Conflito Femoro Acetabular o702c

Avaliação imagiológica do conflito femoro-acetabular

um agravamento do hiper-cobrimento e à perpetuação do processo fisiopatológico. Esta forma de conflito está mais frequentemente associada a lesões na vertente articular antero-superior, mas

olhar e ver

» Rev Medicina Desp in forma, 1 (6), pp.28-29, 2010

Dr. Miguel Castro | Dr. Alberto Vieira Departamento de Radiologia. Hospital de São João. Faculdade de Medicina do Porto. abstract

associa-se a lesões da cartilagem e do labrum postero-inferior do acetábulo num número significativo de casos (1,3,5).

Diagnóstico imagiológico

O conflito femoro-acetabular, uma entidade clínica até há pouco tempo ignorada, é actualmente reconhecida como uma importante causa de sintomatologia e osteoartrose precoce da anca, demonstrando particular incidência em indivíduos jovens e activos. O reconhecimento imagiológico dos factores de predisposição para este processo patológico e das suas consequências é fundamental para a atempada instituição das adequadas medidas profiláticas/terapêuticas.

A utilização dos métodos imagiológicos

The femoro-acetabular impingement, a clinical entity until recently ignored, is now recognized as an important cause of symptoms and early osteoarthritis of the hip, showing a particular focus on young physically active individuals. Imaging recognition of predisposing factors for this disease and its consequences is critical to the timely decision of appropriate prophylaxis / therapy.

focal (retroversão acetabular, persistência

palavras-chave keywords

Conflito Femoro-acetabular; Aspectos Imagiológicos (Femoro-acetabular Impingement; Imagiological Findings)

permite identificar a predisposição para este tipo de conflito, que ocorre nas situações em que há uma uma hiper-cobertura do “os” acetabular) (fig.1) ou generalizada (“coxa profunda”, “protusio acetabuli”) (fig.2) da cabeça femoral pelo acetábulo (4,6). A profundidade acetabular pode ser quantificada com o recurso ao índice acetabular ou ao ângulo de Wiberg (fig. 2 e 3) (6,7).

Introdução O conflito femoro-acetabular é uma entidade clínica recentemente descrita que se vem progressivamente reconhecendo como uma das mais importantes causas de osteoartrose da anca em indivíduos jovens e activos, emergindo como uma importante complicação a médio/longo prazo da prática desportiva. Caracteriza-se por um conflito, durante a mobilização da anca, tipicamente durante a flexão e a rotação interna, decorrente entre o anel acetabular e a cabeça femoral, que leva a uma degenerescência do labrum e a lesões cartilagíneas irreversíveis. De

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femoral, sendo então estas classificadas como de tipo misto (1-3). Embora a radiografia convencional represente o método imagiológico de avaliação inicial (incidências antero-posterior e lateral “frog leg”), esta acaba por ser frequentemente não diagnóstica. A ressonância magnética (RM) e particularmente a artrografia por RM apresentam-se como os métodos de imagem mais sensíveis e específicos para a demonstração das anomalias estruturais femoro-acetabulares, bem

ao ponto onde a parede anterior e a posterior do acetábulo se cruzam, situação consistente com retroversão acetabular.

como as alterações associadas do labrum, da cartilagem ou da medula óssea (4).

acordo com os achados clínicos e ima-

Tipo “Pincer”

giológicos podem-se definir dois tipos

Fisiopatologia

de conflito femoro-acetabular cuja dis-

Esta forma de conflito femoro-acetabu-

tinção é importante já que o tratamento

lar surge mais frequentemente em mu-

cirúrgico é distinto. No tipo “Pincer” as

lheres de meia idade, fisicamente acti-

alterações patológicas encontram-se a

vas. O o entre o anel acetabular e

nível acetabular enquanto que no tipo

a zona de junção entre o colo e a cabeça

“Cam” o processo patológico é predo-

femoral é secundário a um hiper-cobri-

minantemente femoral. No entanto, na

mento (focal ou generalizado) da cabeça

prática clínica, constata-se que em gran-

femoral pelo acetábulo. Como conse-

de parte das situações de conflito femo-

quência deste processo patológico pode

ro-acetabular existe quer um compo-

ocorrer degenerescência do labrum e

nente acetabular quer um componente

da cartilagem acetabular que levam a

Novembro 2010 * www.revdesportiva.pt

Figura 1 - Sinal do cruzamento ou do oito. A seta corresponde

Fig. 2 - Coxa profunda. Nestas situações verifica-se que o acetábulo (seta vermelha) cruza medialmente a linha ílio-isquial (seta branca). Quando a cabeça femoral também cruza medialmente a linha ílio-isquial denomina-se de “protusio acetabuli”. O ângulo de Wiberg é definido por duas linhas com origem no centro da cabeça femoral, sendo que uma é vertical e a outra a no bordo mais lateral do anel acetabular. Um ângulo superior a 39º é sugestivo de conflito do tipo Pincer.

As alterações secundárias a este tipo

terior da zona de junção entre a cabeça e

de conflito e que podem ser identifi-

o colo femoral que conduz a microtrau-

cadas imagiologicamente são seme-

matismos de repetição do anel aceta-

lhantes às descritas para o conflito

bular com consequente erosão/avulsão

femoro-acetabular do tipo “Pincer”,

da cartilagem e labrum acetabulares.

com a particularidade de que estão ge-

Nesta forma de conflito não há habitu-

ralmente restritas ao compartimento

almente lesão da cartilagem ou do la-

antero-superior da articulação coxo-

brum postero-inferior do acetábulo

femoral (fig.7) (8,9).

.

(6,8,9)

olhar e ver

Fig. 3- O índice acetabular (medido na anca esquerda)

uma anormal morfologia da vertente an-

corresponde ao ângulo formado entre uma linha horizontal e uma outra definida pelo ponto mais medial da zona eslerótica do tecto acetabular e o ponto mais lateral do anel acetabular. No conflito Pincer este ângulo é inferior ou igual a 0. Na anca direita o ângulo de Wiberg é superior a 39º (ver legenda anterior).

Por outro lado, nos doentes com semiologia sugestiva desta entidade clínica, os métodos de imagem podem demonstrar as alterações decorrentes deste tipo de conflito, que incluem a presença de herniações da sinovial na cabeça ou colo femoral (aspecto até à pouco tempo con-

Fig. 5 - Deformidade em “punho de pistola”. Resulta de uma

Fig. 7- Imagem de artro-RM, ponderada em T1, no plano

rectificação (achatamento ou convexidade superior) da

axial (orientada pelo colo femoral). Identifica-se avulsão

zona de transição lateral entre a cabeça e o colo femoral (se-

do labrum antero-superior (seta), bem como herniação si-

tas), que em situações normais é superiormente côncava.

novial (círculo), aspecto até há pouco tempo considerado sem significado patológico.

siderado sem significado clínico), lesões

Diagnóstico imagiológico

da cartilagem e labrum acetabular (mais

A predisposição para este tipo de con-

comuns na vertente antero-superior,

flito surge quando existe uma deformi-

mas com possível atingimento da ver-

dade em “punho de pistola” da transição

se for osteoarthritis of the hip. Clin Orthop Relat Res.

tente postero-inferior – aspecto raro no

entre a cabeça e o colo femoral (fig.5),

2003;417:112-20.

tipo Cam) (fig.4) e nas fases mais avan-

quando está presente uma “bosseladu-

çadas manifestações de osteoartrose (6,8).

ra” óssea no colo proximal, nas situa-

3. Pierannunzii L, d’Imporzano M. Treatment of femoro-

ções de retroversão da cabeça femoral

acetabular impingement: a modified resection osteoplasty

ou de coxa vara. A avaliação do ângulo alfa pode ser muito útil no diagnóstico e quantificação da deformidade do tipo “Cam” (fig.6) (8,10).

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Fig. 4 - Imagem sagital de RM ponderada em DP. Obser-

bular dysplasia in the adolescent and young adult. Clin

va-se avulsão da vertente antero-superior do labrum (seta

Orthop Relat Res 1990; 261:214–223

vermelha) e irregularidade da cartilagem acetabular

8. Pfirrmann CWA, Mengiardi B, Dora C, et al. Cam and

(seta branca), o tipo mais comum de lesão condro-labral

Pincer femoroacetabular impingement: characteristics

em ambos os tipos de conflito femoro-acetabular. Geode acetabular (seta laranja).

Fig. 6- Imagem de RM, ponderada em eco de gradiente, no plano axial (orientada pelo colo femural). O ângulo alfa permite quantificar a perda de esfericidade da cabeça fe-

Tipo “Cam” Fisiopatologia Este tipo de conflito femoro-acetabular surge mais frequentemente em atletas jovens do sexo masculino e resulta de

moral. É definido por duas linhas com um ponto comum no centro da cabeça femoral, sendo que uma se prolonga pelo eixo central do colo e a outra se dirige para o ponto da periferia da cabeça femoral que excede o seu raio. Um ângulo superior a 55º sugere perda da esfericidade da ca-

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beça femoral. Notar a “bosseladura” na vertente anterior

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da transição entre a cabeça e o colo femoral.

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Revista de Medicina Desportiva in forma * Novembro 2010

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