em uma colisão de quebrar a cama. Tremo incontrolavelmente e me inclino para a frente, desesperada para não ser atirada durante seus tumultuados impulsos finais. Jatos abrasadores me enchem, um após o outro, e minha boceta gananciosamente os devora, só parando quando ele está absolutamente exausto. Neste momento, eu desmorono em cima dele, acidentalmente tirando seu ar. Imediatamente, eu inclino minha cabeça para cima para me desculpar. — Sinto muito... Seus braços se enrolam em volta de mim. — Eu não. Meu sorriso começa a aparecer. — Você está bem? — Ele pergunta cautelosamente. — Está dolorida? — Estou feliz — a resposta impensada surge. — Eu também... Nós nos olhamos alegremente e nos permitimos nos perder no momento. Isso foi... surreal. Ainda bem que tudo deu errado antes. Assim foi bem melhor do que antes teria sido. De repente, o alarme telefônico do Ren começa a berrar, arruinando a paz. Ele solta um descontente, “Porra”, e se inclina para desligá-lo. A tristeza começa a afundar na boca do meu estômago quando percebo que não ficaremos agarradinhos depois como eu esperava.
É assim que acontece nos filmes e na tevê! Meu Deus, sou uma virgem grudenta. Em um esforço descarado para ser exatamente o oposto, eu forço um sorriso jovial no meu rosto e assinto. — Treino, não é? Ren relutantemente faz que sim. — Mas quando eu chegar em casa, é melhor estar aqui, ainda nua, e pronta para mais três rodadas. Eu tento sorrir. Ele se levanta para enrolar completamente os braços em volta de mim novamente. — Porra, gostaria de poder ficar na cama com você... Ouvi-lo querer a mesma coisa alivia um pouco da tristeza. Nossas bocas se unem, e no primeiro toque das nossas línguas, tudo parece diferente. Mais intenso. Mais significativo. Antes eu achava que Ren me beijava como se eu fosse dele. Agora, parece que ele é dono de mim. Mente. Coração. Corpo. E, agora, alma. Quando ele se afasta, ele cuidadosamente me tira do colo para deslizar para fora da cama. No entanto, no segundo que ele está lá, seus olhos se voltam para seu pau amolecido. Eles imediatamente se levantam quando sua mandíbula atinge o chão. Meu nariz nervosamente se contrai. — Quê? — Corujinha... — Ele varre uma mão pelo cabelo. — Cadê a camisinha? — Que cami... — O suspiro de surpresa que me agarra corta minha frase. — Ah, não!
A cabeça dele cai para trás em frustração. — Por isso que essa merda estava tão boa... — Aimeudeus, aimeudeus, aimeudeus — eu grito. — O que vamos fazer?! — Não usar — Ren casualmente responde, agora, olhando nos meus olhos. — O que quer dizer com não usar?! Isso não é responsável! — Você está tomando pílula. Não estou transando com mais ninguém. Você, com certeza, não está transando com mais ninguém. Não são necessárias. — Eu me preparo para falar sobre doenças quando ele acrescenta: — Estou limpo, Corujinha. Temos que fazer exames de saúde durante a temporada, que incluem testes aleatórios de mijo e coletas de sangue. Eu não fiquei com mais ninguém desde a minha última. — Que foi quando? — O último check-in ou a última vez que fiquei com outra pessoa? — Eu acho... que essa. — Um dia antes do nosso primeiro encontro. — Que foi quando? — A primeira vez que levei cachorros-quentes com pimenta e anéis de cebola para você — ele rapidamente informa. — Menti e disse que fui embora para alguém chupar meu pau, mas na verdade cheguei em casa e... li um livro. Adoração bombeia através do meu olhar. — Vou pegar uma toalha para isso. — Ren aponta para onde nossos desfechos estão começando a escorrer pela minha coxa. — Em seguida, tenho que me vestir e ir. Eu aceno meu entendimento. — Mas, só para esclarecer, Corujinha — ele começa enquanto recua para o banheiro —, agora que estamos aqui, não tem mais retorno.
Em vez de pedir esclarecimentos, eu simplesmente faço que sim novamente. Espero que ele queira dizer que não vamos voltar ao jeito que as coisas costumavam ser quando ele era apenas o babaca que me usava para se livrar do serviço comunitário, e quando eu queria um encontro com seu colega de time menos favorito para me vingar. Porque eu também não quero voltar. Eu nunca mais quero voltar a ser a garota que ele deixou de lado. A garota que ele se forçou a esquecer. A garota que ele nunca amaria. Não. Como Ren disse. Agora que estamos aqui, não há mais retorno.
Capítulo 11
Nunca pensei que não sentiria falta de chamar uma Pele para vir me chupar. Para ser sincero, achei que ficaria enjoado da mesma merda repetidamente ou que a natureza inocente da Corujinha se tornaria um incômodo broxante. Claro, esses são pensamentos patrocinados pelo Rutledge. Esse é o meu lado que controlou todas as decisões sexuais que fiz no ado. E ele não ficou satisfeito quando Ren decidiu assumir. Quando decidiu ir em uma velocidade e em uma rota que deixa Poppy feliz porque, caralho, Ren vive para fazer a garota feliz. Mas acho que é seguro dizer que momentos como este podem levar a um entendimento agradável. Corujinha desliza meu pau para mais perto de sua garganta, instantaneamente fazendo com que seus músculos se ativem com reflexos. O aperto extra parece o paraíso, mas lembrar dela quase vomitando no meu pau no ado é o mesmo que olhar para o portal do inferno. Eu o alguns dedos por seu cabelo e puxo para cima. — Corujinha, respire, porra. Pelo nariz, como ensinei. Poppy faz uma pausa para fazer o que foi dito antes de me levar mais abaixo no confinamento molhado do qual nunca me canso. — Caralho, é isso aí... Ela afunda as bochechas repetidamente para abraçar meu eixo de tal forma que não há dúvidas de que ela sentiu saudade do meu pau tanto quanto ele sentiu saudade dela. Quatro dias não parece muito quando parece que vocês estão sempre juntos, mas quando o tempo que estão de fato juntos é só para dormir, comer ou beijar ao se despedir, todo esse tempo fica bem evidente. Principalmente para o seu pau. Sua bunda coberta por jeans balança lentamente para frente e para trás no ar, me aterrorizando. Me atormentando.
Me provocando porque isso é o máximo que posso ter até nos despacharmos da galera na Game Galleria. Eu começo a remover meus dedos para dar uma palmada quando ela tenta mergulhar até a minha base. Sabendo que ela não consegue lidar com tudo, eu me afasto, ordenando que ela levante a cabeça, mas ela ignora a exigência nãoverbal e faz o oposto. Ela vai até o limite, forçando seus músculos a me sufocarem do jeito que está sendo sufocada. O aperto da garganta no meu pau faz meus olhos rolarem para trás em gemidos acalorados. Uma saliva escaldante é espalhada desleixadamente ao longo das minhas coxas. Minha base. Escorre para minhas bolas, que se apertam cada vez mais de empolgação. Poppy se afasta para a ponta em um suspiro desesperado por ar, e meus olhos a seguem querendo se deleitar com seu rosto angelical sujo com pré-gozo e baba. Ansioso para ter meu pau enterrado no fundo de sua garganta novamente, eu a puxo de volta e solto um gemido encorajador. Sua cabeça começa a subir e descer freneticamente, enchendo todo o SUV com uma sinfonia de engasgos e grunhidos. Meu hálito quente embaça ainda mais as janelas enquanto minha mão livre se agita em uma busca desesperada por estabilidade adicional. Corujinha geme enquanto se empanturra. Mói toda a sua figura com os movimentos. Permite que seus cachos criem uma cortina que bloqueia o rosto do qual não me canso. Algo primitivo dentro de mim de repente se rompe. Preciso assistir. Preciso ver o invólucro de pureza que ela derramou por mim, e apenas por mim, ser derramado repetidamente. Pego os cachos em uma mão para poder ver a merda do que os sonhos molhados são feitos. Porra, Poppy é a merda de que todos os meus sonhos são feitos. Tanto de Ren quanto de Rutledge. Ela continua seu balanço frenético, pau desaparecendo e reaparecendo como uma ilusionista safada. Cada gesto é envolto em confiança. Cada açoite entregue em domínio intocável. A combinação de sua depravação oculta e devoção ao meu pau me deixa rígido o suficiente para enfrentar qualquer coisa. No entanto, no momento em que ela vira a cabeça para me observar a observando, estou acabado. Seus grandes olhos castanhos, inocentes e cheios de lágrimas na extremidade por engasgar com o pau é uma visão que eu simplesmente não consigo aguentar. Sem nenhum aviso, jorros rapidamente dominam sua boca e não permitem
nenhuma escolha a não ser devorá-los. — Engula essa merda, Corujinha... Poppy sequer hesita em executar a tarefa. Ela engole meu esperma, gemendo durante o processo como se estivesse saciando alguma criatura obscena dentro dela. Sua boca permanece agarrada até que meu pau finalmente para de liberar. Assim que isso acontece, eu faço uma carícia em sua bochecha, mas dou um comando selvagem: — Lamba até me limpar. Seus olhos se arregalam de excitação. — Seja uma boa menina. Não deixe a porra de uma bagunça no meu pau, Corujinha. Minha garota libera sua posse do meu pau em um estalo cômico. Em seguida, ela estende dramaticamente a língua para distribuir lambidas longas e lascivas da base do meu eixo para cima. Eu arrogantemente assisto enquanto ela leva um tempo para provar todos os lados duas vezes para garantir que fez um trabalho completo. Sim, merdas como essa mantêm Rutledge feliz. E merdas como essa fazem Ren se sentir mimado pra caralho. Quando finalmente termina, ela me lança um sorriso malicioso e balança sua bunda. — Senti saudade, Ren. — Porra, deu para perceber, Corujinha — após minha risada, levo seus lábios aos meus. Nossas línguas se enlaçam, mas a dela instantaneamente se ajoelha diante da dominação da minha. Ele rapidamente se rende às voltas e reviravoltas. Me deixa liderar o ritmo. Explorar o território pelo qual eu perderia minha cabeça se soubesse que alguém estava sequer pensando a respeito. Ela choraminga de alívio e fome, assim como eu.
Nunca pensei que estaria apegado a ninguém, muito menos a uma garota como Corujinha. Uma garota que não se encaixa no meu mundo, independentemente do quanto eu force o molde a aceitá-la. Uma garota que não se força demais ou com muita frequência a ser outra coisa senão quem ela é. Uma garota que não acredita que ser quem você quer ser é algo ruim. Sei que o relógio está correndo e o dia está cada vez mais próximo em que terei de deixá-la ir se quiser continuar sendo o Rutledge, Deus do Hockey, com a NHL em vista... O problema é que nunca gostei totalmente dessa ideia. Esse foi um rótulo construído para mim. Um rótulo embalado em um laço. Um rótulo pelo qual desisti da Poppy uma vez para agradar porque era muito ingênuo. Agora, não sou mais. E agora, não sou um alienado do caralho como antes. Depois que nosso beijo termina, eu coloco meu pau de volta na minha boxer do Homem-Aranha e no moletom cinza enquanto ela arruma o cabelo. Nós dois saímos do meu SUV e caminhamos até a frente da Game Galleria com meu braço amorosamente envolto em seu ombro. Ren ama Poppy. Rutledge adora exibi-la como propriedade. — Você está com sua camisa por baixo disso? — questiono em nosso caminho para a área do aero hockey. — Não estou sempre? — ela retruca.
Era algo que eu tinha personalizado para ela. Paguei alguém para colocar meu nome e número nas costas de uma das camisas genéricas da Vlasta para que sempre que a gente estiver com o time, eles saibam a quem ela pertence. Mais para que Byer saiba a quem ela pertence. E com quem. E saiba que nunca terá o que eu tenho – dentro ou fora do gelo. Roubei a garota que ele poderia ter e roubei esta temporada dele ainda mais do que no ano ado. Ele nunca teve motivo para me odiar tanto... Adoro pra caralho. O degenerado dentro de mim que sempre tem que ser o melhor... adora pra caralho. Ela desliza até uma das mesas próximas enquanto eu procuro minha carteira. — Como foi sua primeira semana de aula? — Nada mal. — Dou de ombros. — Ainda bem que o professor Perry também dá aula de romance americano. É bom saber o que esperar de pelo menos um professor. Corujinha me oferece um sorriso caloroso. — E como é ser um homem livre? — Bacana. — Recuperando o cartão, coloco o objeto de volta no bolso. — Sinto falta de ver você, mas adoro ter minhas tardes de volta. Apesar do fato de o treinador Stiles estar ciente de que Poppy não é apenas a garota com quem estou, mas a garota que assinou toda a minha papelada, ele me deu liberdade da palhaçada estúpida de serviço comunitário na manhã de segunda-feira. Ele disse que ficou tão impressionado com minha mudança de comportamento e atitude que sentiu que tinha servido ao seu propósito. Nada de
vídeos incriminatórios surgindo. Nada de testes de drogas falsificados. Nem mesmo a porra de uma multa de estacionamento do campus. Corujinha é a verdadeira responsável por toda essa merda. Ela é certinha no sentido de me manter sendo o goleiro top e safadinha no sentido de fazer meu pau voltar por mais. Ela inclina a cabeça docemente. — Ainda vai aparecer ocasionalmente, certo? — Claro, Corujinha. Não posso deixar você voltar para casa esfomeada e tal. — Está me dizendo que vai largar qualquer livro que estiver lendo para... — Lendo? — A voz de Stratton interrompe inesperadamente por cima do meu ombro. — Que porra você está lendo, Rutledge? Kama Sutra para Pau Mandado de Boceta? — Por que diabos eu leria isso? — eu imediatamente rebato. — Quem você acha que é pau mandado de boceta? — Vamos pedir a opinião do de juízes — diz Stratton como um comentarista esportivo de merda. — Bom, Stratton, de onde estou sentado, parece que o Rutledge é de fato, pau mandado de boceta — afirma Gillette em sua voz mais profissional. — Eu não sou. Ele desliza para o assento em frente a Poppy. — Embora ele tenha escolhido algo incomum, está claro que ela tem algo especial a oferecer, dada a incapacidade dele de ficar longe. — Não é... — Rhinehart — Stratton gargalha —, importa-se de compartilhar suas conclusões? Rhinehart assume uma posição firme ao lado de Gillette, mas faz que não.
— Peck — Stratton grita —, só falta você, senhor. Por favor, apresente sua declaração sobre o status de pau mandado de boceta do nosso goleiro número um. — Eu não sou pau mandado de boceta. — Ei, se mantiver você jogando tão bem quanto tem jogado toda a porra da temporada, quem é que liga, porra, se você é pau mandando de boceta — Peck casualmente suspira segundos depois de chegar ao meu lado. Rhinehart acena com a cabeça na direção de Peck. — Concordo. — Quantas vezes tenho que dizer a vocês idiotas que eu não sou pau mandado de boceta porra nenhuma? — Você pode dizer quantas vezes quiser, Rutledge — a voz de Byer se insinua na conversa. — Não significa que não seja verdade. — É isso que diz a si mesmo no espelho sobre ser o segundo melhor? Byer se prepara para lançar-se contra mim quando Billingsley aparece para impedir. — Opa. Guardem a hostilidade para amanhã no gelo, cacete. — Ele a o braço em volta do meu ombro. — Hoje, vamos encontrar algumas maria-patins para nos manter aquecidos. — Imediatamente, ele lança à Poppy um olhar simpático. — Não leve a mal. — Levei um pouco — ela retruca com indiferença. — Poutine... em seguida bo-ce-ta — afirma Stratton. — Conhecem a regra. Rodadas por minha conta. Em vez de dizer qualquer coisa para Poppy, eu simplesmente me deixo ser arrastado por grande parte do meu time. Não querer perder a fama tanto quanto não querer que pensem que sou pau mandado de boceta faz com que todo o meu comportamento mude. Chegamos à movimentada área de alimentação e rapidamente somos recebidos por uma multidão de mulheres. Algumas altas.
Algumas baixas. Todas ansiosas por nos ter entre as pernas. A fila se move devagar, mas elas se movem rapidamente, reivindicando os jogadores que desejam enganchando seus braços em volta deles ou impedindo que suas amigas cheguem perto. — Rutledge — uma loira que foi impedida de se aproximar de Billingsley se vira para mim —, quer ver meu novo piercing no umbigo? Na verdade, não. Eu encolho os ombros em vez de deixar a resposta que quero dar sair dos meus lábios. Isso parece uma maneira de pacificar os dois lados de mim. Ela sobe lentamente sua blusa rosa justa e revela uma visão nada impressionante. Caralho, há tantas garotas com argolas no umbigo. E já vi tantas que tem o mesmo efeito de olhar para as orelhas de uma garota. Não me causa nenhum efeito. — É o seu número — ela murmura sedutoramente. A informação me faz erguer uma sobrancelha. — Por que você não se aproxima e vê melhor? Gritos agudos e assobios retumbam na minha cabeça. Eu não deveria chegar mais perto dessa garota. Ela não me causa nenhum efeito. E pelo jeito que ela está falando comigo, suponho que já a peguei e não consigo me lembrar, o que definitivamente significa que devo ficar o mais longe possível. Mais importante, eu tenho uma namorada... mesmo que eu não dê a ela esse rótulo devido a alguma palhaçada de Dr. Jekyll, Sr. Hyde acontecendo constantemente dentro de mim. Não quero perder o que tenho. Com o canto do olho, pego Stratton e Gillette me lançando olhares presunçosos.
Suas provocações sem palavras sobre eu ser pau mandado de boceta gritam tão alto que tenho medo de ficar surdo. Rutledge não é a porra de um pau mandado de boceta. Eu faço o que eu quiser. Quando eu quiser. Com quem eu quero. Eu me agacho e deslizo a ponta do meu dedo indicador por baixo do ório pendurado. — Olha só para isso, Pele — minha cabeça se inclina ligeiramente para cima —, você tem o meu número. 01. — Você é a estrela da temporada... Pensei que poderia ser a estrela de outro lugar também... — Ela molha os lábios para indicar o que já é óbvio. O canto do meu lábio se ergue, mas imediatamente cai quando um chute inesperado e pesado é dado na minha perna. — Filho da puta! Meus olhos disparam e encontram o olhar de Rhinehart. — Fila. Andando. — E? Ele revira os olhos com óbvia irritação. — Talvez deva segui-la. Deixo minha testa enrugar em confusão. Rhinehart solta outro suspiro pesado e dá uma olhada na direção em que a Corujinha está sentada. Ou... estava sentada. — Merda — eu murmuro, lutando para ficar de pé.
— Sim — ele grunhe. Meu corpo rapidamente começa a decolar quando a loira estende a mão para me impedir. — Rutledge... Nossos olhares se conectam e a única coisa que sinto é meu estômago se revirando de arrependimento. Isso foi estúpido pra caralho. Eu não deveria estar aqui, porra. Ou em qualquer lugar perto daqui. Não, não quero continuar ouvindo merdas deles, mas também não estou pronto para jogar a toalha com a Corujinha. Rutledge e Ren entram em outro confronto um-a-um. Eles estão fazendo essa merda cada vez mais ultimamente. Festa ou rala e rola? Bife caro ou tacos caseiros de frango? Loira aleatória ou morena linda que odeio dormir sem? Soltando minha mão da dela, eu arrogantemente encolho os ombros. — Vai ter que encontrar outra estrela do time, Pele. Sou comprometido. — Eu recuo ao mesmo tempo que sugiro: — Tente Rhinehart. — Não — ele recusa instantaneamente. Ela faz beicinho, mas eu não poderia me importar menos. Apressando-me de volta para a mesa de aero hockey onde Stacy e Byer estão jogando, eu pergunto: — Um de vocês viu para que lado a Poppy foi?
— Não — Stacy responde primeiro. — Talvez tenha ido arranjar seu substituto, já que você foi arranjar a dela — Byer começa a rir, mas é interrompido pelo som de Stacy marcando. — Droga! Eu o por ele, certificando-me de dar uma olhada para ele por cima do ombro, a ideia de liberar minhas frustrações de uma forma bem mais violenta parece bem atraente. Definitivamente deixaria Rutledge ganhar aquela rodada. A busca por Corujinha começa nas filas mais próximas a eles. Infelizmente para mim, o lugar está mais movimentado do que normalmente está em nossas típicas noites de quinta-feira. Está repleto de grupos de pessoas que não se movem quando uma única pessoa se aproxima da maneira que fariam se um time se aproximasse. Eu ziguezagueio o melhor que consigo, ando pela pista de boliche em miniatura, pelas máquinas de skee-ball e pelos aros de basquete. Cada minuto que a sem que eu tenha ideia de onde ela está adiciona mais ódio a mim mesmo. Ela não merecia essa merda. Ela me chupou no banco da frente do meu SUV, em público, porque sentiu saudades pra caralho de mim, e é assim que eu agradeço a ela? Por que diabos ela me atura? Minhas mãos penteiam meu cabelo grosso enquanto eu paro em frustração no final de um corredor. E se ela não estiver aqui? E se ela tiver ido embora? Tiver acabado de ligar para a porra de um Uber e embarcado? E se ela estiver empacotando suas merdas e do Bond e do Brutus agora? Ela não pode levar o Brutus.
Ele... não é dela. Ele é... nosso. Caralho, por que itir em voz alta que somos um casal é tão difícil para mim? Urgh. Eu sei a porra dessa resposta. Com certeza não quero lidar com ela. Solto um suspiro pesado e volto para minha caça. Leva mais três filas revistadas antes de eu finalmente encontrar Corujinha apropriadamente descontando sua frustração no Acerte-A-Toupeira. Ela bate impiedosamente nas criaturas conforme elas surgem, e me encontro relutante em me aproximar, não querendo que ela gire aquele golpe na direção das minhas bolas. Ambas as mãos caem para proteger meus meninos quando chego ao lado dela. — Ganhando? Ela agarra o martelo com mais força e começa outra rodada. — Você, hum... quer jogar contra quando terminar? Poppy bate desconfortavelmente forte na primeira toupeira que aparece. Não consigo evitar que um estremecimento escape. Deus me ajude. — Belo golpe. A velocidade das criaturas aumenta, e seus golpes violentos também. — C-c-c-cuidado… Ela continua golpeando as criaturas, minúsculos guinchos de raiva surgindo a cada golpe. Quando a rodada termina, ela imediatamente a o cartão para recomeçar o processo. — Você não, hum... uma vez me disse que os terrier são a melhor raça para caçar
merda no subsolo como as toupeiras? Fico ainda mais preocupado quando ela nem hesita diante da oportunidade de falar sobre cachorros. — Que eles foram criados basicamente para caçar merdas abaixo da superfície? Nada ainda. — E, então, eu disse a você que o nome deles faz sentido porque significa terra. Os golpes da Poppy permanecem ridiculamente constantes, apesar das minhas divagações. A derrota supera meu tom. — Porra, se você está puta, Corujinha, basta dizer que está puta. Eu não gosto dessa palhaçada de dar gelo. — Eu não gosto de ver meu namorado colocar o rosto tão perto da boceta de outra cadela. A franqueza da resposta me pega desprevenido. — Eu não gosto de ser ignorada porque você é a porra de um bebezão que não aguenta a provocação da sua galera. — Vá se foder. — Não, vá você se foder, Ren. — Ela acena com o martelo na minha direção. — Eu aguento um monte de merda e um monte de piadas porque eu gosto muito, muito de você. E porque ainda tenho dificuldade em entender como uma garota como eu fica com um cara como você. Mas quer saber? — Poppy volta a derrotar as criaturas. — Eu mereço mais do que a merda que você acabou de fazer. Mais, muito mais. — Uma fungada se perde com o som de suas batidas. — Talvez isso tenha sido um erro. Talvez nós tenhamos sido um erro. Talvez... Pego o objeto da mão dela e rosno: — Chega. — Jogando o objeto de volta na mesa, eu a prendo contra a máquina, uma mão de cada lado, assim ela não tem para onde ir. Seu corpo se vira para nos permitir ficar cara a cara, e a dor em seu
olhar dói como um músculo distendido. — Me desculpa, Poppy. Ela balança a cabeça. — Não basta. — Eu... — Não, Ren — Sua interrupção mais uma vez me pega de surpresa. — Me mostre que está arrependido por essa palhaçada. — O que que você quer que eu faça? Te foda aqui mesmo contra a máquina? Ela molha os lábios como se a ideia fosse apetitosa. Eu faria isso. Bom, eu provavelmente faria isso. Não quero ser banido para sempre, mas tenho a impressão de que provavelmente poderia pagar para sair dessa merda. — Me apresente como sua namorada. Seu pedido deixa meu corpo tenso. Rutledge xingando internamente. Ren assentindo mentalmente com entusiasmo. — Diga às pessoas que você tem namorada, cacete. — Eu... — Não comprometido, Ren. Use o termo correto. Minha boca se fecha. — Faça com que eu sinta que sou importante...
— Você é. — Que importaria se eu saísse da sua vida... — Importaria. — Que eu sou mais do que a Pele que você afirma que não sou. O peso de suas palavras me esmaga como se um milhão de livros caíssem em cima de mim. Ela não está pedindo nada ridículo. Ela não está pedindo para eu arrendar um maldito carro ou pagar suas mensalidades ou mesmo um novo par de sapatos Tom Ford. Ela está pedindo o mínimo de mim. O mesmo que sempre pede. — Beleza — eu concordo calmamente. — Beleza? — Seu queixo se levanta desafiadoramente. — Beleza, o quê? — Beleza, Corujinha... — Meus dedos colocam um cacho perdido atrás de sua orelha. — Quando as pessoas perguntarem, direi que você é minha namorada. — Promete? — Prometo. — E chega de tocar em outras garotas — ela diz ferozmente. — Jamais. Há um pequeno puxão no canto do meu lábio. — Você fica fofa quando está ciumenta. — Não estava ciumenta. — Tão ciumenta.
— Urgh. — Poppy brinca, se vira em meus braços e pega o martelo. — e o seu cartão. Essa rodada de surra nas toupeiras é por sua conta. Eu rio levemente e concedo seu desejo. Em vez de apenas ficar parado enquanto ela se diverte, vou até a máquina ao lado dela e o meu cartão novamente para poder participar. Lado a lado, golpeamos furiosamente as criaturas. Ocasionalmente, estendo a mão e bato em uma das dela, e ela me dá um empurrão brincalhão para parar. Ela, em troca, cutuca meu lado com seu martelo para me distrair. Rimos cada vez mais alto quanto mais idiotas e idiotas ficamos. Eventualmente, somos acompanhados por Stratton, Gillette e Rhinehart que insistem que um torneio de Acerte-A-Toupeira deve começar. A declaração ultrajante é atendida, mas faço questão de avisar que minha namorada terá a oportunidade de ser incluída. Não há objeções à demanda. Não há assédio adicional por usar o termo. Nem mesmo uma reformulação da provocação anterior de pau mandado de boceta. Eles simplesmente falam merda sobre quem vai dominar e tomam seus lugares. Corujinha me dá um olhar de gratidão que envia uma sensação familiar de tranquilidade por minhas veias. Eu amo quando ela está feliz. Talvez porque quando ela está feliz, eu fico feliz. Feliz de verdade e não apenas fingindo. Foda-se... quem sabe? Talvez no futuro próximo eu deixe de fingir ser somente o babaca que só se importa em ser o número um. Talvez eu deixe de fingir que prefiro festejar até as duas do que comer pizza e assistir aos filmes de Jornada nas Estrelas.
Porra, talvez um dia eu até deixe de fingir que não está me matando viver de uma maneira enquanto o mundo observa e de outra, quando não está.
Capítulo 12
Ren engasga dramaticamente. — Por que diabos essa merda cheira a chiclete e vômito de bebê? — Como você sabe qual é o cheiro do vômito de bebê? — Como você não sabe? A resposta infantil me faz soprar um punhado de bolhas em sua direção. Ele rapidamente as afasta e afirma arrogantemente: — Vai ter que se esforçar mais para tentar me acertar, Corujinha. Você me viu no gelo. — Eu vejo você no gelo — murmuro ao mesmo tempo que volto a esfregar Hogan, o buldogue inglês. — Eu te vejo no gelo há uma década, Ren. Eu conheço todos os seus truques, provavelmente tão bem quanto você. — Ah, é? — Sua voz abaixa. — Que tal este? Minha atenção se volta para ele e o vejo simplesmente olhando para mim. Confusa e preocupada, eu continuo olhando perifericamente em alerta máximo. Eu espero e espero e espero, contudo nada acontece. A história de nosso relacionamento durante aquela década. Revirando os olhos, desvio minha atenção de volta a lavar o cachorro e percebo que ele de alguma forma conseguiu cobrir completamente meus dois antebraços de bolhas. — Como diabos... — Coordenação mão-olho impressionante, Corujinha. Eu abaixo meu queixo para responder quando ele sopra um punhado de bolhas surpresas na minha direção. Mais risadas escapam e eu bato nele de brincadeira. Esta é a parte do “Rutledge” que eu gosto.
Sua natureza competitiva nem sempre é horrível. No gelo, isso o mantém como melhor. Faz com que ele treine mais do que os outros. Dedique-se ao seu time, dando conta do recado quando eles mais precisam. A necessidade de ser o melhor é o que o leva a estudar mais e realmente dedicar-se quando poderia simplesmente dar um jeitinho. “Rutledge” é a parte de sua personalidade que expõe fatos e números quando falamos de hockey, que peida descaradamente enquanto limpamos nossa mesa de jantar e que odeia usar o termo namorada, mas adora apontar para mim nas arquibancadas logo antes do jogo começar e logo após o término. Por mais que ame o outro lado dele, não odeio o lado que implica comigo gentilmente. Nem mesmo se eu devesse odiar. — Não acredito que essa é a merda que você quer fazer no seu aniversário — ele grunhe, esfregando Hogan atrás de suas orelhas castanhas. — Não é o que eu quero — eu prontamente corrijo e toco nas rugas do seu rosto. — Eu simplesmente não ligo. — Deveria ligar. Você é a porcaria da chefe dos dois lugares e não pode tirar o dia de folga. — Não é tão simples como parece. — Hogan estremece se afastando da limpeza. — Fique. Ele imediatamente cessa seus movimentos. — Eu tirei folga na semana ada para o seu aniversário. Vou tirar folga no próximo fim de semana para ir ao seu grande jogo em PA contra os Parksworth Parrots. Além disso, reorganizei a programação para encaixar meus novos horários de aulas, que inclui a aula de dança noturna que estou tendo com Della. — Sim, me diz de novo por que você está fazendo essa merda? — Preciso de um estúpido crédito de Educação Física. — Depois de fazer caretas de beijinhos para Hogan por ser um bom cachorro, eu reclamo: — Pensei que esse pesadelo tivesse acabado quando me formei no Ensino Médio, portanto, não acabou. — Você quis dizer, entretanto.
Sua correção recebe um olhar zombeteiro. — Seu lado nerd está aparecendo de novo. Ren espirra um pouco de água na minha direção antes de dirigir sua declaração para o terceiro membro do grupo: — Ela tem sorte de ser aniversário dela, porra. Morder meu lábio inferior não esconde muito bem minha risada. Adoro que ele se lembre dos nomes dos cães, embora não esteja aqui como costumava estar. Embora eu esteja feliz por ele ter sido dispensado por seu treinador, estou triste por ele não ter a obrigação de vir me ver todos os dias. Nossos novos horários de aula basicamente nos deixam lutando contra o tempo. Mal temos tempo de nos encontrar para mais do que tomar um milkshake durante o dia e nas noites que tenho aula de dança, Bond e eu não dormimos na casa dele. Faz mais sentido pegar carona até o campus com Della e, quando voltamos, meu corpo está dolorido, estou morrendo de fome e só consigo pensar em ficar deitada na cama assistindo a reprises de Ou Eu ou o Cachorro. Entre encontrar tempo para estudar, treinar e meus dois empregos, temos sorte de haver tempo para mais do que uma rapidinha antes de dormir. Apesar disso, há sempre tempo para uma boa rodada antes do treino do dia às 6h. Ele define um alarme para garantir. — Como seria o seu aniversário ideal? Sua pergunta inesperada interrompe minha limpeza. — Tipo, se eu pudesse te dar qualquer coisa, o que você iria querer? — Ren... — Nada daquela merda de Jane Austen: “Contanto que estejamos juntos” — ele proclama apressadamente. — Quero uma resposta sincera. Algo como uma viagem à Disney World para foder por trás do eio It's A Small World. — Por que você já tem isso delineado? — Talvez essa merda seja meu desejo de aniversário — Ren ri e começa a ar o sabonete no Hogan.
— É? — Claro que não, Corujinha. Se vou te foder em público, prefiro fazer a merda valer a pena. Tipo, contra uma janela de vidro em Las Vegas. — Por que essa vale? — Porque não vou deixar crianças traumatizadas para o resto da vida. Ah... por que eu ainda tenho essas conversas com ele?! — Qual é, Corujinha? — Ren muda a conversa mais uma vez. — Eu quero mesmo saber. Parte de mim está curiosa para saber por quê? Ele precisa de uma ideia para o próximo ano? Ele está planejando um futuro mais longo que o semestre atual? É errado esperar que sim? Pego uma toalha grande e a abro para Ren colocar Hogan dentro. Uma vez que ele está lá, eu o embalo trazendo para perto, usando o material para secá-lo suavemente. — O presente dos sonhos perfeito seria uma viagem a Nova York para vivenciar o WKC pessoalmente. — Isso é... um tipo de banda? — Não, é a exposição de cães do Westminster Kennel Club. A expressão de Ren segue mostrando que ele não faz ideia. — É a exposição canina de maior prestígio da América que acontece todos os anos. Na verdade, eles se expandiram do original, que costumava ser uma exposição, para uma semana inteira, que também inclui um campeonato de agilidade e obediência. Certo, eu sei que cães só podem ser de raça pura, e isso cria outra série de problemas; mesmo assim, Westminster tem uma tonelada de programas e coisas que fazem para tentar retribuir à comunidade, tanto humana
quanto animal. Não são só babacas da socialite. Trabalham para tornar o vínculo entre o cão e o ser humano melhor. E você sabe o quanto eu amo isso. — Deixa ver se entendi... — Ren pega a banheira de água e se dirige à pia para despejá-la. — Você poderia ter qualquer coisa no mundo nessa hipótese e escolhe uma exposição de cães? Meu nariz se contorce, incapaz de esconder o constrangimento que sinto. Eu deveria ter simplesmente inventado alguma coisa? Teria sido melhor? Por que às vezes ainda parece que ele espera que eu seja alguém que não sou? — O que você achou que eu ia dizer, Ren? Todas as despesas pagas para uma viagem às Bahamas e uma maratona de compras? — Hogan se mexe com as esfregações que está recebendo. — Não me conhece a essa altura? Ele pega uma toalha extra para secar o recipiente. — Conheço. — Conhece mesmo? — Sim, Corujinha, eu conheço. — Defensivamente, ele rebate: — Se eu não te conhecesse tão bem como conheço, não teria providenciado para nossos malditos cachorros terem chapéus de festa e bolo de aniversário canino esta noite, enquanto comemos bolo red velvet normal em formato de cachorro que a Della deixou mais cedo junto com o Bond. Alegria aparece instantaneamente em minha expressão. — Aham. — Ren aponta presunçosamente. — Está vendo? Eu conheço você. — Você fez tudo isso por mim? Sua testa se enruga de frustração. — Caralho. Estraguei a surpresa.
Atirando para ele um sorriso doce e afetuoso, eu suspiro: — O que importa é a intenção. — Não diga essa merda. É isso que dizemos quando as pessoas nos dão presentes de merda que não sabemos como devolver. Eu deixo minha cabeça cair para trás em uma risada de boca aberta. — Então, essa... merda de exposição de cães. Os bilhetes são muito caros ou o quê? — Não são absurdos. É mais a questão de faltar às aulas. Ir a Nova York. Encontrar um lugar para ficar. E poder pagar a comida enquanto estou lá. — Há quanto tempo você quer ir? — Desde que tenho o Bond. Sua cabeça cai para o lado enquanto ele me lança uma expressão frágil. — Não é nada de mais não ter ido, Ren. — Liberando o cão de sua confinação da toalha, fico de pé, preparando-me para devolvê-lo à sua grade. — Você pediu o ideal. Não o lógico ou provável. — Sua toalha suja é jogada na pilha de roupa para lavar antes de partirmos. — Vamos, Hogan. Hora de jantar e dormir. Não demoro muito para colocar o cachorro onde fica sua grade, alimentá-lo e dizer boa noite aos outros. Fungadas e bufos saem de alguns como se estivessem devolvendo o sentimento. Depois, atravesso o abrigo para verificar a situação dos gatos, garantindo que eles tenham água potável e dando algumas esfregadas em Odin, o gato de pelo curto inglês caolho que nos foi trazido há apenas uma semana. Não sou exatamente uma pessoa que gosta de gatos, mas Odin parece mais um cachorro preso no corpo de um gato. Nós criamos laço no minuto em que um dos membros do resgate o trouxe, e estou me segurando para não o adotar imediatamente. Os gatos não são exatamente um tipo de criatura que vai e vem. Ele teria que ficar permanentemente no meu apartamento, que eu não fico com a
mesma frequência que costumava ficar. Della teria que dedicar tempo para cuidar dele, e ela odeia gatos pra valer, alegando que eles podem ver dentro da alma de uma pessoa. Ela é tão estranha. O coçar em seu pescoço que eu dou é tão bom que seu ronronar aumenta. E se... e se eu o adotasse, mas o mantivesse na casa do Ren? Isso seria demais? O fato de eu já ter um segundo cachorro lá é ruim o bastante? Sem mencionar um segundo guarda-roupa. E escova de dentes. E escova de cabelo. E um conjunto caro de maquiagem que raramente uso. E óculos reserva para o caso de quebrar. E… Estamos, tecnicamente, morando juntos? Estou morando lá e apenas de férias no meu próprio apartamento? Odin põe as patas na minha mão para indicar que já chega e vai até a tigela de água recém-cheia. Eu entendo o recado e saio da ala de gato para terminar de limpar a hora do banho. Para minha surpresa, quando eu volto, Ren não está em lugar nenhum. Cautelosamente, chamo: — Ren? A falta de uma resposta faz minhas sobrancelhas franzirem. Para onde ele poderia ter ido? — Ren? Nada ainda. Eu amplio minha procura ao redor da sala dos fundos usada para arrumação e armazenamento. Eu ando em cada um dos corredores com cuidado, por precaução no caso de ele estar esperando para pular e me matar de susto. Quando chego ao lado oposto da sala, noto a luz acesa na lavanderia no final do
corredor. — Ren? — Por que existem tantas opções, caralho? — ele resmunga alto. — Como diabos eu vou saber o que escolher? E se for os dois, porra? Sem saber com quem ele está gritando, mas não querendo interromper se for uma ligação importante, eu silenciosamente rastejo de onde estou até ele. Eu empurro a porta levemente esperando ver seu celular pressionado contra sua orelha em vez de apenas o lápis que ele roubou de mim antes; no entanto, o que de fato vejo é ele atacando a máquina de lavar. A visão instantaneamente me faz rir. — O que diabos você está fazendo? — Pensei que estava sendo útil, caralho — ele bufa ao mesmo tempo em que liga a máquina novamente. — Mas não sei o que nada dessa merda significa. Como diabos vou saber o que escolher? — Para quê? — Para as toalhas. — Que toalhas? — A merda das toalhas que estávamos usando. — Ren bate na tampa frontal da máquina. — Pensei em ajudar a acelerar essa merda começando por elas, mas não sei o que diabos devo fazer com essa coisa. Minha cabeça cai em simpatia para o lado. — Fofinho, você realmente nunca lavou sua própria roupa? — Não. — Nunca, nunca mesmo? — Dizer isso duas vezes faz você parecer estúpida, não eu. A resposta defensiva indica o quão sensível o assunto é para ele, e eu
rapidamente rendo minhas mãos. — Deixa eu te ensinar, então. Ele acena com a mão irritadamente para a máquina. — Primeiro, vamos garantir que colocamos o sabão aqui — eu retiro a bandeja para colocar o sabão líquido. — Você mesmo tem que colocar a porra do sabão? Meu rosto vira em sua direção. — Elas não simplesmente... fazem essa merda para você? Segurar meu sarcasmo resulta em meu nariz balançar ferozmente. — Não dê uma de Jeannie é um Gênio para cima de mim, Corujinha. Basta dizer o que diabos quer dizer. — Como você não sabe como essa coisa funciona?! — eu chio. — Como operar, tudo bem. Mas o princípio básico de que sim você tem que adicionar sabão? Como não sabe disso? Você me viu lavar roupas na sua casa! — Eu vi você desaparecer na lavanderia. O que você faz lá? Nunca pensei muito nisso. — Uau — eu sussurro baixinho. — Quer saber? Eu sem dúvida vou te ensinar. Assistir a você lavar seu primeiro ciclo de roupa será meu presente de aniversário. — Mas eu tenho um presente para você. — Então, este será mais um. — Meu dedo se estende para apontar para a embalagem. — Pegue isso, leia a embalagem e meça a quantidade apropriada. Ren torce o nariz, mas segue as instruções. Ele leva um tempo e lê em voz alta antes de finalmente istrar a quantidade adequada. — E agora?
— Feche. Ele fecha a bandeja. — Mais suave, da próxima vez. — Até parece, você gosta é com força. A provocação sexual gera um sorriso malicioso. Às vezes eu gosto. Às vezes eu gosto muito, muito. — Gire o botão para serviço pesado. Ren franze os lábios para o lado, mas silenciosamente continua a ser um bom aluno. — Aperte o botão de água quente. Ele aperta. — Coloque em iniciar. Com o sarcasmo na minha última instrução, ele vira a cabeça para mim, me encara e aperta o botão com força. — Isso! Você lavou com sucesso seu primeiro monte de roupa suja. Meu namorado me dá um aceno lento e deliberado. — E quanto tempo essa merda dura mesmo? — Cerca de trinta. Trinta e cinco minutos. — Bom — A língua de Ren dá uma provadinha dos seus lábios. — Vire-se. Mãos na máquina. — Quê? Por quê?
— Ia esperar até mais tarde para te dar as palmadas de aniversário, mas mudei de ideia. Afinal, temos tempo de sobra. — Eu... — Vire, Corujinha. A firmeza em sua voz, combinada com a empolgação com a ideia de levar palmadas, me faz assumir a posição que ele mandou. Assim que assumo, Ren fica completamente atrás de mim, sua ereção em crescimento roçando na curva da minha bunda. Deus, eu amo como faço seu pau ficar assim. Sua boca se pressiona contra minha orelha enquanto seus dedos se ocupam em desabotoar o botão da minha calça jeans. — Você também está com a boca afiada hoje, aniversariante. Eu rio com a censura brincalhona. — Eu enfiaria meu pau lá para te punir, mas parece mais uma recompensa... — Ele abaixa com força o zíper da minha calça jeans. — Considerando o quanto você adora chupar as coisas. A referência do Ren ao vício de pirulito que ele me ajudou a cultivar me faz rir novamente, mas, os sons da minha diversão cessam no segundo em que o ar frio acaricia minha bunda agora exposta. Eu nervosamente agarro a máquina, me preparando para as ações mencionadas, mas para minha surpresa permaneço intocada. Meu rosto espreita por cima do ombro e vejo Ren irando a visão que ele criou. Seus olhos parecem focados na maneira como minha bunda está sendo empurrada para cima pela borda da minha calça jeans, como se estivesse emoldurando-a para seu prazer. Ele deixa uma mão acariciando seu pau por cima do seu moletom preto, enquanto a outra balança ansiosamente em antecipação do que está por vir. Só de observá-lo me observando, minha boceta está se contraindo em desespero. A umidade começa a se espalhar pela minha delicada calcinha de seda, e tenho
que pressionar meus lábios com força para suprimir um gemido. Como um cara consegue me afetar tanto fazendo tão pouco? Isso é normal? Há algo no nosso relacionamento que é... normal? De repente, sua mão desce com força na minha nádega direita. — Aaah! — Conte — ele ordena com uma risada satisfeita. — Seu aniversário. Suas palmadas. Sua contagem. Eu balanço minha cabeça com a exigência ultrajante, mas me encontro cedendo como sempre. — Um. Ren rapidamente me bate de novo no mesmo lugar. — Menos malcriação, Corujinha. Mais ânimo. — Dois! A entrega excessivamente entusiasmada recebe um estalo mais forte na área dolorida. — Eu disse menos, Corujinha. Não mais. — Três... — Melhor. — Ren finalmente muda seus esforços para a outra nádega. Desta vez, o número é gemido: — Quatro. — Agora sim, esse é um som que eu amo, porra. Ouvir a palavra amo chicoteia as borboletas que raramente ficavam dormentes no meu estômago em um frenesi.
Ainda não dissemos isso um ao outro, mas acho que estamos chegando mais perto. Estamos fazendo a dança do “gosto muito, muito de você” e dizendo coisas que amamos um no outro, mas não que nós nos amamos. Eu odeio pensar que vou ter que dizer primeiro. Eu ainda tenho esperança de que ele um dia simplesmente deixe escapar acidentalmente enquanto estiver pagando boquete nele ou ele estiver prestes a gozar. Della diz que às vezes as pessoas deixam escapar a verdade durante o sexo. Que sua mente fica tão livre que tudo o que está em seu subconsciente simplesmente jorra. Estou torcendo para ser o caso. Ren continua sua tortura tentadora, alternando o lado que recebe a palmada sem um padrão previsível. A cada golpe, meu corpo derrete na submissão que ele está exigindo silenciosamente. Calafrios sobem e descem pela minha espinha. Minúsculas gotas de suor grudam na parte de trás do meu pescoço por causa da tremedeira no corpo por estar me segurando na máquina. A umidade se expõe pelas minhas coxas por conta do meu algoz sexual. Ele ocasionalmente pausa a punição, não só para espalhar a evidência do meu prazer, mas para prová-lo em seus dedos também. Vê-lo sugar minha satisfação sexual em seu próprio corpo me leva sem esforço para a beira do orgasmo. — Quantos anos você tem mesmo? — meu namorado zomba, o som de sua calça de moletom batendo no chão é um alívio. — Vin-vin-vinte e um. — Certo... — A palavra se arrasta, assim como suas ações. — E em que número estamos? Eu esqueci. Sem saber como estou sobrevivendo ao sofrimento aparentemente interminável, deixo minha cabeça cair para a frente para descansar contra a máquina. — Vinte. — Só mais um então. Minha bunda balança por conta própria. — Só. Um.
Ren cantarola para si mesmo, mas não prossegue para desferir o golpe. Eu me preparo para implorar para ele terminar, para finalmente encerrar este jogo fodido de deixar a marca da mão na namorada, quando a ponta da minha calcinha é puxada para o lado. A ponta do seu pênis impulsiona apenas o suficiente para dentro me levantando na ponta dos pés com o prazer. Sua voz cai para um tom sombrio delicioso. — Não perca a conta. Não há pausa para perguntas ou objeções. Ele mergulha seu pau até o limite, penetrando os músculos encharcados sem piedade. Minha cabeça cai contra a máquina com um baque forte que me encoraja a me fundir em seus movimentos. Os dedos do Ren agarram minhas nádegas e as esmagam para cima. Seu domínio severo sobre a pele sensível inflama todas as terminações nervosas do meu organismo. Choramingos se transformam em gemidos que eventualmente se transformam em excitações primitivas. As marteladas implacáveis combinadas com o atrito incessante da minha calcinha contra o meu clitóris desferem um ataque tão agressivo que mal consigo sustentar meu próprio peso. Meus joelhos cedem junto com minha boceta, mas nenhuma clemência é concedida. Não há demora em suas estocadas. Ren entra e sai brutalmente de mim atingindo meu limite como se fosse uma pinhata e meu orgasmo o doce que ele mais do que mereceu. Deixo minha cabeça bater sem pensar no aparelho que me meteu nessa confusão. Tento empurrar para trás para o balanço que ele está executando. Encharco nós dois em minhas excitações pegajosas a ponto de suas bolas ficarem escorregadias por causa de suas arremetidas constantes. Nosso confronto carnal continua no que parece ser um círculo incessante até que sou, mais uma vez, levada ao penhasco de um clímax, mas sem permissão para cair. Suas batidas começam a diminuir e eu gemo minha objeção: — Não pare... — Quer gozar, Corujinha? — Sim — eu choramingo, tentando desesperadamente esfregar contra seu pau duro. — Implore. Não há relutância da minha parte.
— Por favor. Ele mantém seus balanços graduais. — Por favor, Ren... Eles aumentam ligeiramente. — Por favorzinho, Ren. Uma risada arrogante escapa segundos antes de ele dar um golpe delicioso. Eu gemo com o contato, ansiosa por mais. — Você não contou — ele repreende, o balanço infelizmente, diminuindo. — Eu... — minha mente busca furiosamente o resto da frase. — Que número era esse? — Eu... Caramba! Como não lembro? — Disse para não perder a conta. — Eu... — Meu embaralho por uma réplica é instantâneo. — Eu... Eu... — Vai ter que começar de novo, aniversariante — Ren diabolicamente ri. — E é melhor não gozar antes de chegar aos vinte e um. — Mas... — Porra nenhuma de “mas”, só mais. — Ele dá uma palmadinha na minha nádega. — Conte. Nosso jogo anterior começa novamente; entretanto, desta vez é bem mais difícil lembrar o próximo número. Cada tapa é seguido por uma arremetida forte que me faz gemer seu nome e minha mente apagar a capacidade de fazer qualquer
outra coisa. A dificuldade para lembrar em que número estamos é ainda maior do que simplesmente ficar em pé. Ren felizmente me dá uma palmada, me acaricia, estica minha calcinha para provocar meu clitóris e murmura diabolicamente sua satisfação. Quando finalmente chegamos aos vinte, minha boceta está tão apertada em volta do seu pênis que tenho medo de que uma respiração muito profunda me envie em uma espiral. Suas investidas diminuem, e de repente fica além do óbvio o quão duro seu pau está vibrando dentro de mim. Esperando para se libertar. Esperando que eu me liberte. Ele pergunta sem fôlego, segurando minha bunda trêmula: — Você se lembra desta vez, Corujinha? — Sim. — Meus dedos do pé se enrolam dentro das minhas meias de cachorro, amarelo-claro e felpudas. — Deus, sim. — Não goze até aquela palmada final. Entendido? Quero balançar a cabeça, mas sei que não adianta recusar. No gelo... Rutledge é dono da pista. Fora do gelo... ele é dono dos lençóis. Ele é meu dono. Ren empurra seu pau fundo. Mais fundo. Tão fundo que o ar não consegue mais nem alcançar meus pulmões. O apelo por compaixão está na ponta da minha língua quando o golpe final atinge minha bunda. — Vinte e um. Uma erupção tão violenta explode em mim que quase quebra meus ossos no processo. Tudo de mim se derrete na máquina, para trás nos braços de Ren. Apesar da forma feroz que meus músculos estão ordenhando seu pau, ele não para de empurrar. Ele empurra repetidamente em mim enquanto enche meu pescoço com chupões que temo que deixem hematomas. Ele enrosca os braços
em volta de mim para que me mantenham ancorada nele pelos ombros. Meu namorado grunhe, geme e rosna no meu ouvido, dando-me cada grama de sua energia. Sua devoção. Seu amor. Um orgasmo secundário de alguma forma surge alguns minutos atrás do primeiro e provoca o dele com sucesso no processo. Suspiros pesados de saciedade escapam de nós dois e vão para o ar. Jatos escaldantes atingem meus músculos doloridos, acalmando-os com a prova de sua saciedade. A boca de Ren se aproxima da minha parando apenas quando eu me viro para elas se conectarem. Sua língua imediatamente começa a brincar com a minha de sua maneira favorita, e um pensamento sentimental surge em minha mente. Este é o aniversário ideal. Não se trata de ir a algum lugar chique ou diferente. É sobre estar com alguém que se importa comigo. Que gosta de me fazer rir. Que gosta de me fazer feliz. Alguém que gosta de mim o suficiente para me amar. Mesmo que ele não diga essas palavras, no fundo posso senti-las. No fundo, eu sei que ele as sente. E para mim... nós dois experimentarmos algo tão precioso... bom, esse é de fato o presente perfeito.
Capítulo 13
— Isso é ridículo, caralho — Stratton reclama para mim do outro lado da mesa. — Como diabos perdi todas as tacadas?! — Já te ocorreu que talvez você seja um merda? — Rhinehart provoca com o rosto sério de onde está sentado ao meu lado. — Eu não sou um merda — Stratton aponta um dedo afiado em sua direção —, mas deveria ser desumano alguém ter reflexos tão bons. — Inumano — corrijo sem pensar. — Quê? — Stratton bufa de aborrecimento. — A palavra que você quer é inumano, que significa não humano. Desumano, significa falta de compaixão ou bondade ou humanidade básica. Ele inclina a cabeça para o lado com a mesma natureza surpresa de Rhinehart. Droga. Vou matar a Corujinha por isso. Eu sabia que toda aquela conversa fiada de “gradualmente deixá-los ver Ren” era estúpida. Não tem como eles se acostumarem automaticamente a me ouvir do nada usando palavras que não são encontradas em um artigo de esportes ou fazendo referência a peças de literatura que eles não conseguem se lembrar, mesmo que fossem capazes. Não. Eu sabia que deveria ter reiterado que essa merda é melhor assim comigo vivendo de acordo com as personalidades deles quando estão olhando e deixando apenas ela ver os dois quando eles não estão. Por que eu a deixei entrar na minha cabeça e me convencer de que era uma boa ideia? Como a deixei entrar na minha cabeça e me convencer de que era uma boa ideia? A boceta dela é mágica ou algo assim?
Eu levanto meus dedos até a posição de goleiro e casualmente despacho sua confusão. — Quê? Eu sei algumas merdas, caralho. Não enche. — Ser mamado por uma nerd de alguma forma te deixa mais inteligente? — Stratton pergunta, pegando o guardanapo dobrado para lançar novamente. — Alguém já fez esse experimento científico? — Estou disposto a me sacrificar à ciência por essa merda — afirma Gillette do lado de Stratton. — Onde é que me inscrevo? Nós rimos coletivamente e meu melhor amigo lança a peça triangular mais uma vez. Assim como antes, mal faço esforço para pegá-la com uma mão, o que o impede de acertar. — Sete a zero — anuncia Rhinehart. — É melhor desistir, Stratton. — Que nada — ele comenta enquanto nossa garçonete se aproxima dele. — Não é meu estilo. Não é. Stratton não conhece a arte de desistir. Sua perseverança é uma das coisas que nos torna melhores amigos. Nenhum de nós desiste quando provavelmente deveria. Compartilhamos uma filosofia firme de que se quisermos algo... qualquer coisa... muito mesmo, será nosso, contanto que não paremos até que seja. Candice joga o cabelo loiro para o lado do rosto. — Mais água, senhor? Stratton dá a ela um sorriso que as garotas têm dificuldade de resistir. — Quero mais de você. Ela tenta não sorrir. — Por que não vem ao meu quarto quando o seu turno acabar? — Ele a dá um
olhar perverso. — Colocar essas pernas longas para trabalhar de uma maneira diferente. Rhinehart balança a cabeça enquanto Gillette assente para as palhaçadas descaradas de Stratton. — Você tem idade suficiente para estar dando em cima de mim? — Candice tenta cortar. Ele se recosta na cadeira, ajusta a gravata fúcsia e retruca: — Tenho idade suficiente para fazer tudo que vou fazer com você esta noite, gata. O rosto dela corando profusamente nos faz rir baixinho. Destemidos pra caralho. Ele e Gillette. Eles vão atrás de qualquer garota que chame a atenção do pau deles. A única regra que eles têm é que ela deve ter pelo menos dezoito anos. Solteira? Casada? Viúva? Lésbica? Esses são detalhes negociáveis para os dois. Mesmo antes de Poppy, eu era um pouco mais exigente. Agora que a tenho? Tenho padrões altos pra cacete para todas as minhas merdas. Nenhuma outra mulher jamais chegou perto do nível dela. De beijar a foder, Corujinha tem tudo no papo. Não preciso nem fingir que ela é boa nas merdas que está fazendo ou fingir que é alguém melhor para poder gozar. Ela é a única em quem eu estou pensando quando está perto do meu pau. Porra, mesmo quando não está. Talvez seja porque ela era virgem, então, não estava manchada com um monte de preferências de outros caras, ou talvez seja as merdas que ela aprendeu com os romances excêntricos que ela gosta de ler enquanto toma banho. Seja como for.
Não acho que haja ninguém por aí que seja uma melhor foda. Ou uma combinação melhor. Droga. Não posso pensar isso. Não deveria pensar isso... Minha personalidade aparentemente dividida ainda não chegou a um acordo quanto a isso. — Stratton, pare de assediar as garçonetes — repreende o treinador Stiles da cabeceira da mesa ao mesmo tempo em que se levanta. Ele apenas pisca para ela como se soubesse que a tinha ganhado e volta sua atenção para onde nosso treinador se levantou. — Antes de encerrarmos esta noite, gostaria apenas de dizer algumas palavras. Primeiro, expressem gratidão ao Rutledge — Sua voz me destaca. — Foi o pai dele quem pagou para que vocês jantassem como os deuses que acreditam que são. Há vaias e gritos de concordância de que esse é o nosso título. Não foi só isso que o desgraçado pagou este fim de semana. Não. Pagou para que minha garota tivesse uma suíte, embora não saiba nenhum detalhe a mais sobre ela. Pagou pelo voo dela assim como dos nossos cachorros. Ele está pagando pelo serviço de quarto dela hoje à noite e qualquer outra merda que ela queira porque, ao contrário dele, ela me apoia de verdade. Ela se importa se eu ganho ou perco pelo meu próprio bem, não pelo direito de se gabar quando eu ganho. — Em segundo lugar, as regras de conduta se aplicam da mesma forma de
sempre. Não deve ser pego bebendo se for menor de idade. E se for maior de idade, não deve ser pego publicamente embriagado. Sem drogas. Sem acompanhantes. Sem queixas de ruído para a recepção. Essa é pra você, Gillette. Ele dá um encolher de ombros desinteressado. — Por último — Stiles enfia a mão nos bolsos da roupa —, quero elogiar vocês. Percorreram um longo caminho desde o início da temporada. Sei que foi... uma adaptação para a maioria de vocês, mas estou feliz que chegaram lá. — Ele me dá uma olhada. — Estou orgulhoso de ter todos vocês neste time. Estou ainda mais orgulhoso que todos aprenderam a colocar suas merdas de lado para sempre fazer o que é melhor, não apenas por vocês, mas por este time. Os olhos de Byer estreitam na minha direção. É. Isso mesmo, idiota. Eu sempre sou o que é melhor para este time. Colocá-lo em jogo é uma raridade. Ele ou a maior parte da sua temporada como um otário do banco, e isso o está matando. Espero que ele saiba a porra do lugar dele agora. Stiles ergue seu copo cheio de coca. — À vitória contra os Parksworth. Todos nós levantamos nossos copos de bebida e ecoamos: — À vitória contra os Parksworth. — Há um assobio alto vindo de todos nós, seguido prontamente por virarmos nossas bebidas. Nesse ponto, alguns jogadores começam a pegar embalagens para suas sobras enquanto outros partem para dormir. Espero Stratton para irmos já que estamos dividindo um quarto, como fazemos desde que estávamos no Ensino Médio. No elevador, meu telefone vibra e eu prontamente o verifico e vejo uma foto da Poppy em um dos roupões felpudos de hotel de luxo, espalhada no meio de uma cama enorme.
Corujinha: Meio solitária... Eu: Não por muito tempo, fofinha.
Stratton consegue dar uma espiadinha antes que eu guarde meu celular. — Vai aproveitar? — Esse é o plano. — Minha mão aperta um botão secundário. — Me dá cobertura? — É claro. — As portas se abrem para o nosso andar alguns momentos depois, que é quando ele sai. — Tente ficar fora por pelo menos três horas. Deve ser tempo mais do que suficiente para Candice me fazer gozar duas vezes. Eu bato meu dedo no botão para evitar que a porta feche. — Acha mesmo que ela vem? Ele puxa um guardanapo do bolso como um Houdini vagabundo. — Vinte minutos. Achando graça, dou uma risada e um pequeno aceno de cabeça. — Você conhece as tradições, Rutledge. Na noite anterior ao jogo, preciso de Poutine e boceta. Não consegui o primeiro, mas o pau vai cantar com o último. — Ele balança a sobrancelha e se afasta. — Divirta-se fazendo o mesmo. Eu solto o botão de deixar a porta aberta para que o elevador possa fechar. Felizmente, o andar da Corujinha fica a apenas dois andares do nosso. O tesão que fiquei com a foto que ela me enviou me deixou duro como uma rocha e pronto para colocar em uso imediato. Isso é o que acontece quando não transo com minha garota por algumas noites. Odeio essa estúpida aula de dança moderna que ela está fazendo, mas ito
que adoro que isso a esteja tonificando de uma forma que eu definitivamente aprecio. Acho que está a deixando mais flexível também. Na semana ada, coloquei ela em uma nova posição sem complicações. Foi uma das coisas mais sexies que já vi em toda a porcaria da minha existência. Uma batida sólida é tudo que dou em sua porta no final do corredor. No momento em que a porta é aberta, ela mal tem tempo de me dar um leve sorriso antes que minhas mãos estejam em sua nuca e minha língua a esteja punindo pela foto provocante. Ela grita em surpresa segundos antes de a porta se fechar atrás de nós. Sem saber ou me importar em que direção está a cama, eu rapidamente a levo de volta ao quarto, devorando os toques de canela e caramelo ao longo do caminho. Pequenos latidos e arranhões na minha perna coberta pela calça preta são o que nos separam. Meus olhos caem instantaneamente para o chão, onde Bond e Brutus estão saltando de excitação ao me ver. Por mais que eu ame a recepção calorosa, não é pelo que estou mais ansioso. — Garotos. Cama. Ambos os cães se pavoneiam bufando de infelicidade até onde seus travesseiros estão localizados. — Corujinha — eu rosno ao mesmo tempo que jogo meu paletó no chão. — Cama. Minha namorada ri e caminha até o colchão king-size. Ela para na beirada, desfaz o roupão e expõe com orgulho as curvas pecaminosas que costumam fazer minha boca encher de água e meu pau implorar. Poppy se apoia nas palmas das mãos, esperando ansiosamente por mais instruções. Ela ama quando fico mandão na cama. Eu também amo.
E a amo. Mas não vamos dizer essa merda. Não agora. Nem tão cedo. Rutledge se recusa absolutamente a ceder nesse ponto. — Pernas. — Meu queixo gesticula para elas enquanto eu removo minha gravata. — Abertas. Ela as espalha apenas um centímetro. — Escancaradas. Com isso, elas se espalham, mostrando-me seus lábios recém-depilados e encharcados. — Ah, Corujinha... — eu murmuro em algum momento entre tirar meus sapatos e desfazer meu cinto. — Essa merda tem o meu nome estampado. — Não tem sempre? A resposta atrevida me faz sorrir impiedosamente. — É melhor mesmo, caralho. — Movendo-me para a posição entre suas coxas, eu instruo: — Mantenha essas pernas assim. Sua cabeça se inclina para o lado em questionamento. — Abra sua boca. — Ela abaixa o queixo com cautela e eu enfio a gravata dentro dela. — Vai precisar dessa porra. As sobrancelhas da Corujinha erguem-se para o teto. — Deite-se. Minha namorada exibe uma contração no nariz, o que me faz saber que ela está nervosa, no entanto, ela ainda faz o que foi dito.
Outra coisa que amo nela. Ela confia em mim pra cacete. Realmente confia em mim. Você tem que realmente confiar na pessoa com quem está trepando para fazer certas merdas no quarto, sem exigir mais detalhes. Não me interprete mal. Eu não vou enfiar meu pau na bunda dela do nada, esperando que ela apenas lide com isso, mas sexo violento e novas posições? É. Eu amo que ela confie em mim. E o pau na bunda está chegando. Ela já gosta do meu dedo e da minha língua lá. É o próximo o lógico. Liberando minha calça e boxer, eu preguiçosamente arrasto a ponta do meu pau ao redor de seu clitóris em um círculo lento. Seus gemidos ansiosos são abafados pela gravata em sua boca, e eu não consigo parar de sorrir presunçosamente. Que som sexy. O pré-gozo junto com o fluido espesso que já reveste sua pele macia criam uma visão tão esteticamente apetitosa que tenho que puxar minhas bolas para impedir de gozar muito cedo. A provocação que deveria ser tentadora para ela acaba sendo um tormento para mim. Eu rapidamente deslizo para dentro e gemo com a recepção celestial dos músculos tensos e úmidos que audaciosamente me adoram. Eles se moldam ao redor do meu pau, contraindo-se repetidamente, atraindo-me cada vez mais fundo. Corujinha suspira suavemente atrás da barricada no segundo em que minhas mãos se contorcem em seus quadris. Ela sem pensar deixa seus olhos fecharem e tenta fechar suas pernas, mas minhas mãos deslizam para suas coxas para empurrá-las para baixo. — Pernas abertas, Corujinha. — Eu impulsiono bruscamente para frente. — Quero ver o que estou fazendo. Um gemido alto é enviado em minha direção, e eu simplesmente sopro um beijo para ela.
Minhas mãos voltam para sua localização em seus quadris enquanto meu olhar desce mais para observar como ela encharca meu pau. Eu me balanço completamente, iro o brilho dos fluidos opacos e deslizo de volta para o ponto onde minha base é tudo o que posso ver. Normalmente, transar com ela rápido e sacana é o meu favorito, mas esta noite há algo mais inebriante em pegá-la devagar. Talvez seja porque posso ver seu peito arfar enquanto ela luta para recuperar o fôlego. Talvez seja a maneira como seus mamilos estão tão duros que é basicamente um crime não ter minha boca neles. Talvez seja o fato de que posso literalmente ver cada vez que alcanço seu ponto G pela forma como seu estômago se contrai. É, quem sabe? Talvez seja apenas o simples fato de que quero saborear todas as merdas que senti saudade. Eu abandono meu monitoramento para abaixar minha boca para os picos que chamam minha atenção. Fechar a boca no primeiro faz com que Poppy se impulsione para cima embaixo de mim. A repercussão do excitamento faz com que ela se empale ainda mais no meu pau. Ela grita com a mudança na profundidade, mas repete isso sem pensar quando eu movo minha mordida para o outro lado. Seus músculos se fecham agarrando meu pau e tentando me espremer para fora. Eu gemo avidamente enquanto luto com eles para ficar enraizado bem no fundo e chupo com mais força as pequenas protuberâncias que precisam de mim. Apesar de seus balanços selvagens em busca de movimentos mais rápidos, meus quadris mantêm seu ritmo sem pressa e se aquecem em seu prazer encharcado. Gritos suaves e reprimidos reverberam pela suíte, e fico grato por ter enfiado o ório em sua boca antes. Voltando à minha posição em pé, coloco meu polegar em seu clitóris inchado e provoco levemente a área. Cada carícia suave serve apenas para deixá-la mais molhada, mas não o suficiente para fazê-la gozar. Os pés da Corujinha a empurram para as pontas dos pés em um esforço impetuoso para enfrentar cada roçar, e antes que nós dois percebamos, ela começou um balanço lânguido e lascivo. Minha atenção se volta para suas formas vigilantes enquanto eu exijo: — Me mostre o quanto sentiu minha falta, Corujinha. Sua boceta avidamente incha ao redor do meu pau, quebrando qualquer restrição anterior persistente. Espasmos brancos e quentes consomem as ondas de calor tão rapidamente quanto são expelidos. Ambos os nossos corpos tremem incontrolavelmente, e deixo minha cabeça cair para trás em um gemido
animalesco. Gritinho após gritinho é expelido na gravata na boca da Poppy, e só de ouvir o som lânguido, eu gozo com mais força ainda. O que é novo pra caralho para mim. Antes da Corujinha, minhas bolas nunca doeram por liberar com muita força ou com muita frequência. Agora? Já vi os dois acontecerem. É a coisa mais deliciosamente fodida que já experimentei. Ambos os caras dentro de mim sem dúvida aprovam. Eu me jogo de volta em cima dela, arranco a gravata e substituo pela minha língua. Por algum tempo desconhecido, permanecemos com os lábios travados e os membros emaranhados. Tremores secundários ou, muito possivelmente, um segundo orgasmo leve dispara inesperadamente pela Corujinha, e faz meu pau se agitar para outra rodada dentro dela. Infelizmente, nossos cães acabam ganindo até nos separar com sucesso. O restante das minhas roupas tem o mesmo destino que as outras, enquanto Corujinha sentencia seu roupão ao mesmo exílio. Fico confortável sob os lençóis macios poucos segundos antes dos cães me abordarem. Eles me sufocam em baba. Patas pedindo a minha atenção. Falam comigo até eu responder, como se eu soubesse o que diabos estão dizendo. Poderíamos ter deixado a Della cuidando deles, por um custo extra, ela me lembrou, mas eu não tinha certeza se conseguiria ar a noite com a Corujinha em meus braços. É melhor tê-los aqui para fazer seu trabalho do que ter que me preocupar se ela está tendo um ataque de ansiedade. Ela sai da área da cozinha com uma caixa de comida na mão. — Eu guardei um pouco de sobremesa para você. — Corujinha, já comi a sobremesa — eu pomposamente a lembro. — Duas vezes, se gozou de novo enquanto estávamos nos beijando. Sua tez clara escurece ligeiramente.
— Você gozou, não foi? — Não pude evitar! — Ela grita ao mesmo tempo em que pousa na beira da cama ao meu lado. — Ainda estava muito gostoso, e você ainda estava lá dentro, e, aí, se esfregou contra mim e... Minha boca a silencia com um beijo suave. — Nunca se desculpe por gozar. — Contanto que seja no seu pau ou nos seus dedos? Rindo da referência, acrescento arrogantemente: — Ou na minha língua. Ela revira os olhos, coloca a caixa no colo e revela um pedaço de cheesecake de maçã com canela pela metade. — Onde diabos está o resto? — Eu disse que guardei um pouco para você — ela fala atrevida quando encontra meu olhar. — Não tudo. Agradeça por ainda ter sobrado. Essa merda é tão boa. Pego o garfo que está sendo oferecido a mim e pergunto: — Onde você comprou? — Numa lojinha na esquina oposta da rua. Levei os meninos para ear e acabei parando lá. Eles têm todos os tipos de sobremesas. Minha boca está salivando só de pensar. — Sei bem como é. — Dou uma piscadela e em seguida dou uma mordida. — Porra, isso é bom. — Está vendo?! — Precisa comprar uma torta inteira para a gente quando ganharmos amanhã à noite. Porra, talvez várias para o time. Seu nariz se contrai antes que ela possa impedir. — Quê? — Eu chupo a pequena quantidade que acabei sujando no meu polegar.
— Qual o problema? — Nada — ela encolhe os ombros casualmente —, é só que não sei se posso comprar tantas tortas para alimentar vocês. Vocês comem muito. E os preços aqui são meio altos... digo, eu quero comprar para vocês, mas... — Eu vou pagar essa porra, Corujinha. — Dando outra mordida, declaro: — Essa merda não é nada de mais. Eu paguei por algumas fatias. Posso pagar algumas tortas. — Mas eu paguei pelas fatias. A irritação é imediatamente acesa. — Por quê? — Porque... — Porque o quê? — Porque eu queria cuidar de você. — Eu não preciso que cuide de mim. — E eu paguei por elas porque eu posso me alimentar. — Não — eu ladro com raiva. — Essa não foi a porra do combinado, Corujinha. Você concordou em vir aqui, aproveitar o tempo de folga do trabalho e eu pagaria por tudo. — Mas... — Não. — Jogando o garfo na caixa, continuo a esbravejar: — Você já está pagando por estar aqui ao invés de no trabalho. Eu cuido do resto dessa merda. — Um voo de primeira classe para mim e nossos filhotes e uma bela suíte não são baratos, Ren. — Não é problema seu se preocupar com isso. — Eu sinto que é. Você não tem trabalho...
— Hockey é o meu trabalho. — Hockey é o seu esporte. A confissão rasteja para fora de mim, sem preocupação com as conversas que virão a seguir. — Enquanto eu jogar hockey, porra, enquanto eu permanecer em um time, meu pai vai pagar por tudo e qualquer coisa que eu quiser. Sem nenhuma pergunta. Suas sobrancelhas se erguem em surpresa. — Esse sempre foi o acordo. Desde que eu tinha oito anos e ele viu de verdade o que eu podia fazer no gelo, ele me disse que, desde que eu continuasse, desde que esse fosse o rótulo que eu estava disposto a construir, ele me daria o que eu quisesse. — Eu luto contra a vontade de desviar o olhar. — Ele se regozija com o sucesso de ter uma infinidade de empresas sob seu nome, incluindo uma das empresas de gestão de fundos mais bem-sucedidas do país. A única coisa que ele quer é mais sucesso. Ele acredita que porque sou filho dele... porque levo seu nome, que meu sucesso é seu sucesso. E ele vai pagar o que for preciso para garantir isso, mesmo que nunca se importe em aparecer para ver. Corujinha se ajusta para me encarar completamente. — Espera, quanto tempo faz desde que ele viu você jogar? — Dez anos. Seu queixo cai no colchão. — Ele costumava se dar ao trabalho de inventar desculpas, mas, eventualmente, eu me dei conta. Percebi que ele não se importa que eu jogue. Ele só se importa que eu ganhe essa porra. Que seu filho seja a porcaria de um vencedor. Não importa se o time em que estou seja uma droga como um todo, desde que eu esteja dando às pessoas algo que vale a pena assistir. — Ren... — Estou pouco me lixando, Corujinha. Estou mesmo. — Um curto encolher de ombros escapa. — Ele paga o que eu quero, o que permite que eu pague para
ajudar as pessoas que realmente se importam comigo a aparecer. — Você quer dizer eu. — Claro que eu quero dizer você, Corujinha. Quem mais se importa comigo como você? Seus lábios se apertam, e seu olhar se desvia como se ela quisesse acrescentar que ninguém me ama como ela. Provavelmente não. E, provavelmente, nunca vou amar ninguém do jeito que a amo, embora ainda não tenha coragem de dizer isso. — Falando em se importar — minha deixa imediatamente atrai seu olhar —, recebi um e-mail há alguns dias de um agente literário. — Quê?! — Ela salta no colchão. — Que maravilha! O que dizia?! — Ele tem acompanhado meu trabalho desde que postei no site no verão ado e adoraria falar sobre uma possível representação. Seus olhos saltam mais. — Sabe, quando você olha para mim assim, tudo que eu quero fazer é piar para você. Minha namorada me dá um soco brincalhão no abdômen. A ação me faz lançar um olhar de desaprovação para Brutus. — Que tipo de cão de guarda é você, hein? Ela me ataca e você nem para levantar a cabeça? Ele funga, gira de costas para mim e fecha os olhos. Babaca. — Você se certificou de que o cara era legítimo? — Sim, todas as suas credenciais e essas merdas estavam listadas no final do seu
e-mail. Ele é um agente literário júnior e procura novos talentos para levá-lo às grandes ligas. Acha que sou eu. Mais gritos de excitação escapam dela quando eu pego o garfo para dar outra mordida. — Ele disse o que gostou na sua história? Foram os personagens? O cenário? O enredo? A escrita? Eu interrompo outra mordidela. — Ele não entrou em muitos detalhes, embora tenha se gabado da descoberta do planeta Matrona 6, delirando que seu encontro surpreendentemente pacífico com os lobisomens foi original e suas descrições vívidas. — Você deu uma leve baseada nos Malamutes do Alasca? — Sim. Depois que você me fez assistir àquele vídeo no YouTube sobre eles, essa mutação alienígena de cachorro, lobo, humano se insinuou em minha cabeça até que eu meio que anotei até chegar a hora de introduzi-los. Poppy mal esconde sua onda de euforia. — Ele também mencionou que gostou muito do capitão Gregory Pearson. Adorou que ele parecia complexo. Que ele estava dividido entre seus sonhos e seu dever. Corujinha me lança um olhar onisciente que escolho ignorar. — Também gostou que ele não tinha medo de xingar como a porra de um marinheiro. Com isso, ela ri e balança a cabeça. — Eu o acho engraçado. — Ele é espirituoso. — Que seja, dá no mesmo. Minha mão sem garfo balança ligeiramente para a frente e para trás.
— Que seja, Escritor Feiticeiro de Waverly Place. Acabei de terminar seu capítulo mais recente no avião. Tento esconder minha ansiedade por trás da minha mordida. — E? — Zatelia, a alienígena sexy e misteriosa por quem ele está atraído, mas com quem não consegue se comunicar plenamente? — Ela me dá um sorriso malicioso. — Adição interessante. Um leve rubor queima minhas bochechas, me forçando a me concentrar no doce. — Posso te perguntar uma coisa? — Contanto que não seja sobre a inspiração para Zatelia. Corujinha esconde seu sorriso malicioso o melhor que pode. — Não é. — Então manda. — Enfio o pequeno pedaço na boca. — Você quer ser um escritor em tempo integral? Minha testa franze instantaneamente. — Tipo, isso é algo que você já considerou ou ser um jogador da NHL é o sonho? Que merda. Em seguida, ela vai perguntar se o capitão Pearson se baseia em minhas próprias reflexões. — Você... ao menos sabe? Apesar da minha reação programada para dizer o que me disseram para dizer, eu balanço minha cabeça lentamente. Corujinha faz algo que me pega de surpresa. Ela estende a mão até minha
bochecha, dá uma carícia suave e suspira: — Bom, seja o que for que decida seguir, dever ou sonho, eu sempre estarei lá para apoiá-lo, Ren. As palavras ficam sem fôlego enquanto saem. — Obrigado, Poppy... — De nada. Como diabos eu tive essa sorte? Como diabos eu consegui ter uma segunda chance com uma garota boa pra caralho? Como diabos posso garantir que nunca perca essa chance? — Venha sentar na minha cara — eu casualmente anuncio, jogando a caixa na mesa de cabeceira, e me afundando para ficar deitado no colchão. Corujinha ri recusando, tenta fugir, mas acaba exatamente onde eu a quero. Joelhos ao lado de cada uma das minhas orelhas e boceta suculenta na minha língua. Independentemente do fato de a combinação de sabores ser de nós dois, eu os devoro como se fossem melhores que o cheesecake que ela estava guardando. Minha boca trabalha impiedosamente para sugar cada criação cremosa que ela está expelindo. Lambidas ao redor de seu clitóris são dadas em conjunto com apertos suaves em sua bunda, e açoites ferozes são desencadeados profundamente entre seus músculos tensos. Suas unhas arranham meu couro cabeludo em sincronia com seus gritos. Ela puxa meu cabelo, espreme meu rosto e me sufoca com um calor molhado. Poppy estremece com a rotação da minha língua, cavalgando no prazer que só eu posso dar a ela. Sem aviso, ela se desfaz em um ataque de gritos e estrondos brutais na cabeceira da cama. Justamente quando ela começa a se abaixar para o meu pau para começar uma segunda rodada de sexo, uma batida forte é dada na porta. Os olhos da Poppy vão para os meus com medo. — Você pediu serviço de quarto ou algo assim? Ela balança a cabeça.
Os cães começam a fungar e bufar, indicando que não estão satisfeitos com a interrupção do sono. Pois é, não são os únicos irritados por serem impedidos de fazer algo que gostam. Eu resmungo meu descontentamento e puxo minha calça. Provavelmente é apenas um mensageiro ou outra pessoa do andar de baixo dizendo que estamos fazendo barulho demais. Vou disfarçadamente dar para eles cem ou duzentos e insistir para que não nos incomodem de novo. Elas ganham. Nós ganhamos. E posso voltar a fazer a Corujinha tentar quebrar a barreira do som. Minha braguilha acaba de ser fechada quando a praga bate de novo. — Sim, sim, estou indo, porra — O anúncio termina segundos antes de eu abrir a porta. O rosto nada divertido do Stiles me pega desprevenido. Droga. Sem saber o que dizer ou fazer, permaneço absolutamente congelado no lugar. Ele coça preguiçosamente o peito coberto pela sua velha camiseta. — Quarto. Eu imediatamente abro minha boca para uma réplica, mas sou interrompido. — Agora. Sabendo que estou inquestionavelmente derrotado, eu levanto um dedo e recuo para dentro, onde Poppy está aninhada sob o cobertor, esperando ansiosamente por respostas sobre nosso misterioso perturbador. Ela dá uma olhada na minha expressão e de alguma forma sabe exatamente o que vou dizer. Decepção inunda seu olhar, mas ela acena em compreensão. Pego minhas roupas, meus sapatos e a caixa de cheesecake. Inclinando-me, eu
dou um último e longo beijo cheio de língua. — Boa noite, Corujinha. — Boa noite, Ren. — Meninos — eu grito para os cães que estão curiosamente farejando o treinador. — Vão proteger nossa garota. Ambos os cães fogem na direção da Poppy, abandonando meu indesejável guarda. — Boa noite, Poppy — o Treinador Stiles afirma da porta em voz alta enquanto saio pela porta. — Boa noite, treinador! A porta se fecha e eu dou de ombros inocentemente. O que é que ele espera? Não é melhor eu foder a porra da minha namorada do que cheirar cocaína? Efeitos semelhantes, mas apenas um tem o poder de me expulsar do time. Nós dois caminhamos até o elevador em completo silêncio. Nele, meus pés descalços balançam contra o chão frio e ele solta um bocejo exausto. Tenho certeza que ele está cansado. Ser empata-foda de vinte jogadores deve ser uma tarefa difícil. Quando as portas abrem, nos levando de volta ao meu andar, não fico surpreso que ele me siga para garantir que eu chegue ao meu quarto. No momento em que estou lá, finalmente pergunto: — Como você soube? — Vi Poppy quando ela chegou hoje cedo. Disse olá. Fiz questão de descobrir em que quarto ela estava hospedada porque sabia que é para onde você iria assim que o jantar acabasse.
Eu dou a ele um pequeno encolher de ombros culpado. — Descanse um pouco, Rutledge. O choque inclina minha cabeça para o lado. — Isso é... tudo? Isso é tudo que eu ganho? Fico fora após o toque de recolher para transar com a minha namorada, e tudo que ganho é “descanse um pouco”? Está ficando molenga, treinador? O careca boceja na minha cara, arranca a caixa de cheesecake de minhas mãos e repete sua declaração. — Descanse um pouco, Rutledge. Uma risada leve me escapa. — E diga ao Stratton para mandar a garçonete para casa. Vamos acordar cedo pra cacete amanhã. Um único aceno de cabeça é dado antes de eu pegar meu cartão-chave. Noitada com a minha garota. De manhã cedo com o meu time. Vitória no horizonte. Dá para a vida ficar melhor que essa merda?
Capítulo 14
— Se eles perderem, ainda vão dar uma festa, mas vão ar a chamar de velório? — Della pergunta ao meu lado. — Eles não vão perder. — Eu disse se — ela tenta reiterar. — Não há necessidade de se — declaro com firmeza e aponto para onde Peck está no processo de pontuação. A campainha soa ordenando que nos levantemos em comemoração por outro ponto sendo adicionado ao nosso placar. Eu comemoro, mas minha melhor amiga apenas bate palmas. Quando me jogo novamente ao lado dela, repreendo: — Você sabe que poderia pelo menos se levantar como o resto de nós. — Er. Balançando a cabeça, coloco meus braços na ponta da minha camisa Rutledge 01 enorme para que ela se amplie como um cobertor. Eu amo essa camisa. Ren secretamente acha que dá sorte. Ele me faz usar a camisa na noite anterior, lavá-la e usá-la novamente quando for assistir seu jogo e mantê-la perto de mim no trabalho quando não for. Embora seu comportamento não seja tão supersticioso quanto o de Peck, ele, sem dúvida, não fica atrás. Descobri que todos os caras, aparentemente, têm suas superstições. Hah. Na verdade, essa foi uma das primeiras coisas que descobri na noite em que nos encontramos para jogar aero hockey. A noite em que meu relacionamento com Ren mudou de verdade. — Acho que vou contar a ele que o amo — confesso baixinho enquanto assisto ao jogo continuar. — Quê?! — Della praticamente grita. Minha falta de contato visual quando não viro em sua direção resulta em um
golpe forte no braço. — Ai! — O que você quer dizer com contar isso a ele?! Direcionando minha voz para ela, mas não meu olhar, eu devolvo da mesma forma: — O que mais eu poderia querer dizer, Della? — Que você está morrendo, e que seu desejo antes de morrer é que ele também diga essas palavras. Essa declaração bizarra faz minha cabeça virar em sua direção. — É o quê? — Você não pode dizer eu te amo primeiro, Poppy — ela imediatamente aproveita ter minha atenção completa. — Você simplesmente não pode. — Por que não? — Porque você já está beirando a namorada excessivamente carente e pegajosa. — Quê? Como?! — Você praticamente mudou suas coisas para a casa dele... — Ele me disse para fazer isso! — Você praticamente dorme lá a maior parte da semana... — Ele me implora para dormir! — E você praticamente o forçou a ter bebês com você. — Bebês peludos — murmuro em derrota. — Mesma merda. Espécies diferentes. Sem estar no clima para discutir com ela, mas incerta se ela está completamente errada, eu redireciono meu olhar de volta para o gelo e deixo meu nariz mexer.
— Então... eu não deveria contar. — Porra, não, você não deveria contar — ela corta. — Faça aquele idiota dizer primeiro! — Della, ninguém pode fazer o Ren fazer nada. — Não é verdade... Sua resposta gentil atrai outro olhar. — De alguma forma, você conseguiu fazer com que ele te levasse a encontros, encontros de verdade do tipo assistir a filmes e patinar ao ar livre, fez ele te dar um apelido pessoal, que é um tanto ofensivo, mas não importa agora, e fez ele te rotular publicamente como namorada dele. Que eu pensei que teria forçado os quatro cavaleiros do apocalipse a se erguerem, mas, pasmem, não aconteceu. Eu a encaro. — A questão é, você tem o poder de levá-lo a fazer muito mais do que acredita. Precisa fazer com que ele diga primeiro também. Bastam alguns truques mentais. — Truques mentais, Della? Sério? — Minha cabeça se volta para onde os jogadores estão deixando o gelo para seu primeiro intervalo. — Não foi assim que entrei nessa confusão? — E por confusão você quer dizer finalmente conseguir ficar com o cara dos seus sonhos de infância? Eu torço meu nariz em uma concordância silenciosa. Ela tem razão. No entanto, não acho que transar com Ren sempre tenha sido o sonho. Mas sim, estar perto dele de novo ou, pelo menos, pôr um ponto final no motivo de ele ter me excluído da sua vida, para começo de conversa. Ainda não tenho essa resposta, mas acho que é uma que não preciso mais. Isso foi antes. O Ren de antes que era idiota. Atleta. Babaca sem remorso. O Ren de agora é provocador. Atencioso. Sensível. E é esse que eu amo. E é para esse que vou acabar
despejando as palavras, apesar dos avisos da Della. A música de intervalo começa e eu fico de pé. — Vou ver o Ren. — É sério? — Della lamenta. — Vai me deixar aqui para ir vê-lo? Ele não deveria estar... sei lá? Descansando ou alguma merda do tipo? — Sim, descansando a boca dele na minha. — Dou uma piscadela exagerada. — Essa foi muito boa, na verdade. — Ela acena com a cabeça lentamente. — Nojenta, mas muito boa. — Obrigada. — Me traz um pretzel na volta? — Claro. Com essa resposta, ela me dá de ombros, pega o telefone e se ocupa enviando mensagens de texto. Descer para o vestiário do time não é tão difícil quanto as pessoas provavelmente acreditam. Não, não é fácil para qualquer fã ou garota ar pela segurança para ir assediar os jogadores, mas se você está com alguém do time e eles sabem disso, a situação é completamente diferente. Ren enche os bolsos deles e eles acenam para eu ar. Não fazemos isso em todos os jogos em casa ou durante todos os intervalos. Só quando um de nós sente que já faz muito tempo que não provamos o outro. Como viciados. No final do corredor, bato duas vezes na porta, faço uma pausa, bato duas vezes. É um código simples usado para indicar a quem está mais próximo que estou aqui e para atrair o Ren para fora. Risos tão altos estão sendo dados na sala que eu me pergunto se alguém ao menos me ouviu, até que Byer abre a porta. Ele me dá um sorriso forçado.
— Ei. — Oi — retruco educadamente. Não deve haver animosidade entre nós. Afinal, ele não faz ideia de que meu interesse inicial nele era apenas para chatear Ren, e não precisa saber. Byer se vira por cima do ombro para dizer algo para o Ren, mas para quando Stacy começa a provocar de algum lugar lá dentro. — Sério, Rutledge? Aquela nerdzinha está vindo aqui, de novo, para te trazer comida ou porque simplesmente não aguenta ficar tanto tempo sem estar no seu pau? Meu nariz imediatamente se contorce com a provocação. — Aquela vadia do hockey está apaixonada — uma voz menos familiar ri. — Não a chame de vadia do hockey — Stratton rapidamente declara. — Ren fica uma fera ao ouvir essa merda. — Sim, que porra é essa? — Gillette começa a falar. — Você a ama ou alguma merda do tipo? — Porra, não — Ren responde imediatamente, sem parar para pensar duas vezes. — Ela é só uma... diversão até que não seja, tá ligado? Igual a todas as outras. Lágrimas escorrem pelo fundo da minha garganta, pondo fim à minha capacidade de falar. — Então, o que diabos faz ela não ser uma Pele? — Stratton pergunta curiosamente. — Porque não estou pronto para compartilhá-la com vocês, idiotas — há uma pequena pausa seguida por um presunçoso —, ainda. Há uma rodada de risadas deles, seguida por alguns comentários afirmando que mal podem esperar até que ele esteja.
Eu corro para a sala ando por Byer, embora não tenha certeza se ele sequer estava tentando de fato impedir minha entrada. A mandíbula do Ren cai instantaneamente no chão em uníssono com sua garrafa de bebida esportiva quase vazia. — Me permita fazer algo que todas as outras nunca fizeram — eu grito através das fungadas. Em um só movimento, arranco a camisa e a atiro em sua direção. — Eu estou terminando essa merda com você. A quietude se espalha por todo o time. — Foi um erro até mesmo começar — as palavras saem dos meus lábios sem a chance de serem filtradas. — Eu deveria ter mantido o acordo original que tínhamos... — Poppy... — Não! — eu grito a plenos pulmões. — Não diga meu nome, porra, como se não fosse difícil lembrá-lo, já que sou só mais uma Pele. Só mais uma garota que você fodeu para conseguir o que realmente queria. Fazer aquele acordo para ajudá-lo a fingir um serviço comunitário em troca de um encontro com um de seus colegas de time foi a segunda pior decisão que já tomei em toda a minha vida; a primeira, é claro, foi ser estúpida o suficiente para acreditar que você sequer se importava comigo! — Pop... — Você não mudou porra nenhuma, Rutledge. A dor se enterra mais profundamente em seu olhar, mas sua boca faz o possível para manter sua personalidade de cretino. — Nunca afirmei ter mudado, nerd. — Você ainda é o mesmo babaca mimado, egocêntrico e de coração frio que era quando éramos crianças. Ele levanta o queixo, expondo seu pomo de adão trêmulo.
— Espero que apodreça no inferno, Rutledge. — Vou dominar essa porra do mesmo jeito que dominei você. Sua réplica sem coração me faz dar um sorriso igualmente cruel. — Não se surpreenda quando ninguém aparecer para se importar com você, assim como não tem ninguém que realmente se importe com você nessas arquibancadas agora. O golpe baixo parece ter tirado o ar de seus pulmões. Giro sobre os calcanhares e saio precipitadamente, segundos depois ouço o tilintar pesado de um objeto atingindo o que imagino ser a parede. Apressadamente, eu corro ando pela segurança, contornando os frequentadores agitados e de volta para a minha melhor amiga, que não parece ter tirado os olhos de seu telefone desde que saí. — Vamos embora — minha voz cheia de lágrimas treme. A cabeça de Della se levanta e observa a cena. Ela faz um movimento de confusão com a mão em direção à minha camisa branca de manga longa do cachorro Pluto. — Você não estava com mais roupas quando saiu? — Vamos. Embora. Seus olhos procuram os meus, não encontrando nem mesmo uma sugestão de diversão neles. Ela imediatamente acena com a cabeça em compreensão e não faz perguntas. Nós duas fazemos o nosso caminho para a saída, o som da campainha tocando para anunciar o fim do intervalo é a última coisa que ouvimos. Infelizmente, não é só o fim disso que está anunciando.
Capítulo 15
Minha cabeça cai apoiando a testa em minhas mãos. Porra, dói. Assim como tudo no meu corpo. Não tenho certeza se a dor é por não dormir ou por me esforçar tanto na academia na tentativa de ficar cansado para conseguir dormir. O que eu sei é que analgésicos genéricos não são suficientes. E vou precisar de um atestado médico ou alguma permissão por escrito para conseguir qualquer coisa mais forte; merda, os dois basicamente dizem ao Stiles que meu comportamento carrancudo não é o único motivo pelo qual eu não deveria estar no gelo. O que eu não quero, nem preciso. Eu preciso estar lá no gelo, porra. Aprimorando minhas habilidades. Focando em algo... qualquer coisa além da forma ridiculamente pública com que fui dispensado no sábado à noite. Preciso manter minha mente longe das lágrimas que nublaram seus olhos, a dor que bombeou em sua voz e o veneno que ela expeliu somente após ter sofrido por ter sido atingida por mim primeiro. O arrependimento tenta se alojar em meu peito, novamente, fazendo-me esfregar a dor. Não, foda-se. O fato de ela ter ido embora... é uma coisa boa. Eu posso parar de gastar a porra da minha gasolina indo levar jantar para ela e parar de fingir que gosto daquele programa Pit Bulls e Condenados. Como se eu realmente acreditasse na palhaçada de segundas chances.
Perdão. Eu posso deixar o Ren rastejar de volta para a caverna localizada no fundo da porra da minha alma e morrer lá como eu tinha planejado originalmente. Como tinha sido mandado. O som da porta se abrindo me pega de surpresa, considerando que não era para ter mais ninguém aqui por pelo menos mais vinte minutos. Ou, acho que pelo menos mais vinte minutos. Tempo é um conceito para o qual estou pouco me lixando ultimamente. Quando eu olho para cima, a visão de Byer me faz abaixar o olhar imediatamente. Urgh. De todos os idiotas que podiam chegar cedo, tinha que ser ele? — Você está uma merda, Rutledge — ele fala do outro lado da sala. — Tem jogado como um também. — Ainda assim, melhor do que você em seu melhor dia. — Continue pensando assim... — Estreito meus olhos para seu tom arrogante. — Mas se jogar tão mal quanto jogou neste fim de semana e esta manhã em nosso primeiro treino, você estará montado naquele banco tanto quanto aquela mariapatins estava montando seu pau. Eu aperto meu punho com o pensamento de liberar nele toda a minha raiva reprimida. Essa merda é parcialmente culpa dele. Não, eu provavelmente não deveria ter dito a merda que disse, especialmente porque eu não tinha sido nem um pouco sincero, mas ele sabia que Poppy estava lá, e simplesmente a deixou ouvir. Deixou-a se machucar.
Não estar nem aí para mim não é nem uma maldita surpresa... No entanto, eu odeio a ideia de alguém deixar minha garota se machucar de propósito. Ex-garota. Única garota. Porra, é Ren ou Rutledge falando? — É uma merda, não é? — Byer cutuca, cruzando os braços sobre o peito. — Estar no auge do seu jogo, no auge da porra da temporada, e ter isso arrancado de você? A frieza em seu tom me informa que há mais coisas aí que estou deixando ar. — Sabe, pensei que gravar aquele seu vídeo, entregá-lo ao Stiles e fazer com que fosse expulso do time antes mesmo da temporada começar teria sido a retribuição perfeita pelo que você fez comigo no ano ado, mas isso? — Seu sorriso se torna perverso. — Ah... essa merda é muito melhor. Você estraga sua própria temporada. Você se coloca no banco porque não consegue focar, porque tudo em que consegue pensar é naquela maldita nerd por quem se apaixonou. — Ele bufa uma risada. — Que, por falar nisso, é um o atrás enorme pra caralho de garotas como a Natasha. A perplexidade enruga minha testa. — Quem? — Minha ex-namorada que você fodeu ano ado. Sua resposta me faz lançar um olhar de que não faço a mínima ideia. — Aquela que eu ia pedir em casamento antes de ir para o nível seguinte. — Outra onda de ódio encobre seu tom. — Naquele dia em que eu me machuquei, o dia em que o olheiro estava nas arquibancadas para testemunhar aquela merda vergonhosa, foi o mesmo dia em que descobri que ela estava grávida e havia a possibilidade de eu não ser o pai porque você era. Qualquer ar restante desaparece de meus pulmões.
— Porque você transou com ela em uma festa como se ela fosse a porcaria de uma maria-patins enquanto eu estava com a porra de uma gripe. O lembrete não me traz nenhuma lembrança, reiterando quão filho da puta o lado Rutledge de mim de fato é. — Eu estava tão distraído com a merda que descobri que estava desnorteado naquela noite. Me machuquei. E você? Você ficou com a glória. — Ele meneia a cabeça devagar. — Acontece que Natasha não estava grávida. Falso positivo em um daqueles testes de urina idiotas, mas o estrago estava feito. Meu joelho estava fodido. Minha chance nas profissionais, arruinada. Minha temporada boa, perdida. Todas as merdas que eu queria arruinadas por um calouro de merda com problema de ego. Nem imagina o quão feliz estou por finalmente ver você em uma posição onde o dinheiro não pode livrar sua bunda patética. O fim de sua frase mal chegou antes de eu me impulsionar pela sala para dar um soco. Byer consegue se esquivar do primeiro golpe, mas não consegue escapar do segundo. Assim que meu punho acerta o nariz, alivia uma fração da dor da qual não consigo escapar há dias. Sua cabeça salta para trás com a quantidade de força aplicada, no entanto, ele não deixa que isso o impeça de devolver um golpe. Ele balança o punho fechado e consegue acertar um belo soco nas minhas costelas. Para minha surpresa, quase não sinto. Talvez porque, desde que Poppy me deixou, tudo que eu sinto é dor. A velocidade, algo que sempre tive mais do que ele, atua a meu favor na briga. Sou capaz de evitar vários de seus golpes enquanto me oponho rapidamente. Cada ataque executado por mim é alimentado por raiva e ressentimento. Eu dou golpes perfeitos em ambos os lados de sua mandíbula, seus rins e um chute forte na panturrilha antes de sermos separados por colegas do time. Rhinehart é quem me segura e, para ser sincero, provavelmente é o único que pode me segurar sozinho. Apesar de estar preso, luto para voltar ao único alívio que consegui encontrar. — Vou acabar com você, porra! Stratton, Gillette, Peck e alguns dos jogadores calouros usam seus corpos como bloqueio.
Byer cospe sangue no chão e tenta empurrar Billingsley e Stacy. — Vá chupar um pau, vadia! — Mesma porra que eu disse para a Natasha! — Mesma porra que eu vou dizer para aquela nerd de merda quando a encontrar esta noite! Um rugido digno de selva sai do meu peito ao mesmo tempo em que avanço em direção ao Byer. Felizmente para ele, o forte apito e a presença do treinador Stiles interferem na segunda rodada de surra. — O que diabos está acontecendo no meu vestiário? Nada além de respiração pesada e deglutições nervosas podem ser ouvidas. Seus olhos pousam em Byer primeiro. — Byer? O idiota não diz nada. O olhar de Stiles se volta para mim. — Rutledge? Eu deixo meu olhar atingir o chão. — Ah, é? — Stiles rosna, cruzando os braços sobre o peito. — É assim que vai ser essa merda? Beleza. Vou fazer seus traseiros pagarem por isso no gelo. — Ele sopra o apito com força. — Coloquem o equipamento! Nossos colegas, relutantemente, nos soltam, ainda assim, cada um de nós tem um de nossos amigos cautelosamente preparado para intervir se necessário. Não é. Ao contrário daquele idiota, posso compartimentar minhas coisas.
Posso deixar de lado o que quer que esteja me devorando para focar no trabalho que devo fazer. O dever que devo cumprir. A reputação que devo manter. O rótulo que devo proteger a todo custo. O treino consiste em mais exercícios do que o normal. Nós manobramos nossos bastões. Afiamos nosso equilíbrio. Executamos uma série de exercícios no limite uma e outra vez até parecer que minhas pernas vão cair. Ele nos manda fazer isso com os dois pés. Depois com um pé. Com nosso bastão e depois sem ele. Stiles grita a plenos pulmões ao detectar nossas fraquezas, e de todo mundo, parece que eu sou quem leva mais. Ele reclama do meu declínio na velocidade e por não manter meu peso adequadamente nos meus patins. Eu fico de saco cheio por não seguir todas as instruções antes de ser questionado sobre minha perda de foco. A frustração inflama dentro de mim a cada minuto que a durante duas horas. No final, estou pingando suor, engolindo lágrimas e olhando sem pensar para o meu bastão que quebrei em dois. Qual o meu problema, cacete? Por que estou tendo tantos problemas ultimamente? Nunca precisei de ninguém antes. Por que sinto que preciso da Corujinha agora? Ela não era um maldito gênio que me concedeu o desejo de ser um jogador melhor. Ela era apenas uma garota que aparecia para me ver jogar. Stratton afunda no assento à minha direita enquanto Rhinehart fica à esquerda. O vestiário está, mais uma vez, praticamente vazio, me fazendo pensar há quanto tempo estou sentado aqui chafurdando no quanto sou um merda. — Precisamos conversar — suspira Stratton profundamente.
— Está terminando comigo também? A piada faz com que o canto do seu lábio salte para cima. — Não. Já amos por muita merda para que isso aconteça. Estamos juntos para o que der e vier ou até que um contrato da NHL nos separe. Tento rir da piada. — Falando sério agora — Stratton começa novamente. — Você tem estado... bem zangado no nível Incrível Hulk desde que... bom, desde que... — Ele olha para Rhinehart em busca de ajuda. — Desde que a Poppy, com razão, deu um pontapé na sua bunda. — Não... não é a ajuda suavizada com que eu contava, Rhinehart. Ele encolhe os ombros. — Que porra você quer dizer com com razão? — Meus olhos perfuram os dele. — Eu não merecia aquela merda! Rhinehart não mexe um músculo. — Ela não tinha o direito de dizer aquela merda para mim! Ou entrar na merda do meu vestiário para me dar um fora! E quem diabos faz isso no meio da merda de um jogo? Um jogo tão perto das finais?! Quem diabos simplesmente abandona alguém no auge de sua vida?! Todos os gritos e descontroles seguem sem nenhuma menção. Inconfessados. — Olha, Rutledge, você sabe que adoramos falar merda sobre você ter uma namorada — Stratton retoma seu discurso —, mas é só para tirar onda, cara. Não foi na intenção de machucá-la e, com certeza, não foi na intenção de destruir você. Tento encolher os ombros como se não fosse grande coisa. — E daí, porra, se você a ama — Rhinehart continua a conversa. — Por que
você age como se essa merda fosse uma coisa ruim? — Sua testa se enruga inesperadamente. — Como se se importar com alguém que se importa com você fosse o fim do mundo? Há uma dor óbvia em sua voz. Eu quero questionar, mas não questiono. — Aquela garota te fez um jogador melhor... um amigo melhor... porra, ela até te fez uma pessoa melhor — Stratton anuncia. — E a última coisa que eu disse? É algo que eu nunca pensei que aconteceria, porra. Estava certo de que seu velho tinha te arruinado para sempre em algum nível Tony Stark de merda. Apesar de que mais tarde se descobre que o pai dele realmente se importava. Não acho que algum dia veremos esse lado do seu. Ouvir a verdade vinda deles só faz doer mais. — Qual é a de todas as analogias da Marvel, cacete? — Parecem se encaixar. — Stratton dá de ombros casualmente. — E sua bunda devoradora de livros deveria estar orgulhosa de mim por ser capaz de fazer essas comparações precisas e por saber o que é uma analogia. Parte de mim quer saber o motivo de ele ter me chamado de devorador de livros. — Ninguém tem tantas aulas de literatura sem gostar de ler — Stratton suavemente aponta. Rhinehart cantarola alto. — Sim, e ninguém tem tantas aulas de desenho sem estar interessado em... — Estamos falando do Rutledge — a voz do Stratton chia sem querer. Seu parceiro de conversa ri levemente e acena com a cabeça. — Aham. — Ele desvia suas palavras de volta para mim. — Você tem que consertar essa merda com a Poppy. Não só porque não aguentamos mais pagar por isso no gelo... — Mas não aguentamos mais — Stratton rapidamente lembra. — Não estrague essa porra. Aqueles exercícios de merda foram para tentar detonar a sua bunda,
não a nossa. — Mas, também, porque estamos cansados de vê-lo assim. Eu bufo uma réplica: — Só se aram dois dias, merda. — Sim — Stratton faz uma careta —, mas parecem mais a porra de dois éons. Minha sobrancelha se curva com o uso da palavra. — Quê? — Stratton me dá um sorriso presunçoso. — Acha que é o único idiota por aqui que sabe algumas palavras difíceis? Não é lá uma palavra tão difícil. É. Vou deixar ar. — O treinador quer te ver no escritório dele — Rhinehart anuncia —, mas queríamos falar com você primeiro. — Amortecer você — brinca Stratton, levantando a sobrancelha. — Estão me dizendo que estou indo dessa merda de novela mexicana para outra? — Eu começo a desfazer meus patins. — Bacana. Os dois riem às minhas custas e abandonam meu lado para se trocar. Depois de liberar meus pés, arrumar adequadamente meu equipamento e socar Stratton por cantar músicas de merda que ele acha que eu deveria cantar em uma serenata para Poppy, como Baby, de Justin Bieber, vou para o escritório do treinador, onde ele parece estar folheando uma papelada. Ele não diz nada quando eu entro. Não diz nada quando me sento. Ainda não diz nada quando bato impacientemente com o pé descalço no chão. Stiles mantém seu olhar no que está à sua frente, mas suas palavras são
direcionadas a mim. — Explique. — Vai ter que ser mais específico do que isso. Ele vira para a próxima página. — Você mentiu para mim. — Humm... um pouco? Com isso, ele lança seus olhos para os meus. — Sim, no início, o acordo era a Poppy fingir toda aquela merda para mim... — Que ela fez em troca de um encontro com um dos seus colegas de time? Você é o cafetão deles agora? Sua frase me faz rir desdenhosamente. — O que você quer dizer com “no início”, Rutledge? Houve um ponto em que você fez alguma das merdas que ela escreveu? — Stiles não permite uma resposta. Em vez disso, ele começa a ler a papelada. — Você chegou a “caminhar com o Brutus e a Petúnia”? Chegou a “deixá-los explorar os cheiros ao longo do caminho enquanto se certificava de que suas coleiras estavam confortáveis em volta do pescoço” ou “brincou sobre libertá-los para perseguirem esquilos quando ela não estivesse olhando”? Eu me sento ligeiramente direito em meu assento. — Essas são algumas das primeiras anotações que a Poppy fez sobre você. Eram tudo conversa fiada? — Essas não eram. — E quanto a... — Ele folheia mais algumas páginas — quando você supostamente “ajudou a dar mamadeira a alguns gatinhos que a equipe de resgate trouxe porque eles precisavam de ajuda”. Você fez isso? — Sim, mas eu só estava lá para levar o jantar dela e...
— E quando você instalou novas prateleiras na ala de gatos ou comprou e montou novos cubículos para guardar os brinquedos dos cachorros? — Sim, mas... — Então, você foi voluntário. — Eventualmente — minha voz tropeça. — Eventualmente, comecei a aparecer porque queria estar perto da Poppy, e Poppy ava bastante tempo lá, então, para ar bastante tempo com ela, eu tinha que estar lá. — Mas você não precisava fazer essas coisas para ficar com ela... — Tecnicamente, não, mas... — Você deixou ar o verdadeiro objetivo de colocá-lo lá, Rutledge. Silêncio desliza sobre mim. — Eu queria sua bunda lá, para que sua bunda não estivesse aqui. Sem saber o que ele quis dizer, fico quieto. — Antes mesmo de a temporada começar, havia algo muito óbvio para mim. — Ele abaixa a papelada. — Havia uma grande divisão entre aqueles que eram tóxicos e aqueles que podiam ser salvos. Muitos dos jogadores do reinado do treinador Cannon eram tóxicos. Não apenas por causa das drogas e da reputação vergonhosa que eles deram a este time, mas porque eles eram egoístas. Eles eram sedentos por glória. Eles estavam atrás disso. Stacy, Billingsley e Byer foram os que sobraram que poderiam ter sido potencialmente salvos, mas provaram o contrário. Felizmente, este é o último ano deles, e todos os membros podres serão removidos quando esta temporada terminar. — Stiles se recosta na cadeira. — Sabe o que o torna melhor e sempre o tornará melhor que Byer? Você entende o princípio básico que acho que o resto do time, fora esses três, entende. — Que é? — Times ganham jogos. Não indivíduos. Minha cabeça cai ligeiramente para o lado.
— Você anda por aí se gabando de ser o melhor, se deleitando com o fato de os outros te chamarem de melhor, mas você também é um dos primeiros que sempre está aqui porque não quer ser o motivo do relaxamento do time. Você geralmente é um dos que garantem que as merdas de todos fiquem onde devem estar, para que ninguém tenha um ataque de pânico se perguntando onde estão suas merdas quando começar o próximo treino. Você adora se gabar das tacadas que bloqueou, mas é uma das primeiras pessoas a apontar um ótimo e feito por um colega de time, a elogiar a mudança de jogo quando ela produz resultados positivos e a defender qualquer um neste time que acredita que está dando o seu máximo no gelo para que a vitória seja nossa. Você é um jogador de equipe, Rutledge... quer queira ou não reconhecer. Eu movo minha boca em uma tentativa de refutação sarcástica, mas nada escapa. — Eu vi essa merda na temporada ada. E eu sabia que a única maneira de te salvar era separando você deles. Obriguei você a ocupar mais do seu tempo com outra coisa além do ódio por Byer e a obsessão por continuar sendo um titular. Você poderia facilmente ter dado seu jeitinho. Mexido os pauzinhos. E feito alguma merda para se certificar de que “permanecesse” na posição em que estava. Eu intervi porque queria você neste time. Porque este time precisa de jogadores como você. Não como eles. — Foi por isso que me liberou da minha sentença mais cedo? — Mais ou menos. — Stiles dá de ombros maliciosamente. Há uma pequena pausa antes dele dizer: — Lembre-se de que eu disse que meu trabalho era manter seus traseiros na linha dentro e fora do gelo. Bom — ele sorri presunçosamente —, eu fiz a porra do meu trabalho e, em troca, você fez o seu. Filho da puta. — Mas agora, você está estragando seu trabalho, o que significa que, mais uma vez, tenho que intervir e fazer o meu. — Sua expressão se torna severa. — Você está puto da vida. Está arrumando brigas. Está quebrando as coisas. Está perdendo o foco. Você sabe o motivo e não fez nada a respeito. Por quê? Eu me encontro incapaz de fazer mais do que encolher os ombros. — O que acontece quando você estraga tudo como jogador de hockey?
— Vai para a penalização. — Você fodeu as coisas com a Poppy e esse momento é a sua penalização. Pare de bater a cabeça contra a porcaria do vidro, faça uma pausa para respirar e reflita sobre a merda que fez, daí, quando você conseguir outra chance no gelo... não cometerá o mesmo erro duas vezes. — Simpatia suaviza seu olhar. — Seja um jogador melhor. A analogia se instala quase tão intensamente quanto a de Stratton. Ele tem razão. A merda entre nós não precisa acabar para sempre. Eu sei o que fiz de errado. Eu sei a merda que não deveria ter dito. Eu sei a merda que não deveria ter feito. E eu sei exatamente o que vai acontecer quando ela me der outra chance de provar meu valor... Ela pode aproveitar esse tempo para ficar irritada e me odiar. Xingar meu nome e tudo mais. Ela pode se esconder nos cantos, evitar Venom e até agir como se eu fosse nada por um tempo, mas eventualmente? Eventualmente, meu tempo vai acabar nesta penalização e eu voltarei para a pista. Eventualmente... vou provar porque sou não só o Melhor Jogador no gelo literal, mas no metafórico também.
Capítulo 16
— Por que você não pode ser normal pra variar? — Della reclama de onde está sentada no sofá ao meu lado. — Sabe, a maioria das garotas quando fica com o coração partido quer assistir a filmes de garotas como Legalmente Loira e Namorada de Aluguel, mas você? Assiste Marley & Eu. Eu não respondo à sua provocação. Na verdade, não tenho respondido a semana toda. Ela tem sido normal, atrevida, sarcástica e boba do jeito dela, enquanto eu nem sei quando estou chorando às vezes. As lágrimas estavam vazando de forma tão consistente durante nossa aula de dança que o chão ficou escorregadio e minha professora sugeriu que faltássemos à aula. Sinceramente, nem as senti. Caramba, pensando bem, não sinto quase nada. Simplesmente entorpecida. Há uma batida inesperada na porta que mal faz levantar a cabeça de Bond. Até ele não tem sido o mesmo desde a separação. Ele sabe que algo mudou, embora eu não esteja mil por cento certa se ele de fato entende o quê. Ele choraminga quando eu choro, mas também vai aleatoriamente para a porta da frente e espera como se estivesse me dizendo que está pronto para sair quando eu estiver. Durante nossas caminhadas, ele tenta me puxar na direção que dirigimos para ir ao apartamento do Ren, o que faz com que eu chore como um bebê. Estou sendo uma bebezona com tudo isso? Não deveria ser fácil seguir em frente desta vez? Ele era um babaca. Ele não me amava. Ele nunca planejou me amar. Eu era apenas algo para foder até que seus amigos quisessem.
Por que estou perdendo mais tempo ou energia com ele? Por que não posso simplesmente dar por encerrado, limpar meu óculos e seguir em frente? Por que uma parte de mim deseja que não tivéssemos terminado? A batida acontece novamente, e Della afirma dramaticamente: — Ah, não se preocupe. Eu atendo. Ela pula do sofá e caminha até a porta da frente. No entanto, no minuto em que está lá, ela solta um som suspeito que não me agrada. Eu me viro para vê-la deixando um rosto incomum entrar em nosso apartamento. Sem rodeios, falo azeda: — Eu não quero transar com você. — Essa é uma boa notícia. — Stratton ri desconfortavelmente e enfia as mãos na calça de moletom cinza. — Só para saber, também não quero transar com você. — Essa conversa já está mais interessante que aquele filme. Eu lanço um olhar para Della, antes de esbravejar mais uma vez: — Por que você está aqui, Stratton? Rutledge te encarregou disso? — Ele... — Veio buscar as coisas deles? — Eu... — Veio deixar as minhas coisas? — Bem... — Porque eu não quero nada disso! — Minha voz explode ao mesmo tempo que me levanto. — Eu não sou uma qualquer moradora de trailer que quer montar no pau dele para vazar da cidade empobrecida em que cresci! Eu não queria o dinheiro do Rutledge! Eu não preciso disso! Eu não preciso de status! Eu não preciso da popularidade dele! Eu não preciso da atenção dele! Eu! Não! Preciso! Dele!
Bond late incontrolavelmente com a gritaria incomum. — Ok — Della sussurra para ele. — Onde essa garota tem se escondido todos esses anos? Stratton faz o possível para desfazer o olhar de horror da sua expressão a fim de dizer: — Bom... ele precisa de você. As palavras ameaçam provocar lágrimas. — Você pode não precisar do Rutledge, mas você é tudo o que ele tem além de mim. A perplexidade toma conta. — O pai dele é um desgraçado de coração frio. Essas provavelmente foram as palavras mais gentis já utilizadas para se referir a ele. A mãe dele é uma alcoólatra que mal funciona. Nos dias bons, ela costuma sorrir alegremente para ele. Nos maus, ela joga garrafas nele por se parecer tanto com seu pai ausente. Ele é um filho único que teve um melhor amigo a maior parte de sua vida. Ele nunca chegou perto de ter tanto amor e apoio quanto os que recebeu de você... provavelmente em toda a sua existência. — Uau... — Della comenta baixinho. — Quem precisa de dramas coreanos quando essa merda está acontecendo na sua porta? Stratton faz o possível para ignorá-la. — Poppy, ele nunca confiou em ninguém como confia em você, incluindo ele mesmo. Tento não deixar minha mandíbula abrir. — Não estou aqui para defender a merda que ele fez ou disse... — Parece que está — Della interrompe. — Mas para te dizer, como a única outra pessoa que se preocupa com ele tanto quanto você, que eu espero que você dê a ele outra chance para consertar toda essa merda. Ele está... miserável... pra caralho agora. Fora do gelo. Dentro do
gelo. — Stratton dá de ombros. — Hoje é o último jogo antes dos playoffs. Na verdade, é para onde estou indo agora, mas pensei em ar aqui primeiro. Fazer um apelo em nome do meu mano. — Como você sabia onde me encontrar? — Acho que Della está transando com minha irmã mais nova, Angel. Viro minha cabeça para a minha melhor amiga, que – pela primeira vez desde que consigo me lembrar – está totalmente sem palavras. — Ou talvez tenha sido só uma coisa de uma só vez? — Stratton indiferentemente dá de ombros. — Seja como for. — Nossos olhos se travam de novo. — Eu sabia que vocês duas eram colegas de quarto. Não foi difícil conseguir seu endereço. Sem saber o que dizer, eu simplesmente deixo meu nariz balançar. — Pensando em vir? O fato de não parecer uma pergunta nem uma declaração me irrita. Urgh, escolha um lado, cacete. A indecisão dele me lembra muito a pessoa que estou tentando superar. — Ela vai considerar — Della afirma por mim ao mesmo tempo que abre a porta. — Agora, fora. Stratton tenta me dar um pequeno sorriso antes de sair do nosso apartamento. Quase no mesmo instante que ele vai embora, eu chio: — Perdeu a cabeça? — Provavelmente — ela responde depressa. — Em algum lugar entre Beethoven e Sempre ao Seu Lado devo ter surtado porque... hum... estou ao lado do Stratton nessa. — Ah, é só porque você está pegando a irmã dele. — Após minha repreensão, eu me jogo de volta no sofá. — Você tem sido anti-Ren durante todo o nosso relacionamento.
— E eu meio que ainda sou anti-Ren, mas eu sou pró-você. Seu comentário faz com que eu dirija minha atenção a ela uma vez mais. — Ren é, sem dúvida, um babaca. Disse uma merda que é um nível superior de babaquice que, com certeza, beira o imperdoável, mas... ele não é tão sem coração como acreditava. — Ela rasteja para o braço do sofá. — Eu vi o que ele fez por você nos últimos meses. As pequenas coisas como comprar para o Bond os petiscos favoritos dele. As coisas grandes como seu novo casaco London Fog. E a forma como ele aumentou sua confiança. Como você foi capaz de resistir a ambientes sociais sem sofrer um colapso de três pacotes de Red Hots ou vomitar secretamente em uma despensa. E, claro, suas decisões aleatórias de tentar coisas que nunca antes tentaria, como sopa de pato vietnamita. Sem pensar, engasgo com a lembrança. — Mas, quer saber o que eu acho mais importante? A maneira como ele olha para você e a maneira como você olha para ele. É amor, Poppy. Mesmo que eu não queira que você diga em voz alta, é disso que se trata. Você o ama, e às vezes o amor é uma merda e nos machuca, mas só porque estamos feridos não significa que não podemos perdoar. As lágrimas começam a se formar, mais uma vez, no fundo da minha garganta. — Essa deve ser a lição mais valiosa que meus pais já me ensinaram. Você tem que ser capaz de perdoar, não necessariamente pelo bem da outra pessoa, mas pelo seu, porque você nunca estará em paz até que o faça. — Della cruza as mãos no colo. — Você precisa perdoar Ren seja para estar com ele ou para seguir em frente. O que quer que decida fazer... pode contar comigo. Eu forço minha visão turva de volta para a tevê e permaneço em silêncio. O que eu quero fazer? Eu realmente quero me colocar em posição de me machucar novamente? Ele já não fez isso o suficiente? Quantas vezes você deixa alguém te machucar antes de colocar o pé no chão e se recusar a ar mais? Talvez ele fosse um tanto ingênuo quando éramos crianças... mas ele definitivamente não é agora. Por que ele agiu daquela forma?
Por que ele sempre age assim? Estar comigo é tão constrangedor ou é o fato de estar só com uma pessoa e ponto final? Eu quero respostas. Eu preciso de respostas dessa vez. Quer seja para superarmos isso juntos ou sozinha, dessa vez eu preciso de todas as informações... e vou garantir que as receberei.
Assistir ao primeiro período do último jogo é para além de doloroso. Nosso time como um todo está em todos os lugares. Alguns deles estão jogando com excesso de confiança, enquanto outros não estão jogando com confiança o suficiente. A defesa está constantemente desligada. O ataque, praticamente inexistente. Há uma divisão óbvia entre eles; e não importa o quanto Stiles grite ou aponte de onde está, nada muda. A desconexão continua. E Ren? O goleiro favorito de todos? Está se esforçando o triplo com a quantidade de oportunidades que Wennessburg tem para marcar pontos. É óbvio que ele está dando o seu melhor, mas seu coração simplesmente não está presente no jogo. Quando um dos jogadores deles consegue acertar a barra de cima da trave, resultando no disco voar direto para a rede, eu arrasto minhas mãos para baixo nas laterais do meu próprio rosto como se pudesse literalmente sentir a agonia do meu namorado. Ex-namorado. Possível futuro namorado, de novo. Ren sempre possuiu uma alta taxa de defesa e baixa taxa de falhas em sua carreira de goleiro; no entanto, esta é a primeira vez que me pergunto se isso vai pender na direção oposta. No primeiro intervalo, eu saio furtivamente do assento do canto superior em que estava sentada e desço para as arquibancadas atrás de algo para enterrar minha tristeza. Parece que vamos ter um final de merda para uma temporada fantástica. Isso está espelhando propositalmente meu relacionamento com Ren? Um final de merda para um romance mágico? Estou a poucos os da direção do vestiário quando percebo que não precisava ir tão longe para comer. Havia várias barraquinhas de lanche mais perto de mim. A verdade de quão difícil são de largar alguns hábitos me atinge meros segundos antes do meu nome ser chamado. Eu olho por cima do ombro em busca da fonte, mas não encontro nada.
Minha mente está pregando uma peça em mim? Estou imaginando uma voz na esperança de me deparar aleatoriamente com Ren? — Poppy — a voz diz novamente, mais perto desta vez. Quando me viro e vejo o rosto, fico surpresa pela segunda vez hoje. — Treinador Stiles? — Ei — ele faz o possível para me cumprimentar calorosamente. — Eu estava saindo para um... bom... — sua voz cai timidamente — um cigarro. — Ele olha para a esquerda e para a direita para se certificar de que não recebemos atenção indesejada. — Sou uma espécie de fumante estressado. Normalmente, consigo manter sob controle, mas este jogo... — O que houve com eles?! — eu guincho muito alto. Stiles gesticula com a mão para eu manter a calma. — Desculpa... Ele faz uma tentativa de me confortar. — Você é uma fã de hockey apaixonada. É de se esperar. — Depois que lhe ofereço um leve sorriso, ele diz: — Seu garoto está dando o melhor que pode lá. A vontade de argumentar que ele não é “meu garoto” é ínfima. — Ainda assim, uma visita sua pode fazer uma certa diferença. Meus olhos se arregalam até a borda do meu óculos. — Faria no ado. Uma dor familiar lateja em meu peito. — Não há razão para acreditar que não faria agora. Eu interiormente estremeço com a forma como a dor se aprofunda.
— O que me diz? Quer se esgueirar até lá? Dizer olá? — Eu... — As contrações no meu nariz começam — não acho que seja uma boa ideia... O treinador Stiles acena lentamente com a cabeça. — Eu entendo, mas caso mude de ideia, avisarei à segurança para deixá-la ar. Beleza? Um sorriso tímido desliza em meu rosto, mas permaneço em silêncio. Ele me dá outro aceno de cabeça, este na forma de dispensa, se afasta até a segurança conforme prometido e sai apressado para fumar. Em vez de voltar na direção do meu assento, fico ansiosamente de um lado para o outro na área de uma forma contemplativa. Entro? Não entro? Agora provavelmente não é a hora de discutir sobre nós, mas talvez depois de você ganhar, podemos conversar ou algo assim? Isso seria muito próximo de um ultimato? Tipo se você ganhar, podemos conversar? O que é isso? Um dos dramas idiotas de YouTube que Della assiste? Antes que eu percebesse, perdi a maior parte do intervalo em pé no meio da agem resmungando para mim mesma como uma pessoa louca. Decido não ir vê-lo e lanchar. O segundo período é ainda pior que o primeiro. É evidente que tudo o que eles discutiram no vestiário não foi feito de forma amigável. Os colegas de time estão mais na cara uns dos outros do que dos nossos oponentes. Penalidades estão sendo aplicadas a torto e a direito. A certa altura, o treinador toma a única decisão em que consegue pensar e coloca um reserva para tentar sacudir as
coisas. Não importa quanta pipoca eu enfie na minha garganta, meus gritos ferventes de infelicidade mal conseguem ser abafados. Como se o jogo de costa a costa não fosse excruciante o suficiente, a tacada que fere o dito reserva e marca o terceiro gol do jogo para Wennessburg, ameaça arrancar meus próprios cachos da minha cabeça. O próximo intervalo chega e eu desço para o vestiário, onde bato na porta como uma groupie enfurecida em um show da Taylor Swift. Stratton abre e me dá um sorriso cheio de satisfação. — Qual o problema de vocês lá na pista, porra?! — Rutledge, sua namorada zangada está aqui para ver você — cantarola seu melhor amigo. Ren atravessa rapidamente a sala até mim. — Corujinha? — Não me chame disso! — eu bufo. — Agora, venha cá nesse instante para que possamos conversar! Há algumas risadas dos seus colegas de time, mas não parecem incomodá-lo. Nós nos movemos para o lado oposto do corredor e a raiva por perder o jogo, perdê-lo e perder minha sanidade, se descarrega de uma vez. — Você está fazendo essa merda de propósito! Você de alguma forma convenceu todos eles a jogarem como merda! Além disso, você está jogando como um merda de propósito para me punir por romper com você! Não é ruim o suficiente me humilhar na frente de toda a porra do seu time, tem que fazê-los me odiarem por seu jogo de merda, também? Ren não responde imediatamente. E quando o faz, não é com as palavras que eu esperava. — Que se foda qualquer um que odeie você, Poppy. Deixo meu queixo cair em choque.
— E que se foda qualquer um que odeie você comigo. E que se foda eu pelo que eu disse sobre você pelas suas costas. — Ele dá uma massagem desconfortável na nuca. — E que se foda eu por desistir de você tantos anos atrás porque meu pai me disse que uma pessoa como você só iria atrapalhar uma pessoa como eu. Meu corpo tropeça para trás até bater na parede. — Quê? — Meu pai, o homem que sempre se preocupou mais com meus números de vitórias do que com as notas que tirava, me disse... para o meu eu de oito anos... que eu não poderia ser amigo nem nada da filha do jardineiro porque ela não era boa para mim. Porque ela nunca seria boa o suficiente para mim. Porque pessoas pobres assim só distraem dos objetivos que deseja alcançar. — O corpo grande de Ren parece estar engolfando o meu. — Ele estava errado, Poppy. Eu nunca seria bom o suficiente para alguém como você. Alguém que não via dinheiro quando olhava para mim. Que simplesmente via um garoto que era bom de patins e adorava ler qualquer coisa em que pudesse pôr as mãos. Há movimento no canto do meu olho, e vejo alguns de seus colegas de time reunidos na porta. Silenciosamente, tento informá-lo: — Ren, seu time está assistindo. — Eu não me importo — ele rosna, ambas as mãos pousando no espaço da parede ao meu lado, prendendo-me no lugar. — Pela primeira vez em toda a porcaria da minha vida, Corujinha, eu não dou a mínima para o que os outros pensam além de mim e você. Sua profissão arranca um suspiro de mim. — Estou farto pra cacete de ser quem todo mundo quer que eu seja. Não é a vida de ninguém, porra. É a minha. Devo escolher o que faço ou não com ela, começando com fazer o que for preciso, aqui mesmo, agora, para ter minha garota de volta. Ouvi-lo dizer isso derrete meus ombros. — Estou para lá de arrependido da maneira como tratei você, porque você teve a coragem de ser quem você era, e eu, não.
— Você me machucou, Ren — de alguma forma consigo afirmar. — Me machucou bastante. — Dá para pararem de enrolar essa merda? — um de seus colegas grita da porta. — Não temos muito tempo. Ren olha por cima do ombro e diz: — Que se dane. Pode colocar Byer. Não vou à porra nenhuma até consertar essa merda. — Deem ao rapaz um pouco de privacidade — O treinador Stiles repreende inesperadamente enquanto caminha pelo corredor vindo do que suponho ser uma pausa para o cigarro. Um de seus colegas de time resmunga: — Mas, treinador... — Agora. Os rapazes voltam para o vestiário e eu provoco de brincadeira: — Eles são piores que garotas. — Porra, você não tem ideia de como é às vezes — ele resmunga enquanto sua cabeça se volta para mim. — Stratton tem me dado sugestões de umas músicas românticas de merda durante toda a semana. — Ah, é? — Meus braços se cruzam sobre meu peito. — Por exemplo? Sua cabeça se inclina para um lado. — Por quê? — Talvez uma serenata funcione para mim. — Não vai. — Talvez. — Impossível. — Por quê? — Eu sou um cantor de merda, Corujinha. Tenho dificuldade em ficar afinado.
Sabe disso. — Eu também sei que você é um jogador de hockey incrível que pode fazer mais do que isso — suspiro suavemente. — E não digo apenas lá na pista, Ren. Digo no geral. Você é uma boa pessoa, com um coração bom, e pode fazer mais do que rebaixar a garota que gosta a nada além de uma vagabunda que deveria ser grata por ainda ter o seu interesse. — A garota que eu amo. Todo o ar nas proximidades se desvanece. — Você tem razão. A garota que eu amo... e a garota que me ama... Meu nariz balança instantaneamente. Ren o toca suavemente para interromper o movimento, olha profundamente nos meus olhos e afirma: — Merece mais. E se ela me aceitar de volta, faço juramento de sempre dar o meu melhor, seja na sua frente ou quando virar as costas. Um sorriso torto desliza na minha expressão. — Você disse “faço juramento”. — Eu disse. — Que palavras nerd de se usar. Ele deixa seu dedo cair do meu nariz e um encolher de ombros brincalhão balança seus ombros. — E? — E, eu amo isso — eu rio puxando sua camisa. — Assim como eu te amo. Sua língua cumprimenta seus lábios antes de repetir o sentimento. — Eu também te amo, Poppy. — Corujinha.
Ren ri levemente. — Eu também te amo, Corujinha. Nossas bocas parecem levar um instante para se encontrarem. Sua língua varre a minha como se estivesse assinando o pedido de desculpas que ele acabou de fazer verbalmente. A pressão é suave. O ritmo é lento. A força é intensa. Ele relutantemente se inclina para trás e solta um suspiro pesado. — Tenho que voltar ao jogo, mas me prometa que vai voltar para casa esta noite, Corujinha. Meu sorriso é para além de radiante. — Sentiu saudades de mim? — Nós sentimos saudades de você — ele informa, as mãos caindo da parede. — Brutus tem sido ainda mais impossível de se conviver do que eu. — Duvido. — Não seja atrevida. — Ele meneia a cabeça devagar. — Vá buscar um lanche para essa sua bundinha. A última coisa que quero é voltar para casa com você esfomeada. Nossa piada em relação ao meu comportamento faz com que eu dê uma risada e levante o meu dedo médio. — Ah, essa merda vai acontecer após ganharmos este jogo, Corujinha. — Seu sorriso infame finalmente retorna. — Se. — Não. — Ren volta para a porta. — Quando. Ouvi-lo cheio de confiança faz com que eu me afaste da mesma forma. Acredito que Ren esteja falando a verdade sobre o jogo e sobre ser ele mesmo. Acredito que hoje começa o próximo capítulo na história de vitórias do Viper,
sua autoaceitação e nosso relacionamento. Sinceramente? Tenho a sensação de que os três serão espetaculares.
Epílogo
Cerca de sete anos depois...
— Vamos, Ren, vamos nos atrasar — Poppy se queixa do que eu imagino ser a porta do nosso quarto. Meus dedos continuam batendo nas teclas, determinados a escrever essas últimas frases antes de irmos. Prometi ao meu agente que ele teria uma prévia amanhã bem cedo, e sabendo como a noite do hockey geralmente se desenrola, sei que não terei tempo para trabalhar nessa merda quando eu chegar em casa. Há outro suspiro, mais alto e infeliz vindo da minha esposa. — Relaxa, Corujinha. Temos ingressos para a temporada. Dá para chegarmos alguns minutos atrasados. — É isso que o Peck diz quando você o faz ir a uma sessão de autógrafos e o faz ficar na fila como todo mundo? — Peck não lê nada além do próprio contrato, então, não tem motivo para não chegar cedo lá para sair logo da fila antes que as pessoas fiquem perguntando sobre as minhas merdas. Engraçado, mas falso. Peck, assim como Gillette, Stratton e Rhinehart, leram meus livros de ficção científica. Até agora, só tem quatro na série, o número cinco está em andamento, mas eles leram cada um de capa a capa. Ocasionalmente, eles falam merda sobre o que está acontecendo quando conseguimos colocar o papo em dia durante as cervejas, jantares ou festas. Foi uma sensação incrível conseguir um contrato para representação no final do meu segundo ano da faculdade. Ainda levou mais dois anos antes de encontrarmos um editor que se arriscasse; no entanto, quando conseguiram, me tornei o que parecia um sucesso instantâneo. A decisão que tomei de não ir para as ligas profissionais foi fácil. Quando finalmente comecei a ser completamente aberto e honesto comigo mesmo, quando parei de jogar minhas duas metades uma contra a outra, percebi que amava o hockey, mas a ideia de estar na NHL nunca me entusiasmou tanto quanto a ideia de estar na
lista de Bestseller do New York Times. Atualmente, ganho o bastante escrevendo para nos manter nesta casa linda pra caralho nos arredores de Vlasta, manter minha bunda em um time de hockey só para ficar em forma e o bastante para viajar sempre que Poppy deseja, quando ela deseja. Apesar das queixas do meu pai em relação à minha decisão de vida, ele ainda adora se gabar de que seu filho é um autor consagrado e muito respeitado na comunidade literária. Ele se gaba de que meus livros têm as melhores capas do mercado, o que de fato têm – graças à Kadence Stone, chefe do departamento que intervém pessoalmente para garantir isso –, a respeito de como estão em grandes exibições em lojas por todo o país, e como foram traduzidos para vários idiomas, incluindo japonês. Não é nenhuma surpresa que ele de alguma forma ainda dê um jeito de tomar minha glória para si. Nosso relacionamento não mudou e, mesmo após meu filho nascer, duvido que vá. Achei que talvez depois da morte da minha mãe, no ano ado, isso mudasse um pouco o comportamento dele, mas não mudou. Ele ainda é o mesmo idiota pomposo que queria que eu fosse e que ainda desaprova meu relacionamento com Poppy. Ele não foi convidado para o nosso casamento por causa disso. De repente, a Corujinha simula um barulho de coruja e nosso corgi, Crowley, cujo nome vem do meu livro favorito do Terry Pratchett, que ele fez com Neil Gaiman, pula no meu colo, descansa o rosto no meu braço, e faz beicinho. A descrença atrai meu olhar para onde minha esposa grávida está esperando impacientemente. — Que truquezinho malandro. Corujinha pisca de brincadeira para mim. Ela ainda é ela como sempre. Ela ainda ama tudo e qualquer coisa que tenha a ver com cães. Fez um curso para ajudar a treinar animais de serviço em seu último ano na faculdade e, em seguida, ou a explorar esse caminho. Ela não só deu início ao programa que tinha me falado durante nosso primeiro encontro, como também o expandiu para Wisconsin, Michigan, Illinois, Indiana e Ohio. Ela também organiza eventos beneficentes para ajudar a financiar grupos de resgate e construir mais abrigos. Ainda a bastante tempo sempre que pode como voluntária no Garras & Patas. Os cães são grande parte do outro centro de sua vida. Porra, até começamos a ir àquela semana de exposição de cães em
Nova York com que ela costumava sonhar. Tenho certeza de que foi o fim de semana em que a engravidei. — Beleza, beleza — eu solto um suspiro profundo. — Vocês dois venceram. Vou clicar em salvar. Corujinha faz o barulho novamente, e Crowley pula de volta, arrogantemente caminhando até ela para ganhar um petisco. Embora ela não precise mais de um cão de apoio para ajudá-la a dormir à noite, ambos concordamos que ter um cachorro ou, na verdade, dois – também temos um schnauzer chamado Alister – seria uma boa ideia para quando eu viajo. Poppy nem sempre pode ir comigo, e acredito que ter os cães aqui ajuda a aliviar nossas mentes por ela ter sido deixada sozinha. Crowley é fofo e Alister é preguiçoso, mas ambos estão prontos para o ataque quando se trata de proteger a mulher que amam. A mulher que nós amamos. A mulher que tenho certeza de que se eu voltasse no tempo para visitar o meu eu de oito anos, até ele me diria que a ama. Não tenho certeza se houve um momento em que não amei Poppy Diesel. Ela tem sido a constante em minha vida desde a primeira vez que a vi pela janela da casa do meu pai. Mesmo depois de ser abandonada, ignorada e intimidada por mim, ela ficou. Às vezes, tarde da noite, quando meus braços estão em volta dela e meus lábios acabam de dar um beijo de boa noite em seu ombro, eu me pergunto por quê. Por que ela não foi embora? Por que ela não procurou algo melhor? Por que ela não desistiu de mim como todo mundo disse a ela para fazer? E, então, eu me lembro que é porque ela é a Corujinha. A pessoa mais destemida que já conheci.
Ela tem sido corajosamente ela mesma em cada o de nossa jornada. Se não fosse por ela, eu estaria preso vivendo a vida em pedaços em vez de em um todo. Me debatendo em uma existência dividida e insatisfeita. Sem ela, eu não seria nada além de um goleiro vivendo para bloquear jogadas, ao invés de aprender quando aceitá-las.
AGRADECIMENTOS:
A lista de pessoas que permitem todo esse processo é realmente grande para nomear. Portanto, em vez de correr o risco de esquecer alguém, quero apenas agradecer a TODOS. Leitores, blogueiros, amigos, familiares, revisores e o pessoal do marketing... Vocês são ótimos colegas de time e sabem exatamente como fazer com que eu sinta que estou sempre “ganhando” no “jogo” de autora. Obrigada por me apoiarem e me ajudarem a criar uma vida da qual me orgulho. Até a próxima...
SOBRE A AUTORA
Xavier Neal é autora bestseller de romances que gosta de pular de subgênero em subgênero como um jogo de amarelinha ao qual ela não consegue resistir.
Além de escrever, ela adora ler (de romance a livros de autodesenvolvimento), assistir filmes (antigos e novos), comer muito Tex-Mex (sua coleção de camisetas do Chuy está fora de controle) e assistir aos jogos de hóquei ao vivo (de preferência contra o vidro, sempre que possível).
Ela atualmente vive feliz no Texas com seu marido barbudo tipo "Lenhador".
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