Capítulo I
A Contabilidade Social PAULANI, L. M.; BRAGA, M. B.. A nova contabilidade Social: Uma introdução à macroeconomia. 4ª ed. – São Paulo: Saraiva, 2012.
Economia da Produção – Profa. Juliana de Sales Silva
Economia da Produção – Profa. Juliana de Sales Silva
1.1
Introdução
A Contabilidade Social congrega instrumentos de mensuração capazes de aferir o movimento da economia de um país num determinado período de tempo: quanto se produziu quanto se consumiu
quanto se investiu quanto se vendeu para o exterior quanto se comprou do exterior
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1.1
Introdução
Mas por que medir tudo sob a forma de contas? Por que fazer uma contabilidade? A resposta para tais questões a pela própria história do pensamento econômico, especialmente pela evolução da macroeconomia. A macroeconomia, em especial, trabalha numa dimensão macroscópica, com variáveis sempre agregadas.
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1.1
Introdução
A ciência econômica nasceu ao final do século XVIII, e preocupava-se com o crescimento econômico e a repartição do produto social. Escola Clássica Adam Smith (1723-1790)
David Ricardo (1772-1823) John Stuart Mill (1806-1873) Jean Baptiste Say (1767-1832)
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1.1
Introdução
Antes dos clássicos, os fisiocratas haviam demonstrado preocupações semelhantes. Com a chamada revolução marginalista, iniciada no final do século XIX, a preocupação com o nível agregado perde forças, e a dimensão microeconômica a a predominar. preocupação com o comportamento dos agentes preocupação com o nível agregado sobrevivia na idéia do equilíbrio geral século XX: idéia do equilíbrio parcial
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1.1
Introdução
A Macroeconomia encontra seu berço na obra de John Maynard Keynes (1936), intitulada Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda. É a partir da Teoria Geral de Keynes que ganham contornos definitivos os conceitos fundamentais da contabilidade social, bem como a existência de identidades no nível macro e a relação entre os diferentes agregados.
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1.1
Introdução
A obra de Keynes indica aos economistas: o que medir em nível agregado como fazê-lo
A revolução keynesiana conferiu aos economistas a capacidade de verificar o comportamento e a evolução da economia de um país numa dimensão sistêmica.
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1.1
Introdução
Princípio das Partidas Dobradas
A um lançamento a débito, deve sempre corresponder um outro de mesmo valor a crédito. Equilíbrio Externo Necessidade de equilíbrio entre todas as contas do sistema.
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1.1
Introdução
Escolhida a contabilidade como o instrumento por excelência de aferição macroscópica do movimento econômico, tudo se a como se a economia de todo um país pudesse ser vista como a de uma única grande empresa. A contabilidade social não se reduz ao sistema de contas nacionais, mas também integram esse conjunto o balanço de pagamentos e as contas do sistema monetário. Também engloba indicadores de distribuição de renda, indicadores de desenvolvimento (IDH) e a comparação desses indicadores entre diversos países.
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1.1
Introdução
Quanto à contabilidade nacional, é a partir do ano 1940 que se avolumam os esforços para mensurar todos os agregados necessários e desenhar logicamente o sistema. No Brasil, as contas nacionais começaram a ser elaboradas em 1947 pela Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro, ando em 1986 para o IBGE.
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1.2
Conceitos Básicos: Produto, Renda e Despesa Agregada e o Fluxo Circular da Renda
1.2.1
Considerações Iniciais
No sistema econômico em que vivemos, tudo pode ser avaliado monetariamente, de modo que toda a imensa gama de diferentes bens e serviços que uma economia é capaz de produzir pode ser transformada em algo de mesma substância, ou seja, a moeda ou dinheiro.
Assim, é possível agregar e mensurar uma infinidade de diferentes transações, permitindo avaliar a evolução da economia.
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1.2
1.2.1
Conceitos Básicos: Produto, Renda e Despesa Agregada e o Fluxo Circular da Renda Considerações Iniciais
O sistema capitalista tem na troca o seu mecanismo básico de funcionamento. a troca, portanto, constitui a forma por excelência de organização da vida material do homem na sociedade moderna. Nesse sentido, quando falamos em identidade a primeira coisa que pensamos é: Venda = Compra
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1.2
1.2.1
Conceitos Básicos: Produto, Renda e Despesa Agregada e o Fluxo Circular da Renda Considerações Iniciais
Antes de estudarmos as identidades básicas, vale lembrar que uma identidade contábil do tipo A = B não implica nenhuma relação de causa e efeito da variável A para a variável B, ou vice-versa.
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1.2
Conceitos Básicos: Produto, Renda e Despesa Agregada e o Fluxo Circular da Renda
1.2.2
A identidade produto Ξrenda Ξ dispêndio
Exemplo
Economia hipotética H, fechada (não realiza transação com o exterior) e sem governo existem quatro setores, cada um com uma empresa: - produção de sementes (setor 1) - produção de trigo (setor 2) - produção de farinha de trigo (setor 3)
- produção de pão (setor 4)
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1.2
Conceitos Básicos: Produto, Renda e Despesa Agregada e o Fluxo Circular da Renda
1.2.2
A identidade produto Ξrenda Ξ dispêndio
Exemplo
Situação 1 - Empresa do setor 1 produziu sementes no valor de $ 500 e vendeu-as para o setor 2 - Empresa do setor 2 produziu trigo no valor de $1500 e vendeu-o para o setor 3 - Empresa do setor 3 produziu farinha de trigo no valor de $2100 e vendeu-a para o setor 4 - Empresa do setor 4 produziu pães no valor de $2520 e vendeu-os aos consumidores.
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1.2
Conceitos Básicos: Produto, Renda e Despesa Agregada e o Fluxo Circular da Renda
1.2.2
A identidade produto Ξrenda Ξ dispêndio
Exemplo
Produto da economia H na situação 1 - sementes no valor de $ 500 - trigo no valor de $1500
- farinha de trigo no valor de $2100 - pães no valor de $2520 Valor total da produção: $6620
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1.2
Conceitos Básicos: Produto, Renda e Despesa Agregada e o Fluxo Circular da Renda
1.2.2
A identidade produto Ξrenda Ξ dispêndio
Exemplo
Entretanto, para se chegar ao valor do produto da economia, ou produto agregado, é preciso deduzir do valor bruto da produção o valor do consumo intermediário (ou consumo de insumos utilizados na produção). A forma mais fácil e prática de se chegar ao valor do produto da economia é considerar apenas o valor dos bens finais, ou seja, neste caso apenas o valor dos pães, supondo que todos os demais produtos foram utilizados integralmente como insumos para a produção destes.
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1.2
Conceitos Básicos: Produto, Renda e Despesa Agregada e o Fluxo Circular da Renda
1.2.2
A identidade produto Ξrenda Ξ dispêndio
Exemplo
Situação 2 - Empresa do setor 1 produziu sementes no valor de $ 500 e vendeu-as para o setor 2 - Empresa do setor 2 produziu trigo no valor de $1500 e vendeu-o para o setor 3 uma parcela equivalente a $1000, ficando com uma quantidade de trigo no valor de $500. - Empresa do setor 3 produziu farinha de trigo no valor de $1400 e vendeu-a para o setor 4 - Empresa do setor 4 produziu pães no valor de $1680 e vendeu-os aos consumidores.
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1.2
Conceitos Básicos: Produto, Renda e Despesa Agregada e o Fluxo Circular da Renda
1.2.2
A identidade produto Ξrenda Ξ dispêndio
Exemplo
Neste caso, o produto da economia H no período não é apenas o valor da produção de pães (no caso $1680) mas também deve computar a parcela de trigo que foi produzida pelo setor 2 mas não foi vendida ao setor 3. Logo, teremos um produto de $2180 no período.
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1.2
1.2.2
Conceitos Básicos: Produto, Renda e Despesa Agregada e o Fluxo Circular da Renda A identidade produto Ξrenda Ξ dispêndio
Todo bem que, por sua natureza, é final deve ter seu valor considerado no cálculo do valor do produto, mas nem todo bem cujo valor entra no cálculo do produto é um bem final por natureza. A ótica da despesa ou ótica do dispêndio avalia o produto de uma economia considerando a soma dos valores de todos os bens e serviços produzidos no período que não foram destruídos (ou absorvidos como insumos) na produção de outros bens e serviços.
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1.2
1.2.2
Conceitos Básicos: Produto, Renda e Despesa Agregada e o Fluxo Circular da Renda A identidade produto Ξrenda Ξ dispêndio
A ótica do dispêndio não é a única maneira pela qual podemos averiguar e mensurar qual foi o produto de uma dada economia num período. Podemos considerar também a ótica do produto, que considerar o que os economistas denominaram de valor adicionado. Neste caso, não observaremos o resultado final e sim o que foi efetivamente produzido setor a setor. Considerando a primeira situação, teremos que:
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1.2
1.2.2
Conceitos Básicos: Produto, Renda e Despesa Agregada e o Fluxo Circular da Renda A identidade produto Ξrenda Ξ dispêndio
- setor 1 produziu sementes no valor de $500 sem se utilizar de nenhum insumo - setor 2 produziu trigo no valor de $1500, utilizando-se sementes que havia adquirido no valor de $500 - setor 3 produziu farinha de trigo no valor de $2100, utilizando-se do insumo trigo, adquirido ao valor de $1500 - setor 4 produziu pães no valor de $ 2520, utilizandose do insumo farinha de trigo, adquirido ao valor de $2100.
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1.2
1.2.2
Conceitos Básicos: Produto, Renda e Despesa Agregada e o Fluxo Circular da Renda A identidade produto Ξrenda Ξ dispêndio
Então, o produto (ou valor adicionado) de cada setor será: Setor 1:
$500
Setor 2:
$1500 - $500 = $1000
Setor 3:
$2100 - $1500 = $600
Setor 4:
$2520 - $2100 = $420
Produto total ou valor adicionado total:
$2520
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1.2
1.2.2
Conceitos Básicos: Produto, Renda e Despesa Agregada e o Fluxo Circular da Renda A identidade produto Ξrenda Ξ dispêndio
Pela ótica do produto, a avaliação do produto total da economia consiste na consideração do valor efetivamente adicionado pelo processo de produção em cada unidade produtiva.
Logo,
Produto ΞDispêndio
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1.2
1.2.2
Conceitos Básicos: Produto, Renda e Despesa Agregada e o Fluxo Circular da Renda A identidade produto Ξrenda Ξ dispêndio
A terceira forma de enxergar o produto de uma economia é através da ótica da renda. a produção do que quer que seja demanda, além da matéria-prima e de outros insumos, o consumo de fatores de produção. No exemplo, consideremos a existência de apenas dois fatores de produção: trabalho e capital. É entre capital e trabalho que deve ser repartido o produto gerado pela economia.
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1.2
1.2.2
Conceitos Básicos: Produto, Renda e Despesa Agregada e o Fluxo Circular da Renda A identidade produto Ξrenda Ξ dispêndio
Salário
remuneração do fator trabalho
Lucro
remuneração do fator capital
Assim, num dado período de tempo, as remunerações de ambos os fatores conjuntamente consideradas devem igualar, em valor, o produto obtido pela economia nesse mesmo período. As remunerações pagas constituem o que chamamos de renda.
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1.2
Conceitos Básicos: Produto, Renda e Despesa Agregada e o Fluxo Circular da Renda
1.2.2
A identidade produto Ξrenda Ξ dispêndio
Logo,
Produto ΞDispêndio
Pela ótica da renda, podemos avaliar o produto gerado pela economia num determinado período de tempo, considerando o montante total das remunerações pagas a todos os fatores de produção nesse período.
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1.2
1.2.2
Conceitos Básicos: Produto, Renda e Despesa Agregada e o Fluxo Circular da Renda A identidade produto Ξrenda Ξ dispêndio
Consideradas as três óticas conjuntamente, podemos concluir que: A identidade produto Ξ dispêndio Ξ renda significa que, se quisermos avaliar o produto de uma economia num determinado período, podemos somar o valor de todos os bens finais produzidos ou, alternativamente, somar os valores adicionais de cada unidade produtiva ou, ainda, somar as remunerações pagas a todos os fatores de produção.
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1.2
Conceitos Básicos: Produto, Renda e Despesa Agregada e o Fluxo Circular da Renda
1.2.3
O fluxo circular da renda
Os membros que constituem a sociedade aparecem duas vezes no jogo de sua reprodução material e desempenham dois papéis distintos: num determinado momento, são produtores; no outro, surgem como consumidores daquilo que foi produzido.
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1.2
1.2.3
Conceitos Básicos: Produto, Renda e Despesa Agregada e o Fluxo Circular da Renda O fluxo circular da renda
Como produtores, os membros da sociedade se organizam em conjuntos aos quais se dá o nome de unidades produtivas ou empresas. Na condição de consumidores, eles são membros de conjuntos de outra natureza, aos quais denominamos famílias.
Além de desempenhar o papel de consumidores, as famílias detêm também a condição de proprietárias dos fatores de produção, e é nessa condição que garantem seu o aos bens e serviços produzidos pelas empresas.
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1.2
Conceitos Básicos: Produto, Renda e Despesa Agregada e o Fluxo Circular da Renda
1.2.3
O fluxo circular da renda
Uma possível seqüência seria: 1.
As famílias transferem às empresas os fatores de produção de que são proprietárias (trabalho e capital material);
2.
As empresas combinam esses fatores num processo de produção e obtém como resultado um conjunto de bens e serviços;
3.
Fechando o fluxo, as empresas transferem às famílias os bens e serviços produzidos;
4.
As famílias consomem os bens e serviços.
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1.2
1.2.3
Conceitos Básicos: Produto, Renda e Despesa Agregada e o Fluxo Circular da Renda O fluxo circular da renda
Esquematicamente, (figura 1.1)
Neste esquema só temos fluxos de bens e serviços. Mas também devemos considerar o fluxo monetário.
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1.2
Conceitos Básicos: Produto, Renda e Despesa Agregada e o Fluxo Circular da Renda
1.2.3
O fluxo circular da renda
Considerando o fluxo monetário, nosso esquema poderia ser da seguinte forma: 1.
As famílias cedem às empresas os fatores de produção de que são proprietárias e, em troca, recebem das empresas uma renda;
2.
As empresas combinam esses fatores num processo de produção e obtém como resultado um conjunto de bens e serviços;
3.
Com a renda recebida em troca da utilização, na produção, dos fatores de que são proprietárias, as famílias compram bens e serviços das empresas;
4.
As famílias consomem os bens e serviços.
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1.2
1.2.3
Conceitos Básicos: Produto, Renda e Despesa Agregada e o Fluxo Circular da Renda O fluxo circular da renda
Esquematicamente,
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1.2
1.2.3
Conceitos Básicos: Produto, Renda e Despesa Agregada e o Fluxo Circular da Renda O fluxo circular da renda
Assim, além da percepção de que há uma identidade entre produto, dispêndio e renda, uma outra forma de considerar o conjunto de atividades e transações efetuadas por uma economia é notar o vaivém de bens e serviços concretos e de dinheiro orquestrado pelas trocas conforme um fluxo, a que se dá o nome de fluxo circular da renda. A idéia do fluxo circular está associada exclusivamente ao lado monetário.