Capa [ A Alegria do Amor... Encorajar a todos a serem sinais de misericórdia e p
Amoris ❝ Laetitia ❞ a família no coração da Igreja
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o dia 8 de abril, o Papa Francisco publicou a Exortação Apostólica sobre a família. A “Amoris Laetitia”, sobre a “Alegria do Amor”, reúne os resultados do Sínodo da Família, que ocorreu em duas etapas: uma em 2014 e outra em 2015, e trouxe a questão da família para o coração da Igreja e do mundo. A Exortação é publicada no contexto do Ano da Misericórdia e quer ajudar as famílias a apreciarem os valores como a generosidade, o compromisso, a fidelidade, e “encorajar a todos a serem sinais de misericórdia e proximidade para a vida familiar”. (AL, 5.) Um cuidado especial O documento começa por situar a família “À luz da Palavra” (Cap. I) e depois aborda a “A realidade e os desafios das famílias” (Cap. II). Mas, diferentemente do costume, não se busca na Palavra de Deus apenas um modelo de família já pronto, acabado; antes, acena para as situações concretas das famílias como elas são. E revela que as exigências de Jesus não se afastam da fragilidade concreta da vida das pessoas.
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dia e proximidade para a vida familiar... “Nas situações difíceis em que vivem as pessoas mais necessitadas, a Igreja deve pôr um cuidado especial em compreender, consolar e integrar, evitando impor-lhes um conjunto de normas como se fossem uma rocha, tendo como resultado fazê-las sentir-se julgadas e abandonadas precisamente por aquela Mãe que é chamada a levarlhes a misericórdia de Deus.” (AL, 49.) Depois, com “o olhar fixo em Jesus: a vocação da família” (Cap. III), que se ocupa dos ensinamentos da Igreja sobre o matrimônio e a família, reúne várias contribuições dos Padres Sinodais, lembrando também do dever dos pastores diante desta realidade tão bonita e complexa da família. E destaca que “o amor vivido nas famílias é uma força permanente para a vida da Igreja”. (AL, 88.) Depois, trata do “Amor no matrimônio” (Cap. IV), retomando cada atitude expressa no hino ao amor presente na Carta aos Coríntios (cf. 1Cor 13,4-7), e termina reforçando que “a alegria matrimonial, que se pode viver mesmo no meio do sofrimento, implica aceitar que o matrimônio é uma combinação necessária de alegrias e fadigas, de tensões e repouso, de sofrimentos e libertações, de satisfações e buscas, de aborrecimentos e prazeres, sempre no caminho da amizade que impele os esposos a cuidarem um do outro”. (AL, 126.) E ainda, “não é possível prometer que teremos os mesmos sentimentos durante a vida inteira; mas podemos ter um projeto comum estável, comprometer-nos a amar-nos e a viver unidos até que a morte nos separe, e viver sempre uma rica intimidade”. (AL, 163.) Fecundidade no amor Segue-se depois para “o amor que se torna fecundo” (Cap. V). “A família é o âmbito não só da geração, mas também do acolhimento da vida que chega como um presente de Deus.” (AL, 166.) Alarga-se o horizonte de compreensão da família olhando para o matrimônio em seu caráter social e a necessidade de um contínuo cresci-
mento na relação para com os outros. “Deus confiou à família o projeto de tornar ‘doméstico’ o mundo, de modo que todos cheguem a sentir cada ser humano como um irmão.” (AL, 188.) A Exortação Apostólica debruça-se também sobre “algumas perspectivas pastorais” (Cap. VI), onde as famílias, pela graça sacramental, são apresentadas como os “sujeitos principais da pastoral familiar”. (AL, 200.) E a pastoral familiar “deve fazer experimentar que o Evangelho da família é resposta às expectativas mais profundas da pessoa humana”. (AL, 201.) [ Aborda-se com clareza a necessidade da preparação para o matrimônio, o acompanhamento dos casais nos primeiros anos de vida matrimonial e a ajuda para os momentos de crise: “Uma das causas que leva a rupturas matrimoniais é ter expectativas demasiado altas sobre a vida conjugal. Quando se descobre a realidade mais limitada e problemática do que se sonhara, a solução não é pensar imediata e irresponsavelmente na separação, mas assumir o matrimônio como um caminho de amadurecimento, onde cada um dos cônjuges é um instrumento de Deus para fazer crescer o outro. [...] Cada matrimônio é uma ‘história de salvação’.” (AL, 221.) ] Recomenda, ainda, o acompanhamento depois das rupturas e divórcios. E quanto às pessoas divorciadas que vivem numa nova união, salienta que “é importante fazer-lhes sentir que fazem parte da Igreja, que ‘não estão excomungadas’ nem são tratadas como tais, porque sempre integram a comunhão eclesial”. (AL, 243.) E reafirma a necessidade de “tornar mais íveis, ágeis e possivelmente gratuitos de todo os procedimentos para o reconhecimento dos casos de nulidade” [...] e de “colocar à disposição das pessoas separadas ou dos casais em crise um serviço de informação, aconselhamento e mediação, ligado à pastoral familiar”. (AL, 244.) olutador [ maio ] 2016 • 9 ]
Acompanhar, discernir e integrar “Reforçar a educação dos filhos” – este é o assunto do Cap. VII, e destaca a necessidade da formação ética, o valor da sanção como estímulo, o realismo paciente, a educação sexual, a transmissão da fé. Trata da educação sexual de uma forma positiva – “Sim à educação sexual” – seguida do tripé “acompanhar, discernir e integrar a fragilidade” (Cap. VII), que explicita o exercício da misericórdia para tratar pastoralmente as situações que não correspondem plenamente ao que o Senhor propõe. “Trata-se de integrar a todos, deve-se ajudar cada um a encontrar a sua própria maneira de participar na comunidade eclesial, para que se sinta objeto duma misericórdia ‘imerecida, incondicional e gratuita’. Ninguém pode ser condenado para sempre, porque esta não é a lógica do Evangelho!” (AL, 297.) O Papa assim se expressa: “Convido os fiéis, que vivem situações complexas, a aproximarem-se com confiança para falar com os seus pastores ou com leigos. [...] E convido os pastores a escutar, com carinho e serenidade, com o desejo sincero de entrar no coração do drama das pessoas e compreender o seu ponto de vista, para ajudá-las a viver melhor e reconhecer o seu lugar na Igreja”. (AL, 312.) A Exortação termina tratando da “espiritualidade conjugal e familiar”, na qual tudo, “os momentos de alegria, o descanso ou a festa, e mesmo a sexualidade são sentidos como uma participação na vida plena da sua Ressurreição”. (AL, 317.) “Não percamos a esperança por causa dos nossos limites, mas também não renunciemos a procurar a plenitude de amor e comunhão que nos foi prometida.” (AL, 325.) Em nossas mãos, um rico conteúdo que expressa como a família está no coração da Igreja. Esta Exortação precisa ser lida, estudada, aprofundada e assimilada para que se converta em práticas misericordiosas para vida de todas as famílias na Igreja e na sociedade. Ir. Denilson Mariano, sdn]