Os Teus Olhos 6x5q6j

Este romance faz parte de uma duologia. Logo a continuação estará disponível apenas em e-book.

Para encontrar outras obras da autora, pesquise por "Dayane Ataide".

Leiam também:

Capítulo 1

A música está alta em meus fones de ouvido e meus olhos estão atentos. A maré está baixa e o mar está azul como o céu. São 6h30 da manhã, e esta é a minha hora preferida de andar de bicicleta na orla. Principalmente em uma manhã ensolarada como esta aqui em Maceió. Meu coração está acelerado e eu estou ofegante. Todas as manhãs eu venho aqui, para distrair e fugir da minha grande aflição. O mar é o meu refúgio nos dias nublados e tristes... a sensação de se sentir inútil é desgastante e dolorosa.

Quando chego em casa, ando na ponta dos pés para não fazer barulho e acordar minha mãe. Somos uma família de dois. Apenas eu e ela. Me sento na cama e relaxo respirando fundo. Eu posso sentir meu rosto queimar pelo calor e o sol. Eu me levanto e vou me olhar no espelho, e acabo me deparando com um rosto vermelho e suado. Meus olhos parecem estar sombrios por causa da noite ada — que por sinal foi muito difícil. — Como pode alguém se parecer tanto com sua mãe assim como eu me pareço?— penso. Eu sou igualzinha a ela. Olhos negros, cabelo extremamente escuro e pele bronzeada. Eu com toda certeza achava a minha mãe linda, mas não conseguia ver beleza em mim. Eu solto o meu cabelo e tento ver algo de bonito, ou algo atraente; mas é em vão. Meu ponto de vista sobre mim mesma sempre foi estranho, triste. Eu continuo parada em frente ao espelho me observando. — Vamos Rachel, tente ver algo de bonito em você! — penso. — Cabelo escuro, sobrancelhas marcantes, olhos pretos e grandes, rosto oval, nariz afilado, minha boca nem é grande e nem é pequena; é do tamanho ideial. E o sorriso? — me pergunto. — Os anos de aparelho fizeram muito bem aos meus dentes grandes. E claro, eu não posso esquecer desta bela cicatriz no pescoço. — digo falando comigo mesma. É, talvez eu tivesse uma imagem distorcida de mim mesma. As pessoas eram cruéis comigo em relação a beleza. Eu queria me ver como muitas pessoas me viam, mas infelizmente eu não conseguia. E mais uma vez, falhei miseravelmente em relação a minha autoestima.

Eu não tinha dormido bem na noite ada, e sentia meu corpo pesado e

dolorido. Esta era a parte da ansiedade que eu mais odiava: não conseguir dormir bem. E comigo, quando não consigo dormir bem, eu acabo descontando tudo na comida, e consequentemente, eu estava aumentando alguns quilinhos. Eu vou na cozinha para tomar um bom café, mas estava faltando o meu queijo preferido. — Droga! — penso. Eu teria que sair de novo. Tomo o meu banho e procuro a roupa mais confortável. No supermercado, tinha tudo menos o meu queijo. Naquela parte era frio e os dedos da minha mão estavam congelando. Eu me abaixo para ver algumas coisas melhor, mas ao me levantar, acabo esbarrando em alguém que está atrás de mim. — Desculpa! — digo me virando rapidamente. Quando me viro, me deparo com um homem alto segurando pão e manteiga. Ele usa roupa de futebol e seu cabelo está bagunçado. Ele cheira bem e tem belos olhos. Seu rosto é quase perfeito. — Tudo bem! — diz ele se distanciando de mim. Eu continuei parada observando ele ir embora. Mas fui surpreendida quando ele olhou para trás, e eu fui pega olhando para ele. — Minha nossa! — digo em pensamento e saio às pressas dali.

Eu abro a porta de casa rápido e subo quase correndo. — Por que essas coisas só acontecem nos dias em que eu não estou bem? — digo baixinho resmungando. Eu vou até o espelho que tem na sala da minha casa. É um espelho bonito e decorado. Ele foi escolhido por minha mãe quando ela estava grávida de mim. Ao lado do espelho está escrito: "Renata e Rachel. Eu por você e você por mim, para sempre!" Meu pai nos abandonou quando ela ainda estava grávida, e a gente sofreu muito. Meus olhos se enchem de lágrimas ao lembrar, e eu me encaro no espelho. A tristeza tirou qualquer vestígio de calmaria do meu rosto. Eu só conseguia ver uma garota com seus 24 anos, que agora estava pálida e com olhos tristes.

— Oi. — diz minha mãe me dando um leve susto.

— Oi mãe, bom dia! — digo olhando para ela através do espelho. — Fazia tempo que eu não via você se olhar nesse espelho. — diz ela. — Você está tão bonita! — Eu apenas dou um sorriso no canto da boca e não digo nada. — Eu percebi que você não dormiu bem.

— É... noite difícil. — digo ainda observando ela através do espelho.

— Vamos ar por essa juntas. Não se preocupe! Só tente se animar, sair ou fazer qualquer coisa para não focar tanto nisso. Você é forte, linda e jovem. Vai ar por isso de cabeça erguida. — Eu não dou uma única palavra e ela continua, — Ânimo filha! Você não está sozinha nessa. Por que não sai hoje com Pietro? — Pietro... — penso. Pietro e eu não estávamos bem. Já fazia um tempo que a gente não fazia algo juntos, mas toda manhã ele vinha me buscar para me levar ao trabalho. Ele não parecia fazer tanta questão assim; estava mais longe do que perto. Mas, eu ainda o amava; estava presa à ele. — Me promete que vai tentar sair hoje? — insiste ela.

— Eu vou tentar. — digo dando um sorriso fraco para ela, e ela assente.

Eu trabalho em um loja de cosméticos próximo do shopping, que também não é distante da minha casa. Foi no trabalho que conheci minha melhor amiga, Linda Barone. Linda vem me ajudando nessa fase difícil da minha vida. Ela é uma rave que está sempre ao meu lado nos dias nublados. Eu costumava ir trabalhar bem arrumada e maquiada por causa do trabalho, mas naquele dia estava sendo difícil fazer aquilo. Era um dia em que eu não queria sair de casa, e encarar as pessoas hoje com certeza iria ser uma luta. Quando estou terminando de pegar as coisas para descer, eu escuto Pietro buzinar. Eu desço as pressas e digo:

— Tchau mãe, te vejo mais tarde.

— Até mais tarde! — grita ela de volta.

Quando me vê abrindo a porta, Pietro desce o vidro do carro e me encara. Eu o encaro de volta e ele contrai o maxilar. — Bom dia! — diz ele me olhando dos pés a cabeça. — Que linda você está hoje! — Eu reviro os olhos para ele. — Não revire os olhos Rachel!— diz ele balançando a cabeça em negação.

— Bom dia! Mas eu não revirei os olhos. — digo entrando no carro.

— Rebelde! — resmunga ele sorrindo.

Antes, quando ele vinha me buscar, sempre me dava um beijo. Mas naquela manhã, nem isso teve. Pietro parou em frente a loja — que ainda estava fechada. Eu mandei várias mensagens para Linda que não me respondeu. Toda manhã a gente abre a loja; e já são 8h30 e nada dela.

— A gente precisa conversar. — diz Pietro segurando o volante com um olhar vazio.

— Sobre o que? — pergunto.

— A gente tem que conversar sobre o que vem acontecendo nesses últimos dois meses. — Eu desvio o meu olhar dele e olho para frente sentindo a tensão tomar conta do meu corpo.

— Antes que você diga alguma coisa, sexta eu fui buscar os remédios. — digo estalando os dedos de nervoso.

— E mais uma vez você não me conta sobre o seu dia! — diz ele.

— Se ao menos você perguntasse... — digo.

Pietro não diz nada, talvez por saber que está errado.

— Rachel, chega mais perto por favor... — pede ele. Ele tem um cheiro tão bom... e é tão bonito. A esta manhã ele está usando uma calça jeans e uma camisa branca. Seu cabelo está bem penteado e suas sobrancelhas bem feitas. Pietro é um homem que gosta de se cuidar, e eu não via problema nisso. Ele é apenas um garoto de 25 anos. Ele vive como um jovem que não tem nada a perder; é alegre e inteligente. Ao se aproximar, pude ver melhor suas sardas e seus olhos castanhos, que estavam um pouco mais claro por causa da luz do sol que entra pela janela. Ele olha os meus lábios e eu chego a pensar que ele vai me dar um beijo.

— Você realmente está muito bonita. Foi andar de bicicleta na orla? — Eu faço que sim com a cabeça, e ele continua me olhando. —Isso é muito bom. Eu vejo que andar de bicicleta faz muito bem a você! — diz ele colocando o meu cabelo atrás da orelha. — Mas então Rachel, eu acho que a gente precisa conversar sobre algumas coisas. — Eu já sabia sobre o que ele queria falar. Com certeza estava louco para terminar comigo. Eu sinto uma vontade de perguntar isso, até me preparo para falar, mas Linda aparece na janela do meu lado. Ela pigarreia alto o suficiente para nos assustar.

— E aí casal, qual é a boa de hoje? — diz ela com um sorriso no rosto. Pietro apenas sorri. Quando Linda aparece, sinto a tensão do meu corpo diminuir. Era esse efeito que ela tinha sobre mim.

— Oi Linda! — digo sorrindo e fazendo cara de "obrigada" e ela faz cara de confusa. — Bom... — digo, —é melhor eu ir. Você pode me ligar mais tarde para a gente conversar? — peço. Pietro assente. — Ótimo! Assim que chegar da faculdade. Não esqueça!

— Ok. — diz ele suspirando forte e vai embora. Linda observa Pietro ir embora e sem me olhar diz:

— Vocês estão estranhos.

— Ele vai terminar comigo. — digo pegando as chaves na bolsa.

— Ei! - diz ela pegando no meu queixo e levantando a minha cabeça. — Como você sabe disso?

— Você sabe... a gente já não vive mais como um casal desde que começaram as minhas crises de ansiedade; e quando eu comecei a me isolar, engordar...

Linda faz cara de indignação para mim.

— Só um momento Rachel, não me diga que Pietro vai acabar com você por causa disso? — ela me olha com os olhos atentos e preocupados. — E você não engordou. E mesmo que tivesse engordado, e daí? Ele não tem o direito de fazer isso! Se ele fizer isso, só vai me dá a certeza de que é um babaca miserável. Meus olhos se enchem de lágrimas e ela me puxa para um abraço. — Não

Rachel, não chore por favor. Isso é um absurdo! Desculpa minha sinceridade, mas em vez do Pietro te ajudar, ele só piora.

E ali nos braços da minha amiga eu chorei. Chorei muito. Naturalmente, eu escondia minhas emoções das pessoas. Mas, com a Linda era diferente. Ela me entendia como ninguém.

— Ainda bem que você não está de maquiagem. — diz ela sorrindo. — Eu teria mais trabalho!

Eu me afasto e dou uma tapinha nela e começamos a ri.

O dia na loja foi longo e movimentado. Linda atendia as pessoas com um belo sorriso no rosto. Ela é tão bonita, alta e elegante. Linda é Italiana e veio para o Brasil com os seus pais quando ela tinha apenas dois anos. Os pais de Linda, achavam que aqui no Brasil as coisas seriam diferentes. Mas, se enganaram. Linda tem o cabelo na altura dos ombros, e tem uma franja com um toque italiano. E como todo italiano, ela fala mexendo as mãos. Ela tem bom gosto para roupas. Ao perceber que eu estava escondida observando ela e tirando sarro do jeito que ela fala, ela olha para mim e dá língua.

**************

Já são 18h e Pietro não ligou para mim. Linda me olha confusa percebendo que estou inquieta.

— Você está pensativa... — diz ela me ajudando a fechar a loja.

— Pietro ainda não me ligou. — digo decepcionada. Pietro saía da faculdade às 17h hoje, e ele não me ligar era estranho. Na verdade não era tão estranho, porque eu já sabia que ele estava se distanciando cada vez mais de mim. Minha amiga não quis tocar mais no assunto, ela sabia que fazendo aquilo encheria ainda mais minha cabeça, e só iria piorar a situação. Eu estava sentindo uma leve dor no coração de angústia, porque eu já sabia o fim daquela história.

Eu subo as escadas de casa exausta, minha cabeça estava barulhenta e eu não conseguia pensar. A luz da cozinha está acesa, e vejo que minha mãe está fazendo as contas dos nossos gastos. Eu tento não fazer barulho para não distrair ela, mas é em vão.

— Rachel? — diz ela olhando por cima dos óculos. Eu fecho os olhos e paro.

— Oi mãe. — digo me virando devagar para olhar para ela. — Eu não queria distrair a senhora.

— Está tudo bem? — pergunta ela.

— Só estou cansada. — digo indo em direção ao quarto.

Entrando no quarto eu começo a chorar. O choro sai forte e eu coloco a mão na boca na intenção de abafar. Meu coração doía e o motivo da minha tristeza naquele momento tinha nome e sobrenome: Pietro Sanchez. Eu me deito na

cama e coloco os fones de ouvido para tentar me acalmar. As pessoas falam que ouvir música quando se está triste ajuda. Eu sempre fazia isso para aliviar a tristeza. E, enquanto ouvia música, peguei no sono profundo.

Capítulo 2

O celular desperta ás 5h30, e eu me levanto em um pulo e vejo que ainda estou com a farda do trabalho. Eu não jantei na noite ada. Estou enrolada e meu celular está na cômoda ao lado da minha cama. Provavelmente, minha mãe tinha entrado aqui e feito isso. Eu olho as mensagens no celular, e nada do Pietro. Eu me deito e coloco a mão no meu rosto. Eu estava cansada daquilo! — Orla! — penso. — Eu preciso andar na orla!

Eu tomo um banho e me arrumo. Eu coloco uma legging preta, uma blusa de academia e óculos escuros.

Quando já estou na orla, eu pedalo muito rápido e com muita vontade. Já estou cansada, e em meus fones de ouvido a voz de alguém canta coisas tristes. Aquilo era para combinar com o meu humor. Por uma parte eu queria que Pietro não falasse, não ligasse, e não existisse. O dia estava bonito e ensolarado, como de costume. Mas, algo me assusta e eu escuto alguém gritar:

— Não! — Eu sinto alguma coisa me acertar bem de lado; aquilo queimou na hora e eu apaguei.

— Au! — digo sentindo meu braço doer. Eu sinto o meu corpo flutuar e escuto a respiração de alguém. — Vamos Rafael! — grita um homem enquanto me carrega. — Ela está acordando! — grita ele novamente. E ai, eu apago de novo.

Estou ouvindo várias pessoas falar. Eu tento abrir os olhos, mas uma luz forte me impede de fazer isso. — Ela está abrindo os olhos, Murilo! — diz alguém. Meus olhos estavam pesados e meu braço estava doendo muito.

— Moça? Moça? — diz um homem com um par de olhos castanhos bem curiosos em cima de mim. — Que queda! — diz ele tirando sarro da situação. Ele tem um belo sorriso; mas está muito rosado.

— O que aconteceu? — pergunto um pouco confusa.

— Quase mataram você! — caçoa ele.

— Deixa a menina Rafael! — Aquela voz rouca me fez olhar para o lado. E bem do meu lado está sentado um belo homem me observando atentamente.

— Oi... você não é a moça atrapalhada do mercado? — diz ele sorrindo carinhosamente. Seus olhos eram verdes e sua pele estava bronzeada. Eu podia vê um pouco de areia da praia em seu cabelo e rosto. Ele me olhava com muito interesse... como um leão observando sua presa. Era estranho.

Naquele momento senti meu corpo tremer e o braço doeu ainda mais. — Au! — digo novamente, como se só existisse aquele vocabulário em meus lábios.

— Não se mexa muito! — sussurra ele, — o médico já vem atender você! Você poderia me ar o número de alguém da sua família?

— Aham. — digo. — E com quem alguém da minha família vai falar? — pergunto.

— Murilo. — diz o amigo dele. Ele está de braços cruzados nos observando.

— Murilo? — sussurro. Estou encantada por ele.

— Sim... Murilo. E você, como se chama? —pergunta ele ainda me olhando nos olhos.

— Rachel Kelly. — digo tentando ser formal. A gente fica se encarando por alguns segundos e ele diz:

— Ligando para esse número, eu vou falar com quem?

— Minha mãe. - digo tímida.

— Ok. — diz ele se levantando.

********

Não demora muito e minha mãe entra na sala junto com a Linda e Pietro. Quando vejo Pietro entrar, engulo em seco e olho para Murilo, que fez uma cara parecendo entender meu nervosismo.

— O que aconteceu? — pergunta ela.

— Acertaram sua filha com uma bola! — diz Rafael demonstrando achar engraçado aquela situação. Murilo olha para ele fazendo cara feia. Já Pietro, encara eles sério.

— Está se sentindo bem? — pergunta minha mãe acariciando minha cabeça.

— Sim... só o meu braço que está doendo muito. — digo.

— Espero que um de vocês me ajude a cuidar dela em questão financeira. — diz ela em um tom ríspido.

— Tudo bem! Eu vou comprar tudo que ela precisar. — diz Murilo me fitando com aqueles belos olhos verdes. Pietro olha feio para ele, e na tentativa de marcar território, ele diz:

— Como aconteceu? — ele a a mão no meu cabelo.

— Só levei uma bolada. — digo sem demonstrar emoção. Percebendo algo estranho, Murilo olha para Rafael e se ajeitando diz:

— Acho que seria apropriado a gente esperar lá fora.

Minha mãe assente.

— Isso, voltamos daqui a pouco. — diz ela saindo do quarto, e Murilo e seu amigo engraçadinho acompanham ela. Linda me olha com uma olhar forte e sai junto com eles. Com certeza ela não estava feliz por Pietro estar ali. Ela estava quieta e prestava atenção em tudo que estava acontecendo.

— Acho que devo uma explicação a você. — diz Pietro colocando as mãos no bolso.

— Ah por favor, não me venha com essa história de explicação. Eu não sou boba Pietro. E o que você veio fazer aqui? — digo sem olhar na cara dele.

— Eu sei que está chateada comigo, e tenho plena consciência de que mereço ser tratado assim. — diz ele se afastando um pouco. — Quando você estiver mais calma, prometo me explicar melhor!

Ele estava certo. Eu não queria ver ele e não estava preparada para conversa com ele naquele momento. Eu queria que ele sumisse, mas ao mesmo tempo, eu achava que eu merecia explicação. O que ele estava fazendo comigo não parecia ser justo. Aquilo estava me deixando aos pedaços!

************

Linda cochila ao meu lado na cama, e eu só conseguia pensar no que Pietro tinha para falar. Minha mãe estava fazendo a janta, e estava se esforçando ainda mais por Linda estar em nossa casa. Com certeza, hoje foi um dia complicado no trabalho... isso era visível no belo rosto da minha amiga, que dormia ao meu

lado. Linda tinha isso de ser super protetora, e uma grande amiga.

De repente, consigo ouvir alguém conversar com minha mãe. Eu me ajeito na cama na esperança de ser o Pietro. — Rachel... — diz minha mãe abrindo a porta devagar. — Pietro está aqui! — Quando minha mãe diz: "Pietro" Linda abre os olhos e se levanta rápido.

— Melhor ir dormir um pouco lá no quarto da sua mãe. — diz ela se levantando, — ou melhor, tentar!

Linda saí, e em seguida entra Pietro. Quando ele entra, minha mãe lança um olhar forte para ele e eu engulo em seco.

— Oi! Como você está se sentindo? — pergunta ele sem se aproximar da minha cama.

— Bem. — digo observando ele enfiar mais uma vez as mãos no bolso da calça. Ele com toda certeza estava nervoso; e eu o conhecia o bastante para saber disso. Ele estava usando a mesma roupa de quando foi na UPA: camisa preta e calça jeans.

— Bom... — começa ele, — Como eu disse hoje pela manhã, eu preciso me explicar. Eu sinto muito Rachel! — diz ele colocando as mãos sobre a boca. — Eu sinto muito mesmo! — repete ele. — Mas nosso relacionamento já não é o mesmo! — Eu fixo os meus olhos nele e o observo se aproximar da minha cama. — Nos últimos dois meses, foi difícil deixar as coisas desse jeito!

— Desse jeito? — pergunto levantando as sobrancelhas.

— Desculpa, calma... é que já não saímos mais, não jantamos mais, nem sequer vamos ao cinema. Sempre que venho aqui você não está bem, e eu me sinto culpado por não conseguir fazer nada. Por exemplo, como naquele dia que você estava tendo uma crise de ansiedade e ficou sem ar... eu não sei se consigo lidar com isso! — Eu estreito os olhos indignada. Ele ia terminar comigo!

— Você não entende mesmo! — digo sentindo um nó na minha garganta. — Como você pode dizer uma coisa dessas? Eu não queria que você fizesse algum milagre e me ajudasse a ficar boa; eu queria que você me apoiasse. Eu só queria que você me encaixasse em seus braços e pronto. Mas você não me entende! — digo segurando o choro. — vá embora Pietro! Você me pressiona, mas quando eu mais precisei, você não estava aqui. Quando o meu peito queimava por eu não conseguir respirar direito, você fugia de mim como se eu fosse um monstro. Eu não tenho culpa de estar me sentindo assim, Pietro!— digo deixando as lágrimas rolarem pelo meu rosto. — Eu não tenho culpa de me sentir ansiosa, ou de ter depressão. Eu não tenho culpa por não conseguir me arrumar como antes, e por não me sentir bem para sair com você... eu simplesmente não tenho controle. Agora você tem culpa por ser um covarde, por não saber encarar as coisas como um homem. Vá embora, por favor, e nunca mais me procure. Você não é homem o suficiente para mim! — digo, e ele fica sem reação.

— Ok Rachel... talvez seja melhor mesmo! — diz ele sem olhar para mim.

Quando ele abre a porta, lá está Linda de braços cruzados.

— Realmente as paredes têm ouvidos, não é mesmo Linda? — diz ele com ironia.

— Sim Pietro... elas têm para um babaca como você!— grita ela e Pietro vai embora.

Quando ele sai eu desmorono. Meu peito doía muito e eu chorava sem parar. Linda e minha mãe correm para me abraçar e ficam ali comigo. Naquela noite, Linda dormiu comigo e eu sentia falta de ar o tempo todo... foi uma noite inável. Pietro foi o meu primeiro namorado, e me imaginar sem ele era doloroso.

— Você vai superar! — diz Linda me olhando com os olhos confiantes e tentando segurar o choro.

Eu não conseguia dormir, mas quando finalmente já estava pegando no sono, eu podia jurar que tinha visto minha amiga chorar e orar pedindo para Deus me ajudar.

*************

Os dias estavam sendo difíceis. Eu não tinha ânimo para nada... era praticamente do quarto para sala. Todas as noites eu sonhava com ele e isso me machucava ainda mais. Eu descontava tudo na comida e me insolava. Eu ouvia algumas pessoas perguntarem por mim, mas eu não queria ver gente. Eu só queria ficar sozinha.

Capítulo 3

Já tinham se ado vinte dias, e eu estava me recuperando do braço e da minha dor emocional. Eu não estava indo trabalhar. Seu Renato, meu patrão, tinha me dado um mês para descansar. Já era quinta-feira, e eu tinha me acordado mais cedo como de costume. Vou na cozinha para comer uma das milhões de bananas que Linda tinha comprado. Minha mãe era minha cúmplice em relação a comer besteira, mas Linda era severa demais comigo. — Por Deus, Rachel! Você tem que comer coisas saudáveis! — dizia ela toda vez que vinha aqui, e sempre trazia bananas. — Você vai acabar entupida!— coçoava minha mãe, e eu caia na gargalhada.

Quando estou me aproximando da cozinha, alguém buzina e eu tomo um susto. — Au! — digo machucando o meu braço e tomando um susto ao mesmo tempo. Eu espero mais um pouco e buzinam mais uma vez com persistência.

Eu corro para me ver no espelho na expectativa de ser o Pietro. — Que bobona Rachel... — penso me julgando. Mas eu não me importava, eu queria que ele me visse bem, e não deprimida. Quando desço as escadas, consigo ver uma Ford Ranger 2020 preta.

— Uau! — penso.

É um carro grande, e está muito limpo porque brilha. Eu não sabia quem era e também não estava tão arrumada, afinal era apenas 7h30 da manhã. Eu estava vestindo um pijama nada sexy, e meu cabelo estava solto, por isso consegui me sentir um pouco mais confiante.

O vidro da porta da Ranger foi baixando e meu coração acelerou. — Ah não! — sussurro. É o Murilo. Ele está com o cabelo molhado, está usando uma camisa preta que deixou sua pele ainda mais bonita. Eu continuei paralisada e minhas pernas estavam começando a tremer.

— Oi? — diz ele acenando para mim. — Está tudo bem?

Eu pisco voltando a realidade.

— Oi.. desculpa... eu vou pegar a chave para abrir a porta.

Ele apenas sorri.

Eu subo dando os seguros sem acreditar que ele está na frente da minha casa. Meu coração está acelarado e minhas mãos frias. Eu consegui ouvir ele batendo a porta do carro, e isso queria dizer que ele ia entrar. — Não, por favor não... — resmungo feito uma criança. Eu pego as chaves e desço. A medida que vou descendo vejo que ele está com roupa social e segurando uma bicicleta vermelha novinha. Eu franzo a testa confusa.

— Mas essa não é minha bicicleta. — digo abrindo a portão devagar.

— Eu sei... — diz ele dando um sorriso amarelo. — Mas aquela estava toda torta e velhinha, então achei que você merecia uma nova. Já que eu causei tudo isso... — diz ele com um belo sorriso no rosto. Eu apenas olho ele de cima a baixo e não digo nada. Ele logo fica vermelho; mas seus olhos permanecem em mim

querendo demonstrar que ele não está se sentindo intimidado. A bicicleta era boa, tinha marchas e parecia ter sido cara.

— Acho que agora você deve pegar ela e guardar... — diz ele constrangido.

— Ah sim, claro. Você pode colocar ela aqui por favor... — digo sem demonstrar muita coisa. Ele merecia isso, afinal quase me matou.

Murilo a por mim sem fazer contato visual e deixa seu perfume. Ele tem um cheiro muito bom e másculo.

— Pronto, aqui está sua bicicleta. — diz ele olhando para o meu braço. — E como está sendo a recuperação do seu braço? espero que os remédios que eu trouxe estejam fazendo efeito.

Eu abro bem os olhos.

— O que! Quan...quando você veio aqui? — pergunto gaguejando.

— Eu vim aqui umas três vezes. — diz ele me olhando nos olhos. — Mas infelizmente não consegui ver você. — Meu corpo gelou por dentro só de ouvir ele dizer "infelizmente". — Ele acabou de flertar? — pensei.

— Desculpa, eu não estava muito bem. E desculpa por você ter que vim aqui tão cedo. Com certeza deve estar atrasado para o trabalho. — digo ainda sem jeito.

— Na verdade eu que sugeri vir a essa hora. — diz ele me olhando atentamente. — Sua mãe disse que provavelmente eu conseguiria falar com você— continua ele dando um sorriso malicioso.

Eu fico vermelha.

— Minha mãe o que? — pergunto gaguejando de novo. Ele sorri e a a mão no cabelo.

— Eu sempre acordo cedo e faço caminhada antes do racha na praia; mas hoje eu tenho que ir um pouco mais cedo trabalhar. Então, achei que seria uma ótima hora para te ver.

Eu apenas dou um sorriso fraco para ele figindo costume, claro. Mas por dentro estava dando pulos de alegria.

— Ok. — digo tentando mostrar firmeza e indo em direção a porta. — Muito obrigada pela bicicleta nova e por comprar os remédios!

— Eu só fiz mais do que minha obrigação. — diz ele saindo. Eu estava literalmente tentando ser chata, mas por dentro estava derretendo feito gelo fora da geladeira e no verão.

— Espero ver você em breve Rachel Kelly. — Ele diz aquilo piscando o olho para mim e com o mesmo sorriso malicioso em seus lábios.

Eu continuo parada no portão totalmente chocada com aquilo. Será que eu estava louca? isso não pode ser possível! — Com certeza estou maluca! — digo fechando a porta.

***************

Já era noite, e eu estava comendo as unhas de nervosismo andando de um lado para o outro no quarto. Minha mãe a algumas vezes pelo meu quarto e me olha confusa. Eu não via a hora de ver Linda chegar... eu mandei várias mensagens para ela vir aqui. — Rachel! — grita ela da porta e eu saio correndo. — Ei! — diz minha mãe quando o por ela sorrindo. Eu abro a porta toda alegre e Linda comemora.

— Uhul! — diz ela entrando na onda comigo. Eu puxo a pelo braço e a levo para o meu quarto.

— Olá Renata! — diz ela ando por minha mãe quase correndo porque eu estava puxando ela.

— Senta ai! — digo fechando a porta e ela senta na cama dando palminhas. — Qual é o motivo da alegria? — pergunta ela dando um sorriso largo. Ela nem tinha ado em casa ainda porque estava com a farda do trabalho.

— Você não sabe quem veio aqui hoje! — digo fazendo suspense.

— Não me diga que foi o Pietro? — diz ela tirando o lindo sorriso dos seus lábios.

— Não bobona, você acha mesmo que se fosse ele, eu estaria feliz? — digo revirando os olhos. Linda suspira aliviada. — Foi alguém mais interessante que ele... você viu a minha bicicleta novinha lá em baixo? — digo me segurando para não rir.

Ela estreita os olhos e corre para verificar. Eu continuo no quarto esperando por ela, quando ela volta boquiaberta.

— Eu não acredito! — diz ela. — Mas porque você está toda eufórica, é por causa da bicicleta? — Eu puxo ela, e ela senta na cama de novo.

— Óbvio que não! — digo, —foi pelo o que ele disse!

— Ele quem? o que ele disse? — pergunta ela abrindo bem os olhos para mim.

— Murilo! — digo, e ela coloca a mão na boca. Eu contei tudo para ela, que a cada coisa que eu falava, fazia "hum" de um jeito malicioso.

— Então... parecia até que ele estava flertando comigo quando disse: "Achei que seria uma ótima hora para te ver." — digo me encostando no guarda roupa.

— Garota... — diz ela se ajeitando na cama, — ele com certeza flertou!

— Claro que não! Tá maluca? — digo indo me ver no espelho e começo a procurar defeitos em mim.

Linda revira os olhos.

— E por quê não? Você é linda Rachel, e com certeza ele flertou. Lá na UPA, ele fez várias perguntas sobre você... Talvez eu tenha dito algo sobre você. Não só eu, mas sua mãe também. — diz ela sem fazer contato visual comigo.

— Que tipo de coisas? — pergunto estreitando os olhos.

— Ah, muitas coisas. Falamos um pouco sobre os remédios que você toma para ansiedade... —continua ela olhando para os seus pés.

— Sobre meus remédios? — pergunto indignada e me sentindo insegura.

— Essa parte não foi eu quem disse... foi sua mãe, porque o médico perguntou se você tomava algum remédio.

— Ah não! — digo sentando ao lado dela muito decepcionada. — Por isso ele foi tão gentil.

Linda revira os olhos novamente, e diz:

— É sério isso? então quer dizer que alguém só flerta com outra pessoa por pena? Se poupe disso, Rachel! — diz ela deitando na cama e resmungando.

— Ei! — digo dando uma tapa na perna dela. — Eu tenho o direito de achar isso estranho.

Linda coloca as mãos sobre o rosto.

— Você é linda Rachel! Não se menospreze assim. Você ter alguns problemas, não impede você de viver ou de se valorizar! Não é porque um babaca não valorizou você, que outro não possa fazer isso no lugar dele. —termina ela piscando o olho para mim. Eu fico em silêncio e me deito ao lado dela.

— Está com fome? — pergunto tentando mudar de assunto.

— Muita! — diz ela.

Capítulo 4

Os dias se aram muito rápido, e eu voltaria a trabalhar na segunda feira. O braço não doía tanto como antes, mas eu ainda estava com a faixa e não conseguia fazer muita coisa com ele. A última vez que falei com o Pietro, foi naquele dia da briga. A ferida em meu coração estava se fechando aos poucos. Mas pensar no Pietro ainda me incomodava. Eu não entendia o porquê de alguém terminar um relacionamento de dois anos por causa de um problema como a ansiedade e depressão. "Eu acho que não consigo lidar com isso..." disse Pietro, e isso não saía da minha cabeça. — Que covarde! — digo baixinho olhando o teto do meu quarto. Eu joguei dois anos da minha vida fora com uma pessoa como ele. No começo era tudo tão bom, tinha alguns limites, mas era o necessário. — Me livrei de grandes problemas! — digo em pensamento.

Já fazia um tempo que eu não olhava minha conta no instagram. Na verdade, eu queria evitar de ver alguma coisa dele. Quando abro a minha conta, a primeira foto que vejo é a da Linda toda sorridente em uma festa. Nessa festa só ia senhoras. Era o famoso chá das senhoras que sempre terminava em festa. E não era qualquer festa; era realmente um festão. Não iam homens, era apenas só elas e mais nada. Linda já tinha me chamado algumas vezes, mas eu ainda não me sentia à vontade para ir. Eu vou descendo o feed e olhando fotos de pessoas que eu não via a algum tempo, quando me deparo com uma foto do Pietro. Na foto ele está apoiando seu rosto na mão direita. Eu sei disso porque ele usa uma pulseira de prata no braço direito. Na foto dava para vê suas sardas e seus olhos castanhos... seu maxilar estava contraído, como sempre. Ele é tão bonito... — mas é um babaca! — digo pensando alto.

Na foto tinha dois comentários: um do amigo dele, e outro de uma menina chamada Emilly Amorim. — Quem é essa? — penso mais uma vez. Na foto, ela tinha colocado dois corações e mais nada. Naquela hora eu gelei por dentro, e meu coração estava acelerado e eu sentia cólicas na barriga. Entro na conta dela no instagram, e começo a olhar suas fotos. Ela era bonita. Seu cabelo era cacheado acima do ombro. Ela era morena e tinha olhos escuros e um sorriso

muito bonito. Ela parecia ter no mínimo, seus 20 anos. Eu vou descendo mais quando uma foto específica me chama atenção. Era uma foto da lua que ela tinha tirado. Logo dou um clique na foto. Eu conhecia aquela casa da frente! Meu coração acelerou ainda mais, e eu começo a ter certeza que vou ter um treco. A foto foi tirada do quarto do miserável do Pietro! As lágrimas começam a rolar pelo meu rosto. A casa da frente era de um vizinho rico dele. Eu e ele ávamos horas naquela varanda olhando aquela casa bonita. Nunca saía gente de lá, mas sempre estava com a frente limpa e as flores impecáveis.

Do quarto do Pietro dava para ver a piscina e as cadeiras chiques da casa. Muitas vezes, Pietro e eu falávamos de fazer amizade com o dono para sentarmos ali. Eu não podia acreditar naquilo e começei a chorar muito. Pietro tinha me traído!

***********

Na manhã seguinte, o celular alarma e eu sinto os meus olhos pesados de tanto chorar. Eu não espero muito e ligo para Linda que me atende com voz de sono.

— Oi. — diz ela com a voz abafada.

— Ele me traiu! — digo, e por um segundo Linda não diz nada.

— Como você sabe, Rachel? — A voz dela já não está abafada, e com isso eu sei que ela se levantou.

— Eu vi no instagram dele.— digo com a voz trêmula.

— Calma, vamos pensar — diz ela, — você olhou a data da foto?

— Sim...

— E quando foi publicada? — pergunta ela.

— Um dia antes da queda de bicicleta. — Linda fica mais uma vez em silêncio. — Eu não posso acreditar nisso! — diz ela com uma voz de indignação e continua:

— Que homem idiota! Na verdade nem sei se posso chamar ele de homem! Rachel? — diz ela por se da conta que eu não estava falando muito. — Eu estou indo ai!

Às 5h30 Linda chegou de pijama na minha porta. Assim que ela entrou, eu abracei ela e chorei muito nas escadas. A cada lágrima minha, eu pude concluir que a traição nos machuca e nos destrói. A traição nos derruba em meio a corrida. A traição tira tudo de nós e mais um pouco. Dói, tira o ar, tira o chão; e no final tira algo de muita importância para a gente: a confiança.

*************

Linda tinha ido trabalhar e minha mãe foi dormir mais um pouco comigo.

Quando eu acordei novamente, eu sentia minhas pernas doerem e minha cabeça estava dolorida. — Oi filha... — diz minha mãe abrindo a porta do quarto, e entrando com o meu café da manhã. — Aqui está seu pão com queijo e manteiga... e aqui está seu suco de laranja. Como você está se sentindo? — pergunta ela acariciando o meu rosto.

Eu apenas olho para ela com os meus olhos inchados e ela começa a chorar. Eu faço cara de assustada.

— Mãe! — digo segurando as mãos dela, — não chore por favor! isso vai ar. — Ela tinha olheiras e sua aparência era de cansaço.

— Sua dor é a minha dor, Rachel. Nada dói mais para uma mãe do que ver seu filho sofrer! Um filho é uma parte da gente, e quando ele sofre, sofremos junto com ele. — Essa história toda de depressão e ansiedade assombrava muito a minha mãe. Ela se sentia culpada por tudo o que eu ei na infância e por não ser tão presente porque tinha que trabalhar para me sustentar. Ela não tinha culpa por existir pessoas cruéis. Isso era um problema delas e não nosso. Eu abraço ela, e tentando confortá-la, digo:

— Vai ficar tudo bem, mãe. É só uma fase e um grande aprendizado para mim! Eu não vou deixar isso acontecer de novo. Pelo menos em relação a isso eu tenho controle. — Ela apenas assente e fica mais um pouco comigo.

*****************

Estou vendo tv, e minha mãe tinha ido no supermercado comprar algumas coisas e eu resolvi ficar. Dava para ouvir a música alta da casa da minha amiga.

Ela mora ao meu lado e eu podia ouvir sua risada. Minha mãe sobe com as compras e diz:

— Linda está chamando você.

Eu me espreguiço no sofá.

— Ah mãe, eu não estou com tanta vontade de sair...

— Você precisa sair. E outra, você sabe que ela sempre coloca músicas quando você vai lá.

Era verdade, Linda fazia isso mesmo. Minha amiga sempre me ajudava! O fato de pensar em não ir, faz eu me sentir culpada.

Eu me levanto e vou com a roupa que estou usando no momento: um pijama azul e o cabelo preso em um rabo de cavalo. Quando chego na porta da casa dela, eu vejo Linda dançando a-ha "take on me". Ela está usando um vestido preto e está de trança. Sua franja está suada e ela está sorridente.

— Entra Rachel! — diz ela vindo em direção a porta. E quando abre me puxa pelo braço. Eu começo a ri e ela diz:

— Vamos amiga, ânimo... deixa a batida da música dominar você! — Imediatamente, sou contagiada por sua alegria e pela música. Começamos a

dançar feito duas crianças, e logo me sento no sofá porque já estou cansada. Dona Antonella, mãe da Linda, observava sua filha dançar balançando de um lado para o outro se divertindo. Ela ainda era jovem e muito bonita. Seu cabelo estava cortado no estilo joãozinho, realçando ainda mais os traços do seu rosto. Ela têm sorriso largo e é exatamente igual a Linda. Ela é animada e gentil. Linda têm 27 anos e aproveita sua vida com muita cautela. Ela é uma menina de família, e está sempre se divertindo com pessoas experientes. Bom, Talvez eu gostasse ainda mais dela por isso. Esta é Linda... minha querida amiga.

Antonella não aguentou ficar quieta quando Linda colocou "Manic" do Michael Sembello. Ela dançava alegremente com sua filha e Enrico, pai da Linda, sorria dançando um pouco mal. — Tem que melhorar isso aí... — digo tirando sarro dele.

A mãe de Enrico é brasileira e seu pai italiano. Ele nasceu na Itália, e segundo ele, sua mãe só falava em português; por isso ele fala o português tão bem. Com 30 anos de casada, sua mãe deixou seu pai e voltou para o Brasil; e só alguns anos depois ele voltou a ver ela. Ele é bonito e forte apesar da idade. Seus olhos são quase verdes e ele tem cabelo grisalho, deixando ele ainda mais charmoso.

Linda tinha feito lasanha e bolo gelado. Eu amo bolo gelado! — Você está se sentindo bem querida? — pergunta Antonella falando com dificuldade o português. Era inacreditável como ela realmente ainda não tinha jeito para falar o português. Eles já estão no Brasil há 25 anos, e Antonella ainda tinha muita dificuldade para falar.

— Aham. — digo dando um sorriso amarelo, e olhando para o bolo gelado que ela estava colocando para mim.

— A gente foi visitar você por esses dias... — diz ela olhando para Enrico, e ele

olha para mim.

— Você sabe que pode sempre contar com a gente, não é? — diz ele me olhando com segurança. Eu faço que sim com a cabeça.

— Você é nossa filha mais nova. — diz Antonella. Linda olha para eles com aprovação e sorri para mim.

— Eu fico muito agradecida por tudo que vocês fazem por mim e por minha mãe. Muito obrigada mesmo! — digo com o coração cheio de gratidão. Eu amo essa família. Eles são tudo para mim.

O jantar estava ótimo e ar um tempo com Linda e seus pais me ajudava a esquecer os problemas. Eu era só uma garota normal com a família mais legal do mundo. Já era tarde e eu resolvi voltar para casa, porque Linda e seus pais iam trabalhar no dia seguinte.

— Obrigada por vim hoje. — diz Antonella abraçada com Enrico.

— Eu que agradeço por sempre me convidarem.. Em falar nisso, o jantar estava excelente. — digo.

— Linda! — diz Antonella, — não esqueça de convidar mais uma vez Rachel para o chá das senhoras. Eu faço cara de confusa; não fazia nem um mês que elas tinham feito a festa.

— Você tem que ir dessa vez! — diz Linda me olhando nos olhos e segurando minhas mãos. — Por favor, — insiste ela.

— Eu vou com uma condição — digo olhando para os pais dela, e continuo, — Eu irei; mas amanhã antes do trabalho, você vai ter que ir caminhar na orla comigo. Enrico olha para mim e diz:

— Bem justo!

— É pegar ou largar. — digo levantando as sobrancelhas para ela.

— Olha só... parece que você está colocando meu pai contra mim! — diz ela me abraçando. — Eu vou... mas hoje, tente descansar, ok?

— Vou tentar. — digo.

Capítulo 5

Naquela manhã eu já estava mais animada, e finalmente eu ia ver o mar. Eu me arrumo ouvindo músicas antigas e dançantes que Linda tinha me mandado por whatsApp. Eu queria estar um pouco mais arrumada porque tinha esperanças de ver Murilo e finalmente ser mais educada com ele. Eu começo a tentar fazer penteados no cabelo, mas não resolvia. Eu não queria deixar ele todo suado, porque eu tinha lavado ele na noite ada. Então, resolvi fazer uma trança embutida e até ei um pouco de batom. Não dava para acreditar que eu estava me arrumando para ir fazer caminhada na orla! Mas sei lá, tinha alguma coisa interessante na maneira como Murilo me olhava... era diferente. E hoje eu queria desfrutar ainda mais dele e do seu olhar misterioso.

Quando eu desço, Linda já está me esperando na porta. Ela está encostada na parede com seus fones de ouvido e com um péssimo humor.

— Bom dia! — digo sorridente.

— Para você! — diz ela, e sua atenção se volta para mim. — Uau! Isso é para fazer caminhada na orla? — Eu dou de ombros e ela começa a se aproximar para me ver melhor. — Você ou base? — pergunta ela cheia de graça.

— Chega mais para lá, Linda! — digo, e começo a ri alto.

O mar está lindo a esta manhã, e Linda e eu estamos dando grandes os. Linda em seu mundo dançante, e eu apenas apreciando o som das ondas e sentindo o vento soprar no meu rosto. Eu olho para ela, que está distraída com

seus fones de ouvido. Ela está com um rabo de cavalo bem feito e sua franja balança a medida que o vento sopra em seu belo rosto. Linda é alta e tem pernas longas, e isso me fazia quase correr para acompanhar seus os. Ela é magra e não fazia nenhum tipo de exercício, ao contrário de mim, que tenho apenas 1,60 e precisava fazer algum tipo de atividade física para melhorar meu humor.

Quando estamos chegando perto de onde eu caí de bicicleta, eu pude vê alguns meninos jogando bola. Eu olho no relógio, e ainda são 6h00. Linda segura o meu braço ofegante e diz:

— Vamos parar um pouco, por favor!

— Claro — digo, — vamos comprar água de coco bem ali para refrescar.

Havia um homem que sempre estava ali vendendo água de coco, e eu era sua cliente fiel. — Bom dia menina bonita! — diz ele sorrindo e mostrando seus belos dentes brancos. — Sentiu saudades de mim? - pergunto enquanto ele entrega a água de coco.

— Claro... eu fiquei preocupado com você. Eu vi sua queda! — Linda começa a ri e eu reviro os olhos para ela. — Mas ainda bem que aqueles meninos ajudaram você! — diz ele olhando em direção aos meninos que estão jogando bola.

— É, eu tive sorte de só machucar o braço. — digo enquanto tomo a minha aguá de coco gelada.

— Um rapaz alto pegou você no braço com muita agilidade — diz ele, — ele e um amigo colocaram você no carro e saíram rápido. Por isso não tive tempo de ajudar. — Linda abre bem os olhos e começa a me olhar com um jeito malicioso e eu dou um pequeno empurrão nela. — Um deles está vindo ai. — diz ele, e Linda e eu olhamos na mesma direção para ver quem era.

— Bom dia meninas! — diz o amigo rosado do Murilo. Ele está sem camisa e suado.

— Bom dia! — digo estendendo a mão para comprimenta-lo. — Rafael, certo? — pergunto tentando lembrar o nome dele.

— Isso, e você é a Rachel Kelly. — diz ele sorrindo. O seu olhar se desvia do meu e ele encara Linda. — E você é a Linda, não é? — pergunta ele colocando as mãos no quadril. Linda não diz nada e apenas assente. Ele continua encarando ela e sorri. Já ela, desvia o olhar dele e olha para o mar. Percebendo que ele estava paquerando ela, e que ela não estava nem aí para ele, digo:

— E o Murilo? — Eu me estico para ver se o encontro e em seu rosto surge uma expressão esquisita.

— Bom... — diz ele coçando a cabeça e olhando ao redor, — ele não vem hoje. Ele está com uns probleminhas, e teve que ficar em casa. — Eu levanto a sobrancelha esquerda para ele.

— Mas ele veio caminhar mais cedo? — pergunto.

— Parece que vocês já conversaram sobre algo, não é mesmo? — diz ele franzindo a testa.

— É... quer dizer, ele foi levar a bicicleta nova para mim. — digo gaguejando um pouco.

— Ah sim... — diz ele levantando as sobrancelhas. — Então — continua ele dando alguns os para atrás. — A gente se vê depois, eu vou voltar a jogar.

— Tudo bem... — digo desconfiando de algo.

— Ei Linda! — diz ele me fazendo estranhar ainda mais. — Gostei do seu cabelo. — Eu me viro rápido e Linda está vermelha olhando em direção ao mar, como se não estivesse acontecendo nada. E eu não era a única a achar aquilo estranho, até seu Paulo observava ela com cara de confuso. — O que foi isso? — pergunto, e ela começa a andar. Eu pago os cocos e vou atrás dela.

— Ei! — digo, e ela para. — O que foi isso? — pergunto mais uma vez.

— Só mais um engraçadinho achando que tem chance comigo. — diz ela evitando me olhar e ficando vermelha de novo. Eu caio na gargalhada. —Parece que você gostou da cantada dele... "gostei do seu cabelo" — digo tirando sarro dela. Ela começa a ri.

— Eu não gosto dos engraçadinhos... mas, até que ele é bonito. Mas como você sabe — diz ela me olhando, — tem que ser muito mais do que apenas um rosto

bonito. Tem que ter inteligência!

— Claro! — digo pegando em seu braço. — Mas aquela conversa de que Murilo está com problemas foi estranha.

— Muito! — diz ela pensativa. — Rafael praticamente fugiu da conversa.

— Ele fugiu! — Afirmo olhando para ela. — Eu vi a preocupação na cara dele quando perguntei pelo Murilo! Alguma coisa não está bem!

Linda fica em silêncio, mas tenho certeza que ficou pensando em algo.

***********

Estava fazendo muito calor naquela tarde, e eu estava deitada no chão. Minha mãe tinha ido visitar uma amiga, e eu estava sozinha e no tédio. Naquele momento, olhar o teto da minha casa estava mais interessante do que vê tv ou olhar o instagram. Eu estico as mãos e olho as minhas unhas, que estavam precisando de cuidados. Quando olho para minha mão, os meus olhos am pelo meu braço... o braço direito tinha marcas de lembranças dolorosas. Imediatamente, começo a lembrar de como ganhei aquelas cicatrizes.

Eu tinha 9 anos, e algumas crianças que moravam próximas de mim, eram muito cruéis. Lembro de estar brincando com uma garota que se chamava Larissa, e logo depois ela começou a machucar meu braço. Ela era bem maior do que eu e mais forte aparentemente... eu era só uma garotinha indefesa e baixinha.

Ela por alguma razão que eu não me lembro, começou a me beliscar forte. Ela me beliscava com muito ódio e sentia prazer em me machucar. Tinha duas senhoras na casa da frente, e eu olhava para elas chorando, querendo ajuda. Elas apenas olhavam como se aquilo fosse um show. — Velhas cruéis! — digo ando os meus dedos nas cicatrizes. Meu celular toca, e era minha mãe avisando que ia demorar um pouco.

— Espero que esteja animada para a festa mais tarde. — diz ela tentando me encorajar ainda mais a sair.

—Claro! — digo tentando mostrar animação para ela. Minha mãe desliga, e eu escolho aproveitar o momento em vez de pensar no ado. Eu ligo a tv e coloco músicas alegres e dançantes e começo a pensar na maquiagem que eu deveria usar à noite.

Capítulo 6

Linda espalha alguns vestidos pela cama. — Escolha o mais bonito! — diz ela animada.

— Por que tem que ser vestido de festa, se só vão senhorinhas? — pergunto olhando os vestidos. Ela revira os olhos.

— Não são senhorinhas, Rachel... são mulheres experientes! — diz ela. — E é obrigatório ir elegante. Para uma mulher se vestir bem, não é preciso que os homens estejam presente para irar! — Ela se levanta e pega um vestido rosa bebê ombro a ombro, que é longo com uma fenda na lateral e começa a se olhar com ele sobre o seu corpo. — Não precisamos deles para nos achar bonita Rachel. — diz ela me olhando através do espelho, e continua: — O elogio deles só confirmam a certeza que temos quando nos olhamos no espelho: a certeza de que somos lindas independente de sermos altas ou baixas, magras ou cheias de curvas.

Eu fico impressionada com o que ela diz. Em cada palavra que saía da boca dela, ela demonstrava confiança. Linda estava completa de razão!

— Concordo plenamente com você! — digo olhando para ela com um sorriso de orgulho.

Eu escolho um vestido longo tipo sereia. Ele é marsala e sem mangas, e isso deixava ele ainda mais elegante. Eu fiquei com a parte da maquiagem... Linda quis uma maquiagem clássica; uma pele bem feita com um olho de gatinho e

batom vermelho. Ela não quis prender o cabelo e deixou ele solto. O cabelo dela solto, fez chamar atenção para o decote princesa ombro a ombro do vestido dela. Meu vestido realçou minhas curvas, e a escolha da maquiagem foi tão chamativa quanto ele. Eu fiz um esfumado sem brilho, e usei um batom da cor do vestido.

— Esse batom realça ainda mais o seu sorriso e a cor da sua pele. — diz Linda fazendo um penteado em mim.

Depois de duas horas e meia, lá estava eu e minha amiga, prontas para uma noite agitada e alegre. Quando saímos do quarto minha mãe estava mais uma vez no telefone, e isso me fez estranhar. Ultimamente, ela andava falando muito no celular.

— Ei, só um minuto... — diz ela falando no telefone, e se levantando do sofá vindo até a gente. — Como vocês estão lindas! — Os olhos dela brilham de alegria e orgulho. Ela pega nas minhas mãos e diz:

— Eu preciso tirar uma foto das minhas duas bebês. — Linda dá uma sorriso sem graça e minha mãe junta nós duas para uma foto. —Digam X! — diz ela com um grande sorriso no rosto. — Essa vai para o meu Instagram!

**************

O cara do Uber não parava de olhar para a gente, talvez estivesse pensando "para onde essas meninas vão tão arrumadas assim?". Ele fez cara de mais confuso ainda, quando paramos em frente a uma casa muito grande. A música estava alta e Linda se apressou em sair do carro.

— Ei, pague o uber! — digo. Ela volta, e piscando o olho para ele diz:

— Obrigada, aqui está o dinheiro!

O rapaz fica todo sorridente e sai. Quando entramos estava tocando "Let's groove" elas dançavam umas com as outras e sorriam. Todas estavam bem vestidas e sorridentes. Ao lado tinha uma barraquinha com o nome "proibido bebidas alcoólicas" e a senhora que estava lá, servia alguns sucos. Ela estava com um vestido verde esmeralda longo, e ele tinha um decote V. Linda me puxa para dançar e eu me deixo levar pela música. Eu nunca tinha ido a um chá tão divertido! Nas paredes, estavam algumas fotos de cantores da década de 50-90. O mais bonito de todos ali era o Elvis, que tinha o seu belo rosto em um pôster gigantesco.

— Eu nunca fui em uma festa tão animada! — digo quase gritando para Linda ouvir.

— Espero que você venha mais vezes! — diz ela dançando feito uma garotinha.

Seu cabelo tinha um lindo balanço e ela sorria enquanto dançava e mexia nele. Enquanto dançavamos, Antonella apareceu com um vestido preto todo brilhante justo, e com brincos grandes. Sua maquiagem estava simples, mas seu batom cor de sangue chamava atenção. — Vocês demoraram para chegar! — diz ela segurando um copo de suco.

— A gente demorou para se arrumar! — digo sorrindo e Linda dá de ombros.

— Mamma, chegamos na melhor hora da festa! — diz ela para Antonella, que dá de ombros e começa a dançar com a gente.

— Aonde estavam essas mulheres? — pergunto para Linda irada.

—Bem aqui, minha querida Rachel Kelly! — diz ela gritando no meu ouvido.

— Me arrependo de ter chamado elas de senhorinhas! — digo rindo. Linda balança a cabeça em negação e continua a dançar. Eu começo a sentir sede e vou até a barraquinha. A senhora de vestido esmeralda não estava mais lá. Havia outra senhora de vermelho lá, que franziu a testa quando me viu sentar.

— Por favor, eu quero um suco urgentemente ou eu vou morrer! — digo.

— Tão jovem e já está cansada? — diz ela pegando um copo. — Qual suco você prefere?

— Goiaba, se tiver... — digo me abanando com as mãos. — Aqui está! — diz ela me entregando o copo.

— De quem é essa casa bonita? — pergunto e tomo o suco todo praticamente em um gole.

— Cecília. — diz ela. Eu faço cara de confusa. ´— O que? você não a conhece? — pergunta ela perplexa. Eu faço que não, e devolvo o copo dando a entender que queria mais suco. — Estranho você vir para a festa dela e não a conhecer.— diz ela me dando o copo de volta com mais suco.

— Eu conheço dona Antonella e Linda, que são muito próximas dela. — digo.

— Ah.. a Tone e a Lindinha! Mas você precisa conhecer ela! Ela é aquela mulher de vestido azul longo e liso.

— Qual? — pergunto me esticando para ver melhor.

— Aquela loira que está conversando com a Tone.

Quando a vejo, me espanto. Ela não tinha cara de senhorinha. Ela tinha o cabelo no ombro loiro, era magra e tinha uma pulseira brilhante na mão esquerda. Ela era elegante e falava de um jeito delicado. — Uau! — digo e a senhora sorri.

— Como você se chama? — pergunto a ela.

— Anna. E por que você não volta a dançar? — diz ela enquanto sorri para outra senhora que se aproxima para pegar suco.

— E eu me chamo Rachel! — digo levantando o copo para ela, percebendo que ela não tinha perguntado o meu nome. — Acho que vou ficar mais um pouco

sentada. É que no meu corpo, vive uma senhorinha de 80 anos.

Ela começa a ri.

— Então, senhora de 80 anos — diz ela saindo de trás da barraquinha, — pode ficar aí, porque esta dama de 55 vai dançar e aproveitar muito a festa!

Ela me manda um beijo a distância e sai dançando feita uma jovem. Na verdade, eu acredito que juventude é questão de se sentir jovem, e não de idade. E com toda certeza, no corpo daquela dama — como ela disse —, existia uma jovem animada e cheia de vida. Eu queria ser como aquelas mulheres... elas estavam livres e dançavam como se não existisse pessoas ao seu redor.

Linda me encara de longe e falando algo no ouvido da sua mãe, vem até mim. — Está tudo bem? — pergunta ela se abaixando na minha frente.

— Aham. — digo tomando o meu suco. — Só estou cansada.

— Deixe esse cansaço de lado e venha aproveitar a festa, porque ela tem hora para acabar!

Ela me convenceu e me puxou pelo braço direito. Enquanto danço com as senhora elegantes e jovens, acabo esbarrando em um delas que diz:

— Desculpa Rachel!

Eu paro de dançar e faço cara de confusa para ela. Eu nunca tinha visto ela na minha vida... então, como ela sabia meu nome? Logo Linda me puxa e me coloca em uma rodinha entre ela e sua mãe.

Atrás da minha querida amiga, estava Cecília. Ela sorria muito e conversava com a senhora de vestido esmeralda. — Ei Linda! — digo me aproximando dela.— Eu quero conhecer a dona da casa.

Linda sorri e assente.

Linda vai até ela, e antes mesmo de dizer alguma coisa, Cecília olha para ela e abre um enorme sorriso.— Lindinha! — diz ela dado um grande abraço nela. Linda começa a falar com ela, e loga Cecília olha em minha direção. Seu olhar encontra o meu e ela me olha de cima a baixo. Eu sinto minha bochecha queimar de vergonha. Antonella percebe que fiquei tensa e diz:

— Relaxa Rachel, você vai gostar dela.

Eu apenas dou um sorriso fraco para ela, mas logo tento me recompor, porque Linda estava vindo em minha direção com Cecília.

— Cecília, esta é Rachel Kelly... minha melhor amiga! — diz ela com os seus olhos castanhos brilhantes. Ao ouvir Linda me chamar de melhor amiga, meus olhos se encheram de lágrimas, e eu me senti muito orgulhosa por ter uma amiga como ela. Afinal, quem nos dias de hoje tem uma amiga como ela? Amigos sinceros são difíceis de encontrar.

— É uma satisfação Rachel Kelly! — diz Cecília me olhando com seus belos olhos azuis e um sorriso em seus lábios.

— Sua festa está incrível! — digo olhando ao redor.

— Muito obrigada! Espero que esteja se divertindo muito. Eu volto minha atenção para ela, que continua me olhando atentamente. — Ela tem um rosto bonito e um olhar forte, não é Lindinha? — diz Cecília sem tirar seus olhos de mim e eu fico vermelha. — Você é muito bonita Rachel, começando pelo nome.

— Foi exatamente isso que eu pensei quando vi você conversando com suas amigas. — digo dando um sorriso tímido.

Eu olho para Antonella, que me olha com um sorriso de aprovação.

— Bom meninas, eu não sei vocês, mas eu estou com muita sede! Divirtam-se por favor, e qualquer coisa é só chamar! — diz Cecília abraçando Linda enquanto sorri olhando para Antonella. — E você bela Rachel Kelly, volte sempre que quiser! — diz ela ando delicadamente as mãos pelo meu cabelo e sai.

A festa realmente foi muito boa, e não era só os sucos que estavam muito bons... havia muita comida gostosa também. Linda me contou, que cada uma alí tinha levado um pratinho. A minha parte preferida era a dos salgados. Eu comi muita coxinha com suco de goiaba naquele noite. Foi uma noite incrível!

Tudo acabou a 1h00 da manhã. Me despedi de quase todas, e só ficou na casa eu, Antonella, Linda e a bela Cecília. Eu puxei uma cadeira para me sentar e amarrei meu cabelo em um coque. Logo Linda se sentou ao meu lado; e nos vendo sentadas, Antonella e Cecília se juntaram a nós.

— Esses brincos pesam muito! — diz Antonella tirando eles.

— Eu gostei muito dos seus brincos. — digo.

— Eles estão às ordens. — diz ela piscando o olho para mim. Ficamos conversando por horas, e eu pude conhecer mais Cecília.

— Sua casa é muito bonita! — digo.

— E que dá muito trabalho para limpar! — diz Cecília rindo, — Mas eu gosto muito dela. Ela era do meu marido, que faleceu há alguns anos.

Eu abro bem os olhos, e logo olho para Linda que também me olha.

— Antes do meu marido, eu não tinha praticamente nada... Eu levava uma vida difícil e cheia de problemas. Até que comecei a trabalhar em um restaurante italiano e conheci Antonella. — Antonella solta uma leve gargalhada e Cecília continua: — Essa daqui era tão perdida quanto eu! Ela me ajudou muito. E foi através dela que conheci Jorge.

Linda pigarreia e diz:

— Parece que vamos ouvir uma história de amor! —Cecília e Antonella se olham carinhosamente.

— Cecília era muito lerda para essas coisas. — diz Antonella ainda rindo.

— Verdade! — ite Cecília. — Foi graças a esta mulher que fiquei com jorge!

— Ele era o nosso cliente fiel... o cliente fiel de todos os dias! — diz Antonella.

— Todos os dias? — pergunto boquiaberta.

— Aham. — confirma ela.

— Eu tenho esperanças que algum dia vou voltar a ver ele. — diz Cecília com seus olhos azuis, e daquela vez, eles estavam tristes. A tristeza tomou conta de todas nós e Cecília continuava cheia de pose e charme. — Eu espero poder dar a ele todos os filhos que não consegui. — continua ela. Linda se inclina um pouco para frente, e colocando sua mão na perna dela, diz:

— E você vai! Eu tenho certeza disso! — Ela fala isso com muita confiança, e com isso Cecília sorri.

— Mas e você Linda, está namorando? — Aquela pergunta fez minha amiga se encostar rápido na cadeira.

— Não. E também não estou pensando nisso. — diz Linda olhando para suas unhas grandes e vermelhas. Ela tinha ado por um relacionamento difícil. Desde então, Linda nunca mais foi a mesma. Ela se fechou completamente para outros caras, até tentou algumas vezes, mas não deu certo. Então, percebendo que não tinha feita uma boa pergunta, a atenção de Cecília se volta para mim.

— E você Rachel Kelly, namora?

— Não. — digo em um tom divertido. — Também estou traumatizada!

Linda me dá uma leve tapinha no ombro, e todas nós começamos a ri.

Eu olho o celular e já são 3h da manhã. Linda me pediu para dormir com elas lá, e Cecília ficou animada com a ideia. Na casa havia quatro quartos, e todos eles tinham banheiros. Parecia que Jorge era realmente rico, porque manter um casa como aquela com certeza não era fácil. No quarto tinha uma cama de casal, um guarda roupa de madeira grande, e ar condicionado. Eu sento na cama tentando relaxar os pés. Eu já sentia o sono chegar, quando o meu celular toca.

— Oi mãe! — digo em um tom de voz assustado. Eram quase 4h da manhã e vê minha mãe ligando, me fez pensar que tinha acontecido alguma coisa.

— Já estava dormindo? — pergunta ela falando baixo.

— Mãe, porque a senhora está falando baixo?

— Eu estou no carro. — Meu coração acelerou e o desespero tomou conta de mim.

— Conta logo o que aconteceu mãe!

— O Rafael, amigo do Murilo me ligou pedindo ajuda.

Eu me levanto e começo a colocar os sapatos.

— Mãe, o que aconteceu? — pergunto mais uma vez.

— Murilo está à esta hora na orla jogado na areia bêbado e chorando. Rafael disse que ele está chamando você! — Eu abro bem os olhos e minhas pernas começam a tremer.

— Como assim me chamando? — minha mãe suspira forte e diz:

— Eu também não sei minha filha!

Eu podia notar o estresse em sua voz. — Eu ja peguei o spray de pimenta, um pau e uma raquete de matar mosquito.

— Mãe! — protesto.

— O que? você acha mesmo que eu ia sair sem proteção? Manda logo o endereço daí que eu vou te buscar.

De repente estava eu correndo pelo o corredor dos quartos tentando achar Linda. Quando encontro o quarto dela, bato desesperadamente na porta e ela abre.

— O que? — diz ela ainda vestida e sem batom.

Eu conto tudo para ela que não diz nada, mas mesmo assim me acompanha pensativa. Em 15 minutos, minha mãe aparece na porta da casa de Cecília. Antonella nos leva até a porta e também dá um spray de pimenta para Linda.

— Meu Deus! — digo, e Linda continua sem reação.

— Uau, que casa grande! — diz minha mãe boquiaberta.

No caminho Linda estava de braços cruzados e encolhida. Ela parecia estar

com medo, enquanto minha mãe parecia estar estranhamente tranquila. Rafael Liga para minha mãe e explica aonde eles estão. A orla está vazia e dá para ouvir o som de músicas em algum lugar ali perto.

Minha mãe para quase em frente ao farol da ponta verde. Todas nós saímos do carro rápido e com medo. Rafael vem ao nosso encontro. Ele está usando casaco e uma calça moletom. Seus olhos encontram os de Linda, e ele fica evidentemente sem jeito.

— Venham rápido, ele está aqui! — diz ele andando rápido na nossa frente. Minha mãe vai atrás segurando o spray e Linda pigarreia segurando o dela.— Por favor, me ajudem a levar esse grandão para casa! — diz Rafael com a voz trêmula. E bem alí, em frente ao farol da ponta verde, está Murilo sentado na areia de cabeça baixa.

— Murilo! — digo indo até ele e Linda grita: — Volte já para cá Rachel!

Quando escutou o meu nome, Murilo olhou para trás e se levantou com dificuldade.

— Rachel! — diz ele vindo até mim. Rafael veio junto e colocou a mão na cabeça demonstrando sua preocupação.

— Ei! — digo abraçando ele. — O que você está fazendo aqui carinha?

Murilo estava todo de preto e ainda estava usando roupa social. Ele estava

descalço e cheirava muito bem, apesar de estar bêbado. Eu encosto meu ouvido em seu peito... sua camisa estava com alguns botões aberto e seu coração estava acelerado.

— Que bom que você veio Rachel! — diz ele me apertando em seu abraço. Eu não conseguia respirar muito, porque ele realmente estava me apertando.

— Murilo, eu preciso respirar! — digo, e Rafael puxa ele devagar.

Rafael e Murilo pareciam ter 1,83 de altura. Mas Murilo conseguia ser mais alto do que ele. Rafael coloca o braço do Murilo em volta do seu pescoço e eu me esforço para fazer o mesmo. Mas estava difícil... ao mesmo tempo que eu tentava ajudar, tinha que ficar levantando um pouco meu vestido para não pisar.

Rafael para e eu olho para cima. Meu olhar e o do Murilo se encontram. Seus olhos estão inchados e vermelhos de tanto chorar.— Deixa que eu ajudo Rachel! — diz Linda vindo ajudar. Rafael olha para ela com cara de bobo, mas não diz nada. Linda não faz contato visual e pergunta:

— Por que ele está desse jeito?

— É uma longa história! — diz ele olhando para ela.

— Onde ele mora? — pergunta ela séria.

— Neste edifício daqui da frente.

Nós três olhamos e minha mãe fica boquiaberta. É um edifício chique e muito alto.

Quando chegamos na portaria, veio ao nosso encontro um senhor. Ele tem o cabelo grisalho e a pele bronzeada. — Deixa que eu ajudo moça! — diz ele aliviando a barra da Linda. Minha mãe apenas observa de longe muito tranquila. — Mais uma noite difícil, não é mesmo?— pergunta o porteiro.

— Sim! Mas, desta vez ele resolveu beber e me fazer ar vergonha! — diz Rafael olhando para Linda. O porteiro sorriu e o ajudou a levar Murilo até o elevador. No elevador, ninguém falava nada. Todos estavam de cabeça baixa. Menos minha mãe.

Quando chegamos em frente a porta do apartamento dele, Rafael começou a colocar a mão no bolso traseiro da calça dele.

— Ei! — protesta Murilo com dificuldade de fazer qualquer coisa.

Enquanto Rafael tentava achar a chave certa para abrir a porta, minha mãe tentava manter Murilo encostado na parede. Ele estava absurdamente Lindo. Minha mãe parecia ter muita intimidade com ele. Com ela por perto, ele não movia um músculo sequer!

— Pronto grandão... venha aqui! — diz Rafael puxando ele pelo braço. —

Podem entrar meninas, fiquem à vontade! E Linda... — diz Rafael olhando para ela dos pés a cabeça, — você poderia, por favor, abrir aquela janela? — pede ele delicadamente. Nós três olhamos para a tal janela, que estava sendo coberta por uma cortina bege. Na casa do Murilo tudo parecia meio sombrio. Os móveis eram pretos, as paredes eram bege combinando com a cortina, e o que deixou tudo menos obscuro, foi uma flor de mentira em cima da mesa de centro; era uma copo-de-leite. A casa dele cheirava bem, e tudo estava organizado. Na verdade, ela era um pouco grande para alguém que parecia morar sozinho. Na parede que dividia a sala da cozinha, tinha um espelho que vinha do teto até o chão.

— Que lindo! — diz Linda tirando a minha atenção e a da minha mãe. Estávamos encantada com o apartamento do Murilo.

— Venham ver! — diz Linda sem tirar os olhos do que estava vendo.

O vento estava entrando forte na sala, e a medida que estávamos chegando perto da Linda, nossos cabelos balançavam por causa do vento. Dava para sentir o cheiro da maresia. Linda se afasta um pouco para dividir com a gente a linda paisagem. Da janela, dava pra ver o farol da ponta verde. Estávamos bem de frente! O céu estava começando a ficar claro e a maré estava baixa. — Que sortudo. — digo.

— Verdade! — diz minha mãe sem tirar os olhos do mar. — Ele deve deixar a janela sempre fechada. Se deixasse aberta por muito tempo, a maresia já teria destruído alguma coisa daqui!

ela olha ao redor.

— Mas do que adianta morar em frente a uma paisagem linda dessa, e não correr esse risco? — diz Linda bocejando. — Estou começando a ficar extremamente cansada. Será que Murilo iria achar ruim, se eu deitasse só um pouco no sofá macio dele? — diz ela indo até o sofá. Minha mãe e eu começamos a ri, mas a tensão tomou conta de mim quando Rafael gritou: — Será que alguém pode arrumar a cama dele, por favor?

Minha mãe deu de ombros, e já foi entrando no corredor. Eu olho para Linda, que já estava dormindo e vou atrás da dona Renata. Havia três porta do lado direito. — A segunda porta deve ser o banheiro. — deduzo sem olhar para frente. Mas, logo tomei um susto ao ouvir Rafael pigarrear.

De frente ao corredor, estava Rafael encostado na pia e Murilo estava sem camisa lavando o rosto. Eu começo a andar devagar, enquanto Rafael observa Murilo. De costas, Murilo parecia ainda maior... suas costas são bem feitas e eu conseguia ver uma cicatriz do lado. Antes de chegar na entrada do quarto dele, Rafael olha para mim, mas não é para ele que eu olho. Murilo estava quieto me observando pelo o espelho. Seus olhos estavam sombrios, e mais uma vez, ele me olhava como um leão que observa sua presa. Eu travo. Um calafrio toma conta do meu corpo.

— Tome um banho, por favor! Eu vou ajudar as meninas a organizar sua bagunça! — diz Rafael. Mas os olhos verdes e sombrios do Murilo continuavam em mim. E então, Rafael sai e fecha a porta. Naquele momento eu voltei ao normal.

— Ele está estranho e um pouco assustador! — digo baixinho.

— É, eu sei! — diz Rafael ando a mão pelo seu cabelo. — Ele não está bem Rachel, mas acredite em mim, Murilo é um bom homem. Ele... — diz Rafael

fazendo uma pequena pausa tentando encontrar as palavras. — Ele só está ando por um momento difícil!

— Um momento difícil? — pergunto sem entender nada.

— Sim... — diz ele indo em direção a sala. Mas, quando vê Linda dormindo no sofá; ele para e se encosta na parede. — Ei! — digo cutucando ele nas costas. Ele apenas me olha por cima dos ombros, e volta a olhar para ela que dormia feito uma princesa.

— É melhor ele contar a vocês o que está acontecendo. — diz ele ainda observando ela.

— Por que ele pediu para você ligar para minha mãe? — pergunto.

— Na verdade, ele queria que eu ligasse para você. Mas a Renata não quis ar o número. — Minha mãe faz barulho e nós dois olhamos para atrás. Eu com medo de ser Murilo saindo do banho, e ele com medo de ser minha mãe. — Mas ela fez muito bem em não ar. — diz ele me olhando. — Eu sou um estranho para ela, mas se fosse Murilo, seria diferente... Pena que ele está bêbado demais para pedir. — diz ele com os olhos cansados e tristes.

— É... parece que eles são bem amigos agora! — digo cruzando os braços. — Acho que estou por fora de alguma coisa sobre esses dois.

Rafael dá um leve sorriso.

— Mas por quê me ligar? — pergunto mais uma vez.

— Você é persistente em! — diz ele bagunçando o meu cabelo.

— Se estivesse no meu lugar — digo ajeitando o cabelo,— você faria o mesmo! Isso foi muito estranho. Ele não podia ligar para a mãe dele, ou pai, ou para namorada? — Naquele momento Rafael estreita os olhos.

— Está arrumado! — diz minha mãe aparecendo bem atrás da gente.

— Que? — digo.

— O quarto! — diz ela dando uma tapinha nas costas do Rafael, e vai até o sofá. Rafael não diz nada e vai para o quarto do Murilo.

— Mãe, que tipo de amizade você tem com o dono desse apartamento? — pergunto indo em direção a janela.

— Ele é uma boa pessoa, Rachel! — diz ela se encostando no sofá. — Ele me ajudou muito nos dias em que você nem saía do quarto direito. Ele comprou seus remédios, e não só os anti-inflamatórios, mas também se ofereceu para comprar alguns que a médica ou para sua ansiedade.

Eu fico perplexa.

— Mas a senhora não aceitou, né mãe? — digo abrindo bem os olhos para ela.

— Não... eu não aceitei.

— Isso é muito estranho! — digo olhando o mar.

— Estranho é um homem tão gentil como ele, ficar do jeito que está agora. Isso é estranho! Vamos ter que tomar mais cuidado com ele! — diz minha mãe olhando um quadro de uma mulher loira de olhos verdes na parede.

Aquilo era loucura... parecia que eu estava presa em um filme de romance maluco! — Por que romance? — penso enquanto olho para o mar.

— Meninas! — diz Rafael aparecendo na sala e Linda desperta. — Agora ele já está na cama e pronto para dormir. Minha mãe se levanta do sofá e diz:

— Agora queremos uma explicação!

— Não se preocupem, Murilo vai entrar em contato com vocês e vai contar tudo! — diz ele colocando as mãos na cintura. — Não precisam se preocupar... de verdade. Ele nem bebe. Quer dizer, fez isso hoje, mas falhou miseravelmente. Ele não é acostumado a beber, por isso ficou bêbado tão rápido! Murilo vem ando por um momento difícil, e de alguma forma, ele achou que poderia

confiar em vocês. — diz ele me olhando, — E conhecendo bem o amigo que tenho, continua ele, — eu sei que ele vai procurar vocês e se explicar. Por favor, anotem o meu número e me avisem caso ele não entre em contato.

Minha mãe logo pega o celular e salva o número dele.

— Credo... eu estou parecendo o pai dele! — diz ele. — Mas acreditem, ele é o cara que sempre cuida de mim! Ele é o senhor responsável! E hoje também foi estranho ter que cuidar dele. Mas, muito obrigado mesmo! — diz ele indo até a porta. — Vamos, eu levo vocês até lá em baixo.

E mais uma vez, no elevador, ninguém disse nada. Todos estavam cansados, menos eu. Minha cabeça estava barulhenta, e eu não conseguia parar de pensar naquilo. Com certeza o dia ia ser longo.

Capítulo 7

Eu observo atentamente minha perna enquanto balanço ela inquieta. Eu estava no sofá e minha mãe estava no chão por causa do calor. Já ava das 14h da tarde e a gente estava assistindo um filme na tv. Enquanto minha mãe cochila, eu olho para o teto. Na Tv o ator diz: "eu acendi como uma árvore de natal." Estamos assistindo "A culpa é das estrelas", um filme que particularmente, mexe muito comigo. Na noite ada não consegui dormir, e o desejo de comer aumentava cada vez mais. Eu não conseguia parar de pensar no que tinha acontecido com o Murilo. Mas por quê me ligar? A gente só se viu umas duas vezes, no máximo! Na TV, o casal chora por saber que o câncer dominava entre eles. — Que cena triste! — digo em pensamento. Eu estou usando uma camisa grande que era do Pietro, e um short curto; e meu cabelo está preso em um coque mal arrumado e recém lavado.

Eu pego o meu celular e entro na minha conta do Instagram. A primeira foto que aparece no feed é uma foto super animada que Linda postou do chá das senhoras. Um sorriso aparece em meus lábios, e começo a me lembrar de cada coisa legal que tinha acontecido lá com aquelas mulheres incríveis. Imediatamente, fecho os meus olhos e é como se eu estivesse lá de novo. Posso ver cada uma delas dançando do seu jeito divertido; outras dançando, outras comendo, outras conversando, e outras apenas sorrindo. Que noite maravilhosa! Na foto, está Linda, Antonella, a senhora de vestido esmeralda e seu cabelo grande, e por fim eu. Eu só conseguia ver bem a cor do meu vestido e meus dentes. Eu dou um clique para ver quem curtiu, e ao descer, eu vejo o nome do Pietro. — Deus!— digo me levantando rápido e colocando a mão na boca. Minha mãe se mexe no chão. — Como alguém consegue dormir tão bem no chão? — sussurro. Eu faço movimentos leves para poder sentar direito e não acordar dona Renata. Imaginar Pietro vendo minha foto bem sem ele, me dá uma sensação de paz... pode parecer cruel, mas era realmente isso o que eu estava sentindo. Eu não consigo me controlar, e entro na conta do Instagram dele. A última foto tinha sido aquela do comentário, e tinha mais alguns comentários lá. Eu queria saber como ele tinha respondido a ela. Eu dou um clique na foto; e vê seu belo rosto faz meu coração acelerar. Pietro tinha pinta de galã... tinha jeito

para as fotos, tinha um belo sorriso, sabia se chegar bem nas pessoas. Mas confesso que pensar no Murilo, no abraço que ele me deu na praia bêbado, pensar na paisagem linda que ele tem na sua sala, me fez parar de pensar no Pietro. Tudo isso fez eu esquecer o quão covarde ele foi, e por um momento, parecia até que ele não existia.

Eu me deito de novo no sofá sentindo o meu corpo relaxar por pensar que eu teria alguma chance com o Murilo. — Tenho? — me questiono. Mas eu queria ver com os meus próprios olhos alguma coisa em relação ao Pietro e aquela garota. Eu desço os comentários, e lá está o dela. Pietro tinha respondido e meu coração mais uma vez acelerou, minha barriga já estava doendo e eu engulo em seco. Minhas mãos começam a tremer e a ficar gelada. Ele tinha respondido com três corações. — Três corações? — digo baixo com a voz trêmula. Três corações já era o suficiente para confirmar o que eu praticamente já tinha certeza. Eu me levanto e vou direto para o quarto. Antes mesmo de fechar a porta, as lágrimas já começaram a escorrer pelo o meu rosto. Eu sentia o meu corpo tremer a ponto de não conseguir ficar em pé. — Que droga, Rachel! — digo me sentando na cama como se fosse uma perdedora. A raiva se espalha pelo o meu corpo e o choro sai cada vez mais. Estava doendo muito. Eu não conseguia respirar bem, mas eu tinha que abafar o choro para minha mãe não acordar. Eu queria gritar, queria quebrar tudo, mas não podia. Eu pego o meu travesseiro, e enfiando meu rosto nele, começo a chorar alto. Aquela dor eu não desejava nem para o meu pior inimigo. Eu não podia deixar aquilo para lá... eu tinha que resolver aquela situação. Eu tinha que dar a volta por cima, mas antes eu precisava resolver aquilo com o próprio Pietro. E eu vou fazer isso hoje! Eu corro para tomar um banho, e deixo a água descer pelas minhas costas. De olhos fechados, eu conseguia sentir a dor amenizar ao o que a aguá gelada descia pelo meu corpo. De repente, me vem lembrança do dia que conheci Pietro. Eu estava saindo do cinema. Eu estava usando um vestido preto com um casaco jeans. Era um mês chuvoso, e estava fazendo frio, e eu tinha ido assistir um filme com a Linda e seus amigos. Eu era aparentemente uma garota normal, sem os meus problemas para me atrapalhar. Pietro estava em frente ao cinema com uns amigos, e parecia estar muito feliz. Me lembro perfeitamente da roupa que ele estava usando e do cheiro do seu perfume naquele dia. Pietro foi o primeiro cara que, quando olhei senti uma coisa diferente. As meninas avam e olhavam descaradamente para ele, e claro, eu fazia parte de uma delas. Do outro lado, eu olhava para ele. Ele conversava com as mãos no bolso da jaqueta, e não fazia

ideia que alguém como eu paquerava ele de longe. Enquanto Linda conversava com seus amigos, eu estava parada olhando ele. Um de seus amigos percebeu, e acabou indiscretamente, contando para ele. Pietro olhou em minha direção, e eu não desviei o olhar; eu apenas sorri e comecei a andar. Linda já estava de saída e a acompanhei deixando a ilusão de paquerar um garoto no shopping.

Parecia que tudo tinha ficado para trás; mas não. Lembro-me de me assustar quando senti alguém tocar no meu ombro. Eu travei naquela hora... eu tinha quase certeza de quem era, mas parecia absurdo demais para ser verdade. Naquele dia eu estava com uma bolsa, e me lembro de sentir ele ar a mão na minha bolsa, na expectativa de me fazer olhar mais rápido. E funcionou. Quando me virei, ele estava mais próximo do que poderia imaginar. — Oi! — disse ele olhando para os meu lábios. Ele sempre olhava para eles. — Oi! — disse também. E imediatamente ele sorriu. Bem de pertinho, eu conseguia ver suas sardas tão atraentes... seu cabelo estava bonito, e ele estava usando um colar de prata que combinava com sua camisa preta. Pietro sempre foi ousado, e acho que isso fez eu me apaixonar ainda mais por ele. Mas o que eu não imaginava, era que ele não seria homem suficiente para encarar os meus problemas. Eu confiava nele... ele foi o meu primeiro namorado. As pessoas sempre falavam que, no primeiro namoro, sempre doí mais do que nas outras vezes. Bom, eu não podia responder aquilo porque não teve outras vezes. Mas em relação a primeira decepção amorosa, elas realmente tinham razão; doía muito.

Eu queria estar atraente e cheirosa. Eu não penso duas vezes e coloco o mesmo vestido do dia que paquerei ele no shopping. Pietro amava aquele vestido! Mas hoje, eu não iria vestir para agradá-lo... eu faria aquilo por mim mesma, porque eu amava o jeito que aquele vestido ficava no meu corpo. Eu amava por ele ser preto e realçar as curvas. Por mais que eu estivesse um pouco acima do peso, eu não me importava naquele momento. E qual era o problema? Eu estava me sentindo linda! Aquele era o dia em que eu iria dar a volta por cima, e definitivamente, encerraria a minha história com ele. Eu já estava pronta para sair, então andei cuidadosamente na ponta dos pés, para minha mãe não perceber. O plano era sair, e só depois mandar uma mensagem para ela no WhatsApp. Ela já não estava na sala, então imaginei que estivesse no quarto. São quase 18h e a tv está desligada. Mas, quando coloco o pé direito no primeiro

degrau das escadas, eu consigo sentir minha mãe me observar.

— Aonde você vai Rachel? — pergunta ela. Eu não me viro, e digo:

— Eu só vou dá uma saidinha rápida, mãe. Não se preocupe!

— Tão arrumada assim? — pergunta ela, — você vai para alguma festa?

Naquele momento senti que estava sendo injusta com ela. Minha mãe era incrível e super legal. Ela não merecia isso. Então, me virei para ela e seus olhos ficaram mais abertos do que o normal.

— Nossa filha! — diz ela cruzando os braços e usando seu pijama rosa. — Você está muito bonita para uma saidinha rápida.

Eu respiro fundo.

— Eu vou na casa do Pietro.— digo, e ela faz cara de indignação.

— O que? tá maluca, Rachel? Eu não acredito que depois do que ele fez, você vai ter coragem de ir atrás dele. Não Rachel, eu sou sou amiga, mas também sou sua mãe. E por este motivo, você não vai! — diz ela me puxando pelo braço, mas eu me solto rápido.

— Não mãe, a senhora não entendeu... eu não vou voltar com ele. Eu vou colocar um fim nisso tudo. E a senhora não pode me impedir!

Eu desço sem olhar para trás, mas ainda consigo sentir os olhos negros da minha mãe sobre mim. Eu estava decidida a fazer aquilo, e ninguém ia me fazer desistir. Quando eu estava no uber, senti vontade de voltar, confesso! Mas não foi para desistir que eu me arrumei toda, foi para sair me sentindo vitoriosa. A medida que eu ia chegando perto da casa do Pietro, começei a sentir cólicas, um pouco de náuseas e minha mão tremia. Tentei respirar fundo, mas não resolvia. Eu não podia fazer mais nada, eu já estava alí.

Quando desço do uber, já consigo ver a luz do quarto dele acesa; e isso era um sinal de que ele estava em casa. É domingo, e provavelmente seus pais não estão em casa. Eles estão na casa de praia. Antes de apertar a campainha, eu arrumei o cabelo e disse para mim mesma: "Tenha pulso firme, Rachel! Você vai conseguir!" E respirando fundo, apertei a campainha. Parecia uma eternidade... então, apertei novamente. — Já vai! — disse alguém. Mas não era a voz do Pietro. Era a voz de uma mulher. Eu fecho a mão com força sentindo muita raiva. — Será que é ela? — penso. Meu coração estava acelerado, e eu sentia o suor descer pelas minhas costas. Eu conseguia ouvir ele falando algo sobre ela poder voltar... e a voz dele estava ficando cada vez mais perto. Quando finalmente, ele abre a porta. Ele fica pálido, e a garota para atrás dele. Eu olho para ela, e é a própria Emilly Amorim.

– Oi! — digo com um tom de voz ríspido. — Estou atrapalhando o casal?

Pietro fecha os olhos lamentando por aquilo está acontecendo; enquanto eu, continuo de cabeça erguida esperando uma boa explicação para aquilo.

— Eu não esperava ver você aqui hoje Rachel. — diz ele desviando o olhar.

— Bom Pietro, acho melhor eu ir embora! — diz Emilly ando por nós dois sem fazer contato visual. Eu também não olho para ela, porque estava encarando Pietro. Cada reação dele era importante naquele momento.

— Então é isso... você me traiu. — digo com os braços cruzados.

— Eu não traí você! — diz ele falando baixo e olhando para os lados. — Entre por favor!

— Não! — digo, — eu não vou entrar!

Pietro contraiu o maxilar e me puxa pelo braço. A porta se fecha bem atrás de mim e ele me encosta nela, ficando cara a cara comigo. Seus olhos estavam vermelhos e sua expressão corporal deixou claro que eu não era bem vinda naquela noite. Pietro está sem camisa e seu perfume estava forte... e isso significa que ele tinha ado perfume recentemente.

— Você acha que eu sou idiota Pietro? — pergunto. — Acha que eu não o conheço o bastante, para saber quando você está saindo com alguma garota?— Pietro continua sem dizer nada, por isso eu já eu tinha a minha confirmação. Ele tem isso de não conseguir dizer uma palavra sequer quando está errado. — Você me traiu? — pergunto mais uma vez com a voz trêmula, mas sem perder a pose. — Está saindo com ela agora?

Quando eu pergunto isso, ele encosta sua testa na minha de olhos fechados, e acariciando o meu rosto diz:

— Por favor Rachel, não me faça responder isso agora! Já fazia um tempo que a gente não vivia como namorados. Eu nunca toquei em você direito! — diz ele abrindo os olhos e olhando nos meus. — A gente parecia mais dois amigos do que namorados — continua ele, — E depois desses problemas, você ficou cada vez mais distante. Você acha que também não sofri? — diz ele ainda perto o suficiente de mim.

— Mas isso não justifica, Pietro! — digo. — Eu confiava em você. E quando eu mais precisei, você me virou as costas! E você sabe bem dos meus princípios... você tinha o meu coração, e isso teria que ser o suficiente por enquanto.

— Eu tinha seu coração? — pergunta ele se afastando.

— Sim, você tinha!

Pietro coloca as mãos no quadril e dá um riso de deboche. — Quer saber Rachel — diz ele se aproximando mais uma vez,— é... eu estou saindo com ela agora. Ao menos ela me valoriza!

E naquele momento, eu deixei as lágrimas rolarem pelo meu rosto. Parecia que alguém tinha enfiado uma faca bem no meu coração. As minhas pernas começam a tremer, e Pietro logo percebe que não estou bem. Quando ele se aproxima mais um pouco, eu dou uma tapa na cara dele. — Nunca mais me procure, Pietro! — digo deixando a fúria sair. — Você não é um homem de verdade e não sabe o que é amar alguém! Você é só um babaca querendo a todo custo satisfazer a si mesmo e o seu ego nojento!

Eu não dou tempo dele dizer alguma coisa e logo abro a porta. E ao abrir a porta, naquela mesma hora, um carro grande preto para na porta dele. Eu estava acabada de tanto chorar, e não conseguia ver nada direito. Tudo parecia confuso demais e humilhante. Tentando sair o mais rápido da porta dele, eu acabo tropeçando e caio. Mas logo sinto alguém me levantar. E quando olho para cima, me deparo com uns olhos verdes cheios de fúria.

— Entre no carro Rachel! — diz Murilo.

— Não, eu não vou entrar! — digo aos prantos.

— Ok. — diz ele limpando os meus joelhos o mais rápido possível.

— Ah... então é por isso. — diz Pietro. Murilo para e seu rosto é tomado por uma expressão diferente.

— Rachel, ele fez alguma coisa com você? — pergunta ele me segurando pelo braço delicadamente.

— Não... não se preocupe Murilo. — digo enxugando as minhas lágrimas. Sentir o toque das mãos dele na minha pele me acalmou de alguma forma.

— Ei! — diz Pietro. — Foi por isso que você disse que eu não tenho mais seu coração, Rachel? Você está com esse cara?

Eu olho para Murilo, e ele me encara. Eu conseguia ver seu rosto relaxar por ouvir aquilo, mas tudo estava tão confuso... minha cabeça estava barulhenta. — Me responda Rachel! — insiste Pietro.

— Cale sua boca! — digo sentindo o meu corpo queimar de raiva.

— Calma... calma... — diz Murilo. — Deixa que eu resolvo isso para você.

Eu travo. Eu não disse nada para impedir ele de fazer alguma coisa. Murilo estava de calça jeans e uma camisa preta, e eu conseguia ver ele se aproximando do Pietro em câmera lenta. A medida que ele chegava mais perto dele, ficava evidente que Pietro era mais baixo e muito mais novo. Murilo tinha postura de homem mais velho e resolvido... já Pietro era jovial, mais baixo e indeciso.

— Por quê em vez de você ficar falando besteira, não entra logo e deixa eu levar ela para casa? — diz Murilo com as mãos no quadril tentando ser civilizado.

— Então é isso... vocês estão juntos! — diz Pietro falando um pouco mais baixo. Murilo olha para cima e sorri.

— Você acha mesmo que se uma garota incrível como ela estivesse de verdade comigo, estaria aqui na sua porta? — diz ele olhando nos olhos do Pietro. — Eu vou deixar uma coisa bem clara para você moleque —diz ele chegando mais perto dele. Eu dou um o à frente, e Murilo me olha com desaprovação. — Se ela estivesse comigo — continua ele, — não lembraria nem sequer da sua existência. Eu não sou homem para deixar minha garota ir atrás de moleques como você!

Pietro o encara sem dizer uma única palavra. — Vamos Rachel, eu vou deixar você em casa. — diz Murilo dando as costas para o Pietro e me olha nos olhos. Eu faço o que ele pede, e Pietro nos observa ir embora.

No caminho de volta para casa, eu não conseguia dizer nada. Eu não estava conseguindo olhar para o Murilo; mas eu podia sentir seu olhar pesado em mim. Eu não morava tão longe do Pietro... por isso, em um piscar de olhos, já estávamos próximos da rua de onde eu morava. Murilo parou na esquina, onde era relativamente escuro. Eu fico apavorada e olho para ele. E lá estava ele, me olhando com os seus olhos verdes bonitos.

— O que você quer? — digo tentando manter a calma; mas por dentro estava morrendo de medo.

— Não precisa ficar com medo! — diz ele. — Eu não vou fazer nada. Confie em mim!

— Confiar? — penso, enquanto olho para aquele rosto quase perfeito. A palavra "confiar" tinha se tornado assustadora para mim. — Eu não quero confiar! Eu quero sair daqui! — digo falando rápido.

— Calma Rachel... eu não vou fazer nada com você! — diz ele se distanciando. — Olha só... — continua ele, — Pegue a chave do carro.

Então, ele destrava a porta do carro, desce e deixa a porta aberta. Eu fechei a porta do motorista, desliguei o carro e desci também. Eu me distancio um pouco

dele com a chave do carro na mão e pergunto:

— Como você me achou?

— Sua mãe me deu o endereço dele!

— O que? — digo em um tom de indignação. Murilo sorri.

— Pois é... ela foi minha cúmplice. — diz ele. Eu devolvo a chave nas mãos dele, e começo a andar rápido. Murilo faz o mesmo que eu, mas vem atrás de mim rindo por eu estar assustada.

— Rachel, espera aí! — diz ele. Eu olho para escadas e vejo Linda colocar a cabeça para ver quem é. Mas, ela tira a cabeça rápido e eu consigo ouvir minha mãe perguntar se estou com Murilo.

Linda deve ter dito que não porque minha mãe desce, mas na mesma hora que ela se aproxima, Murilo toca no meu braço.

— Rachel, deixa eu falar com você! — diz ele. Minha mãe faz sinal de aprovação e abre a porta; mas não fica para ouvir a conversa. Eu viro para ele com os olhos cheios de lágrimas, e toda diversão que se encontrava em seu rosto desaparece. — Por favor, não chore! — diz ele acariciando o meu braço. — Eu entendo você Rachel... e por esta razão, me disponibilizo para ficar e ajudar no que for necessário!

— Não Murilo... hoje eu só quero ficar sozinha. Podemos conversar em outra hora? — digo segurando mais um pouco o choro.

— Claro. — diz ele com a voz triste. — Mas antes posso te pedir uma coisa?

— E eu tenho escolha? — digo olhando nos olhos dele.

— Não procure mais aquele moleque! Você é demais para ele e para qualquer um que não souber lidar com os seus dias sombrios. Fica bem, Rachel! Espero te ver em breve.

Então, eu o observo ir embora cabisbaixo. Como eu poderia chorar por um e me consolar nos braços de outro? Eu não podia fazer isso. Eu não era assim. Vê ele indo embora me fez pensar em ir atrás, mas eu me segurei. Eu já tinha feito burrada demais naquela noite.

Eu subo as escadas sentindo tudo doer em mim. Minha cabeça doía e eu me sentia derrotada. Quando eu saí de casa, tinha certeza que voltaria vitoriosa, mas eu me enganei. Quando Linda me vê, corre até mim de braços abertos; enquanto minha mãe, fica sentada no sofá de cabeça baixa sem dizer nada. Ela também estava sofrendo.

— Own, Rachel! Eu sinto muito! — diz minha amiga me apertando em seu abraço aconchegante.

Capítulo 8

O dia no trabalho foi tranquilo, mas a minha cabeça continuava barulhenta. Eu estava arrependida por ter ido na casa do Pietro. Eu estava me sentindo uma idiota. Seu Renato, o meu patrão, estava no caixa e Linda tinha ido na farmácia. Enquanto seu Renato contava o dinheiro do caixa, eu observava a rua que já estava começando a ficar movimentada, porque as pessoas estavam voltando para suas casas. Já ava das 17h30... faltava poucos minutos para gente fechar tudo e ir para casa. Tudo parecia estar em câmera lenta lá fora. A imagem do Pietro na minha cabeça está bem viva, e ainda consigo ouvir com clareza a voz dele dizendo que está saindo com outra garota. Eu sempre me dediquei ao que eu achava que era importante ou verdadeiro; e com o Pietro não foi diferente. Eu sempre falo que, se a pessoa pode confiar em mim, ela pode mesmo! Mas às vezes, eu esqueço que as pessoas não pensam como eu, e acabo me machucando. Este é um dos meus maiores defeitos: garantir de que as pessoas confiem em mim, e me esquecer que muita gente não valoriza pessoas sinceras. Mas eu posso estar errada também. Talvez, esse não seja um defeito meu, mas das pessoas.

**********

Quando estou chegando perto de casa, consigo sentir cheiro de café. — hum... que cheiro bom! — diz Linda fechando os olhos para apreciar. — Ei! — diz ela parando na porta de casa. — Eu preciso conversar com você. Infelizmente, eu não consegui falar, mas preciso dizer o que aconteceu antes do grandão do Murilo ir atrás de você! — Murilo...— penso enquanto olho para minha amiga sem mostrar reação. Só de ouvir o nome dele, senti um frio na barriga. E de repente, a imagem dele me olhando veio a cabeça. Aqueles olhos lindos me fitando era surreal.

— Ei! — diz ela pegando no meu braço, — você está bem? — pergunta ela com

os olhos bem abertos. O vento sopra sobre seu rosto preocupado, e sua franja balança delicadamente. Eu não dei oportunidade dela falar alguma coisa hoje. Até que ela tentou. Mas, eu fui logo dizendo que não queria falar sobre aquilo naquela hora e ela respeitou. Pelo o que conheço dela, com certeza ela estava morrendo de vontade de falar alguma coisa, mas mesmo assim se controlou.

— Deixe suas coisas aí e venha comer bolo de chocolate comigo. — digo.

— Ok. Deixe a porta aberta por favor, eu subo em um minuto. — diz ela abrindo a porta de casa.

Minha mãe ainda não estava em casa. O trânsito aqui em Maceió a essa hora é horrível! Eu deixo a bolsa no quarto, tiro o sapato e faço um rabo de cavalo. Logo coloco o bolo de chocolate em cima da mesa e corro para fazer um café do jeito que a Linda gosta. — Oi? — diz ela subindo as escadas.

— Estou na cozinha! — digo enquanto lavo algumas xícaras. Linda já era de casa e se sentia muito confortável aqui, e eu amava ver o jeito em como ela se sentia bem com a gente.

— Que bolo bonito. — diz ela olhando para ele.

— Pode pegar! — digo sem olhar para ela. Eu estava desanimada, e isso era notável. Parecia que eu estava carregando algo muito pesado em minhas costas. Eu me sentia cansada e esgotada!

— É... você não está bem! —diz ela olhando para faca. Eu fico em silêncio e coloco café na xícara para ela. — Eu gostaria de te ajudar de alguma forma... — continua ela, — mas você precisa conversar comigo.

— Minha mãe até agora não falou comigo. — digo me sentando a mesa, — você também acha que eu fui tão estúpida assim por ter ido tirar satisfação com o Pietro? — Linda não faz contato visual, e enfiando um pedaço de bolo na boca, diz de boca cheia:

— Bom... sim e não. Eu acredito que isso serviu de lição para alguma coisa. — diz ela lambendo os dedos. — Cedo ou tarde você ia ter que fazer isso... você só escolheu o momento errado!

— É, eu sei. Mas, será que precisava mesmo não falar comigo o dia todo? — digo me encostando na cadeira.

Linda toma um gole de café.

— Hum, esse café está delicioso! — diz ela piscando o olho para mim.— Eu acho que você tem que entender a sua mãe, Rachel. Não é fácil ver um filho sofrer! Dê um tempo para ela... Renata está chateada, mas isso logo vai ar.

— Aquela dúvida estava me matando aos poucos. — digo.

— Eu não julgo você. Mas da próxima vez, tente ser menos impulsiva e espere a raiva ar. — diz ela me olhando atentamente. — Isso é uma fase terrível

minha querida Rachel, mas nenhum sofrimento é eterno e nenhuma tempestade é para sempre. Chega uma hora em que as nuvens saem e o sol aparece. — Eu desvio o olhar e respiro fundo. — Olhe para mim Rachel! — diz ela pegando levemente no meu queixo, e com confiança diz:

— Você é uma mulher cheia de atitude! E Mulheres de atitude são corajosas e enfrentam os problemas sem medo. E foi isso o que você fez ontem. Você foi corajosa e colocou um ponto final naquilo tudo. Escute bem minha querida amiga, eu não a julgo. Você não precisa se sentir culpada por tentar fazer o que era certo para você naquele momento! Pietro é imaturo, e ele só foi o seu primeiro namorado; tudo isso vai te ajudar a ser mais esperta na hora de escolher o próximo rapaz. Não que você seja tola por ter escolhido Pietro... não, jamais! Antes ele parecia ser o cara certo, mas infelizmente, com o tempo as pessoas mostram quem elas realmente são. Ele só foi o seu primeiro namorado. Essa dor e essa culpa vai ar! Mas eu tenho que itir — diz ela se encostando na cadeira e cruzando as pernas. — Aquele tapa que você disse que deu no Pietro, foi merecido!

Ela dá uma gargalhada, e isso me faz sorrir um pouco.

— Eu espero que tudo isso e mesmo. — digo. — Mas e o Murilo? O que você queria me contar?

Linda se ajeita na cadeira e diz:

— Pobre Murilo... é um homem com uma ferida enorme em seu coração.

— Como assim? — pergunto me aproximando dela.

— Quando você saiu, sua mãe me ligou pedindo para eu vim aqui. Eu fiz o que ela me pediu, e ela me contou tudo. O plano era eu impedir você de ir até a casa do Pietro, mas provavelmente naquela hora, o estrago já estava sendo feito. Eu disse para ela que o melhor era esperar e ver o que realmente ia acontecer. Eu disse que você tinha que encarar os seus problemas de frente... mesmo que aquilo fosse te machucar ainda mais. Até porque, você já é adulta e tem que se responsabilizar por suas ações. Mas no meio da conversa, Murilo ligou para ela. E como você já sabe, sua mãe é esperta... ela concordou com que ele viesse! Até o momento eu não tinha entendido o plano dela. Confesso que fiquei até confusa, mas continuei aqui. Eu também queria saber o motivo do Murilo estar daquele jeito no sábado! — A cada palavra da Linda, eu conseguia vê o quão espertinha minha mãe era. — Não demorou muito, e ele chegou buzinando com aquele carro grande — continua ela, — e quando ele entrou, deu para perceber a decepção no olhar dele, por você não estar em casa. E por fim, ele nos contou que tudo aquilo era pela mãe dele.

— O que? Mãe dele? — pergunto franzindo a testa.

— Sim. Sábado fez 2 anos que a mãe dele tirou a própria vida. — A voz dela saiu trêmula e eu senti um nó na garganta. Na minha mente ou um filme de tudo o que aconteceu. —Como assim Linda? — pergunto com os olhos cheios de lágrimas.

— A mãe dele veio ar um tempo com ele aqui. Ela já lutava contra uma forte depressão há alguns anos, amiga. — diz ela enxugando uma lágrima. Os olhos da minha amiga estão cheio de lágrimas, e o meu coração está apertado. — Ele contou que um dia saiu para trabalhar e deixou ela em casa. Segundo ele, tudo parecia bem naquele dia. Ela acordou cedo; fez caminhada na orla com ele, colocou música quando chegou e fez o café. Para ele, tudo parecia estar bem. Mas quando ele voltou na hora do almoço, encontrou sua querida mãe morta no quarto.

Nós duas começamos a chorar. Eu soluçava e meu coração doía. — Imagina se eu perdesse minha mãe? —penso. Aquele pensamento me faz chorar ainda mais e Linda me abraça.

— Sua mãe chorou muito quando ele contou. — diz ela. — Eles se abraçaram, e eu pude vê que ela entendia ele. Você entende agora o por quê da sua mãe estar chateada? — diz ela me afastando um pouco. — Talvez sua mãe também tenha medo de perder você de alguma forma. Você sabe que ansiedade e depressão andam lado a lado, não é? — Eu faço que sim com a cabeça e ela continua, — Ela está apavorada com tudo que vem acontecendo com você nesses meses... e saber que você também tem um pouco de depressão assustou ela. Sua mãe acolheu ele de uma forma muito bonita. Sua mãe também está sofrendo amiga. Espero que agora você entenda ela.

Linda tinha razão. Por esses dias eu andava muito deprimida e eu nem tinha tomado os remédios ainda. Eu não conseguia aceitar tudo aquilo... era muito difícil para mim aceitar que aquilo estava acontecendo comigo. Agora eu entendia o porque da minha mãe, que é tudo para mim, estar daquele jeito. Eu tinha que tomar uma atitude positiva em relação ao meu problema. Eu tinha que fazer isso por amor a mim mesma e por amor as pessoas que me amam. Pobre Murilo... naquele momento desejei estar em casa, desejei ter abraçado ele, desejei aceitar a companhia dele. Mas eu ainda não tinha a confiança. Eu estava com os dois pés atrás. Como eu poderia saber se não ia me machucar ainda mais? desta vez eu teria que fazer diferente.

Capítulo 9

Estou caminhando por uma rua extremamente esquisita. Parecia ser bem tarde e eu conseguia ouvir o vigia de rua ar por algum lugar ali perto. Estou descalça, e o vento balança as folhas das árvores. Tudo está quieto e nada está aberto. Eu olho para o meu corpo, e vejo que estou vestindo um vestido leve e branco. É um típico vestido de adolescente de alcinha, e o vento o balança. Eu queria andar rápido, mas alguma coisa me impedia. Mas a frente, eu conseguia ver um homem sentado em uma calçada. Ele está de calça preta e camisa social. Eu tento chegar mais perto, mas alguma coisa dificulta os meus os. — Ei! — grito. Mas aquele homem continua de cabeça baixa. — Quem é você? — pergunto novamente tentando e me esforçando o bastante para chegar mais perto; mas não adianta. Mais uma vez o vento sopra e meu coração acelera. O vento trouxe um cheiro bom. O cheiro é de um perfume masculino, e eu conhecia aquele cheiro.— Murilo! — grito mais uma vez, e finalmente aquele homem olha. Ele está lindo como sempre. Ele está usando a mesma roupa do dia em que eu o encontrei na praia; só que daquela vez, a camisa estava por fora da calça e havia alguns botões a mais aberto em sua camisa. Assim como eu, ele está descalço e seus olhos estavão mais verdes. Ele se levanta e enxuga suas lágrimas, e finalmente eu consigo andar mais rápido. Quanto mais eu ando, mais distante ele fica. Então decidi correr. Eu corria feito uma louca e mesmo assim ele continuava distante. Eu fecho os olhos desejando que ele já estivesse na minha frente, quando esbarro violentamente em alguém. Eu abro os meus olhos e lá está ele me segurando em seus braços. Ele acaricia o meu braço machucado, e sem dizer nada a seus dedos pelo meu rosto. — Me desculpe por não deixar você ficar...— digo. Mas ele continua calado. Ele apenas me olha com seus olhos estreitos e verdes. Sua boca tem um formato perfeito, e sua barba está crescendo. —Fique por quanto tempo quiser! — digo olhando para ele. Murilo é extremamente alto para mim, mas naquele momento parecia ainda mais. Eu me sentia pequena perto dele, mas ao mesmo tempo, me sentia segura e confiante. — Será que você pode se sentar novamente?— pergunto. Ele apenas sorri e faz o que eu peço em silêncio. Quando ele senta, fica mais baixo do que eu esperava. Aquilo era estranho e muito confuso, mas eu não queria acabar com o clima. Eu me abaixo mais um pouco e fico cara a cara com ele. Murilo olha em meus olhos e em seguida olha para minha boca. Corajosamente, eu o os meus dedos pelo seu rosto e pelo seus lábios. Ele era tão lindo... sua pele estava fria e eu

fiquei na dúvida se abraçava, ou se beijava. — Me beija! — diz ele com sua voz rouca. Eu sentia meu coração bater forte a ponto da cabeça doer. — Me beija, por favor... — pede ele me olhando com aquele olhar forte fazendo minhas pernas ficarem bambas. Por mais nervosa que eu parecia estar, eu me sentia confiante! Tinha alguma coisa naquele olhar que me ava isso. — Isso é real? — pergunto para ele. — Só me beija! — diz ele dando um sorriso fraco. Quando finalmente encosto meus lábios no dele, eu acordo.

Meu coração está a mil! O celular está alarmando muito alto, então procuro por ele desesperadamente para desligar. — Não pode ser! — digo me deitando novamente. — Que sonho louco! O sonho foi muito real! Eu consegui sentir os lábios dele no meu. O que está acontecendo comigo? — me pergunto. O rosto dele estava bem gravado na minha mente. Eu conseguia me lembrar dele muito bem para sonhar daquela maneira. — Uau! — digo baixinho enquanto olho para o teto escuro do meu quarto. — O que é isso, um sorrisinho? — me pergunto. — Pare já com isso Rachel Kelly! Era para você estar triste, não era? — penso mais uma vez. Mas, eu não estava triste. E isso era ótimo. O desejo de ver o Murilo estava grande, e eu tinha que ver ele o mais rápido possível!

***********

Eu não conseguia acreditar, mas eu já estava na orla segurando a bicicleta novinha que o Murilo me deu. Eu paro em frente ao lugar onde ele me acertou com a bola, e de longe consigo vê Rafael. Mas cadê o Murilo? — penso. Ele não estava lá. O desespero toma conta de mim, e eu não aceito ter vindo em vão. Eu tinha que pelo menos pegar o número dele! Eu vou em direção a areia da praia, e tenho um pouco de dificuldade de arrastar a bicicleta. Eu encosto ela no coqueiro e grito:

— Ei, Rafael!

Ele para; e me vendo franzi a testa. Ele vem em minha direção correndo com um sorriso confuso em seu rosto.

— O que você está fazendo aqui Rachel, quer levar outra bolada? — diz ele sorrindo e ofegante.

— Eu vim ver o Murilo. Ele não vem? — pergunto olhando para os lados. Ele faz cara de surpreso.

— Ele não vai jogar hoje. — diz ele e eu faço cara de decepcionada. — Mas... continua ele, — ele vem fazer caminhada.

Eu abro um sorriso e pergunto:

— A que horas?

— Me mostra a hora no seu celular por favor. — pede ele se aproximando de mim.

— São 6h15. — digo.

— Daqui a 2 minutos ele a... ou menos! — diz ele sorrindo olhando para alguém atrás de mim.

— Você está me procurando? — diz alguém com a voz rouca. O vento balança uma mecha solta da minha trança, e o cheiro de um perfume muito bom a por mim. Eu me viro, e me deparo com alguém alto e sorridente. O sol reflete no seu cabelo castanho um pouco molhado, e através dos meus óculos de sol, eu olhava para aquele homem lindo parado alí.

— Sim... estou procurando você! — digo corajosamente. Quando digo isso, ele sorri e uma covinha aparece no lado direito da bochecha.

— Eu não esperava ver você aqui. — diz ele, e Rafael pigarreia.

— Eu vou voltar a jogar... qualquer coisa é só gritar! — diz Rafael se afastando.

Com os meus óculos de sol, a cor de tudo ficava diferente e eu via Murilo um pouco mais bronzeado. Ele está usando uma bermuda preta e uma camisa com proteção UV branca. A camisa está colada em seu corpo mostrando bem o seu físico de atleta. Murilo olhou para mim e seus olhos estavam azuis como a água do mar.

— Obrigada pelo o que você fez no domingo! Acho que, nenhum homem iria comprar a briga de uma garota com o seu ex-namorado como você fez. — digo sem graça.

Murilo balança a cabeça em negação com um sorriso franco no canto da boca. — Que isso... eu estava te devendo aquilo. Afinal, você também me ajudou quando eu precisei. — diz ele chegando mais perto.

— Você gritou e eu vim. — digo.

— É... você veio. — diz ele me olhando novamente com aquele olhar.

Eu começei a sentir minhas pernas tremerem, e sentei tentando mostrar cansaço para disfarçar.

— Estou me sentindo um pouco cansada. — digo evitando olhar para ele.

— Sei... - diz ele sentando ao meu lado. Nem sentado ele ficava do meu tamanho. Ele era realmente muito grande. — Que bom que você gostou da bicicleta. — diz ele olhando os meninos jogarem.

— Eu amei, muito obrigada!— digo olhando para ele.

Ele me olha e sorri.

— O que foi? — pergunto sorrindo também.

— Nada... eu gosto do seu jeito cheio de atitude.

— Meu jeito cheio de atitude? — pergunto franzindo a testa.

— É... — diz ele me olhando. — Será que você pode tirar um pouco os seus óculos de sol? — pede ele.

— Claro. — digo ficando vermelha.

Eu tiro os meus óculos, mas evito fazer contato visual com ele.

— Eu gosto dos seus olhos, Rachel. — diz ele ainda me fitando com aquele par de olhos verdes. Quando ele diz aquilo, tudo gela dentro de mim. — Rachel — diz ele, e eu olho para ele. — É sério... você tem olhos muito bonitos.

— O que você quer em troca para falar algo tão absurdo assim? — digo. — Meus olhos não tem nada de interessante. São apenas olhos pretos; Comuns.

Quando digo aquelas palavras, Murilo olha para o mar. Na verdade, parecia que eu tinha ofendido ele. Não tinha mais alegria em seu rosto e deu para perceber que ele tinha ficado tenso. — Eu não quero nada em troca, Rachel. — diz ele sem olhar para mim. — Eu só fiz um elogio sincero. Eu realmente acho seus olhos bonitos, e eles não tem nada de comum.

Murilo fala tudo aquilo sério, e a cada palavra que ele falava, eu conseguia sentir a decepção em sua voz.

— Seus olhos são raros — continua ele. — São negros e combinam com tudo em você. — diz ele voltando sua atenção para mim. Eu não digo nada e fico

quieta querendo entender cada coisa que ele estava falando. — Seus olhos negros iluminam você! Eles combinam com o seu cabelo, com sua pele e com o seu sorriso branco. Você tem um olhar forte e penetrante, Rachel. É uma pena que você não veja isso em você.

— É, eu realmente não consigo vê isso em mim. — digo olhando o mar. — Acho que você é a única pessoa que acha isso.

— Com certeza não sou a única pessoa, Rachel. Mas talvez eu veja você de um jeito diferente mesmo. Desde criança minha mãe dizia que os olhos das pessoas dizem muito sobre elas. Minha mãe tinha razão! — diz ele. — Você tem um olhar forte. E para sua informação, um olhar bonito não tem nada a ver com a cor dos olhos, mas em como a pessoa vê as coisas. Seu olhar tem atitude e ousadia... Talvez um dia você se veja como eu vejo você.

Eu dou um sorriso carinhoso para ele, e ele sorri de volta.

— Ou talvez você tenha um ponto de vista diferente das pessoas e veja isso em mim. Eu não vejo tanta beleza assim...

— Beleza? — pergunta ele. — Realmente você tem muita beleza. Até mais do que você possa imaginar. Mas eu não estou falando de algo externo; eu estou falando de algo que vem de dentro. — diz ele ando seus dedos em cima de uma cicatriz que tenho no pescoço. Eu ganhei aquela cicatriz devido a um problema que tive na tireoide, e Murilo ou seus dedos ali como se tivesse intimidade para fazer aquilo. Eu apenas permiti que ele fizesse aquilo e não disse nada. O toque dele era suave e delicado. O jeito com que ele falava era diferente; interessante.

— Tireoide. — digo.

— O quê? — pergunta ele um pouco confuso.

— Esta cicatriz foi de uma cirurgia que eu fiz por causa da tireoide. — Murilo fica vermelho e abaixando a cabeça diz:

— Desculpa por tocar!

— Tudo bem! — digo, — eu acho que você se tornou um pouco mais íntimo quando me viu fazendo confusão no domingo.

Murilo gargalha.

— E você por me vê bêbado! — diz ele com um belo sorriso em seus lábios.

— Estamos quites! — digo me levantando e ele faz o mesmo. — Eu tenho que ir agora! Daqui a pouco vou ter que ir trabalhar, e de 14h vou tirar essa faixa do braço.

— Tudo bem... — diz ele. — Eu também vou para casa me arrumar, hoje vai ser um dia bem agitado. Espero ver você em breve, Rachel Kelly! E por favor, será que você pode me ar seu número? —pergunta ele pegando o seu celular.

— Posso sim. — digo.

— Pronto. Hoje eu mando uma mensagem para você! Agora eu tenho que ir mesmo... E ah, você está linda Rachel! Tenha um bom dia.

Murilo sai correndo e não me dá oportunidade de falar. Ele sai todo sorridente, e com isso faz eu me sentir de alguma forma mais importante e atraente. Não que eu precisasse do elogio dele para me sentir bonita... mas foi diferente. Murilo fala com sabedoria e elegância. Ele é misterioso, atraente. Ele é um homem de verdade em todos os sentidos, e eu podia falar isso sem medo. Ele é confiante, respeitoso e ousado ao mesmo tempo. Murilo era tudo o que uma mulher de verdade gostaria de encontrar. Mas, tudo isso era apavorante para mim. Eu estava com medo de sofrer de novo! Estava tudo tão confuso... era estranho e bom ao mesmo tempo.

*************

Como já era de se esperar, eu cheguei atrasada no trabalho. Tudo já estava aberto, e provavelmente Linda tinha dado alguma desculpa para me ajudar. Antes de entrar, eu respiro fundo e arrumo o meu cabelo. Mas, eu me surpreendo por não ser Renato ou Linda que está no caixa naquela manhã. Por trás do computador do caixa, eu consigo vê alguém com os seus olhos azuis atentos no computador. Eu estava paralisada, sempre foi só nós três trabalhando ali. Então, quem poderia ser aquele rapaz de cabelo loiro escuro e olhos atraentes? — Oi! — digo desconfiada chegando mais perto para poder ver melhor quem era.

Chegando mais perto, eu pude vê que era um rapaz com uma aparência boa. Ele é branquinho das bochechas levemente rosada e tem a boca carnuda. O cabelo dele é estiloso e bem arrumado. Ele também tem uma coisa muito atraente, além dos seus olhos azuis: ele tem um sinal perto da boca. — Olá! —

diz ele se levantando com um sorriso agradável e estendendo a mão para me comprimentar. — Eu me chamo Felipe... — diz ele com um olhar sedutor. — E você deve ser a Rachel.

Eu abro um sorriso amarelo para ele.

— É... eu sou a Rachel. — digo enquanto seguro forte a mão macia e gelada dele. — Como você sabia que eu era eu?

Ele dá uma gargalhada e diz:

— Linda me disse que eu saberia pela cor do cabelo e dos olhos! Ela detalhou você por inteira... não tinha como errar. — diz ele soltando a minha mão.

Eu dou uma gargalhada.

— O que Linda disse? — pergunto ainda rindo da situação.

— Muitas coisas! — diz ele ando a mão no cabelo.

Ele é bem jovem, dava para perceber. Felipe é alto e charmoso. Ele tem um maxilar bem definido, nariz afilado e sobrancelhas bem feitas. — Muitas coisas não é resposta! — digo. — Mas tudo bem... não se preocupe. Fico feliz em saber que tenho características fortes, a ponto das pessoas me reconhecerem de cara!

— Sim... você tem! — diz ele se encostando no caixa e fazendo cara de menino levado. — Começando pelo nome. — continua ele. —Rachel é um nome que a gente não escuta com muita frequência aqui no Brasil.

— É... é normal as pessoas usarem esse nome de um jeito mais fácil de se pronunciar, como por exemplo: Raquel. As pessoas sempre pronunciam do jeito errado aqui no Brasil. Eu sempre digo: "Quando for dizer meu nome, lembre-se da Rachel de friends!" Aí todo mundo acerta!

— Sua mãe tem bom gosto. Eu também amo friends! — diz ele com um olhar malicioso e volta a se sentar por trás do caixa. — Meu tio disse que hoje você ia atender as pessoas junto com a italiana, por isso estou no caixa agora. Hoje ele saiu bem cedo para fazer exames de rotina!

— Sim senhor! — digo indo até a sala onde guardamos as coisas.

Ele me acompanha com seus olhos ousados.

Quando eu abro a porta, Linda toma um susto. Ela está falando com alguém no celular. — Aí está você! — diz ela me abraçando. — O que aconteceu para você chegar atrasada?

— Antes de responder a sua pergunta — digo, — E esse rapaz que acabei de conhecer? ele chamou seu Renato de tio, foi levado comigo e ainda me deu ordens! — Linda da uma risada estranha e diz:

— É o Felipe! Gostei dele! Pena que é muito jovem.

— Jovem de quantos anos? — pergunto tirando um batom da bolsa.

— Jovem de 19 anos! — diz ela fazendo bico.

— Uau! — digo, — eu daria no mínimo, uns 22 anos! — Linda coloca as mão sobre o peito e faz cara de decepcionada. — Ei! — digo. — Desde quando você se importa com a idade de pessoas interessantes?

— Desde que não dê muito na cara que sou bem mais velha! — Eu faço careta para ela, que sorri para mim. — Mas se ele der bola, quem sabe... — Eu dou uma leve tapinha nela e começamos a ri. — Então, porque se atrasou hoje? — pergunta Linda arrumando a franja enquanto se olha no espelho.

— Eu fui ver o Murilo!

Linda abre bem os olhos e me olha de cima a baixo.

— Quem é você? — diz ela chegando mais perto e mexendo no meu cabelo. — O que você fez com minha amiga tímida? — diz ela tirando sarro de mim.

— Para Linda! — digo rindo.— É sério... eu fui atrás dele!

— E você fez muito bem! — diz ela piscando o olho. — Mas e aí, falaram sobre a mãe dele e sobre o escândalo de domingo que você fez na casa do Pietro? — pergunta ela com os seus olhos castanhos curiosos.

— Não! — digo dando um sorrisinho.

— O quê? — diz ela boquiaberta. — Vocês ficaram de conversinha, é isso mesmo?

— Sim! — digo colocando a mão na boca sorrindo. — E ele pediu meu número!

— Mamma mia! —diz ela surpresa!

— Mas não acho que ele queira algo mesmo. E eu não estou preparada para isso agora. — digo. — Sinceramente amiga, homens como ele, só querem sexo e mais nada.

Linda se engasga enquanto toma sua água.

— O que? — digo olhando para ela. — É a verdade... e você sabe que eu não faço essas coisas, e não sinto vontade de fazer no momento. Você sabe sobre a minha opinião em relação a isso.

— Eu sei... — diz ela se recompondo. — E apoio totalmente! E eu tenho muito orgulho por você pensar assim; isso faz de você ainda mais rara.

— Ou cafona, como muitas pessoas dizem.

— Não importa o que as pessoas dizem, Rachel! Cada um tem o direito de escolher o que fazer da sua vida. E você escolheu esperar até seu casamento... e isso não está errado. Isso é bonito e vai te poupar de muitas coisas; acredite em mim! — diz ela saindo da sala.

— Eu acredito. Eu tenho princípios! — digo indo atrás dela.

2 Por isso você é minha melhor amiga, Rachel! Você tem personalidade. — diz ela com carinho.

Isso mesmo; eu tenho 24 anos e ainda sou virgem por escolha e por muitas coisas em qual eu acredito! Muitas coisas me levaram a pensar desta maneira, e ninguém me faria pensar diferente. Já me julgaram muito por isso, e isso me fez sentir menos vontade de fazer. Diferente de muitas pessoas, eu não acho que sexo seja tão importante para se mostrar que ama realmente alguém. O amor vai muito além disso... e eu já li muitas histórias de amor, onde o sexo não era mencionado. E por quê comigo seria diferente? Se alguém quiser ficar comigo, vai ter que me aceitar do jeito que eu sou, e respeitar o que eu acho certo fazer. O amor tudo a e é paciente... é assim que eu vou descobrir se alguém me ama de verdade.

Na volta para casa, eu fico feliz de saber que meu braço está melhor. Aquela parte do braço precisava de uma boa lavada! Ainda era 16h30, seu Renato

deixou eu voltar mais cedo para casa porque achou que ia demorar muito para eu ser atendida. Minha cabeça está longe, e eu não paro de pensar na minha mãe. Ultimamente ela estava mais calada. Quieta. Eu estou me esforçando de todas as formas para alegrá-la. Eu sei que ela ainda está magoada comigo, mas aquilo tinha que parar. — Já sei! — penso. Vou fazer um jantar bem gostoso para ela. Minha mãe gostava de comer macarronada. Era a comida preferida dela. Hoje mesmo, eu iria tentar ajeitar as coisas entre nós duas!

No quarto, eu tirei os meus sapatos e deitei na cama relaxando o meu corpo. Eu estava exausta! Os meus olhos estavam pesados de sono e eu só queria dormir um pouco. Mas, o meu celular vibra e é uma mensagem de alguém no WhatsApp. Eu fixo os meus olhos no teto, e não pisco por alguns segundos. — Quem pode ser? — digo em pensamento. Eu só queria cochilar um pouquinho. Quando eu pego o celular e vejo a mensagem, era um número diferente. Eu me desperto imediatamente e me levanto rápido. A cabeça gira por eu ter feito isso — Ai! — digo colocando as mãos na cabeça, como se aquilo fosse ajudar. "Salve o meu número!" está escrito. — Meu Deus! Só pode ser o Murilo! — penso. Eu abro o meu whatsapp, e a foto dele aparece. — Ah minha nossa! — digo baixinho. A foto tinha sido tirada de baixo para cima. Ele está sentado em uma mesa de sinuca, segurando um copo. Ele está vestindo uma calça jeans e uma camisa preta de manga longa. Seu sorriso realçava sua covinha na bochecha, e a foto tirada daquele jeito, mostrava ainda mais o quão ele era bonito. Murilo tem jeito de homem mais velho, decidido. Ele era diferente de muitos garotos que eu já tinha visto. Sua postura era mais séria, misteriosa. Ele estava sempre usando preto ou branco nas últimas vezes que eu o vi. Seu maxilar é mais largo, seu nariz afilado e ele tem sobrancelhas grossas, fazendo seus traços ser ainda mais másculo.

— Oi? — escreve ele, e eu respondo:

— Oi! Pode deixar, eu vou salvar!

— Espero que esteja tudo bem com o braço... — responde ele na mesma hora.

— Sim, está tudo bem! Obrigada por se preocupar!— respondo.

Parecia um sonho. Com certeza ele só está querendo diversão. De repente, começo a me sentir incapaz, vazia. O que um homem como ele ia querer comigo? Talvez, no fim, faria pior do que Pietro. E eu não queria isso para mim. Eu fecho os olhos e me vem a lembrança dos meus primos me machucando em palavras. — Você nunca será bonita, Rachel Kelly! — diz meu primo de 12 anos. — É isso mesmo! — confirma minha prima rindo de mim. Essas lembranças estavam bem vivas na minha mente como se estivesse acontecendo agora. — Você é estranha e gorda, e quando crescer, ninguém vai querer ficar com você! — continua minha prima, e logo depois saí do quarto da minha avó. Me lembro de chorar muito e me sentir horrível! Aquelas lembranças me machucavam muito... eu sofria muita humilhação, e foi isso o que Pietro fez. Ele me humilhou ando na minha cara que já estava com outra. — Desgraçado sem coração! — digo em voz baixa.

No WhatsApp, Murilo manda outra mensagem:

— Tem planos para sexta à noite?

Eu não abro a mensagem e bloqueio a tela do celular.— Sempre começa com essas conversinhas. — penso. Eu não vou responder agora.

Eu saio do quarto e faço o jantar para minha mãe. Mas o Murilo não saia da minha cabeça. Ele estava mexendo comigo. — Pensa em outra coisa Rachel! — digo.

— Pensar em que? — diz minha mãe chegando de surpresa na cozinha.

— Nos problemas. — digo dando um sorriso fraco para ela. — Eu fiz macarronada!

— Beleza! — comemora ela,— eu estou morrendo de fome!

Minha mãe está mais relaxada, e por vê-la assim, acabei ficando também.

Foi uma noite agradável e tranquila, como de costume. Nós duas assistimos filmes e a série preferida dela: Friends. Se ela estava feliz, eu também estava! Minha mãe era o meu bem mais precioso. —Por favor, amanhã me lembre de tomar o remédio. — digo, e ela me olha com aprovação.

— Finalmente você vai tomar! Pode deixar que eu lembro! — diz ela.

Capítulo 10

A semana ou rápido. Já era sexta-feira. Linda está ao meu lado mexendo no celular, enquanto eu observo Felipe. Seu Renato disse que ele iria ficar uns 2 meses com a gente se tudo desse certo. Felipe está procurando uma casa aqui perto; ele mora um pouco longe da faculdade, por isso achou melhor se mudar para Maceió. Sua mãe e seu pai ficaram em Arapiraca, e ele veio ficar um tempo com o tio para ajudar também. Enquanto eu olho atentamente para ele, Felipe está concentrado mexendo no computador. Ele é um rapaz dedicado e inteligente; está sempre disposto a ajudar.

Hoje ele está com uma camisa rosa bebê, calça branca e um tênis da Lacoste marrom. Ele sabia chamar atenção mexendo em seu cabelo loiro escuro, e colocando sempre um palito de dente na boca. Além de tudo isso, Felipe tem olhos bonitos; seus olhos são um tipo de azul acinzentado que combina com sua pele clara. — Rachel? — diz Linda me olhando com as sobrancelhas levantadas.

— Oi... — respondo ainda olhando para ele.

— Ele chama bastante atenção, não é? — diz ela cruzando os braços.

— Chama mesmo. — digo, — será que eu teria chances?

Linda me olha boquiaberta e me empurra levemente. — Ei mocinha, você mal saiu de um relacionamento, nem respondeu a mensagem de um bonitão, e já quer encantar mais um? Relaxa ai Rachel... vai com calma! — Eu começo a ri e ela continua, — Isso não é sério, né? Quer dizer, não que isso seja um problema... mas, isso é sério?

— Claro que não, bobona! Você sabe que eu não consigo ser assim. A verdade é que eu não consigo tirar o Murilo da minha cabeça!

— E por quê não responde a mensagem dele no WhatsApp? — pergunta ela franzindo a testa.

— Não sei... e se ele só estiver querendo aquilo que eu te falei?

— Você só vai saber se tentar.

— E se eu tentar, e ele só querer realmente isso?

— Já percebeu que você só está falando "e se?" — diz ela me olhando nos olhos. — Você tem que tentar, Rachel! — enfatiza ela. — Você nunca vai saber as reais intenções dele, se não tentar! E se ele só querer sexo, você cai fora. Mas pelo menos no fim, você não vai sofrer por não ter tentado. Não faça a mesma coisa que eu! — diz ela, e eu me surpreendo.

— Não fazer a mesma coisa que você? como assim? — pergunto achando aquilo estranho. Linda nunca tinha dito algo sobre aquilo.

— Aham... — confirma ela ajeitando algumas coisas na prateleira de maquiagem e evitando me olhar.

— Tá... isso foi estranho. Você nunca me falou sobre isso! — digo me abaixando

para ficar mais perto dela.

— Tem coisas que devem ficar no ado, minha querida Rachel. Mas acho que falar sobre isso com você vai ajudar em alguma coisa. — diz ela finalmente me olhando.

— Quando chegarmos em casa? — sugiro.

— Não! — diz ela indo em direção ao banheiro. — Eu preciso pensar se realmente vale a pena desenterrar essa história. Mas, quem sabe amanhã você não vai na minha casa, e finalmente eu te conte tudo. — diz ela fechando a porta do banheiro na minha cara e dando uma gargalhada.

— Você é estranha Linda! — digo.

— Estranha é uma pessoa que deixa um gato como o Murilo no vácuo por três dias! — diz ela tirando sarro da situação.

— Isso tudo é por pura segurança! — digo.

— Vá embora, Rachel! Eu preciso fazer minhas necessidades!

— Porca! - digo, e ela começa a ri.

***********

Está chovendo e eu já estou pronta para dormir. — Acho que já posso responder o Murilo! —penso comigo mesma. Eu pego o meu celular, e abro o meu whatsapp. A última vez que ele olhou o whatsapp foi às 17h30, e já ava das 22h. — Vamos lá Rachel, se faça de doida e responda normalmente! — penso.

— Hum... hoje foi um dia cansativo. Eu sou caseira, Murilo! E espero que me desculpe por demorar tanto a responder... Quem sabe a gente não se encontra na segunda cedinho! Boa noite! — respondo.

Quando a mensagem chega, ele logo fica online e visualiza. Eu abro bem os olhos e saio o mais rápido possível do whatsapp. Eu fico esperando por 30 minutos ele responder, mas ele não responde. — Não é para tanto, né Rachel? você deixou ele por três dias no vácuo! — penso. Com certeza Murilo já estava em outra. Eu não era a única menina com quem ele estava flertando... eu tinha certeza! Mas mesmo assim, eu peguei no sono com o celular do lado, na expectativa dele responder.

****************

Estou em um sono profundo, mas acordo com meu celular vibrando. Ele para de vibrar, mas logo começa a vibrar de novo. Eu olho a tela do celular com um olho aberto e o outro fechado, e na tela está escrito "Murilo". Meu coração começa a bater forte, e o sono começa a ir embora.

— Alô? — digo quase sem voz.

— Oi. — diz ele com sua voz rouca. — Desculpa te acordar, quer dar uma volta?

— Uma volta? — pergunto perplexa. — Que horas são agora?

— hum... deixa eu ver... são 2h30 da manhã. - Eu coloco a mão na cabeça surpresa, e de repente me sinto tentada a ir. — Eu não posso sair a esta hora! Tá maluco?

— Eu estou aqui na sua porta! — diz ele falando calmo.

— O que? — digo com um tom de voz assustado. — Você só pode estar brincando...

— Desce aqui e vem tirar suas próprias conclusões! — diz ele. - E ah, não se arruma não... eu quero ver como você é quando acorda.

Eu dou uma gargalhada estranha, mas ele não ri.

— Ok. — digo, — mas eu não vou abrir a porta!

— Tudo bem. — diz ele.

Eu ligo a luz e me olho no espelho. Eu não estava tão feia. Estou usando uma camisa grande, short curto, e eu estou com o cabelo amarrado em um coque. Eu solto o cabelo e dou umas batidinhas na bochechasna tentativa de ficar mais corada e bonita. Antes de sair do quarto eu respiro fundo, e vou andando na ponta dos pés. No começo da escada, já dava para ver o carro dele parado. — Meu Deus, que loucura! — falo baixinho. Quando chego no portão, o vento frio balança as plantas da minha mãe e o chão ainda está molhado por causa da chuva. Eu fico parada na porta de braços cruzados por causa do frio, e Murilo desce o vidro do carro.

— Boa noite! — diz ele me olhando de cima a baixo.

— Você está maluco? — pergunto.

Murilo abre um sorriso encantador e sua covinha aparece.

— Talvez... — diz ele, — eu fiquei trabalhando até tarde e estava maluco para ver você!

Eu faço cara de surpresa. Eu não consegui disfarçar.

— Me vê? — pergunto me fazendo de doida.

— É... eu estava maluco para ver você! — diz ele. — Espera, eu vou descer do carro... eu quero te ver mais de perto.

Eu engulo em seco. Murilo desce do carro bem devagar, e tenta não fazer barulho. Ele está usando uma calça moletom preta; um casaco, e está descalço. Ele vem se aproximando devagar, e o seu perfume chega antes dele. Ele vem andando sério e me encarando; fazendo as minhas pernas tremerem.

— Eu já disse que os seus olhos são lindos? — diz ele baixinho.

— Calado! — digo olhando para cima.

Murilo é muito alto.

— Shh! — diz ele colocando o dedo nos meus lábios pela brecha do portão. — Vamos dar uma volta de carro pela orla... — pede ele falando baixo e com a voz rouca. — Você deixa um bilhete para sua mãe.

Eu seguro o dedo dele e digo: — Eu vou! mas com uma condição...

— Com a condição que você quiser! — diz ele olhando nos meus olhos.

— Ok. — digo, — eu vou dirigindo!

Murilo coloca as mãos na cintura e dá um sorrisinho malicioso. — Ok, Rachel Kelly. Combinado! Mas ei, coloque uma roupa de banho.

— Roupa de banho? — pergunto cruzando os braços.

— Isso. Talvez, na volta a gente tome um banho de mar! A água sempre está uma delícia ás 5h da manhã. — diz ele animado.

— Não sei se isso vai ser possível, mas eu vou colocar sim. E mais uma coisa Murilo, você sabe que se acontecer algo comigo, minha mãe e minha amiga vão saber e elas vão caçar você até o fim, né?

Murilo gargalha e coloca a mão na boca tentando abafar para não fazer barulho.

— Não se preocupe, Rachel. Você voltará para casa inteira! — diz ele indo em direção ao carro. — Eu vou esperar você aqui.

Eu subo e corro para colocar a roupa de banho. Eu procuro um maiô que esconda bastante o meu corpo e visto a mesma roupa que eu estava. Eu faço um bilhete para minha mãe explicando tudo, e mando um áudio no WhatsApp para Linda. Eu pego uma mochila e coloco toalha, pente, spray de pimenta e os meus documentos. Não dava para acreditar que eu estava fazendo aquilo... Eu namorei dois anos com uma pessoa, e ela nunca pensou em fazer isso. Pelo contrário, ele sempre dormia mais do que eu.

Eu abro o portão devagar e Murilo me observa atentamente. Minhas bochechas começam a esquentar e provavelmente a ficar vermelha. Ele me encara de um jeito diferente. É sedutor. — Pode ar para o banco de trás! — digo abrindo a porta do carro.

— Por quê eu deveria ficar no banco de trás, se eu posso ficar bem aqui do seu lado? — pergunta ele cruzando os braços.

— Eu ainda não confio em você totalmente, e você ficando atrás, vai me ajudar a te ver melhor pelo retrovisor. E não é só isso... Eu quero que você sente no meio. É pegar ou largar! — digo olhando para ele.

— Eu pego! — diz ele dando um sorrisinho.

Ele sai do carro e a esbarrando bem devagar em mim, e faz isso ao mesmo tempo que me olha nos olhos. Ele entra de novo e senta atrás como eu pedi. — Coloque o cinto. — digo enquanto coloco o meu.

— Sim senhora! — diz ele. Ele ficou do jeito que eu queria; bem no meio! Eu ajeito o retrovisor e encaro Murilo por ele. Seus olhos estão fixos nos meus. — Bem melhor! — digo. Ele está sentado com as pernas abertas e de braços cruzados. Ele parecia decepcionado, mas ele tinha que aceitar as minhas regras naquele momento. — Vai dar 3h da manhã! — digo, — eu não quero só dar voltas pela orla com esse carrão... vamos até o jaraguá e ear de verdade!

Murilo abre um sorriso lindo e diz:

— Claro... como quiser!

Enquanto dirijo, Murilo fica em silêncio. Eu olho para ele pelo retrovisor e lá

está ele me encarando. — Acho que esse é o melhor momento de nos conhecer. — diz ele.

— Verdade. — digo, — você sempre conhece um pouco mais sobre a pessoa pelas músicas que ela escuta. — digo ligando o som do carro dele.

— Profundo! — diz ele dando uma gargalhada.

Quando o som liga, o toque da música "Everybody wants to rule the world" da banda Tears for Fears, que é uma banda de rock, começa a tocar. — Eu amo essa! — diz ele cantando. Eu não digo nada e apenas observo ele cantar. Além de lindo, ele é engraçado e divertido. Eu estava sentindo algo diferente em meu coração.

— Então essa vai ser a trilha sonora da nossa conversa aqui no carro. — digo. — Você namora? — pergunto.

— Não. — diz ele rápido. —Fica com alguém?

— No momento não.

— Mora com alguém naquele apartamento grande?

— Também não.

— Qual é sua profissão?

— Sou advogado. — diz ele piscando o olho para mim e sorrindo. Estou tensa. E dava para perceber porque eu estava dirigindo devagar demais.

— Já foi casado?

— Nunca! — diz ele olhando para frente.

— Quantas vezes você já namorou?

— 2 vezes. A primeira na adolescência, e a outra há um ano e meio. — Um ano e meio? — penso. Eu engolo em seco e respiro fundo. Mais uma vez estou sentindo uma coisa estranha. Eu sinto um frio na barriga e meu coração acelera.

— Um medo? — pergunto olhando para ele através do retrovisor.

— Perder mais alguém que eu ame muito. — Ele fala aquilo olhando para o lado, e parecia que responder aquilo tinha magoado ele de alguma forma.

— Um desejo? — pergunto o mais rápido possível para descontrair.

— Você! — diz ele olhando para mim pelo retrovisor. Eu desvio o olhar e não digo nada. Murilo se inclina para frente, e tentando chegar mais perto do meu ouvido diz: — Você ouviu isso, Rachel Kelly?

— Uhum. — digo com as pernas tremendo e sem reação.

— Que bom! — diz ele se afastando.

— Você não sabe o que deseja Murilo! — digo. — Quando alguém me deseja, essa pessoa tem que entender que vai ter que carregar todos os meus problemas, meus medos, meus traumas, minhas cicatrizes...

— Eu sou forte o bastante para carregar você e eles, Rachel!

A minha vontade era de parar o carro na próxima esquina, e pular no pescoço dele e beijá-lo até não aguentar mais. Mas eu tinha que me controlar, eu tinha que me acalmar.

— Eu sou uma pessoa difícil de lidar, Murilo. Você poderia me largar a qualquer momento. Tem muita coisa que você deve ser acostumado a fazer que, provavelmente, você não faria comigo nem tão cedo. — Ele não diz nada, mas com certeza entendeu o recado. — Que tal a gente tentar ser amigos? — sugiro com o coração apertado.

— Por mim tudo bem. — diz ele. — Contanto que eu fique perto de você... para mim ta ok.

A vontade de beijá-lo estava ficando forte, parecia algo demais para carregar naquele momento. Eu sentia algo queimar no peito e isso já estava me enlouquecendo. — Você ta bem? — pergunta ele chegando mais uma vez perto. — O cheiro dele é bom, o jeito dele falar é encantador, tudo nele é interessante. — Melhor você fazer algumas perguntas para mim agora! — digo sem olhar para ele.

— Ok... — diz ele ainda perto do meu ouvido. — Quando foi a última vez que pensou em mim? — pergunta ele com sua voz rouca.

— Ai meu Deus! Essa é difícil... — digo me sentindo encurralada.

— Vamos Rachel... pensa rápido.

— Antes de dormir, óbvio! — digo.

— Hum... muito bom! — diz ele. — O que você está sentindo agora? — pergunta ele ando os dedos pelo meu braço.

— Murilo! — reclamo. — Por favor, perguntas sem ser sobre nós dois.

Ele começa a ri.

— Um medo?

— Borboletas. — digo. Murilo cai na gargalhada e eu me junto a ele. — O que foi? — pergunto.

— Quem tem medo de borboletas? — diz ele.

— Eu! — respondo.

— Já chega! Não quero perguntar mais. — diz ele se encostando no banco do carro.

— E por quê não? — pergunto franzindo a testa.

— Eu prefiro descobrir isso aos poucos, e não tudo de uma vez. — diz ele. — O que você acha da gente tomar um banho de piscina agora lá onde eu moro?

— Eu topo! — digo sem pensar.

— Então vamos lá... — diz ele com um sorrisinho.

No elevador eu senti um pouco de medo. Aquilo era muito diferente de tudo o que eu estava acostumada a fazer. — Este elevador me traz algumas lembranças

daquele dia.

Murilo ri.

— Eu imagino! — diz ele.

— Tem tanta coisa que eu gostaria de perguntar... — digo. Murilo olha para mim e vem para minha frente. O elevador para e sem dizer nada, ele sai. — Eu mereço receber muitas respostas! — digo indo atrás dele.

— Você vai ter todas elas Rachel! Só tenha um pouco de paciência e curta o momento. Veja! — diz ele enquanto abre uma porta de vidro. — O céu já está ficando claro.

O céu estava lindo. Eu olho para ele, que me olha de volta. Seus olhos são extremamente lindos. Ele abre a porta e começa a tirar a roupa, e eu começo a ficar sem jeito. — Ei, só um momento... você não vai ficar pelado não, né?

— Óbvio que não! Roupa de banho, lembra? — diz ele tirando sua calça moletom. Seu corpo é bonito e forte. Ele pula na piscina e espirra água para todo lado, inclusive em mim. — Vamos Rachel, pule! Eu estarei bem aqui para pegar você. — diz ele me olhando. Eu começo a tirar a minha roupa e ele só observa com a cabeça apoiada na mão direita.

— E lá vamos nós! — digo correndo para pular. A água está morna, mas quando eu subo, o frio toma conta de mim. — Eu estou congelando! — digo.

— Não se preocupe, eu estou bem aqui para esquentar você! — diz ele nadando em minha direção. Ele me encurrala. Seu corpo parecia ser bastante desenvolvido para alguém jovem. Ele me encara esperando alguma reação minha, mas eu pergunto:

— Quantos anos você tem?

Ele sorri.

— 29. E você? — pergunta ele.

— 24. — digo surpresa por saber que ele é alguns anos mais velho do que eu.

— Eu já sabia que você era novinha... — diz ele acariciando o meu rosto. — Sua pele é tão macia.

Eu fico paralisada.

— O que você quer de mim? — pergunto ainda travada.

— Muitas coisas. Só deixe eu mostrar isso aos poucos... por favor! — diz ele se aproximando.

— Eu preciso ir para casa agora. — digo acabando com o clima. Murilo engole em seco, e vejo que ele ficou constrangido.

— Tudo bem... Vamos! — diz ele saindo da piscina rápido.

Na volta para casa Murilo não diz nada, talvez por estar decepcionado. Eu queria beijar ele naquela hora, mas eu tive medo. Eu não sabia se era possível, mas eu estava apaixonada por ele. Mas, infelizmente ele não podia saber disso agora.

— Pronto! — diz ele parando em frente a minha casa.

— Muito obrigada pela noite! — digo. Ele me olha com seus olhos verdes e diz:

— Por quê não deixou eu beijar você?

— Não acho certo mergulhar de cabeça nisso com você agora. Pelo menos agora não...

— Certo! — diz ele se aproximando e dando um beijo demorado na minha bochecha. — Próximo final de semana, eu gostaria de convidar você e sua mãe, e sua amiga claro, para ir na minha casa de praia lá em tabuba. O que acha? assim a gente vai ter tempo para conversar sobre muitas coisas, e se possível, responder a todas as suas perguntas.

— Me parece uma boa ideia! — digo. — A gente vai conversando até lá.

— Ok. —diz ele, e eu saio do carro.

Murilo espera eu abrir o portão e quando eu vou entrando ele diz:

— Você é uma garota incrível! Até mais. — E com estas palavras, ele vai embora.

Capítulo 11

Meus olhos estavam pesados, e parecia que eu não tinha dormido há dois dias. Eu sentia meu corpo dolorido, como seu eu tivesse andado por muito tempo de bicicleta.

— Oi? Acorda! — diz alguém com uma voz bem familiar. — Vamos, acorde... já são 13h da tarde! — insiste aquela pessoa. Eu abro os meus olhos devagar, e dou de cara com alguém de olhos castanhos curiosos olhando para mim. Era Linda, ela estava deitada bem ao meu lado. — Ciao! — diz ela me cumprimentando.

— Buongiorno amica! — digo tentando falar italiano também.

— Buongiorno, amore mio! Como foi sua aventura na madrugada de hoje? — pergunta ela fazendo gracinha.

— Incrível! — digo sentindo borboletas no estômago. Eu estava me sentindo incrivelmente bem naquela manhã, e tudo parecia estar agradável.

— Eu quero saber os detalhes! — diz ela levantando a sobrancelha esquerda para mim.

— Ele não parece de verdade! — digo, e me sento na cama devagar. — Ele veio me buscar de madrugada para ear, e apenas conversar; dá para acreditar nisso? — Linda me observa com os olhos radiantes. — Ele tem 29 anos e só

namorou duas vezes! — digo e Linda se levanta rápido perplexa.

— Como é a história? — diz ela. — Não é possível!

— Sim, é possível amiga! — Linda coloca a mão na boca surpresa, e pergunta: — E o que você está sentindo agora?

— Eu não sei explicar, mas o que eu posso dizer é: eu estou sentindo uma coisa muito boa. Estou me sentindo desejada, valorizada e muito bem!

— Mamma mia! — diz ela caindo na gargalhada. —E o que vocês fizeram?

— Conversamos, e muitas vezes, ele deu descaradamente em cima de mim! — Linda abre bem os olhos e eu continuo, — Ele disse que eu era um dos desejos dele!

— Mamma mia! — grita ela novamente e pula em cima de mim. — Rolou beijo? pergunta ela.

— Não. — respondo.

— Você é maluca! Mas isso foi insano! — diz ela rindo.

— Mais insano ainda é o que eu vou te dizer agora: ele nos convidou para sua casa de praia na sexta! — digo comemorando, mas o sorriso desaparece dos lábios dela. — Ei, o que aconteceu? — pergunto.

— Eu prometi que vou dormir com Cecília na sexta. Lembra daquilo que mencionei ontem no trabalho? — diz ela se encostando na parede.

— Aham! — digo curiosa.

— Então, vai chegar de São paulo um homem que é como se fosse um filho para Cecília. O nome dele é Maycon, e foi com ele que eu tive aquela experiência.— Linda fala olhando para tudo, menos para mim. Dava para perceber que ela estava incomodada com alguma coisa e muito triste.

— Que experiência foi essa? — pergunto chegando mais perto.

— Maycon — diz ela olhando para suas unhas vermelhas, — foi alguém que cresceu comigo. Como você sabe bem, eu vim para o Brasil com dois anos de idade, e foi justamente nesse tempo que Jorge, o falecido marido da Cecília, pegou ele para criar. Na verdade, Maycon é filho da irmã de jorge, que morreu enquanto dava a luz a ele. Por dois anos e meio, Maycon ficou com o pai, mas segundo jorge e Cecília, ele não cuidava bem dele e por isso eles ficaram com ele. — Minha amiga estava com algo em seu coração, e isso com certeza estava machucando ela. Fazia muito tempo que eu não a via daquele jeito. A última vez, foi quando ela saiu de um relacionamento extremamente abusivo.

— Mas o que aconteceu para você ficar assim? — pergunto segurando as mãos dela, e ela segura as minhas.

— Eu cresci com ele, amiga. E na adolescência, eu acabei me apaixonando por ele. Mas, eu nunca valorizei os meus sentimentos. Eu não aceitava estar apaixonada por alguém, que era praticamente meu irmão. Maycon é um ano mais velho do que eu, e quando eu completei 17 anos, ele disse que me amava! — Linda faz cara de confusa e continua, — Como alguém poderia dizer algo tão forte? Ele só tinha 18 anos e faltava alguns meses para ele ir embora para São Paulo. Eu não acreditei nele; não coloquei fé nos sentimentos dele. Eu não fiz caso. Antes dele ir embora, fizemos uma festa; e naquela festa, eu perdi o meu BV com ele.

— Ai meu Deus! — digo colocando as mãos sobre a boca.

— Foi uma noite louca e linda. Ele me levou para cobertura do edifício de onde ele morava, e ficamos alí a noite toda. Mas quando fez 1 mês que ele tinha ido embora, sem avisar, comecei a namorar e ele nunca mais tocou no assunto. E isso continua até hoje amiga! Eu terminei aquele relacionamento, iniciei outro com o idiota do Fernando, e nada dele voltar. Cecília disse que ele já está namorando com outra pessoa há 4 anos! — diz ela com um tom de voz triste. — E infelizmente, os meus sentimentos voltaram como muita força, e desde então, tenho me sentido estranha; despreparada, confusa. Faz 9 anos que não o vejo pessoalmente, e eu não sei o que fazer agora.

Eu abraço ela bem forte, e ela pergunta: — O que eu faço amiga? Eu que sempre dou conselhos a você, não sei o que fazer para me ajudar.

— Você tem que encarar tudo isso. Eu vou estar aqui para segurar sua mão e te ajudar a dar todos os os inseguros que for necessário — digo. — Você não está sozinha! Quando ele voltar, eu prometo te ajudar a resolver isso ok? — Linda apenas assente e não diz nada. — Agora você precisa me mostrar algumas fotos desse homem sortudo!

Linda começa a ri, e corre para me mostrar algumas fotos que tem com ele no facebook.

*****************

Minha mãe está lavando os pratos, e eu estou sentada à mesa olhando o celular. Minha mãe estava mais arrumada naquela noite; ela está com o seu cabelo grande solto, com short curto e está cantando algumas músicas.

— Hum... — digo.

— O que foi, Rachel? — diz ela sem conseguir segurar o riso.

— Parece que alguém está animada à esta noite. Será que está acontecendo algo que eu não sei? — digo olhando ela por cima dos meus óculos.

— Talvez... — diz ela e eu me engasgo com o cuspe. Minha mãe começa a ri.

— O que está acontecendo hoje? — digo me recompondo. — Parece que todos têm algo para me revelar!

— Não é só você que está toda bobona! — diz ela me olhando. — Eu estou conhecendo alguém.

Ouvir aquilo fez eu me sentir enciumada. — Meu Deus, mãe! E a senhora só me diz agora? — digo indo em direção a geladeira para pegar um pouco de água.

— Eu estava esperando as coisas melhorarem para poder te contar tudo.

— Então que a senhora começe a contar os detalhes... — digo.

— Renato. — diz ela, e eu engulo em seco.

— Que Renato? — pergunto, e ela dá de ombros. — Ai meu Deus, mãe! — digo indo para a sala aterrorizada. — Não me diga que a senhora está falando sobre o meu patrão!

Ela vem atrás de mim.

— Eu estou falando exatamente sobre ele! — diz ela se olhando no espelho decorado que fica na sala. Tudo estava estranho. Como assim, minha mãe e meu patrão? Era bom demais para ser verdade.

— Quando tudo isso começou? — pergunto sentando no sofá.

— Quando suas crises começaram. — conta ela enquanto se olha e mexe em seu cabelo grande e escuro, — eu pedi o número dele a Linda, e expliquei algumas

coisas para ele. Renato acolheu você muito bem lá, e inúmeras vezes eu agradeci a ele por toda paciência, por deixar você ficar em casa quando as crises começavam e etc. Ele sempre me ligava! — diz ela sorrindo para o espelho. Fazia tempo que isso não acontecia.

Minha mãe estava realmente apaixonada; eu podia ver isso em seus olhos e no seu sorriso bobo. Depois que meu pai abandonou a gente, ela não se permitiu ser amada novamente. Foram anos assim. Mas seu Renato era um bom homem, tinha um grande coração. Ele já foi casado, mas não deu certo... ele também ou muitos anos sozinho. Durante o tempo que trabalho para ele, nunca vi ele de conversa com alguém. Ele é um homem gentil, educado, sorridente e bonito; mas não dá para imaginar seu Renato dando em cima da minha querida mãe!

— Vai ser uma experiência incrível! — digo dando apoio moral a ela.

— Eu não vejo a hora de contar para ele que você ficou feliz com a notícia! — diz ela toda sorridente.

— Eu amo você mãe, claro que eu apoiaria! — digo me levantando e indo em direção a ela. — Eu conheço o seu Renato, por isso fico mais tranquila. Só tenha muito cuidado para não se machucar, ok? — digo abraçando ela.

Capítulo 12

Todo domingo minha mãe e eu fazíamos faxina em casa. Parecia um dia normal, como qualquer outro dia. Mas naquela manhã, eu despertei com o coração apertado; eu já tinha chorado três vezes escondida e não o sabia porque. O sentimento de que algo de ruim poderia acontecer estava tomando conta de mim. Eu começo a sentir pena da minha mãe, pena de todos que estavam ao meu redor; e eu estava sentindo tudo isso pelo fato de ter ansiedade e depressão. Tomar remédios e aceitar numa boa que as coisas não vão estar bem com você muitas vezes é doloroso; é desgastante demais. Desgastante... essa palavra sempre estava na minha cabeça. De repente me dou conta que Murilo não me ligou e não falou comigo ontem. Me lembro que minha mãe teve que ligar para o meu patrão — como se eu fosse uma criança —, para saber como eu estava, e também me lembro que Pietro me traiu pelo simples e complicado fato de eu ter ansiedade e depressão. — Que droga de vida! — digo em pensamento enquanto lavo o banheiro. Meus olhos mais uma vez ficaram cheios de lágrimas, e eu comecei a chorar. Eu sentia algo me machucando muito; eu estava desesperada e imaginando que poderia acontecer várias coisas ruins naquele dia. Eu estava preocupada demais com coisas que nem poderia acontecer. Do nada, sinto vontade de vomitar e a falta de ar volta. Eu deixo tudo o que estou fazendo e corro para tomar o remédio. É, eu sei, eu estava fazendo tudo errado. Ontem eu não tomei o remédio por achar que estava bem. Mas eu me enganei. Eu vou até a cozinha e tomo o remédio; minha mãe está fazendo o almoço e logo percebe que não estou bem. Minhas mãos estão tremendo e eu sinto um nó na garganta.

— Você não está bem, não é? — pergunta ela vindo até mim. — Tome um banho e tente relaxar... pode ir se deitar se não estiver se sentindo bem.

— Obrigada, mãe! — digo com a voz trêmula.

— Está tudo bem não estar bem às vezes, minha filha! — diz ela me abraçando.

— Vá! Eu faço o resto das coisas.

Sempre que eu estava sentindo essas coisas, eu sentia muitas dores nas pernas e braços. Eu estava exausta! O remédio realmente me relaxava um pouco, e com isso, os meus olhos estavam ficando pesados e eu acabei pegando no sono.

*********

Eu me acordei às 15h da tarde, e tinha um áudio da Linda no meu Whatsapp. No áudio ela diz que quer me ver, mas eu peço para ele não vir hoje. Eu não estava bem e só queria ficar um pouco sozinha. E mas uma vez eu tinha dormido, e acordei com minha mãe trazendo algo para eu comer.

— Hum... que delicia! — digo, e minha mãe sorri para mim. Ela tinha feito um ótimo feijão com charque, purê de batata e carne de sol. Estava tudo uma delícia!

Eu descansei um pouco e fui tomar mais um banho; eu estava suando muito e aquilo era novidade. Minha médica disse que isso poderia acontecer algumas vezes. Então, eu não me surpreendi. O banho até que relaxou mais um pouco, mas as dores no corpo continuavam alí; elas estavam presente e me mostrando que eu não estava bem.

*************

Já são 18h30, e minha mãe tinha ido levar o meu café e água. Quando ela entrou, eu já estava acordada. Eu tive mais um pesadelo; mas um daqueles

sonhos onde tudo dava errado comigo. No sonho eu era humilhada, discriminada e grandemente ofendida. O cenário era sempre o mesmo: na casa da minha avó ou na minha antiga casa. Nos meus sonhos, eu estou sempre sendo comparada com minhas primas. Isso sempre acontecia; as pessoas diziam que minha prima mais velha era a mais bonita, e a do meio era a bonitinha, e por fim eu era a mais feia. Mas não era só isso; eu fui rejeitada por minha família e por muitas pessoas que estavam ao meu redor. Eu era uma criança indefesa, sozinha. E minha mãe? Bom, minha mãe tinha que trabalhar para me sustentar. Ela foi mãe e pai. Ela é uma guerreira! Minha mãe se culpa até hoje por isso, mas ela não tem culpa; ela não tinha culpa de nada.

Eu já não conseguia dormir mais, então comecei assistir alguns filmes antigos. Eu amo filmes antigos. O meu celular começa a tocar, e quando eu olho, é o Murilo. — Finalmente! — penso. Mas eu não queria conversar. O que eu poderia dizer de tão legal naquela situação? por isso não atendi. Mas ele insistiu, e mais uma vez eu deixei tocar.

— Então quer dizer que você não vai me atender? — diz alguém na porta do meu quarto. — Não pode ser! — digo boquiaberta. Eu estava ficando louca?

— Por favor Rachel, será que ao menos você poderia abrir a porta? — diz ele, e meu coração vira uma escola de samba.

— Eu não posso acreditar que você está aqui! — digo me levantando e indo em direção a porta.

— Eu achei que deveria vir.— diz ele.

— O que fez você pensar que seria bem vindo? — pergunto encostando a cabeça na porta.

— Eu não sou bem vindo? — pergunta ele com a voz rouca.

— Abra logo essa porta Rachel Kelly! Eu deixei ele entrar... pode abrir antes que eu abra! — diz minha mãe falando extremamente alto.

— Mãe! — digo indignada. Então, respirando fundo, abro a porta devagar. Tudo parecia estar em câmera lenta. A medida que eu ia abrindo a porta, o cheiro dele ia entrando no meu quarto. Então eu começo a ver seus olhos; e eles estavam preocupados. Murilo é alto e me fazia olhar por muito tempo para cima enquanto irava sua beleza diferente. Ele está com o cabelo um pouco molhado e está usando mais uma calça moletom, só que aquela é cinza. Sua camisa é verde, e combina com os seus olhos.

— Olá Rachel Kelly! — diz ele contraindo seu maxilar largo e bonito.

— Olá. — digo paralisada.

— Deixem a porta aberta; e você pode ficar o tempo que quiser querido. — diz minha mãe olhando carinhosamente para ele. Murilo assente e diz:

— Pode deixar dona Renata, não se preocupe. E não esqueça de pegar seu chocolate em cima do sofá.

— Eu nunca esqueceria! — diz ela da cozinha.

— E este aqui é o seu... — diz ele me mostrando uma caixa de bombom. — Eu não sabia qual comprar, então eu trouxe esse aqui. Você gosta da cacau show?

— Sim. — digo paralisada olhando para ele. Ele estava tão lindo, e o que eu deveria fazer naquele momento; pedir para ele entrar? ir para sala com ele? dizer que não estou bem e mandar ele embora? Eu não sabia o que fazer. Eu estava sem reação.

— Eu posso entrar no quarto? — pede ele. Meu quarto não estava tão arrumado. A cama está bagunçada, a tv está ligada e eu estou com roupa de dormir e com o cabelo solto.

— Você não vai ter o melhor de mim hoje... — digo saindo da frente dele e deixando a porta aberta.

— Tudo bem. — diz ele, — são os dias difíceis? — pergunta ele entrando e sentando na cama.

— Aham. — digo me enrolando.

— Posso ficar até amanhã?— pede ele e eu me espanto. — Como assim ficar até amanhã? — penso. — Você quer dormir aqui? — pergunto sem acreditar no que ele tinha dito.

— Isso! — diz ele, — dá para perceber que você não está bem. Eu gostaria de ficar e te ajudar de alguma forma.

Parecia que eu estava sonhando e aquilo era bom demais para ser verdade.

— Ok... — digo, — mas você vai ter que assistir filmes antigos comigo.

Murilo assente e diz:

— Bonequinha de luxo? — sugere ele.

— Ótimo filme! — digo um pouco animada. — Mas espera aí; bonequinha de luxo é um clássico e você não tem cara de que assisti filmes antigos!

— Eu assistia com a minha mãe. Ela amava. — diz ele olhando para a tv. Eu fiquei olhando para ele; parecia que ele e sua mãe eram realmente muito amigos. — Posso me deitar ao seu lado? — pergunta ele, e eu engulo em seco. Aquilo era íntimo demais. Eu nunca tinha dormido com um homem.

— Mas eu nunca dormi com alguém... — digo e Murilo me olha perplexo. — Que dizer — continuo, — eu nunca dormi com nenhum homem na mesma cama! Por isso o que você acabou de me pedir é extremamente estranho.

— Me desculpe! — diz ele gaguejando. — É que... deixa para lá. Mas eu só vou me deitar aqui ao seu lado e prometo não tocar em você.

Murilo tira as sandálias e sobe na minha cama. Ele se deita e fica de frente para mim; seus olhos se fixam nos meus e eu me viro para olhar para ele também. — Oi de novo. — diz ele abrindo um sorriso no canto da boca.

— Oi. — digo com a voz quase falhando.

— Me conte algo bom Rachel. — diz ele.

— Eu não tenho nada de bom para lembrar agora. — digo.

— Se você se esforçar, você vai conseguir. — diz ele.

— Ok. — digo. — Teve um dia em que eu sempre me lembro com muito carinho... Poucos sabem, mas eu sou muito apegada a minha avó. Em um dia em que as coisas não estavam bem comigo, eu liguei para ela e ela disse que eu poderia ir ficar com ela. O dia estava lindo e ensolarado. Minha avó sabe que eu amo açaí e quando eu cheguei, eu nem tive tempo de falar algo e ela já foi me puxando pelo braço. Quando eu cheguei na cozinha, tinha fotos espalhadas pela mesa; eram fotos da minha mãe de quando ela era criança. Minha avó tirou o açai da geladeira e serviu com banana. Eu amo açaí com banana! — digo e Murilo sorri enquanto me escuta com atenção. — amos praticamente o dia conversando sobre coisas do ado e lembrando de coisas boas. Eu amo minha avó porque ela é positiva e sempre me ouve com atenção. Ela não sabe, mas quando estou com ela, eu me sinto bem.

— É uma boa história! — diz ele. — Me diga Rachel, o que você gostaria de

fazer agora?

— Vê bonequinha de luxo e me desligar dos problemas!— digo, — e claro, comer estes chocolates!

Murilo sorri e diz:

— Claro... escolha um e me dê.

Eu apenas sorri e senti o meu corpo relaxar. Eu nunca tinha conhecido alguém como ele! Ele era incrível e parecia ser muito positivo. Enquanto olhava em seus olhos, eu me sentia em casa. O jeito que ele me olhava era diferente, era encantador. — Você está tão linda! — diz ele, e eu fico vermelha. — Você me lembra uma música. — continua ele.

— Que música? — pergunto.

— Velha infância.

Eu sorri e não disse nada. Começamos a assistir o filme e a comer o chocolate. Meus olhos estavam pesados, e de uma forma natural, peguei no sono.

*********

Eu acordei e tudo estava escuro. A tv estava desligada; a luz do quarto estava apagada e Murilo estava dormindo ao meu lado. Ele estava com o rosto apoiado na mão e a outra estava entre as suas pernas. Ele parecia estar em um sono pesado porque respirava forte enquanto dormia. Eu me levanto e vou até a sala; e lá na sala, minha mãe está dormindo em um colchão no chão. — Que protetora! — digo baixinho. Eu volto para o quarto e pego o meu celular. São 3h30 da manhã e tudo parece um sonho. Eu tiro uma foto dele dormindo e mando para Linda. Com certeza ela vai surtar quando ver! Nem eu estava acreditando. Eu me deito devagar para não acordar ele e o enrolo. Eu até tentei ficar muito tempo observando ele dormir, mas o sono me venceu.

Capítulo 13

Estou sentindo alguém ar delicadamente os dedos pelo meu rosto. Eu não fiz espanto e nem me assustei; eu sabia quem estava fazendo aquilo. O perfume dele ainda esta forte, e sua respiração também. O meu coração fica acelerado e por um momento, tenho medo de abrir os olhos.

— Bom dia! — diz ele. Eu abro os olhos e a luz do sol está entrando no quarto. A porta ainda está aberta e uma brechinha de luz ilumina os olhos dele.

— Bom dia. — digo olhando para aqueles olhos lindos.

— Eu vou ter que ir para a casa agora... às 8h tenho que resolver algumas coisas do trabalho.

— Que pena. — digo esticando de leve a mão para acariciar o rosto dele. — Posso? — pergunto, e ele assente sem reação. Eu acaricio seu rosto e sinto a sua barba perfurando de leve os meus dedos.

— Eu não esperava por isso.— diz ele e eu abro um sorriso amarelo.

— Será que não pode ficar nem para o café? — pergunto e ele balança a cabeça em negação. — Eu nunca imaginei, e nunca ouvi uma história de alguém que dormiu na casa de outra pessoa, e simplesmente não quis e não tentou nada com ela! —digo.

— E quem disse que eu não quis alguma coisa? — diz ele sério olhando para mim. — Eu quero muitas coisas, Rachel... não o que você esta pensando agora; mas outras coisas. Você é uma mulher irresistível e sedutora! Eu tive que colocar em prática o meu autodomínio e não beijar você. E acredite em mim, estou me esforçando até agora! — diz ele se levantando.

— E por quê não beijou? — digo me sentindo um pouco ousada.

— Eu não tive permissão para isso. — diz ele ando a mão em seu cabelo bonito, e deixando um mecha cair sobre sua testa.

— E por quê não tenta agora? — pergunto sentindo um frio na barriga. Murilo me olha e estreita os olhos. Seu maxilar se contraí e ele vem em minha direção rápido o bastante para eu não respirar direito. Ele fica cara a cara comigo. Murilo coloca suas mãos em meu rosto e olha nos meus olhos; logo depois, seus olhos se fixam nos meus lábios e ele diz:

— Você não sabe o quanto eu quis isso.

Mas, alguém pigarra o mais alto possível e Murilo se afasta. Minha mãe está de braços cruzados na porta do quarto. — São 6h30, vocês não vão tomar café? — diz ela estreitando os olhos para nós dois. Murilo se segura para não rir e fica olhando para mim.

— Eu não posso ficar para o café. — diz ele. — Eu já abusei demais!

— Não se preocupe, Murilo. — diz minha mãe ainda de braços curzados, — eu tive pena de acordar você ontem à noite. E pelo jeito, sua presença fez muito bem a Rachel! — diz ela me encarando.

Eu não tive resposta para o que ela disse. Eu fiquei calada e Murilo olhou para mim. Ele parecia estar sorrindo com os olhos e a alegria estava estampada em seu rosto.

— Será que eu fiz bem mesmo? — diz ele ajeitando sua postura, e provavelmente, esperando uma reação positiva da minha parte.

— Talvez. — digo levantando a sobrancelha para ele. Murilo sorri e diz:

— Talvez é uma boa resposta, dona Renata?

— Talvez... — diz ela, e a gente cai na gargalhada.

— Infelizmente eu tenho que ir! — diz ele se levantando. — Obrigado mais uma vez, dona Renata! Você é incrivel! — Minha mãe abre um lindo sorriso, e Murilo vai até ela para lhe dar um abraço. Eles pareciam se dar muito bem. Minha mãe tinha algum tipo de ligação forte com ele. Era como se ela adotasse ele de alguma forma. — É... — diz ela afastando ele, — mas eu só deixei você dormir aqui por um motivo maior. Não vai acontecer de novo!

— Ah não! — diz ele sorrindo. Eu me levanto tentando acabar com aquela cena

um pouco estranha, e digo:

— Vamos Murilo, eu levo você até a porta.

Minha mãe não acompanha a gente, e Murilo vai andando devagar. Quando chegamos nas escadas, antes do último degrau, ele para. Murilo coloca as mãos no bolso da sua calça moletom e me observa ir até ele; então, ele me olha de cima a baixo e eu me sinto insegura. — Se controla, Rachel! Não demonstre nervosismo. — digo em pensamento enquanto vou descendo as escadas.

— Está tudo bem mesmo? — pergunta ele.

— Sim, não se preocupe. — digo ficando no mesmo degrau que ele.

— Rachel, é... — diz ele olhando em direção as escadas para ver se minha mãe está por perto. — Eu ainda não desisti do nosso beijo... — diz ele chegando mais perto. Eu começo a ficar ofegante a medida que ele vai se aproximando. Eu nunca tinha sentido aquilo. Murilo me encurrala na parede e pega no meu queixo. Eu não conseguia tocar nele; eu não conseguia me mexer ou dizer alguma coisa. — Eu amo esses olhos escuros e esse olhar forte. — diz ele acariciando o meu rosto. — Sua sobrancelha marca ainda mais esse olhar desconfiado e cheio de atitude. Desde a primeira vez que vi estes olhos bonitos, eu não tive mais vontade de procurar outro. Você é tão jovem Rachel... — continua ele, — O que você fez comigo? Eu era só um cara que trabalhava demais, e que não perdia um racha na praia às 5h30 da manhã! — diz ele sorrindo de leve, — e que no momento não estava procurando alguém, e que não estava querendo se apaixonar.

— Se apaixonar? — pergunto sentindo minha boca seca.

— É, me apaixonar. No dia em que eu sem querer, mas que agradeço e lamento ao mesmo tempo, acertei você com aquela bola, não foi a primeira vez que vi você andando de bicicleta. — diz ele ando os dedos pelos meus lábios. — Eu já tinha visto você bem antes! Mas, eu só vou explicar isso melhor quando estivermos lá em tabuba. Mas claro, se você aceitar ir.

— Eu tenho muitas perguntas! — digo ficando na ponta dos pés tentando me aproximar para beijá-lo. Murilo começa a beijar o meu rosto lentamente. Ele beija meu rosto todo. Seu beijo não é molhado; o beijo dele é bom de sentir, é calmo. Ele beija os meus olhos, o meu queixo, o meu nariz, e colocando sua mão na minha nuca, beija no canto da minha boca. Eu estava de olhos fechados sentindo e aproveitando cada beijo dele. — Será que posso deixar a melhor parte para o final de semana? —sussurra ele no meu ouvido. — Eu quero que seja especial. A voz rouca dele é boa de ouvir. Eu ainda não tinha tocado nele, e Murilo não tirou a mão do meu pescoço. Nos meus dias de ansiedade eu odiava ser tocada, mas naquele momento eu desejava abraçar ele; desejava tocá-lo, mas não consegui.

— A gente se vê? — Pergunta ele olhando nos meus.

— A gente se vê. — digo, e murilo se afasta.

Eu tentei abrir a porta, mas não estava conseguindo. — Deixa que eu abro para você! — diz ele com um sorrisinho em seus lábios. Eu estava confusa; atordoada. Ele sai, e entra rápido no carro. O sol está frio e a rua molhada. Murilo abaixa o vidro do carro e diz:

— Tchau minha Rachel Kelly!

— Minha Rachel Kelly? —penso sentindo uma coisa muito diferente. Murilo vai embora com um sorriso lindo e eu fico perplexa com o que tinha acabado de acontecer. Quando subo as escadas, dou de cara com a minha mãe.

— Ele ainda não beijou? — pergunta ela mais uma vez estreitando os olhos.

— Não... — digo. — O que está acontecendo mãe, isso é normal?

— Ele está perdidamente apaixonado por você! E tudo bem filha, isso ia acontecer. Eu só não esperava que fosse com alguém como ele. — diz ela sentando no sofá.

— Como assim? — pergunto franzindo a testa.

— Você atraiu um homem mais velho, e consequentemente mais experiente do que você em algumas coisas. Murilo e diferente, Rachel. Ele enfrentou, e está enfrentando muitas coisas devido à morte da mãe dele. Mas, não é só isso... o jeito como ele guarda a dor dele e vem aqui curar a sua dor é incrível! Isso é uma coisa difícil de se fazer. Com tudo isso filha — diz ela me olhando séria, — tenha cuidado! Antes de ir mais afundo nisso, certifique-se que não ama mais o Pietro. Murilo é um homem, e não está querendo só diversão. — diz ela.

Minha mãe tem razão. Como eu poderia saber se eu já tinha realmente esquecido o Pietro?

— Você não acha que foi estranho a senhora deixar ele dormir aqui? — pergunto tentando mudar o foco o Pietro.

— Acho! — diz ela, — mas eu confio nele. Eu conheço o Murilo um pouco mais do que você, e pelo o que ele vem me contando e planejando, eu tinha certeza que ele não tentar nada!

— E o que ele vem planejando? — pergunto perplexa.

— Melhor esperar ele te contar. — diz ela indo em direção a cozinha. — Ele me fez prometer que eu não ia contar!

— Isso é estranho! — digo me levantando. Eu não quis perguntar mais nada; eu também queria que fosse surpresa.

******************

Antes de sair de casa eu já tinha mandado uma mensagem para a Linda. Eu chego mais cedo na tentativa de abrir a loja primeiro, e pedi para Linda também se apressar. Com dois minutos de atraso, desce ela do uber e vem em minha direção correndo. Linda vem em minha direção boquiaberta e com o celular não mão. — Garota! — diz ela. — O que esta acontecendo com sua vida! Como assim ele dormiu com você na mesma cama? — pergunta ela.

— Vamos abrir a loja e lá dentro eu te conto tudo. — digo animada.

Linda abriu tudo o mais rápido possível, e isso era uma característica dela. Ela era eufórica e curiosa. A loja era só nossa, e isso significava que podiamos fofocar sem medo. — Minha mãe está namorando o seu Renato; Murilo tramou algo com minha e dormiu lá em casa, e quase nos beijamos duas vezes! — digo. Linda abre bem os olhos e se senta em um pequeno sofá que tem por perto.

— Calma Rachel, é muita informação de uma vez só. Como assim o solteirão do seu Renato não é mais solteirão, e agora está de romance com a Renata? — diz ela colocando a mão na cabeça e fazendo cara de confusa.

— Eu fiquei bem pior do que você está agora. — digo e ela me olha perplexa.

— E como assim você dormiu com o Murilo, e ele não tentou nada? Isso é realmente possivel? — diz ela se levantando para beber água.

— Ontem foi! — digo colocando as mãos em cima da cabeça. Linda me olha, e estreitando os olhos vem até mim fazendo cara de espanto.

— Não! — diz ela quase gritando.

— O que? — grito também.

— Rachel, você está usando cílios postiços em plena segunda-feira, e ainda são 7h30. Isso está muito estranho! — diz ela sentando de novo.

— Murilo fez grandes elogios aos meus olhos, e isso fez com que eu achasse eles um pouco mais bonito hoje... por isso eu coloquei cílios postiços, máscara para cílios e algumas coisinhas a mais!

Eu começei a contar todos os detalhes para ela. Linda parecia não acreditar no que estava acontecendo.

Realmente, aquele dia tinha sido diferente e exótico para mim. Eu saí do padrão e tudo mudou. A cada palavra que eu deixava sair da minha boca, todas eram com um sorriso no rosto e isso fez minha amiga relaxar. Depois de um tempo de conversa, e de contar tudo sobre o Murilo, eu pude ver Linda relaxar naquele sofá. Ela se encostou e sorriu junto comigo. Linda vibrava a cada mínimo detalhe que eu contava, e se mostrava positiva em relação a tudo que estava acontecendo.

— Parece que você já vai entrar em um novo relacionamento! — diz ela olhando para o teto.

— Eu não vou entrar! — digo e ela me olha.

— Como assim você não vai entrar? Você vai pra casa de praia dele, quase beijou ele duas vezes, e o pior, dormiu na mesma cama que ele. Rachel, você ou dos limites! — diz ela e eu começo a ri.

— É, eu ei mesmo! — digo. Mas, antes de falar alguma coisa a mais, Felipe abre a porta e nós duas nos assustamos.

— Bom dia, meninas! — diz ele sorrindo. Daquela vez ele estava de preto, calça jeans e tênis branco. Uma mecha do seu cabelo estava sobre sua testa, e sua boca estava rosada. Felipe é muito atraente, e não tinha como não paralisar por alguns minutos olhando para ele.

— Você parece que é parente do Alec Baldwin! — diz Linda se levantando. — Tem certeza que não é parente dele? — repete ela e pisca o olho para ele. Felipe é jovem demais, e sua bochechas rosadas entregam ele.

— Talvez meu tio Renato seja irmão dele. — brinca ele. Linda sorri e sai da sala.

— Você está muito bonita hoje! — diz ele pegando o um pouco de água.

— Você também não está de se jogar fora. — digo indo em direção ao espelho para arrumar o cabelo. — Renato chegou? — pergunto e Felipe assente.

— Ele chegou e já foi direto para o banheiro.

— Ótimo. Tenho que falar algumas coisas com ele.

— É sobre sua mãe? — pergunta ele se encostando no sofá e cruzando os braços.

— Até você sabia! — digo olhando para ela através do espelho.

— Todos os dias ele fala dela! — diz ele sorrindo. — Meu tio está amarradão! E não pra tanto; sua mãe é muito bonita. Assim como você. — diz ele, e eu estreito os olhos para ele.

— Onde você viu minha mãe?

— Fotos.

— Que fotos? — pergunto me virando e olhando para ele.

— Meu tio tem fotos dela. — diz ele, e seu Renato abre a porta da sala. — Aí está ele! — diz Felipe saindo e fechando a porta. Eu cruzo os braços na tentativa de ser durona, mas o olhar fofo e desconfiado do seu Renato amolece o meu coração.

— Acho que devo muitas explicações a você! — diz ele sentando perto de mim. — Rachel, eu de verdade quero algo sério com sua mãe. — Seu Renato realmente lembrava o Alec Baldwin. Ele é alto, tem cabelo grisalho, olhos um pouco claro, pele clara e é muito charmoso. Renato tem 57 anos e ainda está em forma. Ele sabia falar, era gentil e educado. Eu amava o seu Renato porque ele sempre foi muito atencioso, e sempre me ajudou quando eu mais precisei.

— Olha seu Renato — digo me abaixando e tentando ficar na reta dos olhos dele, porque ele está sentado e parecia estar muito nervoso. — Só Renato. —

corrige ele.

— Ok, Renato — continuo, — Está tudo bem... eu gostaria de saber antes? gostaria. Mas vocês já são bem crescidos e donos da própria vida de vocês! Eu conheço o senhor, e sei que não é do tipo pegador ou que faz as mulheres sofrerem. Por mais que seja muito bonito, e que realmente tenha possibilidades de fazer isso— digo, e ele sorri, — eu sei que você não faria isso. O que eu te peço é: Cuide dela. Minha mãe ou muitos anos sozinha; não porque não apareceu... é claro que apareceu, mas porque ela ficou traumatizada! Ela teve que me criar praticamente sozinha, e isso foi muito doloroso para ela. Eu só quero que você me prometa que vai fazer ela muito feliz! Promete? — digo segurando as mãos dele.

— Prometo. — diz ele com os olhos cheios de lágrimas. — Prometo que não vou machucá-la, e nem decepcionar você!

— Feito. — digo — Agora me dê um abraço! — peço abrindo os braços para ele.

**************

Na hora do almoço minha amiga estava calada, nem estava comendo direito. Linda parecia distante e seu olhar estava vazio.

— Você está diferente. —digo.

— Cecília me pediu para ir na quinta. — diz ela apoiando seu rosto delicado na mão esquerda.

— Quando Maycon vem para Maceió? — pergunto e ela me olha com os olhos triste.

— Domingo. — diz ela e eu engulo em seco.

— Mas já?

— Sim. Eu estou estranha... Cecília não fala de outra pessoa a não ser sobre o Maycon. Isso só me faz pensar ainda mais nele; me faz pensar em coisas que eu ainda não vivi com ele. — diz ela. Linda parecia estar sofrendo calada, e isso estava fazendo ela perder seu brilho, perder sua essência.

— Eu acho que seria apropriado você falar para Cecília sobre o que você está sentindo. Não faz sentido você ficar sofrendo calada! Eu gostaria de entender melhor tudo isso, Linda. Mas infelizmente, faz pouco tempo que eu descobri que você ainda está apaixonada por esse garoto. — quando digo isso, Linda sorri.

— Garoto... — diz ela olhando para a comida. — Ele realmente é um garotão. Eu não paro de pensar nele, Rachel. Eu até tento, mas o sorriso dele me vem a cabeça e eu me pego sorrindo feito uma idiota. Eu tenho um plano! — diz ela me olhando de um jeito doentio.

— E qual é o plano? — pergunto.

— Vou desabafar. Eu vou contar tudo para ele; e se no final não der certo, pelo menos eu tentei. — diz ela

— Eu vou estar com você no domigo à noite. Eu prometo! — digo segurando firme a mão dela.

— Mas e a casa de praia com o Murilo?

— Eu volto no domingo à tarde... Murilo vai ter que entender! — digo. Durante os anos de amizade que tenho com a Linda, nunca a vi dessa forma. Dava para sentir o peso dos seus pensametos... o peso dos seus medos. Eu precisava estar com ela independente de qualquer coisa; até porque amigos são para isso mesmo. Amigos são aconchego nos momentos difíceis.

— Rachel — diz seu Renato vindo até a nossa mesa. Em suas mãos está um envelope rosa. — Isto aqui é para você! — diz ele me entregando o envelope rosa e brilhoso. Um adesivo com o meu nome fechava ele; aquilo era lindo e eu não tinha dúvidas de quem tinha mandado. Seu Renato não diz nada, e sai com um sorriso no rosto. Linda me olha atenta e diz:

— Abre logo garota!

Eu abro o envelope e tiro de dentro um desenho junto com um cartão. O desenho foi feito com muita delicadeza; dava para perceber através dos traços delicados e de cada detalhe. O desenho não estava colorido, mas estava muito bonito. — Não pode ser! — digo, — esta aqui sou eu dormindo!

Linda coloca as mãos sobre a boca e chega mais perto para ver melhor. No desenho eu estava dormindo sobre o meu braço. Cada traço meu tinha ficado perfeito.

— Rachel, que lindo! — diz Linda pegando o desenho da minha mão. Eu pego o cartão, e em caneta preta está escrito:

"Não exite pessoa mais linda do que você, Rachel! Cada detalhe seu é bonito, é simples. Você não precisa usar muita maquiagem para ficar linda — embora possa usar e abusar ainda mais dessa sua beleza extraordinária —, usando maquiagem quando quiser. Em algum momento da noite, eu fotografei você com os meus olhos, e guardei aquela foto no albúm do meu coração. Neste exato momento, você está com a foto que tirei de você com os meus olhos. Por favor Rachel, tente apreciar um pouco do que vi enquanto você dormia tranquilamente.

com amor,

Murilo Marques. "

Eu olho para Linda e ela me olha com cara de apaixonada. — Rachel, quem em nossos dias faria isso? — pergunta ela com o desenho ainda em suas mãos.

— Murilo. — respondo, e ela sorri. Mas o que Linda não sabia, era que eu estava me sentindo insegura. Ainda existia uma grande possibilidade dele desistir e me esquecer. Alguns homens, quando querem alguma coisa, costumam fazer coisas

desse tipo. Ainda existia um ponto de interrogação muito grande na minha cabeça. Murilo é um homem diferente, eu não podia negar. Seu rosto era mais másculo e já não tinha traços de um garoto; suas atitudes e seu comportamento são de alguém maduro. Mas acreditar que ele aceitaria minhas regras, era difícil. — Eu não posso confiar! — digo. — Ainda tenho muitas dúvidas sobre tudo isso... para mim é tão recente; mas para ele parece não ser.

— Vamos esperar as resposta dele a suas perguntas no sábado, e logo depois veremos o que fazer. Por enquanto, mantenha os pés no chão! — aconselha Linda.

Capítulo 14

Já era quinta-feira e Linda e eu estavamos no uber indo para casa da Cecília. Linda não deu um piu desde que entramos no carro. Ela olha a rua pela janela atenta; provavelmente está pensando em Maycon. Eu não me atrevo a interromper aquele momento dela. Aquilo estava sendo único! Fazia tempo que eu não via Linda tão apaixonada. Durante esses dias que ou, Murilo me mandou mensagens de boa noite. A galeria do meu celular já estava ficando cheia. Murilo não é do tipo de homem que ama postar fotos no instagram, mas estava curtindo me mandar várias fotos durante o seu dia. Eu tinha minha foto preferida dele; era óbvio. Na verdade, não era só uma... eram várias. Mas, duas de algumas fotos que ele me mandou, chama muito a minha atenção. Eu olho para Linda, e ela ainda está em seu mundinho onde só existe Maycon. Então, lembrando das fotos do Murilo, resolvo pegar o meu celular e olhar algumas delas. Eu procura na galeria a que mais amo; é uma foto dele com roupa social. Murilo está lindo e elegante. Sua postura de homem mais velho me atraí muito. Ele é sério e ao mesmo tempo um pouco engraçado. Murilo também é ousado, bom com as palavras. Eu o para a próxima foto e vejo uma foto que ele mandou quando acordou. Ele tinha acordado cedo para ir jogar bola na praia. A janela do quarto dele está aberta, porque o quarto está bem iluminado e seus olhos estão bem mais claros. A barba dele já estava crescendo, e na foto, ele está com um meio sorriso que fez a covinha na bochecha aparecer. Eu ainda estava me acostumando com aquilo... Murilo é muito diferente do Pietro! Pietro tem um estilo mais despojado, mais jovial. Quase nunca deixa a barba crescer; está sempre com as sobrancelhas bem feitas, pele limpa. E as fotos que ele tirava eram sempre para o instagram. Raramente as fotos eram só para mim. Quando ele me mandava uma foto, era quase certeza que aquela foto estaria no instagram... onde todo mundo via. Então, elas deixavam de ser especial para mim. Mas Murilo não; Murilo a o recado de que é só meu.

Quando descemos do carro, Linda parou e respirou fundo.

— Está tudo bem? — pergunto.

— Sim.. é que estou sentindo cólicas na barriga. — diz ela com um sorriso amarelo.

— Você só está nervosa. — digo abraçando ela.

— Escuta Rachel — diz ela,— já que vamos arrumar o quarto para ele, eu pensei em fazer algo. — Linda abre a bolsa enquanto eu olho para ela muito confusa. Aquilo era novidade... Linda fazendo algo para impressionar alguém? Aquilo era realmente estranho.

— Eu achei melhor escrever uma carta. — diz ela me entregando um envelope.

— Isso é sério? — digo olhando para ela sem acreditar.

— Claro! — diz ela, — eu não vou conseguir falar tudo o que está aí nesta carta olhando nos olhos dele. Seria impossível, Rachel! Com um olhar dele, eu desmorono por completo por dentro! — Aquelas palavras foram fortes, e ela nunca tinha dito algo do tipo nem quando namorava o Fernando.

— Maycon está descongelando o enorme iceberg que existe dentro de você! — digo e Linda abre um belo sorriso.

— É... pode ser! — diz ela.

Enquanto Linda limpava o quarto de hóspedes, eu estava lavando a suíte do quarto. O cansaço estava tomando conta de mim, mas eu estava alí com ela; me esforçando para apoiá-la. — Em qual dessas gavetas você acha que ele colocaria as cuecas? — pergunta ela e eu começo a ri.

— Talvez a primeira. — digo.

— Então vou deixar a carta aqui! — diz ela.

— Você não tem medo da Cecília entrar aqui e lê? — pergunto enquanto o um pano no banheiro.

— Cecília só entra aqui quando Maycon vem. Ela não gosta de entrar aqui, porque diz que tudo aqui lembra o Jorge! Cada detalhe aqui foi escolhido por ele — diz ela olhando ao redor. — Esse quarto, Jorge mandou fazer especialmente para Maycon. Ele participou em tudo.

— Poxa, deve ser muito difícil para ela ar por aqui todos os dias. — digo.

— Deve ser sim; mas Cecília é forte. ar por aqui todos os dias para ela, é como enfrentar a dor de frente e não se deixar abalar. Cecília é incrivel! — diz ela em um tom de voz cheio de orgulho.

**********

A noite foi cansativa e eu prometi dormir na casa da Cecília junto com Linda. Cecília foi ao mercado e fez uma boa feira e trouxe uma torta de chocolate enorme para gente. Ela parecia animada; ela estava radiante. A cada palavra que ela falava, dez era Maycon. Dava para perceber o quanto ela o amava.

Eu fui dormir no mesmo quarto que Linda; ela foi a primeira a entrar no banho. Quando eu acabo de tomar banho e de me arrumar para dormir, eu a encontro em um sono profundo... ela parecia estar tão cansada. Minhas pernas estavam doloridas, porque eu tinha ficado muito tempo em pé no trabalho. Eu me deito ao lado da minha amiga e a cama é muito confortável. Quando eu finalmente aconchego minha cabeça no travesseiro, o meu celular toca. Eu abro um enorme sorriso. Eu já sabia quem era.

— Alô! — digo.

— Boa noite, minha menina! — diz Murilo do outro lado da linha. Eu amava aquela voz.

— O que você está fazendo acordado a uma hora dessas? — pergunto indo em direção a janela do quarto. Lá fora está ventando muito e a árvore que Cecília têm no jardim balança muito. Com certeza ia chover porque o céu estava todo rosado.

— Pensando em você e terminando um trabalho. — diz ele. — Imaginei que você iria andar de bicicleta hoje...

— Eu não fui porque, hoje eu vim ajudar Linda em uma coisa. — digo. — Se eu acordasse bem cedo, a essa hora já estava dormindo e não ia conseguir ajudá-la!

— Ajudar em quê? — pergunta ele.

— A limpar umas coisas na casa da amiga dela. Inclusive, ainda estou aqui e vou dormir por aqui mesmo. — digo sem entrar em detalhes.

— E onde fica?

— Jatiúca. — digo e Murilo suspira forte.

— Bem perto de mim... — diz ele.

— É, mas hoje eu não ia poder ver você! Eu prometi ajudar a Linda.

— Fez bem. — diz ele. — Então minha linda menina, eu vim pedir um favor.

— Mais um? — digo e ele cai na gargalhada.

— É, mais um. Mas esse você vai gostar! Eu gostaria de saber, se você topa em ir a uma festa de trabalho comigo... — diz ele. Eu fico em silêncio. — Rachel, está ai? — pergunta ele.

— Estou. — digo um pouco desconfiada. — O que você vai dizer para seus amigos, quando eles verem você chegando com uma garata como eu? — pergunto esperando uma boa resposta. Era óbvio que seria um festa chique, com pessoas chiques. Murilo é bem de vida, e consequentemente, as pessoas ao redor dele também. Eu não era uma mulher rica, e senti um pouco de medo dele me apresentar apenas como a "amiga" dele.

— Se perguntarem — diz ele, — direi que você é a minha Rachel Kelly.

— Sua? — pergunto. — O que faz você pensar que eu sou sua?

— Se não é agora, um dia vai ser! — diz ele com a voz quase falhando. — Mas pode ter certeza, Rachel —continua ele, — Eu sou seu!

Quando escuto isso, meu coração acelera e eu fecho os olhos lentamente.

— Eu não tenho tanta certeza disso. — digo.

— Logo logo você vai ter!

— Ok, eu topo ir à festa com você! — digo mudando um pouco o rumo da conversa.

— Ótimo. — diz ele. — Eu vou dar uma dica: as mulheres que trabalham na mesma area que eu, provavelmente vão social; não vá como elas. Vá como você

achar melhor e eu tenho certeza que vai chamar atenção!

— Boa noite, Murilo! — digo com um sorriso nos lábios.

— Boa noite, Rachel Kelly!— diz ele e eu desligo.

Assim que encerro a ligação, ele manda uma mensagem dizendo:

— Você sabe me deixar maluco.

Eu respondo:

— Você me provocou primeiro.

E ele manda vários corações.

Capítulo 15

Em plena sexta à noite, já estava eu procurando o que vestir. — Vá como você achar melhor! — disse Murilo. — E como eu acho melhor? — penso enquanto me olho no espelho. Eu abro o meu guarda roupa e vejo vários vestidos; alguns Linda deixou aqui para caso eu precisasse, outros eu tinha ganhado da minha mãe. Embora minha cor favorita fosse preto e vinho, amarelo era uma cor que caia bem com o meu tom de pele. Pelo menos é o que eu achava. Eu pego um vestido leve e um pouco rodado que fica bem acima do meu joelho. Ele é de alcinha e o decote é em V. Eu amo aquele vestido porque ele valoriza a minha cintura e as minhas pernas. E para deixar meu look mais charmoso, coloco um scarpin preto e deixo o cabelo solto e liso. Na maquiagem, eu não queria chamar tanta atenção para os olhos, embora Murilo amasse eles. Daquela vez eu queria destacar a boca. Eu estava com muita vontade de chamar Linda, mas ela tinha me dito que estava com muita dor de cabeça naquela noite. Linda sempre me ajudava com os looks. Eu já disse várias vezes que ela levava jeito para moda. Então, eu mando uma foto para ela no whatsApp e ela responde:

"Meiga, linda e sexy! Essas palavras vão te definir hoje. aproveite muito! Eu amo você, kel!"

Kel era um nome carinhoso que eu sempre ganhava da Linda quando fazia algo muito bom. Aquilo era um bom sinal! Eu ajeito os meus cílios postiços e respiro fundo; já são 20h15 e Murilo disse que aria aqui às 20h30. O nervosismo toma conta de mim e eu começo a me sentir insegura. — Será que os amigos dele vão gostar de mim? — penso. — Será que vai dar tudo certo mesmo? Será que ele vai me achar bonita? — penso. Mais uma vez eu fico parada em frente ao espelho me olhando e me lembro do que Linda sempre diz:

"Se arrume exclusivamente para você; se outros não gostarem, o problema é deles e não seu!"

Ela tem razão. Eu estava me sentindo bem e bonita. Do quarto, eu consigo ouvir uma voz famíliar. Eu abro a porta e lá está minha mãe na pontinha dos pés com os braços em volta do pesqueço do seu Renato. — Ei! — digo achando aquilo estranho e os dois olham para mim. Minha mãe também está arrumada e seu cabelo brilha.— Uau! Que bonita! — diz seu Renato.

— Vocês vão ficar sozinhos aqui? — pergunto me aproximando.

— Não! — diz minha mãe olhando apaixonadamente para seu Renato. — Nós vamos sair para jantar. Não é só você que vai sair para um encontro. — diz ela e seu Renato faz cara de surpreso.

— Então quer dizer que o envelope funcionou? — pergunta ele abrindo um sorriso malicioso.

— Parece que sim. — digo e alguém buzina na porta.

— Deve ser ele! — diz minha mãe. — Tenha cuidado e me mande mensagem quando chegar!

Eu faço uma careta para ela e vou indo em direção à escada. Eu estava super nervosa e minhas mãos estavam geladas.

— Divirta-se querida! E deixa a porta aberta, eu já vou descer também! — diz minha mãe me observando junto com o seu Renato, eu abrir a porta.

Os vidros do carro continuaram fechados quando eu abri o portão. Então, Murilo abre a porta do carro o suficeinte para poder vê-lo por inteiro, e diz:

— Com certeza você vai chamar atenção!

— Você gostou mesmo? —pergunto olhando para os meus sapatos.

— Muito! — diz ele me olhando de cima a baixo.

Eu apenas dou um sorisso para ele e caminho meia insegura para o outra lado, para poder entrar no carro. Lá dentro estava muito gelado e Murilo ainda estava de gravata. — Não conseguiu ar em casa? — pergunto.

— Hoje não. — diz ele. —Esse trabalho é bem corrido mesmo! Foi um milagre eu ter conseguido sair um pouco mais cedo. Escuta Rachel — continua ele, — você fica bem de amarelo!

— Obrigada! — digo sentindo as minhas bochechas ficarem vermelhas. — E você fica bem de preto... é uma das minhas cores favoritas!

Murilo abre um sorriso largo e sua covinha charmosa aparece novamente.

— Que bom que você gosta de me ver com essa cor. — diz ele.

Murilo fica o caminho todo concentrado. Eu olho para ele algumas vezes e me impressiono com a postura dele. Além de bonito e charmoso, Murilo a confiança. Ele é muito calmo. Murilo seria a segunda pessoa a me beijar; e isso me deixava insegura.— E se ele não gostar do meu beijo? E se ele me beijar e logo depois disso nunca mais me procurar? — penso.

— Em que você está pensando? — pergunta ele.

— Se você me beijasse naquele dia — digo, — você seria a segunda pessoa a fazer isso.

Murilo fica tenso com o que acabo de falar e respira fundo.

— E qual é o problema? Isso torna você ainda mais rara!

— E se você não gostar? — pergunto. Imediatamente me sinto uma criança por ter dito aquilo. Murilo sorri e diz:

— Você não tem cara de quem beija mal, Rachel! Mas e daí? Eu me sinto totalmente habilitado para ajudar você nisso!

Murilo me olha de lado e volta sua atenção para o trânsito. Eu estava morrendo de vontade de beijá-lo. Eu respirava fundo na tentativa de tomar alguma atitude, mas a minha insegurança não deixava. Eu sentia vontade de ser diferente das outras antes de mim; eu sentia vontade de fazer algo diferente. Eu era impulsiva,

mas com ele eu travava. Murilo entra em uma rua onde só têm edifício; a rua está tranquila e não a muita gente. — Para aqui! — digo e o meu coração acelera. Murilo me olha confuso, mas faz o que eu peço.

— Está tudo bem? — pergunta ele me olhando. Eu tiro o cinto e não me preocupo por estar de batom vermelho; eu simplesmente o agarro pela nuca e o beijo. Eu beijo ele com muita vontade e ele retribui. Murilo tira suas mãos do volante e segura o meu rosto. Ele me beija com muito gás e eu sinto que é hora de parar. Quando eu me afasto, vejo sua boca toda borrada de batom e nós dois caimos na gargalhada.

— Acho que você estragou sua maquiagem... — diz ele sorrindo.

— Eu tenho demaquilante aqui e trouxe o batom.

— Então quer dizer que você já estava planejando isso? — pergunta ele boquiaberto.

— Não... claro que não! — digo. Eu estou ofegante, e Murilo também. Ele me olha impressionado e em seus olhos dava para ver a vontade de fazer aquilo de novo. Murilo chega perto e eu coloco a mão em seus lábios. — Só mais um, por favor! Sussurra ele.

— E arruinar o resto da minha maquiagem? — digo. — Não posso mais! Vamos deixar para o final de semana.

Murilo se encosta no banco do carro e coloca as mãos na cabeça.

— Você vai acabar me matando assim, Rachel! Já que não está disposta a borra mais um pouco o seu batom; será que você poderia me limpar agora? — pergunta ele sorrindo e logo depois fecha os olhos.

— Trabalhe seu auto-domínio Murilo. Você vai precisar muito! — digo e ele lamenta.

— Você é impulsiva! — diz ele tirando a gravata. — Eu já tinha esquecido como era ser assim!

Eu estreito os olhos para ele e digo:

— Isso quer dizer que você está ficando velho demias! — brinco e ele começa a ri.

A risada dele é boa e muito gostosa de ouvir. Para minha felicidade eu estava sentada, e com isso Murilo não podia vê minhas pernas tremendo.

Paramos em frente à uma casa grande e eu não conseguia ouvir muita coisa. Achei estranho, porque se era realmente um festa, no mínimo, era para a música estar alta. — Não tem música? — pergunto olhando para a casa.

— Tem. Mas a casa é mais para dentro, por isso não conseguimos ouvir bem. —

diz ele pegando o celular. — Eu vou ligar para o Rafael. Ele vai vir abrir a porta!

Eu estava começando a ficar ainda mais nervosa. Hoje eu ultraei os meus limites, e fiz muita coisa que eu não deveria fazer; quer dizer, era isso o que eu achava. Murilo fala rápido com Rafael e arruma a camisa antes de abrir a porta do carro. — Ainda estou sujo de batom? — pergunta ele sorrindo.

— Hum... um pouco. — digo tirando sarro dele e ele pega no meu braço e me puxa para mais perto. — Eu vou ter que esperar até amanhã mesmo? — pergunta ele. Eu começo a sentir minha respiração falhar.

— Assim você me deixa nervosa, Murilo! Eu estou tendo difuculdade até para respirar! — digo e ele gargalha.

— Tô tentando descontar às vezes que você fez coisa pior comigo. — diz ele.

— Eu não fiz nada. — digo.

— Só de olhar para mim com esses olhos grande e escuros você me deixa um pouco agoniado... eu confesso! Mas não são só os olhos; é o seu jeito de falar, de andar, a sua ousadia de menina, a sua coragem... você parace ser cheia de atitude. Eu pude comprovar isso à poucos minutos. — diz ele.

— Eu gostaria de pensar o mesmo sobre mim. — digo e ele franzi a testa.

— Eu vou me encarregar de te ajudar à descobrir isso em si mesma. — diz ele abriando a porta do carro.

Murilo vem até a porta do meu lado e abre para mim. Ele pega a minha mão e me tira de dentro do carro com muito charme. Era inevitável não irar a elegancia dele e o seu cavalherismo. — Escuta minha Rachel — diz ele segurando as minhas duas mãos, — eu quero entrar lá de mãos dadas com você... mas isso só vai ser possivel se você permitir.

Eu engulo em seco e me sinto apavorada.

— Talvez não seja uma boa ideia. — digo e vejo que a decepção toma conta do belo rosto dele.

— Tudo bem. — diz ele. — Eu respeito sua decisão. Ao menos posso colocar seu braço em volta do meu? — sugere ele criando esperanças.

— Eu sou muito insegura, Murilo. Me desulpa! Talvez a gente entre com os nossos dedos midinho entrelaçados... o que acha?

— Acho justo pelo fato de você ter roubado um beijo meu e por ter me borrado de batom! — brinca ele.

— Rachel Kelly! — diz Rafael ao abrir a porta acabando com o nosso clima.

— Hey, amigão! — diz Murilo indo abraçá-lo. Os dois se abraçam e eu vejo o grande vínculo de amizade que eles tem. Rafael fechou os olhos para abraçar ele; eu fazia o mesmo quando abraçava minha amiga Linda. Aquilo era único. Era como se nós duas tivéssemos nascido da mesma barriga.

— Por quê Linda não veio com vocês? — pergunta Rafael.

— Muita dor de cabeça — digo. — Ela anda muito ansiosa com algumas coisas que vem fazendo.

— Vai ter outras oportunidades, amigão... — diz Murilo apertando o braço dele e Rafael lamenta.

Rafael está com roupa de trabalho. Ele está com roupa social, assim como Murilo. Realmente ele é muito bonito e charmoso... ele tem uma covinha no queixo, cabelos castanhos e um olhar de menino travesso com postura de homem mais velho. Nas últimas vezes que ele ficou perto da Linda, ele ficou meio desconcertado; diferente. Por um momento imaginei Linda aqui toda elegante e de mãos dadas com ele. Linda é alta e eles fariam um casal muito bonito. Linda e Rafael... um casal de peso. Murilo se aproxima de mim enquanto caminha e entrelaça seu dedo midinho no meu. Rafael faz cara de supreso, mas logo em seguida abre um grande sorriso e não diz nada.

Quando entramos na casa, a música realmente estava um pouco alta. Imediatamente, algumas mulheres olham para mim de cima a baixo e começam a cochichar uma com as outras. — Veja! — diz Murilo, — você mal chegou e já esta fazendo as mulheres te observar.

— E isso é horrivel! — digo.— Eu odeio ser o centro das atenções!

— Infelizmente minha Rachel, você vai ter que se acostumar com isso. Isso é algo natural de você! — diz ele ficando de frente para mim e dando um beijo na minha testa. — Ai vem os advogados curiosos... — diz ele baixinho no meu ouvido.

— Murilo! — diz um homem parecendo um pouco mais velho que ele. O cabelo dele era como o do Richard Gere; e junto com ele, está outro homem todo empalitosado que me olha atentamente. — Opa Leonardo! — cumprimenta Murilo de volta. — Tudo bem, Michael? — diz Murilo percebendo que ele não para de olhar para mim.

— Claro... — diz ele desconfiado. — Até que fim você resolveu vim mais uma vez a nossa festa.

— Que nada cara, eu que agradeço por me convidarem mais uma vez.

— Marques! — diz o homem com o cabelo do Richard Gere, - alí está Ruan! O que acha de conhecê-lo melhor?

— Pode ser! — diz Murilo me olhando. — Você pode ficar um pouco alí com Rafael? — pergunta ele levantando as sobrancelhas.

— Ah... claro! — digo.

— E quem é essa mocinha? — pergunta o senhor de terno e eu faço a minha melhor cara de antipática. Aquele homem me olhava com cara de nojo e eu estava odiando isso.

— Essa mocinha se chama Rachel. — digo dando um sorriso forçado. — Eu vou ficar alí esperando você!

— Ok. — diz Murilo. — E eu gostei do jeito que falou com esse babaca. — diz ele no meu ouvido. — Depois explico melhor!

Eu vou até Rafael que está pegando um pouco de bebida. — Aqui as pessoas são esnobes mesmo ou só é coisa da minha cabeça? — pergunto.

— Muitas pessoas aqui são assim mesmo. Infelizmente a gente tem que lidar com elas diariamente! — diz ele tomando um gole de cerveja. — Eu preciso te contar algo. — continua ele.

— Pode dizer Rafael. — digo ando confiança para ele. Seus olhos estão um pouco distantes e eu me preocupo com ele.

— Eu não paro de pensar na sua amiga... — diz ele e eu faço cara de espanto.

— Como assim? — pergunto gaguejando.

— Você entendeu. — diz ele dando um sorriso fraco. — Ela tem alguma coisa

que chamou muita a minha atenção, sabe? Eu nunca tinha esbarrado em alguém como ela.

— E o que você quer que eu faça? — pergunto sem saber o que dizer. Aquilo era um grande problema! Linda estava se empenhando em tentar conquistar Maycon, um homem que fazia parte da sua infância e adolescência.

— Crie oportunidades para ela me conhecer melhor. —pede ele.

— Não sei se no momento isso seria uma boa ideia. — digo e ele franzi a testa. — Tem muita coisa envolvida! — digo e percebo que ele fica um pouco triste. — Mas eu posso tentar.

— Por favor! — insiste ele. — Eu pretendo me chegar devagar... sem chamar muita atenção.

— Pobre Rafael! — penso. Como sem chamar atenção? ele não é o tipo de homem que não chama atenção. — Isso seria ótimo!— digo dando apoio moral, — mas agora tente se animar.

— Não tem como. — diz ele tomando outro gole de cerveja. — Estou exausto... eu vim praticamente obrigado.

Eu começo a ri e volto minha atenção para Murilo que me olha de longe. Ele estava conversando com dois homens super empolgados, quando entrou um grupo de mulheres; e com elas entrou uma loira alta e bonita usando um vestido

longo com um decote grande.

— Droga! — diz Rafael e eu me assusto. Eu olho para Murilo e ele me olha de volta e logo depois olha para ela.

— Quem é essa? —pergunto e Rafael coça a cabeça.

— Essa é Michele, ex-namorada do Murilo. — Quando ele diz isso eu sinto um aperto no coração. Ela está indo em direção ao Murilo e ele olha para mim. — Não se preocupe Rachel — diz Rafael. — Vamos até lá!

Ela chega e cumprimeta todos com um aperto de mão; mas quando vai cumprimentar Murilo, ela o beijo em sua bochecha. Fica evidente a preocupação dele quando ele me olha e vê que estou chegando mais perto com os olhos cheios de raiva.

— Michele! — diz Rafael.

— Oi Rafael! — diz ela sorrindo. Ela me olha franzindo a testa e pergunta:

— E você?

— Minha Rachel! — diz Murilo antes que eu abrisse a boca para responder. Ele chega perto de mim e a seu braço em volta do meu pescoço. O semblante dela muda imediatamente. — Sua nova namorada? — pergunta ela e eu me

imagino em um labirinto.

— Murilo, você pode me levar até o banheiro? — pergunto tentando fugir com ele dalí.

— Claro! — diz ele pegando no meu dedo midinho. —Com licença, eu volto daqui à pouco.

Rafael se segura para não rir e novamente toma mais um gole de cerveja.

— Você vai ter que levar Rafael hoje! — digo. — Ele está bebendo muita cerveja.

— Eu levo ele no carro dele e você vai bem atrás da gente dirigindo o meu carro. O que acha?

— Ótimo! — digo.

— Eu devo a vida ao Rafael!— diz ele andando um pouco rápido.

Quando chegamos em frente ao banheiro, eu seguro firme o braço dele. — Aquela é sua ex, não é? - pergunto olhando atentamente para ele.

— É... mas você não deve se preocupar com ela.

— Ela beijou você na bochecha e você não disse nada! — digo demonstrando o quanto aquilo me deixou irritada.

— Ei! — diz ele com as mão no meu rosto. — Você que ir embora?

— Prefiro. — digo.

— Então vamos... eu vou chamar Rafael.

Quando estamos chegando perto dos advogados e daquela linda mulher que está parada de braços cruzados; Murilo coloca suas mão em minhas costas e ela faz cara de surpresa. Ela não faz cara de decepção, o que seria comum porque ela era ex namorada dele; ela simplesmente levanta sua sobrancelha bem feita e abre um sorriso de deboche. Ela estava tentando ar algum recado para mim? eu não sabia. Eu senti que algo não estava certo... senti que ela sabia de algo ou que já estava acostumada com aquilo. Eu já vi mulheres e homens reagindo daquela maneira; e no final as coisas sempre davam errado. — Rafael, você não tinha que resolver uma coisa agora? — diz Murilo tentando arrumar uma desculpa para sair dalí e eu abro bem os olhos. Rafael por um segundo faz cara de confuso, mas logo depois entra no joguinho dele.

— Ah, claro! — diz ele depois de tomar um gole de cerveja. — Eu tenho que ir buscar minha mãe em uma festa agora! Rapazes... — diz ele colando o copo de cerveja em cima de uma mesa, — o dever me chama!

Michele mais uma vez levanta as sobrancelhas e toma um gole da água que está em sua mão. — Então quer dizer que sua mãe anda em festas agora, Rafael? — pergunta ela cheia de ironia e isso me faz perceber que ela conhece Rafael bem demais.

— As coisas mudam, Michele. — diz Murilo e o sorrisinho falso dela some. — Boa noite meus queridos! Eu vejo vocês na segunda. — diz ele me puxando para ir embora. Murilo começa a dar os largos e eu me esforço para acompanhá lo.

— Ei! Eu estou de salto! — digo e ele diminui o ritmo.

— Na próxima vez que for mentir sobre algo, me avisa! — diz Rafael bem atrás da gente.

— Eu vou levar você em casa e explico melhor as coisas. - diz ele.

— Me levar? E por quê você faria isso?

— Rachel acha perigoso você ir dirigindo porque estava bebendo cerveja. — Rafael solta um riso forçado e diz:

— Rachel, obrigado por se importar comigo.

— Só estou prologando a sua vida. — digo. — Como pensa em namorar a

Linda, se não trata de estar vivo para isso?

Murilo não se controla e dá uma gargalhada.

— Vocês se merecem! — diz ele.

Antes de entrar no carro do Rafael, Murilo vem até mim e diz:

— Não se preocupe com ela, Minha menina. Eu sei que isso te deixou um pouco desconfiada.

— Será que não devo me preocupar?

— Não deve! diz ele colocando as mãos em meu rosto. — Somos dois adultos bem resolvidos e não dois adolecentes indecisos.

— Assim você vai tirar minha maquiagem! — brinco e ele segura as minhas mãos. — Você não deve se preocupar com que eu penso agora, afinal ainda não somos um casal e eu não tenho certeza se você vai ficar até o final.

— Até o final? — pergunta ele confuso. — Vamos, gente! — apressa Rafael e Murilo não dá atenção.

— Se você vai permanecer até o fim. — digo. — O primeiro fugiu; e como eu posso ter certeza que o segundo não fará o mesmo?

— Eu poderia simplesmente responder a essa pergunta um pouco ofensiva dizendo algo à altura. Mas eu vou responder através das minhas ações, Rachel. Ao contrário do primeiro, que me pareceu um pouco indeciso, o segundo não é. O segundo, que no caso sou eu — diz ele destravando o carro e me dando as chaves, — não é um moleque... e sim um homem que sabe muito bem o que quer! Agora já pode entrar no carro e por favor, dirija com cuidado.

— Talvez eu tente fazer uma disputa de quem corre mais. — digo e Murilo estreita os olhos para mim.

— Você ganharia. — diz ele biscando o olho. — Ei! eu ouvi isso em! — diz Rafael percebendo que Murilo estava tirando sarro do carro dele.

No caminho eu não quis disputar em nada. Eu não conseguia parar de pensar naquela loira alta e bonita. Murilo tem bom gosto para mulheres eu tinha que itir... mas o que será que fez ele terminar com aquela mulher tão linda? Michele tem olhos cor de mel, que embora não estivesse em um lugar tão claro, eles ainda assim chamavam atenção. Eu tinha muitas dúvidas e eu pretendia acabar com elas amanhã. O carro do Murilo é leve, confortável... eu não tive dificuldade de dirigir ele. De repente começo a sentir os lábios do Murilo nos meus. A lembrança do nosso beijo está bem fresca na minha cabeça. — Vale a pena me arriscar? — me pergunto. Eu saí de um relacionamento complicado onde a pessoa me deixou pelo simples fato de eu ter problemas emocionais. — Talvez a sensação de algo misterioso, de algo para se descobrir, esteja prendendo você Rachel! —digo em voz alta.

As ruas estavam movimentadas e para distrair um pouco, eu ligo o som do

carro. Imediatamente, uma voz boa de se ouvir começa a cantar. A música não parecia ser nova; com certeza era bem antiga. Na música, o homem que tem voz de alguém mais maduro, canta um aviso: "Quando notares estás à beira do abismo. Abismo que cavaste com os teus pés". Eu começo a escutar bem a letra da música e a prestar bastante atenção a cada coisa que o cantor queria dizer. "Preste atenção amor, o mundo é um moinho." — diz ele. A música conta a história de alguém que dá um conselho para outra pessoa. E simplesmente, eu começo a me identificar com ela. Com a letra. Com a melodia. Com o samba gostoso de se ouvir.

***********

Quando chegamos na porta da minha casa começou a chuviscar. — Não vai esperar parar de chuver? — pergunta Murilo com a cabeça encostada no bando do carro.

— Não faz mal se molhar um pouco. — digo. Ele sorri.

— Minha menina... — diz ele com seus olhos cansados. — Você é realmente dificil de se conquistar, não é?

Eu não digo nada e o encaro. Como eu poderia dizer a ele que eu estava com medo e ao mesmo tempo me sentindo corajosa o suficiente para mergulhar naquele olhar verde como o oceano no verão? Talvez eu deixasse ele ainda mais confuso.

— Sou! — digo acariciando o rosto dele. — Mas acredito que amanhã a gente se resolva.

— Mesmo? — pergunta ele se animando.

— Mesmo. — digo.

— Eu sinto muito pelo o que a vida fez você ar, minha menina. Mas acredite em mim, vai chegar uma hora que isso não vai mais doer. Não vai mais te incomodar! Uma hora as coisas começam a dar certo. — diz ele.

— Como posso ter certeza disso Murilo? Afinal, o mundo é um moinho, não é? — Murilo dá um sorriso no canto da boca e me observa atentamente. Quando ele me olhava daquele jeito, tudo saía do controle em mim... tudo mudava. Murilo destrava a porta do carro sem dizer nada e eu respiro fundo. — Não me leva a mal por estar sendo assim. Eu saí de um relacionamento à pouco tempo e tudo isso está sendo avassalador! — digo.

— Avassalador, é? — diz ele com um sorriso malicioso em seus lábios. — Eu gosto dessa palavra! — continua ele. — Essa palavra combina com você, minha Rachel. Por isso, eu te peço que saia do carro antes que eu beije você!

— Não posso brincar com fogo uma hora dessas... — digo abrindo a porta e Murilo começa a ri. — Foi muito bom estar com você a esta noite Murilo. Tenha uma boa noite!

— Boa noite, Rachel Kelly. — diz ele e em seguida vai embora sem me dizer o mesmo.

Capítulo 16

Era sábado. Sim senhoras e senhores, já era sábado! E como eu estava? Muito nervosa. Eu estava sentada em frente ao meu guarda roupa procurando algumas roupas para o meu incrível e tão esperado final de semana. — Você só vai ficar um dia, Rachel! — diz Linda deitada na minha cama.

— Um dia em que eu preciso estar bem arrumada! — digo tirando roupas de banho de uma gaveta.

— Ele já viu você de pijama e sem maquiagem... não precisa se preocupar com mais nada. — diz ela e eu jogo uma blusa na cara dela. — De que horas ele vem buscar vocês? —pergunta ela olhando para o teto. Linda estava ansiosa; e quando ela se sentia assim, ficava de mal humor.

— Às 17h. — digo olhando para ela. — Ainda pensando no Maycon?

— Todos os dias. Eu acho que vou enlouquecer! Eu já tinha esquecido como é estar apaixonada.

— E o que mais te preocupa? — pergunto. Ela senta na cama.

— Não sei... talvez ele venha com a namorada.

— E não seria melhor descartar qualquer possibilidade com ele? Eu sei que você jamais faria algo para tentar destruir o romance de alguém!

— E quem foi que disse que eu quero fazer isso? — diz ela saindo da cama e sentando ao meu lado no chão. — Eu só quero que ele saiba como eu me sinto.

Linda estava a semana todo diferente. Distante. Em seus olhos não havia brilho; ela estava perto e ao mesmo tempo longe.

— Seria bom pra você ir comigo lá para casa de praia do Murilo... — digo.

— E acabar ainda mais com o clima? — diz ela. — Nunca! Sua mãe já vai no meu lugar... o que é mais constrangedor, porém necessário.

— Muito necessário! — digo colocando algumas roupas na bolsa.

— Rachel — diz ela segurando no meu braço e me interrompendo. — Eu estou muito feliz de vê você assim. Como eu posso dizer... radiante! Você está mais sorridente; está mais leve, está até se arrumando mais. Murilo está fazendo muito bem a você! Não que você precise dele para se sentir bonita, mas ele está mudando algo em você.

— Eu não consigo ver isso. — digo sem fazer contato visual com ela.

— Uma hora você vai perceber...

— Você acha mesmo que levar a minha mãe é tão constragedor assim?

— Óbvio! — diz ela e começa a ri. — Mas necessário! — conclui.

Linda me ajuda a organizar tudo e quando acabamos, saímos um pouco do quarto. A sala estava uma bagunça e havia bolsa de um lado, sacola do outro e alguns chapéus de praia. — Só vamos ar um dia mãe! — digo e ela para no meio da sala.

— Quê? eu só estou levando o necessário. — diz ela.

— Necessário! - repete Linda e cai na gargalhada.

— Não dê apoio moral a ela, Linda! Ela está levando mais coisas do que eu!

— Eu vou estar de vela, então não reclama muito se não eu desisto. — ameaça ela.

— A senhora não ousaria. — digo estreitando os olhos.

— Reclama mais... — diz ela.

— Eu já vou indo. — se despede Linda me abraçando. — Vou me organizar, porque mais tarde irei dormir na casa da Cecília.

— Domingo às 18h estarei lá! — digo. Linda assente.

— Te espero! — diz ela ainda sorrindo. Antes de sair, Linda dá um abraço forte em minha mãe e vai embora.

***************

Quando eu saio do banho, Murilo liga. Eu me assusto e penso:

— Será que ele está aqui na porta?

Murilo era imprevisível e sempre me surpreendia.

— Oi! — digo ao atender a ligação.

— Estou ansioso para ver você. — diz ele.

— Você vai me ver daqui a 3 horas.

— Errado. Daqui a 30 minutos! — diz ele e eu bato o dedo mindinho do pé na quina da comôda.

— Droga! — grito sentindo uma dor muito forte.

— O que aconteceu? — pergunta ele.

— Como assim daqui a 30 minutos? — pergunto

— Se prepare, daqui a pouco eu apareço aí para buscar vocês! Eu quero ver o pôr do sol com vocês; e para isso, a gente tem que sair um pouco mais cedo. Para chegar lá vamos levar 1 hora.

— Ok... te vejo em 30 minutos. — digo.

— Um beijo, minha menina.

— Um beijo grandão! —Quando digo isso ele fica sem fala. Afinal, eu ainda não tinha dado apelido carinhoso a ele. Eu corro para sala e vejo minha mãe falando no celular. Ela estava se olhando no espelho preferido dela e ava a mão em seu cabelo. Aquilo me faz desacelerar por um momento e eu começo a observála. Dona Renata sorria enquanto se olhava no espelho, e atravéz dele eu pude vê seus olhos brilharem. O amor tem esse efeito nas pessoas; o amor traz brilho e vida. E era assim que eu via a minha mãe. — Murilo chega em 30 minutos. — digo e ela leva um susto.

— 30 minutos? — diz ela surpresa.

— Sim. Melhor se apressar!

— Renato, ele vai chegar em 30 minutos. Quando eu chegar lá aviso! — diz ela encerrando a chamada e corre em direção ao quarto. — Esse menino é cheio de surpresas... — diz.— 30 minutos! — repete.

— Yeah! — digo cheia de ironia.

Quando Murilo buzina, ainda estou ando máscara para cílios. — Mãe, pede para ele entrar por favor! — digo, mas ela não responde. Eu acho um pouco estranho, mas continuo o que estou fazendo. — Ela está no quarto terminando de se arrumar. — diz minha mãe e eu engulo em seco. E bem atrás de mim, aparece Murilo com uma calça jeans e camisa branca. Seu cabelo está molhado e seu perfume invade o meu quarto. Seus olhos se fixam em mim atravéz do espelho e eu me lembro do dia em que fui na casa dele, quando ele estava bêbado. Ele se encosta na parede e ainda me olhando, diz:

— Você está linda meu amor!

Eu não consigo segurar o riso e fico vermelha. — E com certeza deve estar bem cheirosa... — diz ele se aproximando. Eu continuo sem ação e fico paralisada. Não tinha como não ficar daquele jeito; Murilo era encantador e sedutor. Ele para bem atrás de mim e tira as mãos do bolso bem devagar e eu continuo calada observando cada ação dele. Murilo me envolve em seus braços e colocando seu nariz no meu pescoço sussurra: — Eu sabia! Com toda certeza, esse é um dos melhores cheiros que eu já senti!

Quando diz isso, ele me vira rápido e eu faço um som de protesto.

— Vou sujar você! — digo.

— Não tem problema! — diz ele acariciando o meu rosto. — Você me deixa meio bambo, Rachel. E por incrível que pareça, você consegue fazer isso com apenas um olhar.

— Dá para perceber... — digo colocando o ouvido em seu peito. O coração dele estava acelerado e sua respiração estava forte. —Me dê sua mão! — peço e ele faz o que eu digo. — Sinta o meu coração! — digo colocando a mão dele em meu peito. — Agora você já sabe que não é o único a se sentir assim. Eu tenho medo, Murilo. Eu tenho pavor do que pode acontecer comigo se você não me lavar a sério! — digo com a mão dele ainda em meu coração. — Você não imagina o efeito que tem sobre mim... Se soubesse, com certeza tomaria mais cuidado. Tenha paciência comigo e eu vou providenciar que você fica para sempre em minha vida!

— Para sempre... — diz ele.

— Para sempre! — repito com confiança.

— Ok. — diz ele respirando fundo. — Vamos! Eu vou levar as coisas de vocês para o carro.

No caminho para Tabuba, minha mãe acabou adormecendo no banco de trás e Murilo estava concentrado dirigindo. A Luz do sol entrava pela janela do carro e o iluminava. Seus braços eram fortes e peludo, e por causa da luz, eu conseguia ver sua barba que estava crescendo. Murilo parecia ser bem mais velho do que eu; isso era óbvio. Sua postura era mais seria, seu jeito de falar ava mais confiança e seu autodomínio era uma característica dele. Com certeza ele não era perfeito naquilo, mas se saía muito bem tentando.

— Se continuar me olhando assim, você vai tirar a minha atenção do trânsito!— diz ele.

— Desculpa. — digo.

— Espero que goste do que está vendo...

— Muito mais do que você pode imaginar... — digo. Murilo respira fundo e se ajeita.

— Acho que o jogo está virando e você está me deixando bem mais constrangido agora.

— Um dia da caça e outro do caçador! — digo. Murilo começa a ri.

*********

A casa de praia dele era de primeiro andar. Na casa tinha uma piscina, uma area para fazer churrasco com os amigos e o melhor de tudo, ela era de frente para o mar. — Acho que vou pegar um lençol. — diz minha mãe. O vento estava forte e estavamos na varando que ficava em cima, perto dos quartos. O pôr do sol estava lindo e a máre estava cheia.

— Traga um para mim mãe! — peço e ela assente. Eu olho para Murilo e sua atenção está toda no mar. Seus olhos estão atentos nele. — Em quem você tanto pensa? — pergunto olhando para ele.

— Eu gosto do barulho das ondas e da maneira em que elas sabem exatamente até onde devem parar. Não é incrível? — pergunta ele.

— É... — respondo.

— Mas aqui também me lembra muito a minha mãe. Ela amava este lugar e tudo que tem aqui. O primeiro lugar que ela costumava a visitar quando voltava do Rio de Janeiro, era esse lugar.

— Sua mãe era carioca?

— Sim. Eu também sou.

— E seu pai? — pergunto.

— Agora não é hora para tirar as suas dúvidas. — diz ele voltando sua atenção para o mar. — Prometo que mais tarde vou tirar todas elas. Mas agora, eu gostaria que você apreciasse esse lindo pôr do sol.

Eu respeito a decisão dele de não falar sobre a família... eu não queria atrapalhar aquele momento. Seu olhar estava triste, e com certeza ele estava pensando em sua mãe. Ele apreciava a beleza do mar junto do seu céu, e eu apreciava a beleza dele. E como ele queria, ficamos nós três vendo o pôr do sol.

Capítulo 17

Depois do jantar, eu me senti cansada e disse que iria cochilar um pouco. O que eu não esperava, era que eu iria dormir para valer. Eu abro os olhos e vejo minha mãe ao meu lado. — Dormi demais! — sussurro. No quarto da gente tinha um banheiro, e ao me levantar, eu vi pela brecha da porta que a luz ainda estava acesa. — Murilo ainda está acordado! — penso. Antes de sair do quarto, eu escovo os dentes e arrumo o meu cabelo. Minhas mãos estavam geladas de nervoso. Eu ainda pretendia tirar as minhas dúvidas e aproveitar um tempo à sós com ele. O quarto dele era de frente; quando abro a porta, vejo que a porta do quarto dele está aberta. O som do mar estava forte e Murilo não estava no quarto. — Cadê você? — penso. A porta da varanda está aberta e a luz do corredor ilumina até as escadas. Eu ando pelo o corredor devagar; na ponta dos pés. O vento soprava forte e gelado; o mar estava em plena e profunda escuridão. Naquela praia não havia poste de luz, e por isso eu só ouvia o som do mar. Quando chego na varanda, eu vejo Murilo sentado de frente para o mar. Ele está paralisado observando a escuridão enquanto escuta algo em seus fones de ouvido. Ele está sentado de uma forma incorreta, quase deitado na cadeira e enrolado em um lençol. — Ei! — sussurro. Mas ele não escuta. Eu vou até ele dando os leves.— Oi... — digo colocando a mão no ombro dele. Murilo aperta a minha mão e eu vou para o seu lado.

— Senta do meu lado por favor! — pede ele. Eu puxo a outra cadeira e faço o que ele pede.

— Não consegue dormir? — pergunto.

— Não... na verdade, eu estava aqui pensando nas suas perguntas.

— Não faça isso com você. — digo, — eu poderia ter acordado só amanhã pela manhã.

— É, mas não acordou. Eu sabia que você ia acordar no meio da noite e me procurar. Você é um pouco impulsiva e curiosa... não acredito que conseguiria dormir para valer.

— Isso foi um insulto ou um elogio? — pergunto.

— Um elogio! — diz ele olhando para mim. — Eu gosto disso em você, Rachel. Geralmente, pessoas impulsivas não pensam muito antes de agir. Ser impulsivo é agir sem pensar... mas, sinto que com você é diferente. Você é do tipo que planeja o que não deveria fazer, mas vai lá e faz. Acho que não chamarei você mais de impulsiva; mas de corajosa. É... você é corajosa!

— E você é lindo e muito paciente! — digo. Ele abre um lindo sorriso tímido.

— Talvez só paciente. — diz ele olhando o mar.

— Acho que essa é a hora de começar a perguntar... — digo. Murilo está calmo. Sereno. Ele falava devagar e mais pensativo. O mar parecia estar agitado; o som era muito agradável.

— Pode começar. — diz ele e puxa a cadeira para mais perto. Murilo tem braços fortes, e puxou uma cadeira aparetemente pesada comigo junto. Eu fiquei impressionada. E mesmo tentando não ser romântico, ele sabia fazer aquilo

muito bem.

— Bom — digo me recompondo. — Vamos começar pela história da sua mãe.

Murilo respira fundo e diz:

— Ela morreu há dois anos. Eu a encontrei morta no quarto. Foi assustador! — diz ele sem emoção. — Ainda tenho pesadelos com aquele dia.

— Eu sinto muito! — digo segurando a mão dele. — Eu não posso imaginar a sensação de sentir essa dor; mas sei que isso pode doer muito!

— Muito mesmo! — diz ele.— Naquela noite, eu tentei me distrair e não pensar. Mas falhei! Eu me culpo muito por não ter feito algo para impedir.

— Mas você não tem culpa! Não tinha como adivinhar que ela faria aquilo.

— Ela deu vários sinais, Rachel! — diz ele com a voz trêmula. — Minha mãe era tudo para mim! Ela me ensinou valores; me ensinou como agir em várias situações. Com ela eu aprendi muitas coisas. Com aquela mulher incrível, eu aprendi a ser um homem! Ela era muito mais do que uma grande mãe; ela era minha melhor amiga. E chegou uma fase da minha vida, onde eu queria conhecer o mundo, conhecer pessoas, ter experiências... e justo nessa fase, ela ficou doente. Ela descobriu que tinha depressão. E eu abandonei ela, Rachel! Eu vim para Maceió atrás de não sei o que, e deixei ela no Rio.

Eu não sabia o que dizer e isso estava me deixando apavorada.

— Mas você deve ter pensado melhor e mudado de atitude. Até porque, antes dela adormecer na morte, ela estava com você, não foi? — digo tentando ser positiva.

— Eu mudei de atitude tarde demais. — lamenta ele.

— Antes tarde do que nunca! — digo tentando ar confiança. — A dor da depressão é pesada demais, Murilo. A gente sente uma dor no peito inável. A gente sente que não vale nada, e que o mundo seria melhor se a gente não existisse... A depressão é uma dor emocional muito forte; e chega uma hora que essa dor e esse sentimento de inutilidade fica pesada demais para gente carregar. E infelizmente, através disso, algumas pessoas tentam aliviar a sua dor tirando a própria vida.

— É isso que você sente? — pergunta ele apertando a minha mão.

— Algumas vezes. — digo. — Me considero mais ansiosa do que depressiva; mas a dor de se sentir inútil é demais para mim. Sua mãe também se sentia assim! Então não se culpe por isso... sua mãe deixou de sofrer e adormeceu, deixando assim de carregar esse peso. Agora ela está descansando e algum dia irá acordar!

— E como você pode ter certeza disso? — pergunta ele olhando para o mar.

— Alguém que não pode mentir prometeu isso! — digo.

— Você é incrível, minha menina! — diz ele e em seguida beija a minha mão.

— Mas agora, você vai me responder de onde me conhece...

— Orla. — diz ele. Eu abro um sorriso e ele continua: — Era uma manhã quente, apesar de ser 6 horas da manhã. Mas lá estava você; sentada na areia da praia com sua bicicleta velhinha e tomando aguá de coco olhando o mar. Você se balançava e cantava baixinho... mas nunca me notou.

— Como eu não notaria você? — digo.

— Você não notou, Rachel.— diz ele sorrindo. — Você estava ocupada demais apreciando o mar e tomando sua aguá de coco enquanto ouvia música. Você sempre ava na mesma hora, e sempre ficava no mesmo lugar... — conta ele. — Um dia não teve racha, e eu tinha ado à noite em claro. Você desceu da bicicleta e respirou fundo. Você estava diferente e parecia muito triste. Você sentou na areia e tirou o seus lindos óculos de sol e ficou paralisada olhando o mar. Depois dalí; depois que vi esses olhos, o formato deles e cada detalhe do seu rosto, fiquei encantado! Sua expressão era forte. Cheia de orgulho. Eu tive vontade de me aproximar, mas não tive coragem. Eu fui intimidado por esses olhos negros que me olharam e me deixaran sem ação.

— Eu não lembro disso! — digo perplexa.

— Eu sei. Sua mente estava longe e naquele momento, você estava emocionalmente cega. Alguma coisa naquela hora te impediu de me enxergar.

— Acho que isso não estava acontecendo só com você; mas com todos ao meu redor.

— Bobagem. Eu não ia desistir de falar com você! — diz ele se ajeitando na cadeira. — Depois de muitos dias, encontrei você no supermercado. Eu queria que você me visse; então resolvi esbarrar em você.

— Então foi você? — pergunto boquiaberta.

— Óbvio! — diz ele. Aquilo parecia demais para ser verdade. Eu estaria sonhando? talvez. O vento soprava e bagunçava o cabelo dele. Seus olhos estavam escuros escondendo um tom de verde lindo, assim como a escuridão escondia o verde do mar.

— Mas agora as coisas estão diferentes. — digo. — Estou me sentindo bem melhor. Ando me sentindo mais leve... mais tranquila. E eu acredito que você tenha uma parcela de culpa nisso.

— Eu esperei muito para ouvir isso! — diz ele dando um beijo na minha mão.

— Quando eu precisei, você veio me ajudar. Quando eu estava me sentindo sozinha, você veio acabar com a minha solidão me fazendo lembrar de algo bom. Eu quero que você saiba, que eu também vou estar aqui quando você

precisar! Estarei aqui para impedi-lo de chorar na orla feito um bebê! — digo, e Murilo solta uma gargalhada boa e gostosa de se ouvir.

— Claro... como um bobão! — diz ele.

— Como um bobão lindo! — digo.

— Eu estou completamente apaixonado por você, Rachel Kelly! — diz ele me olhando como sempre faz.— Eu me apaixonei por você desde o primeiro dia que vi você naquela orla. E me apaixonei ainda mais, quando você citou um techo da música do cartola "O mundo é um moinho". Você foi a primeira mulher que criou uma trilha sonora para uma conversa dentro do carro às 3 horas da manhã. E com isso — diz ele se levantando, — eu me sinto na obrigação de criar uma trilha sonora para nós dois bem aqui!

Murilo me levanta e me encosta no parapeito de madeira. Eu fico contra o vento e ele começa a bagunçar o meu cabelo, que começa a ir para frente. Murilo tira o celular e coloca a música do começo. — Agora vou colocar os fones em você. Preste atenção na letra! — diz ele. A músia começa com a linda voz da Ana Carolina dizendo: "é isso aí".

Murilo começa arrumar o meu cabelo delicadamente para trás, enquanto Ana Carolina canta em meus ouvidos. Ele coloca o meu cabelo todo em sua mão direita e segura firme. A voz do Seu jorge domina os meus ouvidos e eu sinto uma calafrio. — Agora vou colocar um lado do fone no meu ouvido. — diz ele. — Essa música foi feita para nós dois... ela diz exatamente tudo o que eu sinto. Tudo o que eu gostaria de cantar para você!

Murilo inclina minha cabeça um pouco para trás ainda segurado o meu cabelo. A luz da lua começa a iluminar os seus lindos olhos. —Eu acho que também estou apaixonada por você! — digo. Murilo sorri.

— Então vamos nos apaixonar ainda mais, minha menina! Permita que eu beije você agora...

— Você não precisa de permissão! — digo, e ele não me deixa terminar a frase. Murilo me beija delicadamente assim como o toque da música em nossos ouvidos. O beijo dele é diferente e calmo. E alí, em frente aquele mar, entreguei o meu coração a ele escutando Ana Carolina e Seu Jorge. É isso ai.

**************

O dia estava lindo e eu me sentia melhor do que nunca. Murilo sorri enquanto observa a minha mãe tomar banho de mar e fazer palhaçada. Eu estava vestindo um biquíni cintura alta preto. Quando eu acordei, lá estava ele do meu lado com um bilhete. No bilhete estava escrito: "Comprei especialmente para você... tenho certeza que vai realçar ainda mais suas lindas curvas!" O biquíni era perfeito!

— Eu amo sua mãe! — diz ele todo sorridente.

— Eu também amo! — digo olhando para ele. Ele está de óculos escuros e está usando apenas uma bermuda de praia. Sua pele bronzeada é linda... tudo nele é bonito. Ele tem vários sinais pelo corpo deixando sua pele ainda mais bonita. Eu continuo olhando para ele, e ele diz:

— Eu quero tirar um foto do seu rosto exatamente assim... posso?

— Claro! — digo.

Ele pega seu celular e eu continuo paralisada para foto. Estou olhando para o lado com a cabeça encostada na cadeira. Murilo me olha por cima dos óculos de sol e seus olhos se fixam nos meus. — Assim está perfeito! Continue me olhando desta maneira. Não se mexa! — diz ele. Depois da foto, eu o agarro pela nuca e puxo ele para mais perto. Eu beijo Murilo ternamente em um selinho demorado. — Eu vou ter que me acostumar com isso! — diz ele segurando o meu rosto. Eu abro um sorriso para ele.

— Vou ter que voltar hoje pela tarde. Eu prometi que iria ajudar Linda em uma coisa muito importante!

— Que horas exatamente?— pergunta ele.

— Prometi estar com ela às 18h.

— Às 18 horas você estará com ela! — diz ele e eu fico vermelha.

Capítulo 18

Murilo para em frente a casa da dona Cecília.

— Tem certeza que não quer ficar, mãe? —pergunto.

— Murilo vai me deixar em casa. Hoje tenho que sair com o Renato... não se preocupe! — diz ela.

— É, Rachel! — diz ele. — Não vejo problema nenhum em deixar minha sogra em casa!

— Sogra? — digo sem jeito e ficando vermelha. Ouvir Murilo chamar minha mãe daquela maneira me deixou nervosa. Aquilo ainda era estranho para mim. Tudo era novo. — Não queremos abusar da sua boa vontade. — digo.

— Não está abusando. Você sabe. — diz ele me olhando. Eu retribuo o olhar dele e ele me encara carinhosamente.

— Tudo bem! — digo dando um sorriso fraco. — Será que você pode me ajudar a levar as bolsas até o jardim?

— Claro! — diz ele. Antes de sair, eu abraço minha mãe. Eu estava feliz. Ela estava feliz.

— Boa escolha, Rachel! — sussurra ela no meu ouvido. — Ele é um homem de verdade. Aproveite!

Eu suspiro forte, mas permaneço calada. Eu não podia dizer nada com tanta certeza. — Ele não me pediu em namoro ainda... então, o melhor é não criar expectativas! — penso. — Não vamos criar tantas expectativas, mãe! — digo e ela se afasta. Eu pude sentir a decepção em seu olhar, mas era a verdade.

— Antes de dormir eu ligo para dar boa noite. — diz ela tentando disfarçar sua decepção.

— Não se esqueça de fazer isso. — digo.

Murilo fica esperando Linda abrir a porta comigo. Seu dedo mindinho estava entrelaçado com o meu e eu podia jurar que aquilo era um sonho.

— Olá! — diz Linda abrindo a porta. Os olhos dela se fixam em nossos dedos e imediatamente, vejo Linda tentando se segurar para não dizer nada. — Olá, Murilo! — diz ela evitando contato visual com ele. — Eu vou pegar essa mochila, a outra você leva. Eu vou deixar vocês se despedirem!

Murilo sorri e abaixa a cabeça. Sua covinha na bochecha aparece deixando ele ainda mais encantador. — Lindo! — digo. Ele me olha.

— O quê? — pergunta ele sem graça.

— Sua covinha na bochecha. Te deixa ainda mais lindo.

— 10 para você e zero para mim! — diz ele. Eu começo a ri.

— E eu amo quando você sorri assim! — diz ele me puxando e me abraça. Seu braço esquerdo me apertava em seu abraço, e sua mão direita acariciava o meu rosto delicadamente. Os olhos dele estavam nos meus. Eu estava na ponta dos pés e o braço dele me sustentava.

— Já posso ter a certeza de que você é minha? — pergunta ele ando o dedo delicadamente na minha bochecha.

— Não sei. — digo. — Só posso confirmar isso quando eu tiver certeza de que você realmente é meu.

— Mas eu sou seu! — diz ele ando seu nariz no meu. — Totalmente seu!

Murilo aperta a minha cintura e me beija como se aquela fosse a primeira vez. Enquanto ele me beijava, eu sentia borboletas no estômago. Era como se não existisse ninguém alí. Era apenas ele e eu.

*************

Eu não podia evitar estar com um grande sorriso nos lábios; eu não tinha controle sobre aquilo. Quando Linda abre a porta, ela se certifica que não tem ninguém no jardim. — Ai meu Deus! — diz ela toda histérica. — Eu vi aquele beijo!

— Sh!!! — digo. — A Cecília vai ouvir!

— E você acha que ela não viu? — diz ela sorrindo. — Com certeza ela viu!

— Por Deus, Linda! — digo.

— Vem! Vamos lá para cima! Eu quero saber de tudo! — diz ela me puxando.

Como Linda tinha dito, Cecília realmente viu tudo. E não faltou elogios para o Murilo. Eu contei tudo me sentindo uma adolecente de 15 anos que dá o primeiro beijo em um garoto legal. Elas vibravam junto comigo. As duas ficaram na minha frente com seus olhos bem atentos, escutando cada detalhe da conversa. Linda estava de calça jeans cintura alta e uma camisa listrada por dentro da calça. Seu cabelo estava mais curto, sua franja estava bem aparada e suas argolas grandes de prata deixavam seu look ainda mais charmoso e vintage. Esse era o estilo dela.

— Ele é muito bonito... — diz Cecília. — Impossível não se apaixonar!

— Será que é errado me apaixonar tão cedo assim? — pergunto.

— Claro que não! — diz Linda. — Isso acontece. Não se preocupe com isso Rachel! Apenas aproveite... é bom se apaixonar!

Cecília olhava linda com atenção. Linda estava bem arrumada, cheirosa. E com toda certeza, Cecília sabia o porque daquilo e para quem ela estava tão arrumada daquele jeito. Maycon chegaria em 1 hora e Linda estava um pouco nervosa. Inquieta. — Bom meninas... — diz ela, — agora eu vou indo buscar o Maycon. Tem certeza que não querem ir?

Minha amiga olha para mim com os olhos pedindo socorro.

— Não. — digo. — Estou um pouco cansada da viagem.

— E eu acho melhor fazer companhia a ela. — diz Linda.

— Ok. Quando eu estiver voltando, aviso. — diz Cecília sorrindo para Linda. Ela sabia que minha amiga estava super nervosa.

Quando ela sai, Linda senta nas escadas. Toda alegria sumiu do seu rosto e eu só via uma linda garota italiana confusa e perdida. — Ei! — digo ficando de joelhos na frente dela. — O que aconteceu?

— Se ele entrar com a namorada, você arruma uma desculpa e sai daqui comigo. Não deixa ninguém perguntar nada. Não dê oportunidade.

— Como você sabe que ele vai aparecer com a namorada? — pergunto.

— Não sei. Mas existe uma grande possibilidade disso acontecer. — diz ela. Eu seguro suas mãos e elas estão frias. Linda treme de nervoso.

— Olha só o que esse rapaz está fazendo com você! — digo. — Eu nunca vi você assim!

Linda abaixa a cabeça.

— Escute — digo levantando a cabeça dela. — A convivência comigo não está fazendo bem a você. Veja! Está parecendo eu nos meus dias de crise!

Linda sorri.

— Eu estou assim porque ainda sinto algo por ele. Até que ontem eu não fiquei assim... — diz ela e faz uma pausa. — Rafael me ligou.

— O quê? — digo confusa. — Rafael?

— Sim! Ele se enrolou um pouco no começo, mas me fez rir muito.

Aquilo era um bom sinal. Ela riu. Mas eu estava com pena dele; Linda não

estava em um bom momento para entrar de cabeça em um relacionamento. Mas que relacionamento mesmo? Ela nunca ia iludir alguém para satisfazer o seu ego. Minha amiga não era assim.

—Ao menos você riu. — digo fingindo costume.

— É... ele é bem legal e engraçado.

**********

Já ava das 23h e Linda e eu estávamos no quarto vendo as fotos de hoje. Eu contei da minha noite romântica com o Murilo. Contei da trilha sonora do nosso beijo, e mostrei a ela o biquíni novo que eu tinha ganhado. — E vocês ficaram naquela varanda até que horas? — pergunta ela.

— Hum... ficamos um bom tempo namorando; e eu acho que às 4h30 a gente foi para o quarto dormir. — digo.

— Gostei dele! — diz ela deitada na cama. — Pelo visto ele é bem respeitador.

— Sim! — digo animada.

— Ficar com alguém em uma varada relativamente escura, e de frente para o mar e o cara não tentar nada... é quase impossível!

— Não com ele. — digo. — Eu deixei bem claro para ele algumas coisas. E você sabe a minha opinião sobre isso!

— Claro! Não tiro sua razão... Mas se fosse o Pietro alí; com certeza ele tentaria algo.

— Nem lembrava mais do Pietro. — digo abrindo a bolsa.

— Babaca! — sussurra ela. O celular da Linda toca e nós duas tomamos um susto.

— Cecília... — diz ela com os olhos bem abertos.

— Ai meu Deus! — digo sem ação.

Finalmente eu irua conhecer o Maycon. Finalmente eu a conhecer pessoalmente esse cara que estava fazendo Linda virar totalmente a cabeça!

— Pode falar! — atende ela. — Ok... aham... já vamos descer!

— O quê? — pergunto esperando uma resposta.

— Eles já estão na orla. Devem chegar aqui em 10 minutos.

Linda começa a se arrumar, e a borrifar perfum no corpo todo. — Como estou? — pergunta ela.

— Linda! — digo.

— O quê? — pergunta ela se olhando no espelho.

— Eu disse que você está Linda! — digo um pouco alto. Ela sorri e me olha.

— Obrigada por estar comigo aqui. E obrigada por abrir mão do seu final de semana romântico, só para me ajudar! Você não é só uma amiga para mim, Rachel — diz ela pegando em um fio de cabelo meu. — Você é minha irmã, e eu te amo!

— Eu também te amo! — digo e ela sai do quarto.

— Sofia! — grita ela chamando a secretária do lar. Sofia era muito adorável e carinhosa com a gente.

E lá estava nós três. Eu, Linda e Sofia. Linda estava segurando a minha mão, já Sofia, estava com um belo sorriso em seus lábios. Ela é branca, até mais que Linda. Ela está com o cabelo preso em um rabo de cavalo e está usando calça moletom feminina com uma blusa rosa. Dava para escutar Cecília entrando com

o carro. Eu estava começando a ficar nervosa e Linda pálida.

— e a língua nos lábios. — sussurro.

— Quê? — pergunta Linda sem se mover.

— e a língua nos lábios!— repito. — Sua boca está pálida.

Ela faz o que eu peço; e a medida que a gente escuta os os da Cecília se aproximando da porta, Linda aperta ainda mais a minha mão. Quando Cecília abre a porta, eu escuto minha amiga suspirar alto o suficiente para sofia e eu olharmos para ela. Linda fica paralisada mantendo a pose. Minha atenção se volta para a Cecília. Mas quem entra primeiro não é Cecília; quem entra é Maycon. Ele abre a porta todo sorridente, e quando os seus olhos se fixam em minha amiga, seu sorriso desaparece.

— Lindinha? — diz ele surpreso.

Cecília a por ele e ele continua parado. Linda continuava segurando minha mão. Eu pigarreio.

— Maycon... — diz ela apertando ainda os meus dedos. Eu estava sofrendo com um sorriso no rosto. Maycon é alto; moreno claro. Ele está vestido como um tipíco jovem paulista: Calça jeans, tênis da Nike Air Jordan retro masculino preto, que com certeza valia uns 400 reais; uma camisa preta lisa e um colar de prata. Este é Maycon. Seu cabelo é cacheado e ele tem olhos pequenos e

puxados. Seu sorriso é branco e ele está muito cheiroso. Muito cheiroso mesmo.

— Hum! — digo. Linda finalmente solta a minha mão e eu quase reviro os olhos de alivio. Maycon deixa as bolsas de lado e corre ao encontro da Linda. Ela abre bem os olhos quando vê aquilo, e suspira surpresa. Maycon abraça minha amiga e a levanta. Eles sorriem feito duas crianças e eu pude vê Cecília com os olhos cheios de lágrimas.

— Quanto tempo! — diz ele ainda com ela em seus braços. Ele estava com os olhos fechados... ele estava apreciando aquele momento.

— Parecia que eu nunca mais ia te ver de novo! — diz ela com a voz abafada.

— Pensou errado!

Ele coloca ela no chão e cumprimenta Sofia com um abraço e beijo no rosto. — Que intimo! — penso. Mas eu não tive tempo de pensar porque ele logo me abraça forte, e diz:

— E como você se chama? — Linda sorri e coloca a mão na boca.

— Rachel. — digo desconcertada.

— Minha melhor amiga! — diz Linda sorridente.

— Então quer dizer que você tomou o meu lugar? —diz ele todo animado.

Ele era realmente muito animado. — Tomei mesmo!— digo. — Você deu espaço para isso!

— Uau! Levei um fora?

— Não! — digo rindo sem graça. Cecília e Sofia caem na gargalhada. — Eu só estou tentando brincar... desculpa!

— Você entrou na brincadeira. — diz ele piscando o olho. Linda fazia muito aquilo para mim. Ela sempre piscava o olho... eles eram muito parecidos.

— Maycon! — diz Cecília, — coloque as bolsas lá em cima e desça rápido para comer!

— Claro! Estou varado de fome! — diz ele subindo as escadas.

— Será que dá para vocês dois serem menos parecidos? — sussurro. — Que gato! — digo dando uma leve tapa nela.

— Não sinto minhas pernas!— diz ela nervosa. Eu começo a ri.

Capítulo 19

A comida está um delícia e Sofia se gaba por tudo. Tinha lasanha; purê, cuscuz recheado, suco de goiaba e sorvete. — Muito obrigada por fazer o cuscuz recheado, Sofia! — Agradece Maycon.

— De nada! — diz ela com a boca cheia. Sófia é da família e Cecília trata ela como uma filha e amiga querida. Todos alí eram iguais. Eu me sentia em casa.

— E Júlia? — pegunta Cecília.

— Resolveu ficar esses 3 dias com os pais dela. — diz ele.

— E não quis vir com você? — pergunta Linda desconfiada.

— Não... — diz ele olhando para Linda.

Linda fica desconfortável e séria.

— Uma pena. — diz ela. Eu levanto as sobrancelhas para ela e tomo um gole de suco. Maycon abre um sorrisinho.

— Então quer dizer que você vai ficar só três dias? — pergunta Linda.

— Infelizmente. — diz ele. — Gostei do seu cabelo, Lindinha! Sempre usava ele bem longo, e agora ele curtinho... deixou você bem vintage.

— Essa era a intenção!

— Conseguiu! Você está ainda mais linda! — diz ele olhando para ela.

O clima entre os dois é pesado e cheio de atração. Ninguém falava quase nada, só eles falavam a maior parte do tempo. Depois do jantar, Cecília foi ajudar Sofia a lavar os pratos e Linda insistiu para eu ficar com eles no jardim. Eles sorriam e relembravam o ado... pareciam um casal super apaixonado. Maycon sorria jogando a cabeça para trás mostrando ainda mais seus belos dentes. Minha queria amiga estava sempre arrumando aquela franja, e ela sempre faz isso quando está nervosa. Murilo me envia um foto deitado na cama. Ele está com a cabeça sobre o braço e um pouco vermelho do sol.

— Já estou com saudades! — diz ele na mensagem.

— Eu também estou com saudades de você! — respondo e mando uma foto.

— Linda! — responde ele.

Eu mando vários corações para ele. Ele responde:

— Antes de dormir, sua amiga vai entregar um presente para você!

— Um presente? — digo em voz alta e Linda me olha.

— Só antes de dormir! — diz ela e Maycon franzi a testa. — É um presente que o namorado dela pediu para entregar... — diz ela se explicando para Maycon. — Era uma surpresa!

— Que gênio! — diz ele. Eu fico sem jeito.

— Por quê só antes de dormir? — respondo a mensagem.

— Para você ficar pensando em mim! — responde ele na mesma hora. — Eu vou tomar um banho e quando terminar um trabalho te ligo, ok? aproveite seu fim de noite com sua amiga.

— Ok! Vou aguardar ansiosamente! — respondo.

Maycon e Linda continuavam naquela sintonia; eu apenas observava quieta e sorria à cada história deles.

*************

Já são 2 horas da manhã. Linda apenas estava saindo do banho. Murilo ainda não tinha me ligado; provavelmente ainda estava resolvendo algo do trabalho.

— Meu presente! — digo quando ela aparece.

— Claro! — diz ela animada.

Ela vai até a bolsa e tira uma caixa rosa delicada. Era uma caixa comprida e tinha um laço vermelho.

— Todo seu... — diz ela. — Vamos! Abre!

Eu abro a caixa, e dentro dela tem um desenho; um colar junto com uma pulseira — que tem um pingente de borboleta —, e um bilhete. Tanto a pulseira como o colar é de prata.

— Uma borboleta? — diz Linda confusa. — Mas você tem pavor de borboleta!

— Tenho medo das de verdade e não das de pingente! — digo.

Eu logo coloco o colar e a pulseira. Eu pego o desenho e meus olhos se enchem de lágrimas. Murilo é muito detalhista em seus desehos. O desenho era o seguinte: minha mão e a dele com os nossos dedos midinhos entrelaçados.

— Own! — diz Linda.

Ele fez questão de pintar delicadamente as minhas unhas com a mesma cor de esmalte que eu estava naquele dia. O esmalte era vermelho. O desenho era realista; delicado. Estou encantada.

— Você não vai ler o bilhete? — pergunta Linda curiosa.

— Claro! — digo pegando o bilhete.

No bilhete está escrito:

"Minha Rachel,

Eu não consegui esquecer desse gesto que você fez: entrelaçar seu dedo mindinho no meu. Me sinto no dever de dizer que, nunca fizeram isso comigo. A cada dia que a, você me deixa mais apaixonado e maluco por você! Ultimamente, eu tenho sonhado muito com você. Com os seus olhos... com o seu sorriso.

Neste momento, você deve estar se perguntando o porque de você receber um presente com algo que você tem muito medo. Bom, eu escolhi este pingente de borboleta, porque acho que você encara seus medos de frente... com coragem! Você que é "insegura" e ao mesmo tempo corajosa... Eu pude ver isso com os meus próprios olhos! Você carregar algo que tenha medo em seu lindo pescoço

ou em seu braço, vai sempre te lembrar que você pode encarar seus medos com coragem; com garra! Eu iro muito você, minha menina. Espero que goste do presente, apesar de ser um pouco assustador.

Com amor,

Murilo Marques."

— Não vamos chamar de bilhete — diz Linda. — Vamos chamar de carta.

— Uma bela carta! — digo encantada. — Quem em nossos dias faz isso? — digo olhando para ela e segurando a carta no peito.— Quem? — pergunto novamente.

— Alguém que esteja perdidamente apaixonado!— diz ela com um lindo sorriso.

— Eu ainda não consigo acreditar que isso está acontecendo comigo — digo confusa. — E se isso não for real?

— Você vai ter que ir mais a fundo para descobrir... — aconselha ela. — Curta essa fase, minha querida amiga. Você merece!

Eu dou um abraço forte nela, e digo:

— Eu te amo! Você tem razão!

Como prometido, Murilo me ligou antes de dormir. Ficamos alguns minutos falando sobre os presentes e em como ele fez aquela surpresa. Nós dois estávamos cansados e fadados da praia. Mas a gente não queria parar de falar, e o resultado foi: pegamos no sono enquanto estávamos falando no telefone.

*********

Eu acordo com vontade de ir ao banheiro; mas Linda não está ao meu lado. Aquilo era estranho. Onde está ela? O telefone ainda está na chamada, e do outro lado, eu consigo ouvir a respiração forte do Murilo. Eu desligo, e vou ao banheiro. A porta do quarto está um pouco aberta e ainda são 4h da manhã. Pela janelinha do banheiro, eu vejo que o céu está ficando claro. Eu me apresso, e sinto vontade de ir atrás dela. — Por quê você está fazendo isso comigo? — escuto alguém falar do jardim. É a voz do Maycon. Eu corro para a janela e vejo os dois; Linda com seu pijama nada sexy do tom e jerry e Maycon com uma calça de tecido leve e sem camisa. — Como ele consegue ficar sem camisa uma hora dessas? — sussurro. — Eu precisava dizer o que eu estava sentindo! — diz ela de braços cruzados e olhando para baixo. Algo não está bem.

— Você tinha que esperar esses anos todos e esperar eu arrumar outra pessoa, para revelar que sente algo muito forte por mim? — pergunta ele. Maycon parece desesperado e confuso. — O que você quis dizer com "algo muito forte?" — continua ele.

— Algo muito forte a ponto de me fazer pensar em você a cada segundo. Eu não tenho mais controle do que faço ou penso... você dominou tudo em mim! — diz

ela chegando mais perto dele. — Nossa! — digo surpresa. Aquela parte da minha amiga eu ainda não conhecia.

— E quando isso começou?— pergunta ele cruzando os braços.

— Isso sempre existiu! — diz ela segurando os braços dele.

Maycon fica na defensiva.

— Não faz isso Linda! — pede ele. — Eu não posso fazer isso com você! Eu tenho alguém me esperando lá em São Paulo... não chega mais perto.

Linda se afasta.

— Escuta Linda — diz ele. — Você acha que foi fácil para mim? Eu morria de amores por você! E o que você fez?— diz ele se aproximando dela. — Você arrumou outro! E qual foi a desculpa? Nenhuma! —continua ele e segura os braços dela. Linda está imóvel. Sem ação.

— Eu não estou pedindo para você deixar ela, Maycon! Eu só estou colocando pra fora tudo o que está aqui dentro! — diz ela colocando a mão sobre o coração.

— Mas você falou isso na hora errada, Linda! Quando vi você, senti tudo dentro de mim tremer... foi diferente. E você deixar aquela carta na gaveta me enlouqueceu!

— Eu não quis deixar você irritado; eu só queria que você soubesse como me sinto. — diz ela.

Maycon se afasta e se senta na cadeira perto de um balanço.

— Isso é injusto, sabe? — diz ele. — Infelizmente eu não posso corresponder o seu amor. Não agora. Não mais. Outra pessoa já ocupou o vazio que você deixou!

Quando ele diz isso, Linda não diz uma única palavra. Ela sai as pressas do jardim, e eu corro para cama. Eu continuo sentada esperando por ela. Linda entra no quarto, e ao me vê, corre para me abraçar. Minha amiga chora como nunca e eu não consigo segurar as minhas lágrimas. Naturalmente, era ela quem me acalmava. Estar no lugar dela me deixou um pouco desconcertada... sem saber o que fazer. Mas o choro dela não demorou por muito tempo.

— Você ouviu tudo? — pergunta ela deixando as lágrimas rolarem pelo seu lindo rosto.

— Infelizmente. — digo.

— Eu vou ficar bem! — diz ela enxugando as lágrimas. — Maycon está certo. Fui egoísta... eu não tinha o direito de fazer isso.

Maycon bate a porta do seu quarto que fica ao lado do nosso. Linda se assusta.

— Eu estraguei os dias dele aqui!

— Nós vamos tentar arrumar isso! — digo abraçando ela. No fundo eu sabia que aquilo ia dar errado. Era óbvio! Ele já estava namorando há alguns anos, e com certeza, não ia deixar a menina para ficar com a Linda. Minha querida amiga era a favor do "se você não tentar, nunca saberá se realmente vai dar certo." E ela tentou. E não deu certo. Minha missão agora era tentar acalmá-la... tentar amenizar a dor de uma expectativa adiada.

Capítulo 20

Mais uma semana se ou e minha amiga aos poucos ia se curando da decepção dela. Mas a vida é assim; a gente nunca pode ter tudo. Linda teve a chance dela, mas não aproveitou quando teve a oportunidade. Esse é o erro de muitas pessoas e o meu também: deixar de tentar por medo. Mas o que aconteceu com ela, ficou bem guardado em meu coração.

Eu e Murilo estavamos cada vez mais próximos. A gente saía para o cinema; caminhava na orla, ia jantar com a família da Linda, e ele me levou para conhecer a mãe do Rafael. Estava tudo perfeito. Tudo parecia um sonho! Murilo conquistou minha mãe e minha melhor amiga. Ele estava sempre conversando com elas, incluindo elas em tudo. Até seu Renato entrou na onda! Ele estava me fazendo muito feliz! Os remédios já não eram um problema para mim; eu tomava eles todos os dias. Linda sempre dizia que estava orgulhosa.

Era sexta- feira e eu pedi para Linda dormir na minha casa. Eu tinha planos de fazer uma surpresa para o Murilo e estava tentando aproximá-la do Rafael.

— Eu estou pensando em mandar flores para ele. — digo. — O que você acha?

— Diferente... porém lindo!— diz ela colocando uma pipoca na boca.

— Rosas vermelhas? — sugiro.

— Orquídeas e rosas. Iria ser perfeito! — diz ela. — Ele ja pediu você em

namoro?

— E não estamos namorando? — digo.

Linda paralisa.

— Como é? Ele ainda não pediu você em namoro?

— Eu não quis que ele fizesse esse pedido. Não faz tanto tempo assim que eu saí de um relacionamento.

— Rachel, você é uma bobona! — diz ela. — Orquídeas, rosas vermelhas e um pedido de namoro seria ótimo!

— Boa idéia! — digo e ela se espanta.

— O quê? você disse boa idéia? — caçoa ela. — Será que alguém pode devolver minha amiga?

Linda estava sempre comigo... não só ela, mas minha mãe também. Dona Renata andava suspirando pelos cantos; estava toda apaixonada! E isso me deixava ainda mais feliz.

*********

Meu celular começa a vibrar e eu abro o olho. Com um olho aberto e outro fechado, leio o nome do Murilo na tela do meu Celular.

— Por quê você não está dormindo? — digo ao atender.

— Eu preciso ver você! — sussurra ele.

— Que horas são? — pergunto.

— 2 horas da manhã.

— Eu não posso ir na sua casa agora, está muito tarde!

— Eu estou aqui na sua porta! Desce e vem me dar um beijo... por favor! — pede ele.

Murilo tem esse jeito maluco. Ele sempre me acordava ou aparecia de surpresa. Algumas vezes ele sumia por horas por causa do seu trabalho; mas sempre compensava o tempo perdido.

— Vou escovar os dentes! — digo. Ele solta uma gargalhada.

— Ok... — diz ele.

Eu me levanto devagar para não acordar Linda e vou escovar os meus dentes. Fazia quase dois meses que eu estava nesse relacionamento louco com ele, e eu nunca me acostumava! Murilo é misterioso... de fazer surpresas; gosta de mimar. Eu vou descendo as escadas devagar para não acordar dona Renata. O quarto dela fica próximo das escadas e ela tem sono leve. Quando chego no portão, Murilo desce o vidro do carro. — Oi! —diz ele sussurrando. — Você pode abrir o portão? —pede ele.

— Posso! — digo.

Eu faço o que ele pede, e ele sai do carro rápido. Assim que a pelo portão, ele me agarra pela cintura e me beija. Murilo segura firme o meu cabelo e me beija com gosto.

— Calma! — digo.

— Desculpa! — diz ele. — Eu estava com muita saudade.

— Não acho certo você ficar se arriscando para me ver à esta hora!

Ele coloca as duas mãos no meu rosto e começa a me olhar de um jeito encantador.

— Eu não tenho controle sobre isso. Quando a gente se despede, sempre fica aquele gostinho de quero mais!

Eu fico na ponta dos pés e o abraço forte.

— Você não cansa de ser assim? — pergunto.

— Assim como? — Pergunta ele baixinho.

— Encantador. — digo.

— Eu só sou maluco por você, Rachel. Ás vezes, tenho vontade de te sequestrar e casar com você. Depois disso, tenho vontade de sumir e te levar para um lugar onde a gente possa ficar em paz. Em um lugar sussegado.

Olhando nos olhos dele e acariciando o seu rosto, pergunto:

— E quando você pretende fazer isso?

— Agora! — diz ele me levantando.

— Não, para! — protesto sorrindo. — Acho melhor você ir... Amanhã vou sair com a Linda!

— E para onde vocês vão? - pergunta ele e logo depois beija a minha testa.

— Vou com ela ao shopping pagar algumas coisas. Mas quando chegar, eu prometo que ligo para você! Mas, amanhã eu quero que você descanse o dia todo. Essa semana foi corrida para você!

— Foi mesmo. — diz ele me dando um selinho delicado.

— Aproveite seu dia com ela.

— Pode deixar! — digo. —Agora vá para casa! Não podemos ficar aqui. Está perigoso lá fora.

— Ok. — diz ele e me beija apaixonadamente mais uma vez.

***********

Na manhã seguinte, acordamos tarde. Dava para ouvir minha mãe na cozinha fazendo muito barulho. — Que horas vamos no shopping? —pergunto ainda enrolada.

— 13h. — diz Linda ainda com os olhos fechados. O plano é ligar para Rafael ir com a gente. Eu queria que ele acompanhasse a gente, e assim, eles teriam mais tempo para conversar e se conhecer. Eu tinha que dá um jeito de fazer isso sem ela perceber; para parecer casual. Um encontro por acaso. — Por quê você saiu do quarto às 2 horas da manhã? — pergunta ela. Eu abro bem os olhos. — Por quê? - repete ela. Ela abre os olhos e me encara.

— Murilo estava aqui na porta.

— Quê? — diz ela alto.

— Sh! Sem espanto! — digo. — Você sabe como ele é! Murilo gosta de impressionar.

— Esse cara existe? — diz ela perplexa. — Ainda não dá para acreditar que você está com ele. Na verdade, não dá para acreditar que até sua mãe está namorando!

Eu começo a ri.

— Eu ouvi isso! — diz minha mãe da cozinha. Nós duas começamos a ri muito. Era bom estar com ela.

Minha mãe ia conhecer as irmãs do seu Renato. Ela está muito nervosa! A minha missão, era deixar ela ainda mais bonita. — Você acha que essa calça está muito colada? — pergunta ela se olhando no espelho.

— De jeito nenhum! — digo.

— É... não mesmo! — confirma Linda. Faltava poucos minutos para Linda e eu sairmos; e eu tinha que me apressar, porque tinha marcado de encontrar Rafael na frente do shopping. Ele prometeu que ia ser discreto. Minha mãe está usando uma calça jeans e uma blusa vermelha. Vermelho fica muito bonito nela; não só vermelho, mas amarelo também! Ela é bronzeada e tem olhos escuros. Seu cabelo na cintura chama atenção. Renato é um homem de sorte!

— Vou colocar esse batom vermelho... — diz ela se olhando no espelho.

— Não pode faltar o batom vermelho! — digo.

— Você está linda, Renata! — elogia Linda.

Em poucos mínutos, seu Renato chega. Minha mãe está radiante... tudo nela brilha. Eu fico observando o jeito cavalheiro com que Renato trata minha mãe. Era impossível não estar com um sorriso no rosto. Logo depois que eles saem, eu pego o carro da minha mãe e vou para shopping com a Linda. E como combinado, Rafael esta lá. Eu consegui uma vaga bem na entrada, e pelo retrovisor, pude ver que Rafael está muito bonito. Seu cabelo está bem penteado; ele está usando uma camisa branca e chama muita atenção. — Olha só, aquele ali não é o Rafael? — digo fingindo muito bem. Linda se ajeita no banco do carro e arruma a franja. Aquilo era um bom sinal; ela estava nervosa.

— Que gato! — diz ela olhando para trás.

— Demais! — digo abrindo a porta do carro. Quando nos vê, ele abre um lindo sorriso. Rapidamente, olho para Linda que levanta a sobrancelha. — Isso aí! — penso. O plano está dando certo. Rafael vem ao nosso encontro, e Linda olha ele de cima a baixo.

— Que bom encontrar vocês! — diz ele.

— Que coincidência! — digo.

— O que vocês vieram fazer aqui? — pergunta ele sem tirar os olhos de Linda.

— Pagar contas. — responde ela encarando ele.

— Eu vim comprar uma impressora e pagar o meu cartão da C&A. — diz ele.

Linda cruza os braços.

— Vamos entrar. — digo andando.

Eles vem atrás de mim conversando. Foi assim o tempo todo; Rafael é muito engraçado e Linda sorria muito com ele. Eles formariam um lindo casal!

Quando Linda paga seu cartão na C&A, ela diz:

— Agora vamos pesquisar o preço das flores!

— Flores? — pergunta Rafael.

— Sim... Rachel vai fazer uma surpresa para o seu amigo amanhã. — diz Linda sorrindo e piscando o olho para ele.

Eu dou de ombros.

— Você vai dar flores a ele? — pergunta ele boquiaberto.

— Vou! — digo. — E também vou pedir ele em namoro.

Linda se engasga.

— Você vai mesmo? — pergunta ela.

— Vou! — digo.

Rafael para e coloca as mãos no cintura.

— Agora ele está encurralado! — diz ele.

— Não vou encurralar o Murilo, eu apenas vou dar mais cor a vida dele. — digo e Linda começa a ri

— Boa! — diz ela. — Então quer dizer que, quando uma pessoa namora, ela fica encurralada? — pergunta ela. Aquela pergunta foi maliciosa. Linda estava flertando!

— Depende da pessoa que você namora... — diz ele. — Você é do tipo que faz isso com as pessoas? — pergunta ele em um tom malicioso.

Linda fica vermelha e sorri.

— Não! Eu sou uma gaiola aberta. — diz ela.

E ela é assim mesmo. Linda nunca tirava a liberdade de quem estava com ela.

Saímos do shopping e começamos a procurar algum lugar que vendesse flores. Mas era domingo, praticamente tudo estava fechado. Percebendo que estávamos com dificuldade de encontrar um lugar aberto, Rafael diz:

— Conheço um lugar perto de casa.

— Onde? — pergunto.

— Bem atrás do edifício onde moro. Lá tem uma senhorinha que vende. Eu posso comprar para você.

— Ok, eu agradeço! Mas de que horas você vai comprar?

— Posso ir amanhã às 7h. De que horas você vai fazer a surpresa? — pergunta ele.

— Às 7h. — digo e ele começa a ri.

— Te encontro amanhã às 7h aonde?

— Em frente ao farol da Ponta verde. — digo.

— Podemos ir comer algo e combinar isso melhor? — pergunta Rafael.

Eu olho para Linda e ela assente.

— Podemos! — digo.

A gente resolveu ir no parmegianno, que fica perto da orla. Nós comemos muito, e Linda estava cada vez mais confortável com ele. — Vocês vão me ajudar, certo?— pergunto olhando por cima dos óculos de sol.

— Certo! — diz os dois na mesma hora. Rafael abre um sorrisinho por isso e Linda morde os lábios.

— Existe alguma possibilidade dele dizer não? — pergunto.

Rafael gargalha.

— Óbvio que não! — diz ele. — Murilo está realmente apaixonado.

— Caso ele não aceite — diz Linda — Eu levo uma raquete de matar mosquito, e acerto ele!

Nós três começamos a ri muito. O plano estava funcionando para mim e para o meu mais novo amigo, Rafael.

Capítulo 21

Eu não consegui dormir. Eu estava super ansiosa. Antes de dormir, Murilo mandou uma mensagem. Naquela noite ele não ligou. Talvez estivesse cansado; mas em suas mensagens, ele foi muito carinhoso... Como de costume! Às 5h30 eu mandei uma mensagem para Rafael dizendo que queria que fossem orquídeas e um buquê de rosas vermelhas. Às 6h, ele respondeu com um "Ok! Boa sorte!". Aquilo me fez ficar ainda mais nervosa. Eu escrevi um bilhete para ele. No bilhete, escrevi:

"Aceita namorar comigo? É pegar ou largar. É isso ou nada."

Eu não queria perder mais tempo. Eu estava perdidamente apaixonada por ele. O meu cabelo está limpo e hidratado e eu coloquei o meu melhor perfume e me arrumei toda. Eu coloquei um vestido acima do joelho, florido. Ele tem mangas borboletas e amarras laterais... ele é um dos meus preferidos. O decote do vestido é em V; e ele é verde com branco. Às 6h30 eu já estava na porta esperando Linda que também estava muito bonita.

— Uau! — diz ela. — Você está linda!

— Obrigada! — digo pegando nas mãos dela.

— E também está gelada.

— É de nervoso! — digo. Linda sorri, e me abraçando diz:

— Vai dar tudo certo!

*******

Rafael estava realmente em frente ao farol da ponta verde. Ele está sentado no banco de concreto na orla. Ao seu lado, estão as lindas orquídeas em um vaso muito delicado; e em sua mão, está o buquê de rosas vermelhas. As pessoas que avam por ele, ficavam olhando e irando. Ele estava mais uma vez, muito bonito. Parecia um príncipe!

— Oi! — digo ofegante.

— Calma, Rachel! Parece que você vai ter um treco — diz ele.

— A qualquer momento! — digo. — Muito obrigada!

Linda cai na gargalhada.

Eu pego as orquídeas e o buquê. — Vão tomar uma água de coco alí no seu Paulo! — sugiro.

— Não acredito que não vamos com você! — protesta Linda.

— Com plateia não vai funcionar... — digo. Rafael começa a ri.

— Vamos Linda, deixa ela se aventurar sozinha. — diz ele. — E ah — continua ele, — Murilo deve estar dormindo. Derruba aquela porta!

— Pode deixar! — digo sentindo as pernas tremerem.

Rafael já tinha avisado ao porteiro que eu ia entrar. Eu entro com aquelas flores na mão e muito nervosa. Parecia que o elevador nunca ia chegar no andar que Murilo morava. Quando finalmente as portas do elevador se abrem, eu saio dando os leves. Mas, eu escuto uma voz longe. A medida que vou chegando perto, vejo que a porta do apartamento dele está aberta. — Você tem certeza? — pergunta uma mulher. Eu travo. — Não pode ser! — penso. Eu ando rápido e paro em frente a porta. E lá, bem na sala, sentada na mesa de centro e de frente para o Murilo, está Michele. Tudo gela por dentro. Ele está sentado no sofá com uma calça moletom preta e sem camisa. Já Michele, está com uma saia curta, que tem um pequeno lascão na lateral da perna e com uma camisa social grande demais para ela. Com certeza, aquela camisa era do Murilo. Seu cabelo loiro está solto e ela está segurando as mãos dele. Os dois estão tão desligados, que minha presença alí não foi notada. — A gente pode tentar! — diz ela e a a mão no rosto dele.

— As coisas não são bem assim, Michele. Acho que não dá certo! — diz ele. — Acho? — penso. Murilo está esmorecido. Parecia que ela tinha dando alguma anestesia nele. Eu pigarreio com os olhos cheios de lágrimas. Murilo olha para a porta, e quando me vê, larga a mão dela rápido.

— Rachel! — diz ele pálido.

Eu deixo as flores na porta e saio correndo. — Rachel! — grita ele.

— Deixa ela ir! — diz Michele.

Eu começo a chorar desesperadamente, e começo a pensar na possibilidade dela ter dormido lá. — Como ela estaria tão cedo assim na casa dele? — sussurro entre lágrimas. Era óbvio que ela tinha dormido lá. — O que você achou, sua idiota? — penso comigo mesma. — Achou mesmo que ele ia ficar esse tempo todo sem ter outra coisa com você, só por respeito? Pelo amor de Deus, Rachel. Ele já é um homem! E você sabe como são as coisas hoje em dia! — penso me julgando. Quando vou me aproximando da saída do edifício, o rapaz que está na guarita me olha espantado. Eu abaixo a cabeça e saio. Quando atravesso a pista, posso ver Linda e Rafael sentados na areia da praia. Eles estão sorrindo muito. Linda sorri inclinando a cabeça para trás. O clima entre eles é forte e eu não ia estragar aquilo. Eu o por seu Paulo correndo, mas ele não me vê. Logo na frente, eu vejo um táxi. Eu entro no táxi chorando muito, e o pior: Murilo realmente não se deu o trabalho de vir atrás de mim.

No meio do caminho, eu mando uma mensagem para Linda e ela me liga quase na mesma hora. Mas eu não atendo. Eu ia ver ela no trabalho, por isso não queria falar naquele momento. Meu celular começa a vibrar de novo, é o Rafael. Também não atendo. Eu entro no WhatsApp e mando uma mensagem para ele:

"Talvez seu amigo saiba explicar melhor. Eu não vou atender agora, eu estou chorando muito. E por favor, leva Linda para casa. Obrigada."

Meu celular vibra de novo, mas não é o Rafael; é Murilo. Vê o nome dele na tela do meu celular me fez chorar ainda mais. Imaginar Murilo dando beijo nela,

ou tocando ela, é inável. Eu não queria imaginar, mas aquilo não queria sair da minha cabeça. O taxista me olha assustado, mas eu não me importo. Estava doendo demais.

***********

Quando chego em casa, minha mãe não está mais. Ela tinha ido trabalhar. Então me senti ainda mais confortável para chorar alto e tirar aquela roupa que vesti para ficar mais atraente para o Murilo. Eu ainda tinha que ir trabalhar, então tomei outro banho; vesti minha roupa e me encarei no espelho. — Essa é a segunda decepção amorosa; qual é a sensação? — digo me olhando no espelho. Estava doendo, e mais uma vez eu me senti traída. Quando coloco o pé no primeiro degrau para ir trabalhar, Linda aparece.

— Rachel, não é o que você está pensando! — diz ela quase desesperada. Eu desço as escadas rápido.

— Como não é o que estou pensando? — digo.

— Murilo não ficou com a Michele!

— Você não viu o que eu vi, Linda! Como pode me dizer que ele não ficou com ela?— digo falando um pouco alto. — Ela estava vestida com a camisa dele e estava muito íntima!

— Mas... ela desceu de blusa preta. — diz ela franzindo a testa.

— Linda chama o Uber; no trabalho te explico.

A caminho do trabalho, nós duas ficamos calada. Linda balança as pernas de nervoso e eu como as unhas. Quando chegamos, Felipe estava no caixa e seu Renato estava no banheiro. — Venha aqui! — diz Linda me puxando para a sala onde a gente ficava e guardava as coisas. — Ela desceu com uma blusa preta! — repete ela. Seus olhos estavam curiosos, e ela parecia não entender nada.

— Pura jogada, Linda! —digo. — Quando cheguei lá, ela estava com uma camisa social branca enorme!

Linda senta no sofá confusa.

— Eles estavam íntimos! — continuo. — Ela estava segurando a mão dele e a porta estava aberta!

— Murilo contou tudo isso — diz ela. — Mas ele disse que ela tinha ido pegar algumas coisas dela lá.

Eu engulo em seco.

— Coisas dela? — pergunto com a voz trêmula.

— Sim! Eles iam casar!

— Então eles dormiram juntos! — sussurro.

— Não, Rachel! Ela até quis voltar com ele, mas ele disse que estava com você! — diz ela se levantando.

— O que está acontecendo com você? por quê está do lado dele?

— Porque ele me explicou, Rachel! Murilo ligou para o Rafael desesperado, e quando estávamos subindo, encontramos essa tal de Michele. Ela estava de saia curta preta e blusa preta. Ela também estava com uma mala; provavelmente com as coisas dela!

— Ele nunca me disse que ia casar com ela, Linda!

— Não? — pergunta ela.

— óbvio que não! — digo.

— Rachel, acredite, ele não teve mais nada com ela. Rafael me disse que ela dormiu na casa de uma amiga!

— Que amiga? Por quê eu estou sabendo disso só agora? E por quê você só diz "Rafael me contou" e não diz "Murilo me contou?"

Linda se cala e respira fundo.

— Murilo não conseguia falar, Rachel. Ele disse que sabia muito bem que você não iria acreditar.

— Claro! — digo. — Eu não sou tão idiota assim! Eles estão mentindo pra você... tudo isso é muito estranho.

— Rachel, me escute! Você está sendo muito infantil! Se achava isso, por quê não tirou suas conclusões lá mesmo? Você poderia entrar lá e marcar seu território. Você estava com ele! E se eles estavam tendo algo alí, por quê ficariam com a porta aberta? — diz ela. — A porta aberta significa que ela tinha acabado de chegar!

— Você acha que uma mulher como aquela; linda e cheia de atitude e que também está apaixonada por ele, não poderia deixar a porta aberta de propósito? — digo.

— Mas o Murilo não faria isso com você, Rachel. Ela dormiu no apartamento da amiga dela! Acredite! — suplica ela.

— Como Rafael sabia que ela tinha ido dormir na casa da amiga? — pergunto cruzando os braços.

— Ele me disse quando me levou para casa. Ele ainda vai me explicar essa história direito. — diz ela coçando a cabeça.

— Sei... — digo com ironia. — Talvez ele queira acobertar o amigo.

— Não Rachel! Murilo estava nervoso e com muita raiva!

— E as flores? — pergunto.

— Pensei que você tivesse jogado... — diz ela confusa.

— Não — digo. — Deixei na porta!

— Quando eu ei na porta dele, não tinha nenhuma flor.

— Ela deve ter jogado!

— Não viaja, Rachel! Escuta, — diz ela segurando os meus braços, — hoje você vai resolver isso com ele... você vai enfrentar isso, e com certeza, vai descobrir a verdade!

— Eu não vou a lugar nenhum! — digo indignada.

— Não tenha atitudes de criança, amiga. Você já é adulta; não pode se deixar levar por coisas que você não sabe de verdade!

— Me deixa sozinha, Linda! — digo. — Você não está com moral para mandar eu agir como adulta! Você também já agiu assim. Eu não vou atrás dele. Murilo nunca mais vai me ver! Agora, por favor, me deixe sozinha.

Linda fica sem ação. Ela se afasta devagar com os olhos cheios de lágrimas e diz:

— Eu só queria ver você feliz de novo! Depois que você conheceu ele, ficou diferente; ficou melhor! Você não pode julgar as pessoas com base no seu achismo, Rachel! Murilo te chamou de corajosa, mas agora você está sendo covarde.

— Quem é você para me chamar de covarde? — pergunto. — Não foi você que deixou de viver um amor lindo por puro medo? E você, também não foi covarde?

— Fui! — diz ela enxugando as lágrimas. — Por isso que insisti para você tentar descobrir a verdade. Mas você não quer ouvir alguém covarde como eu, não é? Tudo bem Rachel. Você tem razão... eu não estou no direito de aconselhar você... porque eu também sou covarde!

Linda sai e fecha a porta. Quando ela sai, leva com ela o meu coração. Minha melhor amiga era sempre o meu chão; alguém que me ajudava, alguém que sabia dizer as palavras certas. Ela era a mais certa nas horas incertas.

Capítulo 22

Duas semanas se aram e Linda não estava falando comigo. Durante uma semana inteira Murilo me ligou, mandou mensagens e eu não respondi. Ele conseguiu fazer até pior do que Pietro. Ele escondeu de mim que ia casar; não me avisou que Michele estava lá, e nem sequer mencionou que ainda tinha algumas coisas dela em casa. Sobre o que mais ele estava mentindo? Simplesmente não dava para confiar. Linda estava certa, eu estava sendo covarde. Mas eu só queria me proteger; queria proteger o meu coração. Até minha própria mãe estava decepcionada comigo. E por quê? pelo simples fato de eu querer me proteger. Era tudo tão injusto.

Eu já tinha visto pessoas que estavam em um relacionamento, onde seus namorados, tinha uma ex muito presente. Michele é presente na vida do Murilo. Eles sempre se encontram no fórum, em festas; e a amiga dela mora próximo dele. E o que isso significa? problemas e dores de cabeça! Eu não queria isso para mim. Mas ninguém me entendia. O Murilo virou o mocinho e eu a vilã. Ele era um mocinho encantador, confesso. Eu ainda sonho com aqueles olhos verdes lindos e com aquela voz rouca no meu ouvido. Eu ainda sinto falta dele e sinto vontade de ligar. Mas para que eu faria isso? Entrar em um relacionamento com ele ia ser ruim para o meu problema... eu ia viver na dúvida se Michele estava por perto ou não. Era tudo muito complicado.

************

Mas uma vez era segunda–feira. Linda não foi trabalhar. — Por quê Linda não veio hoje? — pergunto a Felipe.

— Vocês ainda estão sem se falar? — pergunta ele com os olhos na tela do

computador do caixa.

— Estamos.

— Minha nossa! — protesta ele. — Isso já está ficando ridículo! Eu não aguento mais! Ela vive me perguntando de você; e agora você me perguntando dela... por quê vocês não voltam a se falar logo? — esbraveja ele.

— Ei, calma! — digo. — Então quer dizer que ela vive falando de mim? — pergunto animada.

— Todos os dias! — diz ele. — Mas vocês são orgulhosas demais! Eu preferia quando vocês eram amigas... Aqui era mais animado.

Eu abro um sorriso.

— Eu sinto falta dela. —digo.

— E ela de você! — diz ele. — Ela me contou que uma vez organizou uma festa só para você!

— Festa para mim? —pergunto. — Mas eu não gosto de aniversários.

— Não festa de aniversário; foi uma festa com várias mulheres — diz ele colocando a mão no queixo. — Como é mesmo o nome... — diz ele se esforçando para lembrar.

— Chá das senhoras? —sugiro.

— Exatamente isso! — diz ele.

Eu sinto uma pontada em meu coração. Agora estava explicado o motivo de ter duas festas em menos de um mês! Ela deve ter feito aquilo porque eu estava com crise de ansiedade! Naquele momento, senti vontade de correr para vê-la, e senti muita vontade de abraçar minha querida amiga. Linda era minha melhor amiga, era minha irmã! Eu amava muito aquela italiana mandona!

— Obrigada! — digo, e ele fica sem entender. — Hoje mesmo vou visitar ela!

— Graças a Deus! — comemora ele.

— Finalmente! — diz Renato bem atrás de mim. Eu apenas dou um sorriso e corro para abraçá-lo.

Já era a hora do almoço, então eu aproveitei aquele momento para revelar algumas fotos da gente e fazer uma surpresa para ela. Eu sabia que Linda não ia dá o braço a torcer tão fácil assim; por isso eu pensei em um plano. Eu vou em um lugar onde revela fotos. Esse lugar é quase do lado de onde trabalho. Eu estava feliz por tentar fazer alguma coisa para mudar aquela situação. Na volta,

de longe, eu consigo ver uma mulher alta e de roupa bem elegante na frente da loja. Era a própria Michele! Eu até pensei eu dar meia volta, mas ela me avistou de longe e gritou:

— Ei! Rachel! — ela acena para mim.

Eu estreito os olhos e não digo nada. — Não faça e nem diga nada, Rachel. Isso não é nada elegante! — penso.

Eu vou dando os seguros e não consigo esconder que estou desconfortável com aquela visita. — Oi, Michele. O que você veio fazer aqui? — pergunto

Confesso que por dentro eu estava um pouco nervosa. O que levaria essa mulher a vir no meu trabalho? E como ela descobriu que eu trabalho aqui?

— Eu vim esclarecer algumas coisas. — diz ela olhando para o chão.

— Se for pra me dizer que você é Murilo estão juntos, não precisa se preocupar; eu já sei de tudo! — digo. — Você pode ficar tranquila Michele, eu não vou ficar me metendo entre vocês. Eu já tenho problemas demais.

— O que? — pergunta ela perplexa. — Tá maluca, garota? Murilo e eu não estamos juntos.

— Não? — digo sentindo a tensão do meu corpo diminuir.

— Claro que não! Eu vim aqui me explicar. Na verdade, ou eu fazia isso ou Murilo morria do coração! — diz ela arrumando o cabelo.

— Seja rápida. Eu tenho que voltar ao trabalho!

— Ok. — diz ela. — Sei que a última pessoa que você gostaria ver, era eu. Mas eu quero deixar claro, que naquele dia, eu não tive nada com ele. E também não dormi lá! Eu realmente tive que pegar minhas coisas que estavam lá!

— Então você só foi buscar suas coisas? — pergunto com ironia. — E por quê vocês estavam tão próximos quando eu cheguei? — digo tentando encurralar ela.

Michele respira fundo.

— Eu não vou mentir para você, Rachel. Mas eu realmente estava tentando voltar com ele! Murilo ou um bom tempo comigo; amos algum tempo separados também, mas ele nunca se envolveu com alguém, assim como se envolveu com você! E isso assusta um pouco, sabe? — diz ela. — Eu sempre tinha Murilo quando precisava, e ele sempre tinha a mim... mas quando ele conheceu você, tudo mudou.

— Ah Michele, por favor, não vem com esse papo. Como posso ter certeza que vocês não vão se envolver de novo?

— Você é cabeça dura, em garota? — diz ela. — Murilo está completamente

apaixonado por você! Dizer isso para você agora dói, e até me deixa um pouco desconcertada, mas é a verdade. E eu realmente dormi na casa da minha amiga; mas eu tinha que voltar para casa logo, por isso fui tão cedo na casa dele. Tenha certeza que eu não sou uma ameaça para você, jovem Rachel. — Ela me chamar de "jovem" me irritou um pouco, mas eu controlei a cara de raiva. Ela falava com um tom de deboche, mas parecia estar sendo sincera.

— Quero provas. — digo.

Ela revira os olhos.

— Ok. — diz ela. — Vou te mostrar as inúmeras mensagens que ele me mandou. Toma, veja com os seus próprios olhos! — diz ela me entregando o celular. Ela estava falando a verdade. Nas mensagens, Murilo pedia várias vezes para ela vim, e até mandou a localização do meu trabalho. Na última mensagem, ele disse: "Por favor, Michele! Eu não aguento mais ficar sem ver a Rachel! Talvez ela só acredite se você for ver ela e se explicar. Eu vou mandar Rafael ir para ficar olhando você de longe, para caso algo saia do controle. Mas não se preocupe, Rachel é uma boa menina!"

Rapidamente eu olho ao redor, e vejo o carro do Rafael parado do outro lado. Michele ri. — Parece que você achou o inável do Rafael! — diz ela.

Eu aceno para ele. Rafael não desce o vidro do carro, mas buzina.

— Que loucura! — digo devolvendo o celular a ela.

— Você deveria ter ficado mais um pouco, Rachel. Você saiu como um menina que estava com medo de algo.

Michele tinha razão; eu saí feito uma criança. Linda estava certa... eu não tive atitude de uma mulher corajosa! Talvez, depois disso, Murilo tenha mudado seu ponto de vista sobre mim. De corajosa, ei a ser uma covarde.

— Obrigada por vim! — digo.

Michele relaxa os ombros.

— Faça ele feliz, Rachel! Murilo é um grande homem... e também muito cobiçado! — Michele sorri. — Mas o coração dele é seu!

Eu apenas dou um sorriso amarelo para ela e ela sai tranquilamente com o seu salto chique. Michele estava elegante e muito bonita. Do outro lado, Rafael me observa. Eu mando uma mensagem para ele:

— Funcionou! Assim que eu sair do trabalho, vou fazer as pazes com minha amiga... e, também vou correndo para casa do Murilo! Avisa ao porteiro, por favor! — peço na mensagem.

— Finalmente! Esse foi o tiro de misericórdia, Rachel! Você realmente é uma menina difícil... me lembre de nunca pisar na bola com você! — responde ele.

Eu começo a ri.

— Pode deixar! E ah... antes de sair da casa da Linda hoje, vou mandar uma mensagem para você. Faça uma surpresa para ela! — Respondo.

— Você com certeza, se tornou uma das minhas melhores amiga! — responde ele.

Capítulo 23

Como disse que faria, assim que saí do trabalho fui direto para casa da Linda. Quando cheguei, consegui vê Antonella na sala e Enrico lendo um livro. — Ei! — sussurro. Antonella e Enrico me olham felizes. — Pode entrar Rachel! — diz eles na mesma hora. Seu Enrico se levanta rápido e Antonella vem me abraçar.

— Veio fazer as pazes com ela? — pergunta ela.

— Sim! — digo com os olhos cheios de lágrimas.

— Graças a Deus, esse sofrimento vai acabar! — diz Enrico vindo me abraçar. — Linda só vive triste por causa de você!

— E com razão! — digo.

— Vamos! — diz Antonella me puxando para me levar até o quarto da Linda. — Ela está trancada aí faz horas.

— Eu vou bater na porta. — digo baixinho. — Sh! vocês poderiam me dar licença? Quero falar com ela em particular. — digo, e eles assentem.

Eu bato na porta e ela desliga a TV.

— Oi mãe! — responde ela.

— Não é sua mãe! — respondo. Linda fica em silêncio. — Você estava certa, amiga. Me desculpa!

— Vá embora, Rachel! — diz ela e eu sinto uma pontada em meu coração.

— Não Linda, por favor! — digo deixando as lágrimas caírem. — Você é minha melhor amiga! Depois da minha mãe, eu não tenho em quem confiar. Você é minha metade. Por favor, abre a porta!

Linda continua em silêncio.

— Olha só... — digo. — Olhe para essas fotos!

Eu começo a colocar algumas fotos da gente por de baixo da porta. Coloquei uma por uma. A medida que eu ia colocando, ela ia pegando.

— Por favor, abre! — suplico.

Linda abre a porta devagar e vejo que ela está segurando todas as fotos. Eu não espero muito, e corro para abraçá-la. — Me desculpe! — digo entre lágrimas. — Você não é covarde! Eu que sou uma! Eu não queria magoar você,

Linda!

Linda me aperta em seu abraço e diz:

— Tudo bem, Kel! Também errei quando chamei você de infantil. — diz ela. — Eu não tinha o direito de fazer você tomar uma decisão em um momento como aquele.

— Não quero falar mais sobre isso! — digo. — O importante é que você estava certa! Hoje Michele me procurou!

Linda me afasta, e me olha confusa.

— Como assim? — diz ela.

Eu abro um sorriso.

— Sim... ela me contou tudo.

Linda fechou a porta, e eu contei tudo a ela. Era bom tê-la de volta. De repente, já não havia mais lágrimas em nossos olhos; mas havia um grande sorriso em nossos lábios. — E o que você vai fazer agora? — pergunta ela.

— Eu vou atrás dele! — digo.

— Yeah! Rachel corajosa voltou! Quer que eu vá com você?

— Não! — digo. — Eu vou resolver isso sozinha.

— Isso aí! — diz ela animada.

— Eu te amo, Linda. Obrigada por tanto!

— Eu também te amo, minha querida amiga! Agora vá se arrumar e tente se resolver com o seu homem.

— Pode deixar! — digo.

Com minha amiga ao meu lado tudo estava fluindo bem. Eu subo rápido, e antes de entrar no quarto, minha mãe me para. — Ei mocinha! — diz ela. Eu abraço minha mãe e dou um beijo em sua bochecha.— Eu vou atrás do Murilo, mãe! — digo feliz. — E acabei de fazer as pazes com a Linda!

— Ainda bem! - comemora ela.

— Agora tenho que me arrumar! Me deseje coisas boas! — digo entrando no

quarto.

*********

Quando entro no carro da minha mãe, eu mando uma mensagem para Rafael:

— Traga chocolate! Eu consegui fazer as pazes com ela. E é provável que ela esteja sentimental!

— Partiu comprar chocolate! — responde ele.

No caminho, eu estava ainda mais nervosa. — Por onde eu começo? — penso. — Será que seria uma boa ideia eu ir logo abraçando?— penso mais uma vez. Com toda certeza eu estava perdida! Além de pedir desculpas por ser tão precipitada, eu ia pedir ele em namoro. Eu estava decidida! Talvez isso assustasse ele um pouco, mas era o que eu achava que deveria ser feito. Eu não parava de pensar nele; de pensar em seus lindos olhos. Murilo me deixava bamba; nervosa. Eu amava tudo nele. Eu amava aquele sorriso, eu amava o jeito dele falar, eu amava aquela voz rouca e todo jeito dele se mover. Todas que olhassem para ele, iam se apaixonar. Se não fosse pelo seu sorriso, seria pelo seu olhar. Aqueles olhos... aqueles olhos provocantes.

Depois que o conheci, tudo mudou. Murilo me ajudou a ser mais confiante, e até me ajudou na autoestima. Todos os dias ele me mandava mensagens falando sobre algo em mim que ele gostava. De todas as coisas em mim, talvez ele gostasse mais dos meus olhos. Ele sempre estava falando dos meus olhos. Logo eu que achava os meus olhos sem graça. Murilo fez deles uma das coisas mais bonitas em mim; eu ei a gostar mais deles por causa dele. Eu estaciono o

carro na orla e vou andando rápido. Eu dou os grandes na tentativa de ir mais rápido, mas parece que quanto mais eu andava rápido, mas distante ficava o edifício farol da ponta verde.

Quando chego na portaria, Rafael está conversando com o porteiro. — Olha só você! Está linda! — diz ele.

— Obrigada! — respondo toda sorridente.

— Arthur, lembra dela? — diz ele.

Imediatamente me lembro dele. Ele ajudou Rafael a levar Murilo até lá em cima no dia em que ele estava bêbado. — Claro que lembro! — responde ele.

Rafael sorri.

— Pode subir, Rachel. Ele acabou de chegar!

— Obrigada! — digo, e corro para o elevador. Eu respirava fundo tentando controlar a minha ansiedade e nervosismo, mas não estava funcionando. Minhas mãos estavam geladas e meu coração batia forte, parecendo uma escola de samba. Quando finalmente cheguei no andar em que ele morava, o elevador mal abriu as portas, e eu já saí dele. O corredor parecia longo demais, e eu já não sentia as minhas mãos de tão geladas. — Calma Rachel! — digo para mim mesma.

Eu paro em frente a porta do apartamento dele, e fechando os olhos, bato na porta. Mas acabo batendo com muita força, e ele grita:

— Já vai!

Eu continuei de cabeça baixa, porque estava com medo e muito nervosa. Mas então, Murilo abre a porta devagar. Quando ele abre a porta, a voz do Tim maia vem junto. A música é lenta e romântica.

— Oi! — digo levantando a cabeça. Murilo está paralisado na porta vestindo uma camisa social por fora da calça e descalço.

— Oi! — responde ele.

Ele me olha de cima a baixo.

— Eu fui uma covarde! — digo, mas ele não me deixa terminar a frase. Murilo me puxa pela cintura — como sempre faz, e me abraça.

— Que bom que você veio, minha menina! Eu estava com tanta saudades! — diz ele com uma mão na minha cintura, e a outra segurando o meu cabelo.

— Eu deveria ter ficado aqui naquele dia! — digo. — Mas eu fugi tirando conclusões precipitadas.

— Precipitadas como você!— diz ele.

— Exatamente! — digo.

— Eu não tive nada com ela meu amor, eu juro!

— Não precisa jurar; eu acredito em você!

Murilo me levanta e me abraça ainda mais forte. Ele cheira o meu pescoço, e automaticamente, eu faço o mesmo com ele. Murilo me leva até a janela que está aberta, e me encosta nela. E a cena do dia que estávamos na casa de praia dele se repete. Lá estava eu contra o vento, e meu cabelo estava indo todo para frente. Eu seguro o rosto dele e o beijo com todo gás. Eu estava com muita saudade. Eu fico na ponta dos pés e coloco os meus braços em volta do seu pescoço.

— Recebeu minhas flores? — pergunto parando de beijar ele.

— Sim. — respondeu ele beijando o meu rosto. — É só olhar para minha mesa de centro que você vai ver uma delas.

Eu me esquivo um pouco e consigo vê as orquídeas. Só havia elas em cima do centro; parecia que ele tinha reservado aquele lugar apenas para ela.

— E as rosas? — pergunto.

— Na cozinha. Coloquei em um vaso... venha ver! — diz ele me levando até a cozinha. E em cima da pia, totalmente murcha, estavam as rosas. Murilo me abraça por trás e fica olhando para elas comigo. Mas aonde estava o bilhete, será que ele chegou a ler?

— Você deve estar se perguntando pelo bilhete, certo? — diz ele.

— Isso mesmo! — digo sorrindo.

— Bom — diz ele me virando, — o seu bilhete eu guardei. Eu quero ouvir da sua boca, cada palavra que está escrita ali.

— Não sei se consigo... — digo sentindo minhas bochechas queimarem.

— Se você foi corajosa o suficiente para me mandar flores, e escrever aquele bilhete; e ainda por cima vim trazer pessoalmente, você é capaz de dizer cada palavra olhando nos meus olhos.

— Não aqui! — digo olhando nos olhos dele.

— Não me olhe assim... você sabe que esses olhos me deixam maluco! — diz ele ando o dedo nos meus lábios. — Aonde você quer ir? — pergunta ele.

— Vamos sentar na areia da praia. Vamos sentar bem em frente ao farol.

Murilo abre um lindo sorriso.

— Como quiser... E só mais uma coisa — diz ele se afastando. — Você estava linda com aquele vestido, e está linda com esse vermelho!

— Não estou nada! Não sei de onde você tirou tanta beleza em mim...

— Talvez hoje, eu consiga te mostrar como eu vejo você. — diz ele. — Espera só um pouco.

Ele vai até seu quarto e volta com um caderno grande. Murilo não precisa se arrumar; ele está perfeito. — Não troque de roupa! — peço. — Eu gosto de você assim. E também não calce os pés. — digo tirando as minhas sandálias. — Vamos colocar literalmente os nossos pés na areia da praia!

— Ok. — diz ele sorrindo. — Você é incrível!

Murilo e eu descemos descalços e felizes. Nossos dedos mindinhos estavam entrelaçados, e na tentativa de ver se eu não estava sonhando, peguei no meu colar de borboleta. Por mais lindas que as borboletas sejam, eu morria de medo delas. E seu eu estivesse sonhando, de alguma forma aquela que estava em meu pescoço ia se mexer, e eu acordaria. Mas não era um sonho. Aquilo era real. Eu realmente estava andando descalça com um lindo homem de 1,83 de altura ao

meu lado.

Nós dois atravessamos a pista e finalmente chegamos na calçada da orla. Ele começa a andar rápido, e eu começo a ri. Algumas pessoas olhavam para a gente, provavelmente achando aquilo estranho. Murilo senta na areia da praia, e eu me sento entre suas pernas.

— Agora eu vou te mostrar como eu vejo você de verdade! — diz ele abrindo o caderno grande. Era uma caderno cheios de desenhos. Tinha vários desenhos meus sentada na areia da praia tomando minha água de coco; tinha também um meu ajeitando a corrente da minha bicicleta velhinha e alguns desenhos de sorrisos.

— Como você conseguiu desenhar tudo isso? — pergunto boquiaberta.

— Eu fotografei você com os meus olhos! — diz ele. — Você sempre sentava no mesmo lugar. Não tinha como não memorizar você!

— Então isso significa que você ficava me olhando muito! — digo.

— Isso mesmo. Você é linda, Rachel... realmente chamou muito minha atenção.

— Foi assim que você se apaixonou por mim? — pergunto me virando, e ficando de joelhos na frente dele.

— Foi! — diz ele. — Você sempre com esse olhar tão expressivo e forte olhando o mar, me cativou. Quando você sentava naquele cantinho, parecia que não tinha ninguém ao seu redor. Era só você, o mar e as músicas no seu fone de ouvido.

Eu começo a ri.

— Ainda não acredito que isso está acontecendo! — digo acariciando o rosto dele.

Murilo encosta seu rosto na minha mão e fixa seu olhar no meu.

— Eu tive tanta sorte de acertar você com aquela bola. — diz ele, e eu dou uma gargalhada.

— Você teve sorte de não ter me matado! — digo.

— Isso também — diz ele beijando minha mão. — E o pedido? — pergunta ele. Eu engulo em seco.

— Cadê o bilhete? — pergunto.

Murilo abre o caderno de desenhos, e da última página, tira o meu bilhete. Ele me entrega e eu respiro fundo.

— Leia! — pede ele. Eu o encaro e levanto a sobrancelha. —Se fazer isso de novo — ameaça ele, — eu sequestro você!

— Não tem problema! — digo.

— Vamos Rachel... eu não tenho à noite toda! — diz ele se ajeitando para me ver melhor.

Eu abro o bilhete, e leio:

"Aceita namorar comigo? É pegar ou largar. É isso ou nada."

— Eu pego; eu nao largo, e eu aceito! — diz ele me puxando. Murilo me beija mais uma vez e eu sinto borboletas no estômago. Eu estava realmente apaixonada por ele. E alí na orla da ponta verde, onde tudo começou, eu soube que o coração do Murilo era meu. Só meu.

Ficamos até 22 horas na orla , e logo depois a gente foi comer alguma coisa. Na volta para casa, ele não soltou minha mão. Eu estava tão feliz... era como se tudo fosse a primeira vez.

*********

Murilo para em frente a minha casa. Tudo estava escuro. Com certeza dona Renata estava dormindo. — Quer que eu leve você até lá em cima? — pergunta

ele.

— Não precisa. — digo. — Minha mãe mataria a gente.

Murilo gargalha.

— Não é bom testar a paciência da sua mãe!

— Não mesmo!

— Hoje foi um dos dias mais lindos da minha vida! — diz ele. — Finalmente você é oficialmente minha!

— E você meu! — digo.

— Eu sempre fui seu, meu amor. Eu fui seu desde aquele dia na UPA, quando você abriu esses lindos olhos negros para mim. Eu não quero te assustar, mas o que eu quero com você é algo muito sério. Eu pretendo ficar com você para sempre!

— Você não acha que é um pouco cedo para dizer isso, não? — digo.

— Não! Eu estou decidido, e não tenho dúvidas do que quero com você!

— Então que assim seja! — digo beijando ele. — Agora eu vou subir, e amanhã bem cedo, te ligo.

— Tudo bem. — diz ele. —Mas antes, eu quero te dar isso!

Ele pega um envelope grande e me entrega.

— O que é isso? — pergunto.

— Um contrato! — caçoa ele. Eu abro bem os olhos. — Estou brincando, bobinha. Quando você entrar no seu quarto, vai descobrir o que é!

— Ok! — digo e me despeço dele.

Eu subo as escadas rápido, e a primeira coisa que faço quando entro no quarto, é abrir o envelope. Dentro do envelope, havia um desenho muito lindo. Murilo tinha desenhado os meus olhos de forma bem realista. O desenho era diferente de todos os outros. Esse desenho era mais trabalhado e delicado. Eu estava encantada! Com certeza, fazer aquele desenho tomou muito tempo dele. E ainda dentro do envelope, tinha um bilhete; e nele estava escrito:

"É assim que eu vejo o seu olhar através do meu. Forte, não é? sabe Rachel, se algum dia alguém me perguntar como me apaixonei por você, direi que foi quando eu vi os teus olhos."

com amor,

Murilo Marques."



Leiam o novo e-book da autora "Como conquistar você". Vocês irão se apaixonar!

foto: @vimedeirosfotos

Na foto, a autora Dayane Ataide Xavier.

Instagram: @dayaneataidexavier

Carta para os leitores:

Queridos leitores,

Gostaria de deixar aqui os meus sinceros agradecimentos. Meu coração se enche de alegria e amor quando leio cada cometário que vocês deixam no google play/ play livros. Essa história é muito especial para mim... e fico muito feliz de ver que é para vocês também. Esta história é real. Acredito que todos nós somos um pouco Rachel, Linda, Murilo... e por ai vai.

Escrevi esta linda história para ajudar uma amiga muito querida a se vê com mais carinho. Esse foi o meu objeito. Muitas vezes, meus queridos leitores, acreditamos que amos despercebidos, não é verdade? Mas não é verdade. Sempre, em algum lugar, alguém nos observa. Sou muito observadora as vezes... outras vezes nem tanto. Muitas vezes sou Rachel; sou Murilo, sou a Linda. Linda tem um lugar especial em meu coração. Gostaria de deixar claro, que o objetivo do Murilo na vida da Rachel, não foi curar a ansiedade e a depressão dela. O objetivo dele foi mostrar que ela não era tão invisível como pensava. A continuação deste e-book logo estará disponível. Espero que vocês gostem!

E não se esqueça: você se acha invisível? Talvez alguém esteja observando você!

com amor,

Dayane Xavier

Os teus olhos

CAPA

Capitulo 01 Capitulo 02 Capítulo 03 Capítulo 04 Capítulo 05 Capítulo 06 Capítulo 07 Capítulo 08 Capítulo 09 Capítulo 10 Capítulo 11 Capítulo 12 Capítulo 13 Capítulo 14 Capítulo 15 Capítulo 16

Capítulo 17 Capítulo 18 Capítulo 19 Capítulo 20 Capítulo 21 Capítulo 22 Capítulo 23 Sobre autora