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CAPÍTULO 8 A construção da pesquisa
8.1 Contextualizando Caro aluno, seja bem-vindo ao final de nossa jornada. Nos sete capítulos anteriores fizemos um percurso pela história do conhecimento e estudamos particularidades do universo da comunicação. Nos dois últimos vimos as tendências da pesquisa e as fontes, para aprimorar o saber comunicacional. Agora, aprenderemos como elaborar um trabalho científico e construir uma pesquisa. A metodologia da pesquisa científica aplicada à comunicação dialoga com vários campos disciplinares. Segundo Duarte e Barros (2009, p. 28), “a comunicação corta transversalmente várias disciplinas das ciências sociais. Em certas problemáticas, ela assume papel central”. Neste capítulo 8, vamos conversar sobre os os iniciais para começar a construção de um projeto de pesquisa. Depois apresentaremos quais são os métodos e técnicas de pesquisa em comunicação e apreenderemos como podem ser utilizados na elaboração de uma monografia nesta área. Finalmente, vamos discutir os aspectos principais para a construção da pesquisa. É importante destacar que neste capítulo você vai saber como escolher um tema adequado de pesquisa, aprender a delimitar o seu objeto de estudo, identificar qual problema pode ser abordado em seu trabalho e como deve ser feita a reformulação das hipóteses. Em seguida, enfatizaremos como devem ser elaborados os objetivos e a partir deles, pensar na justificativa do seu trabalho de pesquisa.
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Portanto, saberemos quais procedimentos metodológicos são mais adequados ao tipo de pesquisa que se pretende realizar e como faremos a escolha do referencial teórico. Ao final deste capítulo você será capaz de: •• elaborar um projeto de pesquisa; •• identificar os os principais para a construção de um trabalho monográfico; •• aplicar diferentes métodos e técnicas na pesquisa em comunicação.
8.2 Conhecendo a teoria Agora que você já sabe quais são os objetivos de nosso capítulo, vamos tratar de algumas características de um trabalho monográfico, segundo Umberto Eco.
BIOGRAFIA Umberto Eco é escritor, filósofo, semiólogo e pesquisador acadêmico italiano. Ele elaborou um interessante roteiro para o desenvolvimento de um trabalho monográfico, o livro chama-se ‘Como se faz uma tese’ e nos conduz na aventura que é investigar e dissertar sobre um tema. Eco é um dos maiores escritores vivos. Na literatura lançou livros reconhecidos internacionalmente Figura1-UmbertoEco como ‘O nome da rosa’, que virou filme. No Fonte: Disponível em: campo da estética lançou recentemente ‘A . ‘Apocalípticos e integrados’, de sua autoria, é um título fundamental para compreender a cultura de massas.
E por que devemos levantar esta discussão neste momento? Porque precisamos primeiro conhecer o que é um trabalho monográfico para entender a importância dos procedimentos que serão apresentados ao longo do nosso capítulo 8.
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A primeira questão, em Como se faz uma tese, que Eco (2007) nos coloca é sobre a natureza deste tipo de projeto. Seja esse uma monografia, uma dissertação de mestrado ou uma tese de doutorado, deve tratar de um problema real e possível de ser investigado, e que esteja relacionado com uma determinada área de estudo. O ponto de partida é o desenvolvimento de um projeto de pesquisa, por essa razão faz-se necessária esta reflexão sobre a obra do autor. É importante ressaltar que o projeto de pesquisa deve ser original. Atualmente, com o desenvolvimento das mídias digitais, o plágio é bastante comum, e também bastante condenável, com uma legislação específica para coibi-lo, e assim estimular o processo de criação e elaboração do conhecimento. Porém, antes de começar qualquer projeto de pesquisa é importante buscar o que outros pesquisadores já escreveram sobre o tema que está sendo investigado. É fundamental conhecer o argumento dos demais estudiosos, explorando todos os tipos de fontes disponíveis, como arquivos de jornal, artigos científicos, a bibliografia produzida e trabalhos apresentados em simpósios e congressos. Após a busca das referências bibliográficas, é necessário ler todo o material relacionado ao tema que está sendo investigado e procurar descobrir algo que os outros autores ainda não disseram. Isso fará parte dos objetivos de seu trabalho e será muito importante para a construção da justificativa. A relevância do trabalho de pesquisa é justamente dizer algo de inédito sobre o tema investigado. É bom pensarmos nisso.
CURIOSIDADE Segundo Eco (2007) existem algumas regras básicas para elaboração de um projeto de pesquisa monográfica, são elas: 1. Que o tema responda aos interesses do candidato. 2. Que as fontes de consulta sejam íveis. 3. Que as fontes de consulta sejam manejáveis. 4. Que o quadro metodológico da pesquisa esteja ao alcance da experiência do candidato. 5. Que o professor seja adequado.
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As regras sugeridas por Eco (2007) podem ser simplificadas da seguinte forma: primeiro, é fundamental que o tema seja algo que o pesquisador tenha afinidade e queira lançar um novo olhar sobre ele. Exemplo: quer pesquisar sobre o tema da publicidade no cinema? É importante que conheça relativamente bem as mídias que quer estudar e goste do assunto. Em seguida é imprescindível que as fontes sejam fáceis de encontrar. Vamos supor que você queira pesquisar sobre os jornais que eram publicados no começo do século XX no Estado do Rio Grande do Norte. Como fazer para encontrar estas fontes? Esta tarefa será muito dispendiosa? Imagine que você esteja construindo seu projeto de monografia e encontre outro trabalho que dialogue com o tema que você está pretendendo investigar, não seria excelente a possibilidade de poder seguir as fontes utilizadas pelo outro autor como um guia de trabalho? Por essa razão é importante que as fontes sejam íveis e manejáveis, entendeu? Agora, por que o autor diz que o quadro metodológico deve estar ao alcance do pesquisador? Porque é essencial que a pessoa que esteja escrevendo um projeto de monografia saiba quais são as metodologias e as técnicas mais adequadas ao seu objeto de pesquisa. Finalmente, a afinidade entre professororientador e pesquisador-orientando é outro elemento que colabora demais para o sucesso de um projeto. Você deve procurar um professor-orientador que trabalhe dentro da área de pesquisa que você está desejando investigar, ou que tenha interesse em começar um trabalho inédito ao seu lado. Comunicação e interesses em comum são os elementos-chave dentro deste aspecto.
INTERAGINDO E você sabe quais são as técnicas de pesquisa mais aplicadas na comunicação? Você já utilizou anteriormente alguma metodologia na construção de um trabalho científico? Converse com seus colegas sobre quais são as metodologias que vocês conseguem identificar na elaboração de trabalhos que tenham tido contato.
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8.2.1 A escolha do tema A comunicação social divide-se em diferentes habilitações e todas elas oferecem um campo muito fértil de pesquisa, dispondo de uma multiplicidade de temas e áreas para investigação. As diferentes habilitações ainda fornecem diversas leituras, ampliando as possibilidades de análise sobre determinado objeto, seja este alvo de estudo do jornalismo, da publicidade e propaganda ou do cinema. A escolha do tema se torna ao mesmo tempo uma tarefa fácil, pela gama de escolhas, mas ao mesmo tempo difícil, pois uma variedade de temas podem nos seduzir, o que nos trará problemas para identificar aquele que mais se aproxima de nosso interesse e que possa contribuir na elaboração de um saber. Esta identificação é importante, pois quanto mais recortamos o nosso objeto de estudo, maior é a margem de segurança que temos para pesquisar e escrever. O projeto de pesquisa precisa se concentrar em apenas um tema. Quanto mais o objeto, melhor para o pesquisador desenvolver o seu trabalho de investigação. Vimos que o escritor Umberto Eco alerta para que o interesse do pesquisador sobre o tema deva ser colocado em primeiro lugar na hora de sua escolha. Esse interesse pode estar conjugado a diferentes fatores, como as perspectivas de atuação profissional, talvez suas pretensões acadêmicas ou até mesmo a proximidade com sua experiência no mercado de trabalho.
SAIBA QUE Três aspectos sobre a escolha do tema devem ser destacados: 1. o tema deve ter um recorte; 2. deve tratar de uma temática atual ou pouco discutida; 3. as referências bibliográficas utilizadas devem ser localizadas com facilidade.
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Vale a pena ressaltar que toda pesquisa iniciada por você na graduação pode transformar-se em uma excelente oportunidade de aprofundamento daquela investigação, sendo possível aproveitá-la para a produção de artigos científicos, capítulos de livros, ou na elaboração de um projeto para ingresso numa pós-graduação. Segundo Israel Belo de Azevedo (2004, p. 41), o tema deve apresentar determinados aspectos para o pesquisador, por exemplo: •• demonstrar um determinado grau de curiosidade, tanto aos aspectos gerais quanto particulares; •• ter desenvolvido alguma experiência de pesquisa com as áreas investigadas; •• possuir um razoável conjunto de conhecimento sobre o tema; •• demonstrar uma postura crítica a partir dos referenciais teóricos estudados; •• dispor de condições adequadas para colocar em prática o projeto de pesquisa. Ouvimos muito que os pesquisadores escolhem o seu tema, mas também sabemos que podemos ser escolhidos por um tema que fará parte de nossas reflexões acadêmicas por um longo tempo, daí a importância de todo trabalho de pesquisa ser muito bem realizado. E você já parou para pensar na relevância de um trabalho de pesquisa? Como professores e orientadores de TCC nos deparamos com muitos projetos de monografia, que às vezes querem apenas continuar a discussão do mesmo ponto em que outro pesquisador parou. Este tipo de procedimento não é encorajado na academia. Nosso objetivo é produzir conhecimento novo, ou enxergar por um novo ângulo aquilo que já foi objeto de estudo de outros. O que estamos querendo dizer para você neste momento é que seu tema de pesquisa precisa ser relevante. Deve ficar claro para você quais contribuições para a comunicação social o seu trabalho pode oferecer. Uma pesquisa útil e de fácil aplicabilidade é elemento fundamental na construção do saber. Por fim, é importante lembrar que um bom tema é aquele sobre o qual há fontes íveis e alcançáveis de consulta. Na escolha, a decisão deve ser precedida de uma verificação do que já existe sobre o assunto e aspectos correlatos (AZEVEDO, 2004, p. 41).
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É esforço inútil querer investigar um tema muito abrangente se não temos leituras teóricas que o abarquem. É importante mesmo que você escolha um tema que esteja próximo da sua realidade de vida e de estudante. Tudo isso evita o desperdício de tempo e energia e nos favorece na hora de delimitar nosso objeto de estudo, que trataremos no próximo tópico.
8.2.2 A delimitação do objeto de estudo Quando fazemos uma viagem ao nosso tempo de acadêmicos, lembramos de colegas que desejavam fazer pesquisas muito amplas, mas que no final não conseguiam atingir sequer o primeiro objetivo. E agora, como mestres, vemos a mesma cena se repetindo e acreditamos que essa persistência se deva ao fato de desejarmos sempre escolher temas bastante gerais. Você pode estar se questionando se há algum mal nisso. De fato, não existe nada de errado em procurar trabalhar dentro das grandes linhas de pesquisa já em andamento na comunicação, o que devemos ficar atentos é sobre a necessidade de se fazer um recorte em cima do que desejamos desenvolver em nosso projeto de pesquisa. Estamos tratando da elaboração de um projeto de pesquisa para um trabalho monográfico, logo, é importante lembrar-se das limitações de tempo e até mesmo de experiência na reflexão sobre determinados autores e temas. É muito difícil deparar-se com uma área totalmente nova e conseguir desenvolver um trabalho de boa qualidade. A segurança no nosso fazer científico advém de nossa experiência prática e conceitual, daí a relevância de tratar de objetos limitados dentro de um universo de investigação. Assim, é necessário que o objeto de estudo por você escolhido seja limitado, preciso e bem específico de uma determinada área. É bastante comum que um tema venha a se derivar em vários objetos para pesquisa, entretanto é essencial que o recorte seja definido, até mesmo para que o pesquisador possa caminhar com mais segurança dentro dos objetivos que ele se colocou para o seu projeto de pesquisa. Por vezes, quando procuramos dar conta de um projeto de monografia com vários elementos, é comum não existir tempo suficiente para que
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a apreciação sobre determinados aspectos seja realizada de forma mais cuidadosa. A superficialidade acaba ganhando espaço e o trabalho perde em qualidade e relevância. Para Israel Belo de Azevedo (2004, p. 44): “A delimitação deve definir claramente o campo do conhecimento a que pertence o assunto, bem como o lugar que ocupa no tempo e no espaço”. Delimitar o objeto de estudo traz segurança na execução do projeto e nos desdobramentos da investigação que será colocada em prática por você. Ficar atento a este ponto ajudará-lo a trabalhar com eficiência e objetividade. No tópico seguinte, discutiremos de forma bastante breve como podemos pensar na problemática do nosso trabalho.
8.2.3 A elaboração da problemática Sempre que travamos contato com a palavra problemática, ficamos imaginando uma série de problemas que precisam ser resolvidos diante de determinado objeto de pesquisa, ou até mesmo que estamos trabalhando com um tema com muitos problemas para investigar. Na verdade, a problemática de um trabalho de pesquisa é representada pela pergunta ou perguntas que são colocadas pelo pesquisador para o objeto de estudo. A resolução destas perguntas ou questionamentos será obtida a partir de um quadro teórico de referência e da utilização de técnicas e metodologias de pesquisa. Para Israel Belo de Azevedo (2004, p. 46): “Problemas são as perguntas que a pesquisa pretende resolver. Colocar os problemas em forma de interrogativas torna-os mais diretivos, por demandarem uma resposta clara”. Assim, vamos tomar como exemplo um projeto de pesquisa real e vejamos como o pesquisador elaborou sua problemática.
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REFLEXÃO Nosso problema de pesquisa é: Como uma nova tecnologia midiática subsidiada pelo governo em parceria com a iniciativa privada pode tornar-se um mecanismo de inclusão social e democratização do o?
Outros autores convergem para o mesmo ponto de vista, é assim que se expressam Barros e Duarte sobre a problemática de um trabalho de pesquisa (2010, p. 42): uma vez determinado o tema, é necessário formular a pergunta de partida. É preciso problematizar o tema. Como? Parte-se de uma pergunta, a qual pode gerar outras. São tais perguntas que serão respondidas (ou discutidas) ao longo da pesquisa.
Sabendo que a problemática é composta por uma questão central ou mais perguntas sobre o objeto que estamos estudando, é hora de saber também como denominar as respostas encontradas. Quando estamos pensando em responder uma problemática, chamamos de hipóteses as possíveis respostas aos nossos questionamentos durante a pesquisa. A formulação das hipóteses pode ser considerada nosso quarto o na construção da pesquisa.
DEFINIÇÃO Hipóteses são as respostas provisórias (anteriores à pesquisa) que o pesquisador oferece. O resultado pode negá-las ou confirmá-las (AZEVEDO, 2004, p. 46).
É interessante trabalhar com hipóteses centrais e secundárias, pois na medida em que as vamos testando, temos uma nova compreensão sobre o objeto de estudo e podemos avançar em nosso projeto, ou refazer as problemáticas e suas respectivas hipóteses.
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Em linhas gerais, podemos levantar uma reflexão sobre a percepção de Barros e Duarte (idem, p. 43) sobre a formulação das hipóteses: a formulação das hipóteses ajuda a encontrar um norte para a pesquisa. A partir da hipótese, percebe-se qual rumo deve ser seguido. As hipóteses am a ser a busca de uma resposta para a questão inicial. Essa resposta pode ser confirmação parcial ou total da hipótese ou até mesmo a negação dela. É importante ressaltar que o pesquisador não deve forçar a confirmação de suas hipóteses. Acima de tudo está o exercício da investigação.
Você acompanhou até agora quatro os da construção da pesquisa: a escolha do tema, a delimitação do objeto de estudo, a elaboração da problemática e a formulação da hipótese. É hora de conhecer como planejamos nosso projeto de pesquisa. As metas que estabelecemos são chamadas de objetivos. No próximo tópico vamos conversar sobre como devemos formular os objetivos para o trabalho de pesquisa.
Os objetivos da pesquisa Inicialmente devemos refletir sobre o objetivo de fazer uma pesquisa. Todo investigador, quando inicia este tipo de projeto, tem em mente responder alguma questão ou solucionar algum problema. Por isso que elabora primeiro suas hipóteses. Os objetivos estão ligados de forma muito íntima, tanto com a definição da problemática quanto ao estabelecimento das possíveis hipóteses para investigação. Desta forma, consideramos objetivos da pesquisa os os que o pesquisador deve dar para alcançar as metas estabelecidas para a análise do seu objeto de estudo. Os objetivos podem ser divididos em dois tipos: geral, ou seja, a meta principal que é buscada durante o trabalho; e específicos, os demais os que são necessários para a construção ou refutação da hipótese que está sendo levantada pela pesquisa. Para os autores Duarte e Barros (2010, p. 43) os objetivos podem ser divididos da seguinte maneira: 1. gerais: determinam, em nível macro, as ações que levarão ao desenho geral da execução da pesquisa, sem perder de vista a instância pragmática;
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2. específicos (ou operacionais): expõem, em nível micro, todas as ações necessárias para responder às questões apontadas na problemática da pesquisa, de tal forma que permitam a confirmação ou refutação das hipóteses.
Agora que sabemos o que são os objetivos gerais e específicos, podemos pensar na forma que eles são construídos. Um dos primeiros cuidados que devemos ter ao elaborar os nossos objetivos é utilizar os verbos que se aplicam ao processo de pesquisa. Temos como alguns exemplos: Analisar, Apontar, Confrontar, Configurar, Constatar, Descrever, Elucidar, Entender, Examinar, Formular, Historiar, Identificar, Investigar, Perceber, Sistematizar, Verificar etc. Por vezes adotamos determinados verbos que estão mais relacionados às atividades de extensão, o que pode provocar uma confusão em torno de nossas reais intenções de pesquisa. Segundo Dalberio & Dalberio (2009, p. 59): “Ao pensar no objetivo e sempre que iniciar sua construção, o investigador deve vislumbrá-lo, utilizando-se de verbos no infinitivo. [...] Assim, os verbos expressam uma ideia que engloba o todo da pesquisa”. Geralmente sugerimos que exista um objetivo específico para cada seção ou capítulo do projeto de pesquisa. Para Dalberio & Dalberio (2009, p. 60) é importante destacar que os objetivos específicos devem expressar o que será feito efetivamente em cada capítulo ou seção do relatório final da pesquisa. Por isso são específicos, pois expressam a particularidade do exercício a ser realizado pelo investigador em cada parte do trabalho.
Na nossa experiência de professores e orientadores podemos acompanhar a angústia dos alunos para pensar quais objetivos podem ser considerados essenciais para o seu trabalho. Para evitar este tipo de preocupação, sempre orientamos nossos alunos para que conheçam suficientemente o tema que desejam investigar, ou que tenham um conhecimento considerável sobre as fontes de pesquisa que serão tomadas como referencial teórico para a pesquisa. Como falamos anteriormente, você pode escolher o seu objeto de pesquisa, ou o seu objeto de pesquisa pode escolher você, é bom estar preparado para as duas possibilidades. Métodos e Técnicas de Pesquisa em Comunicação
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INTERAGINDO Converse com seus colegas que estudam esta disciplina no ambiente virtual de aprendizagem sobre os possíveis objetos de pesquisa que mais lhe despertam a curiosidade. Pergunte para eles quais os seus possíveis temas de investigação. Procure descobrir ainda se algum deles já fez algum trabalho na área que pretende desenvolver no TCC ou se gostaria de explorar um tema novo. A troca de experiências é uma excelente maneira de descobrir mais em torno da construção de nossa pesquisa.
Construindo a justificativa Caro aluno, a partir de agora nos aproximamos da construção de um elemento essencial de nossa pesquisa: a justificativa. Ela deve ser orientada a partir dos elementos que pensamos anteriormente, como a problemática, o levantamento das hipóteses e os objetivos que elaboramos a partir do nosso tema de pesquisa e do objeto de estudo escolhido. Vamos acompanhar agora como podemos trabalhar mais este elemento no nosso projeto de investigação. A justificativa da pesquisa trata dos motivos que conduziram o pesquisador na seleção dos materiais, referenciais teóricos e as metodologias e técnicas de pesquisa para a execução do seu trabalho. Neste momento, o investigador tem a oportunidade de destacar qual a relevância de seu projeto de pesquisa e se as suas escolhas, tanto teóricas quanto metodológicas podem auxiliá-lo neste trabalho.
DEFINIÇÃO Justificar é oferecer razão suficiente para que algo tenha acontecido ou aconteça. A justificativa de um projeto consiste em apresentar motivos bons o bastante para o desenvolvimento de pesquisa acerca do tema específico escolhido (SANTOS, 2001, p. 82).
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É importante indicar que você precisa explicar que contribuições sua pesquisa pode oferecer para a elaboração de novos saberes e socialização do conhecimento. É na leitura da justificativa que o professor-orientador avalia se o projeto de pesquisa tem condição de continuar ou se ele deve amadurecer melhor determinados aspectos. Duarte e Barros (2010, p. 44), nos colocam oito aspectos que devem constar em uma boa justificativa: a) a escolha do tema; b) a delimitação do objeto de estudo; c) o recorte do objeto; d) o corte cronológico; e) as ferramentas de pesquisa; f ) o material utilizado; g) os dados selecionados; h) o tipo da pesquisa; i) a metodologia aplicada. É claro que não é preciso justificar cada um dos elementos citados. Por exemplo, em alguns estudos precisamos delimitar o recorte temporal, determinando o número de anos, quais décadas, ou até mesmo qual século estamos nos debruçando, outros trabalhos podem dispensar a determinação de um corte cronológico, logo, este item não precisa ser justificado. Dalberio & Dalberio nos indicam o seguinte: a justificativa de um projeto de pesquisa deve apresentar, de modo convincente, o porquê de sua realização. Três elementos são indispensáveis à elaboração da justificativa: a problematização, a teoria de base da pesquisa e os objetivos.
Assim, ficamos conscientes da importância da justificativa como elemento de grande relevância dentro da construção da pesquisa. A justificativa deve ser apresentada de forma clara e objetiva, explicitando as escolhas realizadas pelo pesquisador, e ao mesmo tempo destacando a contribuição daquele estudo para esclarecer determinado tema.
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Outro ponto importante levantado por Dalberio & Dalberio na citação anterior, diz respeito ao referencial teórico que escolhemos na hora de elaborar nossa pesquisa. É importantíssimo que ele tenha sido lido e esteja em articulação com o objeto que estamos investigando.
EXPLORANDO Antonio Raimundo dos Santos, autor da obra Metodologia científica: a construção do conhecimento (2001, p. 86-89), apresenta um interessante modelo de projeto de pesquisa científica no capítulo chamado Fases da pesquisa científica. Vale a pena você conferir este livro na Biblioteca de nossa universidade.
Construção do referencial teórico e formas de análise O levantamento bibliográfico ou a construção do referencial teórico é um procedimento padrão para o início de qualquer projeto de pesquisa. E o que isso significa? Para você se iniciar na pesquisa científica, é preciso que tenha conhecimento sobre as teorias que podem auxiliá-lo na compreensão do seu tema de estudo. Também é necessário que conheça o que outros autores já escreveram sobre o mesmo tema e que contribuições o trabalho deles podem lhe oferecer. Para Dalberio & Dalberio (2009, p. 54) independente do tipo de pesquisa e da metodologia empregada na investigação é necessário um embasamento teórico. Este é realizado a partir de um procedimento de leitura, análise e interpretação do material bibliográfico. Portanto, a leitura analítica desse material é imprescindível.
Ou seja, necessitamos fazer o levantamento das fontes que podem nos auxiliar na construção de nossa pesquisa, mas não podemos esquecer que precisamos conhecê-las profundamente e isso só é possível quando realizamos o exercício da leitura e análise do material.
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Mas por onde começamos? O primeiro o é definir qual é o assunto. Podemos usar como exemplo nossas próprias experiências. A autora Andreia Regina Moura Mendes decidiu elaborar um projeto de pesquisa para concorrer a uma vaga no doutorado. Antes mesmo de buscar as fontes de pesquisa, ela escolheu como tema de investigação uma nova tecnologia midiática chamada TV Digital. Após a seleção do tema, a autora do projeto de pesquisa fez o levantamento bibliográfico e descobriu estas três referências bibliográficas: BECKER, Valdecir; MONTEZ, Carloz. TV Digital Interativa: conceitos, desafios e perspectivas para o Brasil. 2. ed.Florianópolis: Ed. da UFSC, 2005. BOLÃNO, César Ricardo Siqueira; BRITTOS, Valério Cruz. A televisão brasileira na era digital: exclusão, esfera pública e movimentos estruturantes. São Paulo: Paulus, 2007. CRUZ, Renato. Tv digital no Brasil. Tecnologia versus política. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2008. Em seguida, ela partiu para a leitura destas obras e descobriu outras fontes de pesquisa para o seu projeto, como sites do governo, teses e dissertações de mestrado, artigos científicos, matérias em jornais e outros tipos de fontes.
Como você percebeu, o caminho mais acertado a inicialmente pela definição do tema, como já havíamos anunciado anteriormente, até chegar à identificação das referências e fontes que podem nos ser úteis na construção da pesquisa. Podemos utilizar diferentes tipos de fontes na construção do nosso referencial teórico, desde que elas tratem do nosso tema e possam lançar algum esclarecimento sobre algum aspecto que estamos trabalhando na pesquisa.
SAIBA QUE O método para construção do referencial teórico é o dedutivo, ou seja, vai-se do geral para o específico. Isso significa que, a partir de teorias gerais ou de longo alcance, o pesquisador estabelece relações com o seu objeto específico de pesquisa de forma lógica, relacional e aplicativa (DUARTE; BARROS, 2009).
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Agora, vamos conhecer quais são os principais procedimentos metodológicos e de forma breve, algumas metodologias e técnicas de pesquisa aplicadas na comunicação social.
Procedimentos metodológicos Finalmente, vamos apresentar como organizamos o nosso projeto de pesquisa. O caminho que devemos fazer apresenta as etapas de nosso trabalho ou as fases nas quais a pesquisa se divide. Mas que caminho é esse? O caminho na pesquisa é marcado pelos procedimentos metodológicos que adotamos ao longo do trabalho. Inicialmente precisamos definir o tipo de pesquisa e determinar em qual local a mesma será realizada. Em seguida, identificamos o universo que estamos pesquisando e caso existam interlocutores, é necessário definir quais são as características gerais do grupo investigado e quantos sujeitos fazem parte da pesquisa.
PRATICANDO Que tal começar a exercitar a pesquisa? Sugerimos que você identifique a área da comunicação social que mais lhe chama atenção e defina qual objeto inicialmente seria foco do seu trabalho de pesquisa. Quando temos um objeto definido, fica mais fácil pensar a problemática e construir os nossos objetivos.
Por fim, indicamos os instrumentos de pesquisa, as formas de coleta dos dados e como faremos as análises dos materiais obtidos. Em seguida, anunciamos quais são os resultados esperados. Algumas vezes, o modelo de projeto de pesquisa difere de uma instituição para outra, e da graduação para a pós-graduação. O roteiro que vamos apresentar segue a orientação da ABNT NBR 15287:2006 e podemos encontrá-lo em Dalberio & Dalberio (2009, p. 63-64):
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•• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• ••
Capa Folha de rosto Folha de aprovação Folha de sumário 1. Identificação dos participantes 2. Introdução 3. Tema do projeto 4. Problema para a pesquisa 5. Hipóteses 6. Objetivos 7. Justificativas teóricas e práticas 8. Procedimentos metodológicos 9. Recursos 10. Cronograma 11. Referencias 12. Roteiro temático provisório
EXPLORANDO No site da Universidade Potiguar, <www. unp.br>, podemos encontrar um link com alguns documentos institucionais. Entre eles encontramos um modelo para artigo científico e projeto de TCC. Desejamos uma boa navegação.
A comunicação dispõe de diversas metodologias para o trabalho científico. É uma área que tem como maior característica a pluralidade de campos de pesquisa e de fontes de informação, como pudemos perceber no nosso estudo dos últimos capítulos. Infelizmente disponibilizamos de um espaço limitado para conhecer as variadas metodologias e técnicas de pesquisa que podem ser aplicadas nos estudos da comunicação social, seja na área do design, cinema, jornalismo, na publicidade e propaganda ou nas relações públicas. Assim, selecionamos algumas destas metodologias e vamos apresentar as principais características de cada uma delas a partir da obra de Duarte e Barros (2009): Métodos e técnicas de pesquisa em Comunicação (mesmo título de nossa disciplina), que neste momento serviu de inspiração maior para a construção deste último capítulo.
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Pesquisa bibliográfica Segundo Stumpf apud Duarte & Barros, a pesquisa bibliográfica é uma espécie de planejamento inicial de todo trabalho científico. Começa na identificação da bibliografia e a pela sua localização, obtenção e por fim, pelo seu estudo sistematizado. Em um sentido , é um conjunto de procedimentos que visa identificar informações bibliográficas, selecionar os documentos pertinentes ao tema estudado e proceder à respectiva anotação ou fichamento das referências e dos dados dos documentos para que sejam posteriormente utilizados na redação de um trabalho acadêmico. Nós chamamos sua atenção para o fato de que as referências bibliográficas buscadas, principalmente por meio dos livros, serem a fonte mais objetiva para o desenvolvimento de pesquisas acadêmicas. Podemos concluir que a pesquisa bibliográfica tem por objetivo colocar o pesquisador em contato com todo material que já foi produzido sobre o seu tema de investigação (LAKATOS & MARCONI, 1995, p. 14). Você pode utilizar-se de diferentes tipos de fontes na construção da sua pesquisa, como conversamos antes. Atentamos ainda para um elemento essencial na elaboração de um estudo: É muito importante que o aluno pesquisador siga o caminho que outros já percorreram, lendo parte das referências estudadas nos livros dos principais autores. Desta forma o pesquisador ganha maturidade sobre o assunto que irá pesquisar. “A seguir, apresentamos as principais fontes de informação bibliográficas secundárias, exemplificando, sempre que possível, com o material da área de comunicação: a) Bibliografias especializadas: são publicações que contêm a relação de obras publicadas sobre determinado assunto, em um periódico específico. Como exemplo, temos a Bibliografia Brasileira de Comunicação, publicada pela Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares de Comunicação (Intercom), tanto separadamente como dentro da Revista Brasileira de Ciências da Comunicação, de 1977 até 1997.
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b) Índices com resumo: também denominados Abstracts, são um índice da literatura corrente de artigos de periódicos, contendo a referência e o resumo de cada item. c) Portais: são a porta de o a vários serviços e informações, inclusive bibliográficos, disponíveis nos sites das instituições mantenedoras. O portal portcom – Rede de Informação em Comunicação para Países de Língua Portuguesa (
), desenvolvido pela INTERCOM, apresenta vários serviços bibliográficos. d) Resumos de teses e dissertações: são publicações que contêm a indicação do autor, título, orientador, ano e universidade das dissertações e teses defendidas nos programas de pós-graduação de uma instituição ou país. e) Catálogos de bibliotecas: são a relação de obras de uma biblioteca, com entrada por autor, título e assuntos. f ) Catálogos de editoras: para completar a busca, o usuário poderá consultar os catálogos de editoras” (STUMPF apud DUARTE; BARROS, 2009, p. 58).
O que é mais importante é saber identificar o seu tema dentro destas fontes e utilizar o que o material pode oferecer dentro de uma perspectiva dialógica, ou seja, colocando os diversos autores para dialogarem sobre o tema da sua pesquisa. Falaremos a seguir de recursos metodológicos para pesquisa de trabalho em campo, que são elaboradas em entrevistas, que necessitam do desenvolvimento de questionários para pesquisa de opinião e de observação participante. É relevante destacarmos tipos de pesquisa quantitativa e qualitativa que são muito comuns em procedimentos de trabalho em campo. As pesquisas quantitativas são geralmente direcionadas a informações objetivas, enquanto as qualitativas possuem um caráter mais específico e subjetivo. Na verdade estas técnicas são complementares. Uma pesquisa quantitativa, por exemplo, trata de levantar dados com números específicos. Enquanto em uma pesquisa qualitativa você analisa os dados de forma mais pessoal, com perguntas mais aprofundadas.
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Imagine que você quer fazer uma pesquisa sobre o impacto econômico e cultural da pirataria nas locadoras de filmes em DVD e deseja saber quantos estudantes da UnP possuem cadastro no segmento comercial destas lojas em Natal. Em um questionário de pesquisa quantitativa você consegue descobrir quantas pessoas têm cadastro, e em quais lojas, com informações representativas deste universo, apresentando números bem definidos. Já em uma pesquisa qualitativa você consegue aprofundar, com perguntas mais elaboradas, a questão econômica ou cultural deste impacto, perguntando nos questionários o que a pessoa acha sobre o aspecto moral de investir em produtos ilegais. E com isso perceber, de forma subjetiva, o que as pessoas pensam a respeito deste problema.
Entrevista A entrevista é uma das técnicas mais clássicas. Vem sendo utilizada de forma sistemática nas ciências humanas desde a década de 1930 e tem como objetivo fornecer informações e percepções sobre determinada realidade ou fato. Após a II Guerra Mundial, a entrevista ganha um status diferente, sendo considerada uma técnica qualitativa e bastante aplicada nas pesquisas da comunicação social. Para a sua aplicação, é preciso que o pesquisador tenha realizado uma leitura prévia sobre o tema que pretende tratar com o seu informante. Em seguida, deve fazer a análise dos dados coletados, construindo a sua interpretação sobre as informações obtidas. É importante ressaltar que toda metodologia de pesquisa exige um comportamento ético frente a tudo que está sendo colocado pelo informante. Mas para que serve mesmo uma entrevista? Segundo Jorge Duarte (2010, p. 63), fazer perguntas nos ajuda a investigar determinado assunto, possibilitando a ampliação do ponto de vista e ainda contribuindo para revelar determinados aspectos da realidade. Segundo Duarte (idem):
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Por meio da entrevista em profundidade, é possível, por exemplo, entender como produtos de comunicação estão sendo percebidos por funcionários, explicar a produção da notícia em um veículo de comunicação, identificar motivações para uso de determinado serviço, conhecer as condições para uma assessoria de imprensa ser considerada eficiente, identificar as principais fontes de informação de jornalistas que cobrem economia.
Pesquisa participante Outro método de pesquisa é o da metodologia participante ou de investigação participativa. “A pesquisa participante consiste na inserção do pesquisador no ambiente natural de ocorrência do fenômeno e de sua interação com a situação investigada” (PERUZZO apud DUARTE; BARROS, 2009, p. 123). Em uma pesquisa participante, você pode analisar um estudo voltado à maneira como as pessoas recebem as mensagens dos meios de comunicação. Para entender o mecanismo de apropriação do conteúdo que é ado nas telenovelas, por exemplo. O pesquisador tenta descobrir como é a recepção da audiência aos temas debatidos por determinada novela e saber os efeitos dos fenômenos da comunicação. Qual a influência das expressões que são ditas pelos personagens e que se tornam parte do vocabulário das pessoas? Quais as mudanças de comportamento no sentido de influenciar a moda? Entre outros. Basicamente este método tem a preocupação de investigar os usos e interpretações que determinado público faz das mensagens dos meios de comunicação. Na pesquisa participante, o pesquisador não precisa necessariamente morar onde é desenvolvido o trabalho, mas precisa se aproximar das pessoas, ganhando sua confiança para fazer as perguntas adequadas, tendo o aval da comunidade e se comprometendo em mostrar os resultados da pesquisa realizada. “Nos anos recentes, a observação participante realizada para investigar fenômenos de comunicação em comunidades ou regiões tem sido chamada de etnografia de mídia, etnografia de audiência ou etnografia de recepção” (PERUZZO apud DUARTE; BARROS, 2009, p. 135).
A pesquisa de opinião A técnica utilizada para fazer as pesquisas de opinião resume-se no método quantitativo, isto é, procura levantar uma quantidade de dados objetivos e específicos a partir de determinado número de entrevistados. Métodos e Técnicas de Pesquisa em Comunicação
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As pesquisas de opinião são feitas por entrevistas, seja pessoalmente ou por telefone e possuem tanto aspectos positivos quanto negativos. Podemos ver algumas dessas características nesta técnica de coleta de dados em uma entrevista pessoal (NOVELLI apud DUARTE; BARROS, 2009, p. 166): “Aspectos positivos: •
possibilidade de explicação de perguntas complexas e uso de recursos visuais para auxiliar a resposta, como gráficos ou fotos;
•
maior cooperação do entrevistado devido a procedimentos de aproximação e obtenção de respostas por escrito, caso a pergunta seja delicada.
Para finalizar este capítulo, atentamos para que você perceba o aspecto elementar que nos referenciou nesta disciplina: esta leitura serviu como guia para que você possa aprofundar algumas questões sobre os métodos e técnicas de pesquisa em comunicação. Este universo é muito vasto, esperamos que continue por conta própria o desafio de pesquisar a área da comunicação. Caro aluno, agora você tem algumas ideias para pensar sobre a nossa disciplina, mas o mais importante é lembrar que o caminho na pesquisa é uma jornada sem fim e que sempre será uma experiência vívida e enriquecedora. Estamos felizes por você ter nos acompanhado. Fazemos votos de sucesso em sua carreira acadêmica. Boa sorte!
Aspectos negativos: •
o custo das entrevistas pessoais é o mais alto dentre todos os métodos;
•
o entrevistador pode introduzir algum viés na entrevista, mesmo sem querer. Pode demonstrar qualquer reação ao invés de se manter neutro diante das respostas”.
O estudo de caso
8.3 Aplicando a teoria na prática Imagine que você foi convidado por um professor para fazer parte da seleção de um importante projeto de pesquisa. Existem muitos candidatos para essa vaga e alguns dos concorrentes são colegas que estão cursando séries finais do curso. A única informação que você sabe é que o tema que o professor investiga é atual e bastante polêmico: mídias sociais. Isto interessa?
Este método tem um caráter de técnica qualitativa, isto é, procura aprofundar por meio de uma investigação empírica determinado fenômeno atual. É do tipo que analisa questões que perguntam como e por que um acontecimento específico tomou forma. É muito utilizado na propaganda e marketing para compreender como determinada marca, por exemplo, ganhou sua posição mercadológica perante os concorrentes.
Quando convidado para participar de uma seleção para um projeto de pesquisa, quais seriam os primeiros procedimentos a fazer?
O que caracteriza um estudo de caso é a utilização de várias fontes de pesquisa diferentes, como matérias em jornais, revistas, livros que falam do assunto, filmes, programas de televisão, tudo associado a entrevistas, observações participantes etc.
Em seguida, faria uma leitura atenta, com a elaboração de fichas de estudo para uma posterior análise das informações obtidas.
Vamos pensar nessa resposta: o primeiro procedimento seria fazer um levantamento bibliográfico para conhecer o que já foi publicado sobre o tema e quais são os possíveis recortes sobre o assunto.
Em resumo, o estudo de caso é o método que contribui para a compreensão dos fenômenos sociais complexos, sejam individuais, organizacionais, sociais ou políticos. É o estudo das peculiaridades, das diferenças daquilo que o torna único e por essa mesma razão o distingue ou o aproxima dos demais fenômenos (MATSUUCHI DUARTE apud DUARTE; BARROS, 2009, p. 234).
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8.4 Para saber mais
8.6 Testando os seus conhecimentos
Título: Pesquisa empírica em Ciências Humanas (com ênfase em comunicação) Autor: Sarah Chucid Da Viá e Ada Dencker
Editora: Futura
Ano: 2001
O livro é uma excelente fonte de reflexão sobre o atual quadro das metodologias aplicadas em comunicação no nosso país. Leia e desperte para outras discussões.
Título: Comunicação e pesquisa: projetos para mestrado e doutorado Autor: Lúcia Santaella
Editora: Hacker Editores
1) Elabore um comentário sobre a utilização do levantamento bibliográfico nas pesquisas em comunicação.
Ano: 2001
A autora é uma renomada investigadora dos processos comunicacionais e da semiótica de Charles Peirce. Neste livro, ela nos apresenta um histórico sobre as teorias da comunicação, as etapas da pesquisa e os seus métodos e finaliza discutindo o projeto de pesquisa. Leitura obrigatória para você ir além.
2) A partir do que debatemos, defina o que é uma hipótese. 3) Leia atentamente o texto a seguir e indique quais aspectos metodológicos os autores do texto estão discutindo. A metodologia de um projeto deve responder, de forma detalhada “como” o projeto será realizado. Assim, o projeto deve apresentar as etapas ou fases, dispostas preferencialmente em ordem cronológica, numeradas e nominalmente definidas, subdivididas quando necessário, contendo uma descrição dos procedimentos a serem seguidos (GOMIDE, ROSA, 1988, p. 12 apud DALBERIO & DALBERIO, 2009, p. 62).
8.5 Relembrando Caro aluno, neste capítulo final você pôde conhecer quais são os os para a construção de uma pesquisa. Iniciamos nossa conversa debatendo sobre o que é um trabalho monográfico, a partir do ponto de vista de Umberto Eco. Em seguida, conhecemos os elementos que fazem parte de um projeto de pesquisa: •• •• •• •• •• •• ••
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tema e sua escolha; objeto de estudo e a delimitação; elaboração da problemática e levantamento da hipótese; os objetivos da pesquisa; construção da justificativa; escolha do referencial teórico e análise; procedimentos metodológicos.
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Onde encontrar AZEVEDO, I. B. O Prazer da produção científica para a elaboração de trabalhos acadêmicos. 11. ed. São Paulo: Hagnos, 2004. CERVO, A. L.; BERVIAN, P. A.; SILVA, R. Metodologia científica. 6. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007. DALBERIO, O.; DALBERIO, M. C. B. Metodologia Científica: desafios e caminhos. São Paulo: Paulus, 2009. DUARTE, J.; BARROS, A. Métodos e técnicas de pesquisa em comunicação. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2009. ECO, U. Como se faz uma tese. Tradução: Gilson Cesar Cardoso de Souza. São Paulo: Editora Perspectiva, 2007. LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A. Metodologia científica. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1995. SANTOS, A. R. Metodologia científica: a construção do conhecimento. Rio de Janeiro: DP&A, 2001. SEVERINO, A. J. Metodologia do trabalho científico. 21. ed. São Paulo: Cortez, 2007.
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