MORFOSSINTAXE>>> Morfemas, Fonemas, Gramemas, Lexemas. Morfema é a unidade linguística mínima portadora de significado, que não se pode dividir em unidades mais pequenas sem ar ao nível fonológico. Pode definir-se como constituinte imediato da palavra. Em gramática generativa é um elemento da estrutura profunda, que se opõe ao formante, elemento da estrutura de superfície. Lexema, no sentido geral, é unidade lexical de duas faces (forma e conteúdo), ou sinal mínimo de natureza não gramatical. O lexema é a unidade de base do léxico, numa oposição léxico/vocabulário, em que o léxico se põe em relação com a língua e o vocabulário com a palavra (fala). Gramema, na terminologia de B. Pottier, é um morfema gramatical, por oposição aos morfemas lexicais ou lexemas. O gramema pode ser independente (artigos, preposições, certos advérbios) ou dependente (os diversos afixos: in-, -oso, etc.). Morfema zero é a sua ausência; p. ex., livro, comparado com o plural livros, tem no singular a falta do -s, o que se nota por ø. O morfema é a unidade mínima gramatical portadora de significado numa língua. Relativamente à natureza de significação, os morfemas classificam-se em morfemas lexicais e morfemas gramaticais. Os morfemas lexicais são unidades lexicais com significação externa, com conteúdo e forma, uma vez que se referem a fatos do mundo extralinguístico, ao que distinguimos na realidade objetiva ou subjetiva. Ex.: Almada, laranja, saudade, etc. Os morfemas gramaticais têm significação interna, pois derivam das relações e categorias existentes na língua. São unidades independentes como, por exemplo, o (artigo definido), de (preposição), ou dependentes como -a (em casa), -s (em casas), entre outras.
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Alguns linguistas como B. Pottier (Estruturas Linguísticas do Português, 1975) distinguem os primeiros dos segundos reconhecendo que os morfemas lexicais pertencem a uma categoria com um grande número de variáveis uma vez que constituem uma classe aberta, enquanto os gramaticais pertencem a uma classe fechada, com um número de variáveis. Pottier denomina os morfemas lexicais de lexemas ou semantemas, enquanto os morfemas gramaticais são chamados de gramemas ou formantes, usando o termo lexema como oposto a gramema. Ao morfema lexical, a Nova Gramática do Português Contemporâneo, de Celso Cunha e Lindley Cintra, dá o nome de radical, ao qual se agregam os morfemas gramaticais que podem ser desinências ou morfemas flexionais, afixos ou morfemas derivacionais, ou vogais temáticas. Penso que, na sua pergunta, quando fala em categorias, quer referirse a categorias gramaticais das palavras. Assim, se estivermos a falar de um morfema gramatical desinência (ou seja, morfema flexional), não ocorre mudança de categoria. Por exemplo, a desinência que expressa a 1.ª pessoa do plural de um verbo como falar (> falamos) ou a desinência que denota o plural casa (> casas). No entanto, se estivermos a falar de um morfema gramatical afixo (ou morfema derivacional), vai ocorrer a alteração de categoria gramatical do radical a que se juntam os sufixos: vento substantivo masculino > ventoso adjetivo; novo adjetivo > novamente advérbio. Lexema e Gramema Dois conceitos que, a princípio, soam complicados, mas que na realidade são simples. Quando temos uma palavra, podemos dividi-la em elementos que em conjunto a constituem. Esses elementos menores e significativos se chamam morfemas. Por exemplo, considere as palavras: outr-o outr-a outr-o-s 2
outr-a-s
Partindo da palavra "outro", podemos obter novas palavras com significados diferentes: "outra", indicando gênero feminino; "outros" indicando masculino plural; "outras" indicando feminino plural. O morfema "o" aponta para o masculino; o morfema "a", para o feminino; o morfema "s" para o plural. Por outro lado, o morfema "outr" permanece constante, ele carrega o significado principal. Chamaremos de: Lexema o morfema outr por ser a unidade de base léxica dos vocábulos; Gramema os outros morfemas (o, a, s) por possuírem funções gramaticais como tornar masculino/feminino, pluralizar
MORFOLOGIA 1. Os elementos da morfologia: O radical é a forma mínima que indica o sentido básico de uma palavra. Alguns vocábulos são constituídos apenas por radical (lápis, mar, hoje). Os radicais permitem a formação de famílias de palavras: menin-o, menin-a; menin-ada, menin-inho, menin-ona. A vogal temática é a vogal que, em alguns casos, une-se ao radical, preparando-o para receber as desinências: com-e-r. O tema é o acréscimo da vogal temática ao radical, pois na língua portuguesa é impossível a ligação do radical com, com a desinência r, por isso é necessário o uso do tema e. As desinências estão apoiadas ao radical para marcar as flexões gramaticais. Podem ser nominais ou verbais: As nominais indicam flexões de gênero e número dos nomes (gat-a e gato-s). Já as verbais indicam tempo e modo (modo-temporais / fal-á-sse-mos) ou pessoa e número (número-pessoais / fal-á-sse-mos) dos verbos. Os afixos são morfemas derivacionais (gramaticais) agregados ao radical para formar palavras novas. Os afixos da língua portuguesa são o
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prefixo, colocado antes do radical (infeliz) e o sufixo, colocado depois do radical (felizmente) A vogal e consoante de ligação são elementos mórficos insignificativos que surgem para facilitar ou até possibilitar a pronúncia de determinadas construções (silv-í-cola, pe-z-inho, pobre-t-ão, rat-icida, rod-o-via) Já os alomorfes são as variações que os morfemas sofrem (amaria amaríeis; feliz - felicidade).
1.1 Morfemas: São unidades mínimas de significação, integrantes da palavra, que não item subdivisão em unidades significativas menores. Quanto à significação, podem ser: •
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morfemas lexicais (lexemas ou semantemas) de significação externa, ou seja, cujo significado está ligado ao mundo objetivo, indicando o significado da palavra. morfemas gramaticais (gramemas ou formantes) de significação interna, relacionados ao universo lingüístico, isto é, tem significado ligado somente ao sistema gramatical da língua. LÉXICO
1. Conjunto das unidades significativas de uma dada língua, num determinado momento da sua história. Em sentido lato, é sinónimo de vocabulário. Alguns linguistas relacionam o par léxico/vocabulário com as oposições preconizadas por Saussure entre langue/parole. As unidades virtuais do léxico, actualizar-se-iam no discurso. As unidades do léxico são os lexemas, por oposição às unidades da gramática, os gramemas ou morfemas gramaticais. Também podem ser designadas por monemas lexicais (O termo monema remonta a Frei e foi divulgado por Martinet, Escola Funcionalista) ou morfemas lexicais (Bloomfield, Escola Americana). Os monemas lexicais têm um conteúdo semântico que aponta para relações extra-linguísticas, por oposição aos morfemas gramaticais, cujo conteúdo semântico é intra-linguístico, ou seja, aponta para relações do foro gramatical. Por exemplo, mar é um lexema, e o chamado “género”, neste caso masculino, é um morfema gramatical.
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O “mesmo” lexema mar em francês, selecciona o “género feminino”, por isso dizemos que o conteúdo semântico dos morfemas gramaticais é intra-linguístico. Fala-se de estrutura lexical ou sistema lexical, para se referir o modo como as unidades do léxico de uma dada língua se organizam. O léxico é o objecto de estudo da lexicologia. Diz-se comummente que as unidades lexicais constituem sistemas abertos (ou inventários ilimitados), ao o que as unidades gramaticais constituem sistemas fechados. Nesta acepção, léxico opõe-se a gramática, dado que o léxico é um sistema aberto e a gramática um sistema fechado. Não obstante, as fronteiras entre estes dois domínios linguísticos nem sempre são facilmente identificáveis, começando as dificuldades na própria inventariação das unidades de cada sistema. Podemos identificar transferências de um campo a outro. Falamos de lexicalização a propósito de estruturas como fazer perguntas, fazer troça, dar apoio, dar mimo (que coexistem na língua com perguntar, troçar, apoiar, mimar ), onde o primeiro elemento é o chamado verbo e (opõe-se-lhe a noção de verbo pleno), semanticamente vazio ou quase, e cuja função é “carregar” os monemas gramaticais compatíveis exclusivamente com a classe verbal, também designados modalidades, que são o tempo e o modo . A carga semântica, por seu turno, está presente no substantivo. Falamos de gramaticalização ou deslexicalização, entre outros fenómenos, no que respeita ao funcionamento de verbos plenos como verbos e . Considere-se : 1- Dei um bolo ao João, 2 - Dei uma bofetada ao João. Em 1, dar funciona como verbo pleno, desempenhando a função sintáctica de predicado, um bolo, preenchendo a função sintáctica de complemento directo. Em 2, dar é um verbo e e só podemos identificar o predicado com a estrutura dar uma bofetada (esbofetear), sendo impróprio fazermos a identificação de uma bofetada como preenchendo a função de complemento directo. Atente-se ainda nos múltiplos factos linguísticos que se situam no limiar de ambas as disciplinas, dos quais são mero exemplo os problemas relacionados com unidades como bola-bolo, cesto-cesta, papo-papa, rola-rolo, sinosina, etc. Sublinhe-se também que o léxico não é um sistema homogéneo, e será mais legítimo falar de vários subsistemas do léxico, dado que no léxico coexistem palavras do quotidiano, da escrita, da oralidade, neologismos, arcaísmos, estrangeirismos, vocabulários técnicos, vocabulários regionais, sociais, etc.
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Os léxicos de línguas diferentes não são meras listas de palavras que possamos relacionar biunivocamente de uma língua a outra. Uma mesma realidade extra-linguística (o referente) pode ser “traduzida” de modo muito diferente por duas línguas geneticamente aparentadas. Considerando línguas da família indo-europeia, de origem latina como o português ou o francês, vemos que há diferenças importantes ao nível da estrutura lexical. Dizemos em português fazer uma pergunta. Em francês já não podemos usar o verfo faire, tradução literal de fazer, pois na língua sa, a estrutura lexical eleita é poser une question. Em português, temos os verbos almoçar, lanchar, jantar e cear, para referir várias refeições que se tomam ao longo do dia. Não temos, porém, um verbo para referir a primeira refeição do dia e somos “obrigados” a usar um grupo de palavras como tomar o pequeno almoço. No espanhol, contrariamente, existe um verbo específico para referir a acção de tomar o pequeno almoço : desayunar. Os exemplos poder-se-iam multiplicar ad infinitum, mas o nosso propósito é simplesmente sublinhar o carácter convencional dos lexemas e estruturas lexicais, e ainda o seu diferente valor de língua para língua dado que as unidades estabelecem relações opositivas e contrastivas ( ou se preferirmos, relações paradigmáticas e sintagmáticas) diferentes de sistema para sistema e isso determina, ou condiciona o seu valor. Na gramática gerativa (ou generativa), o léxico tem um lugar de destaque, pois abrange a componente que contém todas as propriedades estruturais dos itens lexicais, isto é, a especificação morfofonológica, os traços sintácticos, categoriais e contextuais. Diz-se unidade lexicalizada a entidade constituída por várias palavras gráficas que sofreu um processo progressivo de fixação: bater as botas (morrer), dar às de vila diogo (fugir), Há mar e mar, há ir e voltar. 2. Léxico (do grego lexis - palavra) pode ainda ser usado na acepção de dicionário de uma língua, ou seja, conjunto de palavras ordenado, “tesouro de palavras, disposto como está num dicionário ” (Saussure, 1986 : 305). De acordo com Mário Vilela, “o léxico é a parte da língua que primeiramente configura a realidade linguística e arquiva o saber linguístico duma comunidade” (1994 : 6). Tudo o que faz parte das vidas dos seres humanos tem um nome, nome esse que é parte integrante do léxico. O léxico abrange o saber linguístico partilhado
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pelos falantes e existe na sua totalidade no grupo formado pelos falantes da comunidade linguística em causa.
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